Marcos Abranches � o �nico core�grafo brasileiro com paralisia cerebral autor de estudo sobre dan�a contempor�nea
Portador de coreoatetose, defici�ncia f�sica rara decorrente de les�o cerebral, o dan�arino Marcos Abranches � uma das atra��es do Festival Acessa BH, projeto multicultural com foco em acessibilidade que come�a nesta quinta-feira (14/9), na capital mineira. O artista paulistano vai apresentar o solo “Canto dos malditos”.
Coreoatetose n�o � doen�a. Trata-se do estado patol�gico que n�o afeta a intelig�ncia do indiv�duo, manifestando-se a partir de movimentos involunt�rios, intermitentes e irregulares da face e dos membros. Essa condi��o n�o impediu Abranches de se expressar por meio de seu corpo.
Renata Mara e Samuel Samways em 'Migrantes de si', atra��o do dia 24/9, na Funarte MG
Pela terceira vez, Belo Horizonte recebe o festival, cuja programa��o vai at� 30 de setembro, reunindo 30 artistas de v�rias partes do pa�s. Pe�as, espet�culos de dan�a, conta��o de hist�rias, filmes, lan�amentos de livros, rodas de conversa e oficinas fazem parte da programa��o, com entrada franca.
As apresenta��es contar�o com legendas, int�rpretes de libras, audiodescri��o e acessibilidade f�sica.
Nos palcos de Seul
Marcos Abranches vai abrir o festival hoje � noite, no Galp�o 1 da Funarte. “Canto dos malditos” � in�dito em BH. H� duas semanas, ele levou estse trabalho a Seul, capital da Coreia do Sul.
A produ��o da Abranches e Companhia tem roteiro baseado no livro autobiogr�fico de Austreg�silo Carrano Bueno (1957-2008), no qual narra sua trajet�ria sofrida por hosp�cios de Curitiba e do Rio de Janeiro.
“Meu trabalho � inspirado na obra escrita por um grande amigo pessoal, o Carrano. Quando jovem, a fam�lia o encontrou fumando maconha e decidiu coloc�-lo no manic�mio. Naquela �poca, as condi��es eram muito severas, havia at� mesmo eletrochoque. Ele ficou l� por seis anos”, conta Marcos.
"O Subnormal - uma hist�ria de baixa vis�o", de Cleber Tolini, estar� em cartaz s�bado (16/9), no Teatro Jo�o Ceschiatti
A hist�ria de Carrano deu origem ao premiado filme “Bicho de sete cabe�as”, dirigido por La�s Bodanzky e protagonizado por Rodrigo Santoro. “Foi sucesso no Brasil e no mundo. Decidi fazer esse trabalho em homenagem ao meu amigo”, afirma o bailarino.
O solo de Marcos emocionou Carrano, que chegou a acompanhar o processo de cria��o da vers�o coreogr�fica de “Canto dos malditos”. “Ele chorava incansavelmente”, afirma Elder Fraga, s�cio de Marcos.
O bailarino usa a pr�pria defici�ncia como estudo para construir sua linguagem art�stica corporal. Abranches � o �nico core�grafo brasileiro com paralisia cerebral a propor um estudo sobre dan�a contempor�nea.
“Acho que transmito a evolu��o no sentido de falar sobre acessibilidade e diferen�a. � mudan�a de pensamento, um novo olhar. No Brasil, 20% de nossa popula��o t�m algum tipo de diferen�a. Ent�o eu, como artista, procuro transmitir essa evolu��o”, afirma Marcos.
Ele iniciou sua carreira trabalhando com Sandro Borelli, core�grafo e professor da Companhia Carne Agonizante. “Meu primeiro espet�culo, ‘Senhor dos anjos’, baseava-se na obra do poeta Augusto dos Anjos”, relembra.
'Acho que transmito a evolu��o no sentido de falar sobre acessibilidade e diferen�a. � mudan�a de pensamento, um novo olhar'
Marcos Abranches, bailarino
Abranches apresentou tamb�m “Jardim de T�ntalo” e “Metamorfose”, baseado no cl�ssico de Franz Kafka, dirigidos e coreografados por Sandro Borelli e S�nia Soares. Foi premiado no Brasil e no exterior.
Al�m de se apresentar, o bailarino e core�grafo vai ministrar a oficina “Dan�a para todos os corpos”, nesta sexta-feira (15/9), das 14h �s 17h. Ele tamb�m protagoniza o filme “O artista e a for�a do pensamento”, de Elder Fraga, que ser� exibido na quinta-feira (28/9).
Amanh� (15/9), a companhia mineira Kinesis apresenta 'Tecituras em dan�a'
Entre os mineiros que participam do Acessa BH est� o grupo belo-horizontino Kinesis. Nesta sexta-feira (15/9), �s 20h, ele apresenta o espet�culo “Tecituras em dan�a”, no Teatro Jo�o Ceschiatti do Pal�cio das Artes.
A companhia foi criada a partir do encontro das artistas Fernanda Maciel, Grazielle Mendes e Hort�ncia Maia com a diretora Renatha Maia.
“Decidimos fazer um espet�culo, conversamos e as bailarinas disseram que queriam trabalhar com algo que dialogasse com quest�es do feminino. Assim, chegamos � pergunta: ‘o que nos falta?’. Cada uma criou o texto com suas particularidades”, conta Renatha.
Dores particulares se tornaram coletivas em “Tecituras em dan�a”, cujos movimentos denunciam press�es sociais ligadas � infertilidade, ao capacitismo e � falta de tempo, entre outras press�es enfrentadas pela mulher.
As coreografias expressam viv�ncias de pessoas com defici�ncia na sociedade capacitista, que n�o as enxergam al�m das muletas – utilizadas pela dan�arina Fernanda Maciel tanto no palco quanto na vida.
“Fernanda, nossa bailarina com defici�ncia, chegou � escola em 2019. Logo abordou a quest�o do capacitismo e da acessibilidade. Por meio dela, conheci o Acessa BH”, conta a core�grafa.
“O festival provoca a sociedade a repensar o local de invisibilidade em que ela coloca pessoas com defici�ncia e, principalmente, artistas. Onde est�o esses artistas? Eles existem? Por que a gente n�o os conhece?”, questiona Renatha.
• Leia tamb�m: Filme 'Campe�es' destaca o potencial de pessoas com defici�ncia intelectual
A ideia do Acessa BH surgiu em 2016, mas se concretizou em 2020. A produtora cultural La�s Vitral, criadora e curadora do projeto, fez uma viagem que lhe despertou a aten��o para o fato de BH carecer de projetos art�sticos com acessibilidade.
“A primeira vez em que assisti a um espet�culo com libras e audiodescri��o, em 2016, em Pernambuco, falei: ‘Uai, gente, n�o temos isso em BH’. Depois descobri que parte significativa da nossa popula��o � composta por pessoas com defici�ncia. Decidi, ent�o, criar um evento que viabilizasse as artes dessas pessoas e trouxesse acessibilidade ao p�blico”, conta La�s.
Em 2022, o IBGE registrou 18,6 milh�es de pessoas com defici�ncia no pa�s. Durante a pandemia, o festival promoveu edi��es nos formatos on-line e h�brido. Este ano, o eventol ser� totalmente presencial.
Cena do filme "Possa poder", de Victor di Marco e M�rcio Picoli
Pela primeira vez, haver� programa��o audiovisual. Ser�o exibidos quatro curtas e um longa – “O que pode um corpo?” e “Possa poder”, de Victor di Marco e M�rcio Picoli; “Partindo do princ�pio que a Terra � plana, sou toda curva e desvio”, de J�ssica Teixeira; e “Big Bang”, de Carlos Segundo.
A agenda traz espet�culos in�ditos a Belo Horizonte “O Subnormal – uma hist�ria de baixa vis�o”, criado por Cleber Tolini; “Corpo celeste”, assinado por Giovanni Venturini; “Adaptat”, idealizado por L�vea Castro e N� Movimento em Rede; “Terra raiz”, de Sara Marchezini e Renata Mara; “O menino do olho que v�”, de Dudu Melo; “A �per�ria”, dos mineiros Brisa Marques e Samuel Samways; “Migrantes de si”, de Renata Mara e Samuel Samways; e “Lun�ticas”, do grupo Sapos e Afogados.
ESPET�CULOS
Hoje (14/9)
• 19h: Abertura oficial e apresenta��o de “Canto dos malditos”, de Marcos Abranches (SP). Galp�o 1 da Funarte
Sexta (15/9)
• 20h: “Tecituras em dan�a”, da Cia. Kinesis de Dan�a (MG). Teatro Jo�o Ceschiatti
S�bado (16/9)
• 14h: Leitura do livro “DoroTEA, a peixinha autista” e roda de conversa sobre autismo e inclus�o, de Bruno Grossi e Daniele Muffato (MG). Memorial Minas Gerais Vale
• 20h: “O subnormal – uma hist�ria de baixa vis�o”, de Cleber Tolini (SP). Teatro Jo�o Ceschiatti
Domingo (17/9)
• 19h: “Terra raiz”, de Renata Mara e Sara Marchezini (MG). Teatro Jo�o Ceschiatti
Ter�a (19/9)
• 20h: “E.L.A”, de J�ssica Teixeira (CE). Centro Cultural Unimed-BH Minas
Dia 21/9
• 20h: “Corpo celeste”, de Giovanni Venturini (SP). Galp�o 3 da Funarte
Dia 22/9
• 16h: “Adaptat”, de L�vea Castro e N� Movimento em Rede (PR). Jardins do Pal�cio da Liberdade
• 20h: “O jogo”, de Guilherme Th�o e Oscar Capucho (MG). Teatro Jo�o Ceschiatti
Dia 23/9
• 17h15: “A oper�ria”, de Brisa Marques, Samuel Samways, Car� Renn�, Jefferson Assis e Rafael Pimenta (MG). Cine Humberto Mauro
» 20h: “O menino do olho que v�”, de Pigmentar Companhia (MG). Teatro Jo�o Ceschiatti
Dia 24/9
• 19h: “Migrantes de si”, de Renata Mara e Samuel Samways (MG). Galp�es 2 e 3 da Funarte MG
Dia 28/9
• 20h: “Lun�ticas”, de Sapos e Afogados (MG). Galp�o 1 da Funarte
Dia 30/9
• 11h e 16h: “Andan�as urbanas”, da Cia Ananda (MG). Jardins do Pal�cio da Liberdade
Endere�os
Centro Cultural Unimed-BH Minas (Rua da Bahia, 2.244, Funcion�rios). Cine Humberto Mauro e Teatro Jo�o Ceschiatti (Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro). Funarte MG (Rua Janu�ria, 68, Centro). Memorial Minas Gerais Vale e Pal�cio da Liberdade (Pra�a da Liberdade, Funcion�rios). Entrada franca. Programa��o completa: www.acessabh.com.br
* Estagi�ria sob supervis�o da editora-assistente �ngela Faria

*Para comentar, fa�a seu login ou assine