"P�rola", sucesso no teatro, chega ao cinema com dire��o de Murilo Ben�cio

Carlos Drummond de Andrade escreveu sobre a mem�ria, este peculiar fen�meno que evoca o passado e preenche o vazio que todos sentimos por algum tipo de perda: “Amar o perdido deixa confundido este cora��o”. 

� esse amor pelo que se perdeu – e, claro, as consequ�ncias disso – a base do filme “P�rola”, que estreia nesta quinta-feira (28/9) nos cinemas brasileiros.

Segundo longa-metragem dirigido por Murilo Ben�cio, que estreou na fun��o em “O beijo no asfalto” (2017), “P�rola” � uma adapta��o de pe�a autobiogr�fica hom�nima de Mauro Rasi (1949-2003).

Numa esp�cie de evoca��o aos versos de Drummond, o filme aborda a rela��o entre Mauro (Leonardo Fernandes) e sua m�e, a efusiva P�rola (Drica Moraes), a partir de lembran�as do filho. As mem�rias, no entanto, v�m � tona depois que P�rola morre. 

 

 

Seguindo uma linha temporal psicol�gica, na qual s�o intercaladas cenas do presente seguidas por lembran�as antigas de Mauro, o filme come�a com o personagem relembrando o momento em que a fam�lia compra uma casa em Bauru (SP), quando ele ainda era crian�a, em algum momento n�o especificado da d�cada de 1950.

P�rola j� mostra sua personalidade af�vel e calorosa nas primeiras cenas, quando leva as irm�s para conhecer sua “mans�o”, como ela se refere ao local. Ciceroneando as convidadas, n�o poupa beijos e abra�os nos filhos – Mauro tem uma irm� mais nova – e no marido (interpretado por Rodolfo Vaz).

“A casa � muito importante nessa narrativa”, afirma Leonardo. “Num campo metaf�rico, ela � uma extens�o da pr�pria P�rola. Afinal, P�rola � uma mulher af�vel, alto astral e colorida. Isso se reflete no ambiente todo”, diz, lembrando que Ben�cio se valeu de cores quentes e fortes - muito inspirado em Almod�var, diga-se.

“P�rola” � esse retrato de uma mulher comum, pincelado por um filho em luto. No entanto, como ocorre em situa��es em que a morte serve de expia��o para os erros cometidos em vida, a matriarca � apresentada como algu�m cujos defeitos s�o insignificantes diante da pr�pria bondade.

� claro que conflitos entre m�e e filho n�o s�o esquecidos por Mauro. As resolu��es finais, contudo, deixam ao espectador a impress�o de que, apesar dos entreveros, P�rola n�o se importa em se sacrificar em benef�cio de quem ama.

Tra�os da personalidade de P�rola menos admir�veis s�o apenas insinuados. Sua rela��o com a bebida, por exemplo – a frase “desce uma caipirinha” vira bord�o, de t�o repetida –, � apenas veladamente indicativa de alcoolismo. 

Outro aspecto superficialmente abordado � sua rela��o com a m�e, acolhida pela fam�lia num quartinho de casa. A m�e de P�rola, que sequer aparece no filme, n�o recebe aten��o da filha. Pelo contr�rio, sempre que se lembra da m�e, P�rola espera que a velha morra logo para que ela possa comprar as casinhas vizinhas que pertencem � mulher.

“A impress�o que me d� � que essa m�e fechada em um dos c�modos da casa representa algo dentro da pr�pria P�rola que ela n�o quer olhar. Talvez a pr�pria quest�o com a bebida, n�o sei”, diz Leonardo. “Porque existe uma quest�o mal resolvida ali.”

“P�rola”, no entanto, n�o � piegas. Transitando bem entre o humor e o drama, o filme possibilita ao p�blico identificar-se com a fam�lia retratada, seja com a protagonista, com Mauro ou com os demais personagens secund�rios, todos t�picos de uma tradicional fam�lia de classe m�dia.

Trata-se de uma bela homenagem feita por Rasi, que, ao final da obra, volta involuntariamente a Drummond, sugerindo que “as coisas findas, muito mais que lindas, essas ficar�o”.

Embora a trama de “P�rola” seja ambientada na cidade de Bauru, interior de S�o Paulo, o filme conta com diversos mineiros no elenco. Al�m de Leonardo Fernandes no papel de Mauro Rasi, atuam no longa Rodolfo Vaz, Gillray Coutinho e Lav�nia Pannunzio. 

(Brasil, 2023, 91min.) Dire��o: Murilo Ben�cio. Com Drica Moraes, Leonardo Fernandes, Rodolfo Vaz, Valentina Bandeira. Estreia nesta quinta (28/9), no UNA Cine Belas Artes, Cineart Cidade.