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Estado de Minas

Livro mostra que farofa pode ser mais que acompanhamento

Os chefs Daniela Narciso e Danilo Rolim catalogaram e testaram incalcul�veis receitas ao longo de dois anos de pesquisa


07/03/2021 04:00 - atualizado 09/03/2021 17:07

Farofa de peixe seco com banana-da-terra e farofa do pescador(foto: Estúdio Gastronômico/Divulgação)
Farofa de peixe seco com banana-da-terra e farofa do pescador (foto: Est�dio Gastron�mico/Divulga��o)

Ela � do litoral de Santa Catarina, ele do interior de S�o Paulo. Ela est� acostumada com a farinha de mandioca, ele cresceu comendo a de milho. Toda vez em que iam cozinhar juntos, em eventos ou um simples almo�o, os s�cios Daniela Narciso e Danilo Rolim tentavam provar que a sua receita era a melhor. Em vez de continuar a disputa, eles se juntaram para escrever o livro “Farofa”, mostrando como os preparos podem ser diversos e igualmente saborosos.
 
A hist�ria do livro come�a quando os chefs se d�o conta da infinidade de farofas que existem no Brasil. A diversidade n�o tem a ver apenas com os tipos de farinha, mas tamb�m em rela��o �s gorduras usadas no preparo, os ingredientes e as fun��es da farofa, que, al�m de ser acompanhamento, pode ser aproveitada para empanar ou rechear uma carne.

Durante a pesquisa, que durou dois anos, Daniela e Danilo catalogaram e testaram incalcul�veis receitas. “Quando contava que ia fazer um livro sobre farofa, algu�m sempre falava de alguma receita que n�o podia faltar, ent�o tentamos ser o mais abrangentes poss�vel. Foi dif�cil achar um fim, tanto que brinco que deveria ter uma p�gina em branco para o leitor escrever as suas receitas”, conta Daniela, que vem de uma fam�lia que consome muita farofa. No fim, eles inclu�ram receitas cl�ssicas, regionais, de fam�lia, sugest�es de conhecidos e cria��es pr�prias.
 
A farofa de pato com ma�� e repolho � uma inven��o com sotaque franc�s. Tem a carne confitada, a pele crocante e a gordura, que os chefs consideram uma das mais saborosas entre as de origem animal. Daniela e Danilo tamb�m transformaram em farofa a receita de bacalhau com gr�o-de-bico, cl�ssico da cozinha portuguesa. No lugar da crosta de broa de milho torrada por cima do peixe, eles usaram farinha de milho biju para dar liga ao preparo.
 
Filé à Oswaldo Aranha e virado à paulista(foto: Estúdio Gastronômico/Divulgação)
Fil� � Oswaldo Aranha e virado � paulista (foto: Est�dio Gastron�mico/Divulga��o)
 
Do lado doce, destaque para a farofa de suspiro com nibs de cacau e frutas secas. “Pensamos em fazer uma receita que lembrasse panetone, Natal, e quando fizemos os testes, achamos frutas vermelhas cristalizadas. Ficou deliciosa”, comenta Daniela. A farofa pode complementar qualquer sobremesa, desde pudim, sorvete, sagu, cheesecake, manjar branco at� simplesmente um iogurte.
 

"Limite � a criatividade"

 
O jeito de multiplicar as receitas foi mostrar as possibilidades de variar os ingredientes. A farofa de avi� pode ser feita com camar�o m�dio seco e picado, enquanto quiabo ou abobrinha substituem o maxixe na de carne seca. O livro acaba servindo como base para o leitor se aventurar na cozinha. “O limite � a criatividade de cada um, tanto que cada receita tem dicas e sugest�es para variar.
Pegando a t�cnica b�sica, descobrindo o ponto da torra, o tempo de coc��o, o balan�o entre gordura, prote�na e farinha, voc� consegue explorar muitas variedades”, aponta Danilo.
 
Farofa � uma receita simples, mas que pode ser bastante complexa, tanto do ponto de vista das t�cnicas quanto das sensa��es que provoca. “Farofa d� uma textura diferente, que nenhum outro alimento tem, leva croc�ncia para o prato. Isso � muito bom, porque croc�ncia estimula tanto o paladar quanto a audi��o. Al�m disso, traz um sabor tostado, que � muito interessante. N�o � � toa que costumamos colocar farofa em tudo”, aponta Danilo.
 
Sardinha em crosta de farofa(foto: Estúdio Gastronômico/Divulgação)
Sardinha em crosta de farofa (foto: Est�dio Gastron�mico/Divulga��o)
 
N�o pense que, para fazer farofa, basta misturar os ingredientes na panela. Os chefs ensinam que t�cnica e paci�ncia s�o essenciais para se chegar a um bom resultado. “Embora todo mundo pense que � um preparo r�pido, farofa precisa de tempo e carinho, sen�o vira farinha misturada com um monte de coisa”, observa Daniela.

Fique atento ao momento de tostar a farinha na gordura. Deixe o fogo baixo e v� mexendo devagar, por cinco ou seis minutos (esse tempo pode variar bastante). “Para a farofa ficar crocante e saborosa, voc� n�o pode usar fogo alto, porque ela vai queimar e n�o vai chegar ao ponto ideal”, diz Danilo, refor�ando como � importante saber controlar o calor. Na regi�o dele, al�m da farinha de milho, o mais comum � usar banha de porco como gordura.
 
S� acrescente os outros ingredientes quando sentir uma aroma de castanha tostada (no caso da farinha de mandioca). “Uma das mem�rias mais antigas na cozinha envolve farinha. Lembro-me de a minha tia-av� me colocando em um banquinho para sentir o cheiro de tostado. Ficava de 'castigo' esperando a hora de colocar mais farinha e os outros ingredientes”, conta Daniela. Outra dica � n�o adicionar nenhum l�quido durante o preparo. Recomenda-se fazer o ovo mexido primeiro e depois mistur�-lo com a farofa. Assim como o repolho, que solta �gua. 
 
Farofa de bacalhau com grão-de-bico e farofa de pato crocante com maçã e repolho(foto: Estúdio Gastronômico/Divulgação)
Farofa de bacalhau com gr�o-de-bico e farofa de pato crocante com ma�� e repolho (foto: Est�dio Gastron�mico/Divulga��o)
 
Deixe para coloc�-lo na panela quando j� tiver terminado. Tudo isso para n�o transformar a farofa em pir�o. Os chefs ainda enfatizam no livro que se deve tirar a farofa imediatamente da panela; o calor residual pode queim�-la sem voc� nem perceber.
 

Areia temperada? 

 
Farofa � um �cone da cultura brasileira. Faz parte do churrasco do ga�cho e tamb�m acompanha o peixe do amazonense. Pode transitar facilmente entre o caf� da manh� e o jantar. T�o popular no pa�s, o h�bito de comer farofa chega a causar estranhamento em estrangeiros. No livro, Daniela e Danilo contam que, quando provou farofa pela primeira vez, o chef franc�s Laurent Suaudeau sentiu que estava comendo areia temperada.
 
Apesar de ser unanimidade entre os brasileiros, os s�cios sentem que a farofa n�o � t�o valorizada como merece. Ela est� presente em quase toda refei��o, mas sempre como acompanhamento. Danilo a enxerga como um patinho feio da gastronomia. “Farofa � t�o brasileira e t�o �nica que n�o deveria ficar relegada a mero acompanhamento”, defende o chef.
 
Galinha com farofa(foto: Estúdio Gastronômico/Divulgação)
Galinha com farofa (foto: Est�dio Gastron�mico/Divulga��o)
 
No livro, eles invertem a l�gica e colocam a farofa como estrela, tanto nas fotos quanto nas receitas. “Fizemos as fotos sem que outros pratos tirassem o protagonismo da farofa, que normalmente � a coadjuvante da mesa. Por isso, escolhemos os fundos pretos, que mostram as v�rias texturas e d�o todo este destaque que ela merece”, explica Danilo.
 
H� um cap�tulo dedicado �s farofas de farnel, consideradas prato �nico. S�o comuns em todo o pa�s pela facilidade de preparar e transportar e por aumentarem a durabilidade das carnes. “S�o comida de viagem, colocadas na marmita, que existem no Brasil inteiro, independentemente da cultura”, pontua Daniela. Os tropeiros fazem hist�ria com o roupa-velha, � base de carne de panela desfiada e ovos mexidos, e o nosso feij�o-tropeiro. J� a farofa de peixe seco com banana-da-terra � a que os pescadores levam para se alimentar no barco.
 
Uma receita, em especial, tem sabor de mem�ria afetiva para Daniela. Nas f�rias de ver�o, a fam�lia dela se reunia na serra para descer em comboio para o litoral catarinense. A comida da viagem era galinha com farofa, preparada pela av�. “No meio do caminho, a gente parava e armava acampamento debaixo das arauc�rias para fazer um grande piquenique. Esperava o ano inteiro por esse momento”, relembra a chef.
 
Em dois anos de pesquisa, Danilo Rolim e Daniela Narciso catalogaram e testaram incalculáveis receitas(foto: Gonzalo Cuéllar Mansilla/Divulgação)
Em dois anos de pesquisa, Danilo Rolim e Daniela Narciso catalogaram e testaram incalcul�veis receitas (foto: Gonzalo Cu�llar Mansilla/Divulga��o)
 
Em Itapeva, cidade onde Danilo nasceu, � muito comum fazer virados, que s�o farofas um pouco mais �midas, de todo tipo, feij�o, chic�ria etc. “Lembra um pouco o que voc�s chamam de tutu, mas um pouco mais seco. Virado � paulista virou um prato muito paulistano, � o nosso PF de segunda.” Conta-se que os viajantes costumavam transportar feij�o cozido, farinha de milho e carne que, no chacoalhar do caminho, iam se misturando e revirando, da� o nome virado.
 
A pesquisa de Daniela e Danilo n�o se encerra com o “Farofa”. Os s�cios j� pensam em mais livros, um com um detalhado levantamento de todas as casas de farinha do pa�s e outro sobre pir�o. 
 

Farofa de bacalhau com gr�o-de-bico


Ingredientes
250g de gr�o-de-bico; 1 folha de louro; sal a gosto; 2 cebolas m�dias fatiadas; 4 dentes de alho fatiados; 1 pimenta dedo-de-mo�a picada; 50ml de azeite de oliva; pimenta-do-reino mo�da a gosto; 500g de bacalhau desfiado e dessalgado; 300g de farinha de milho biju; salsinha picada a gosto; 2 colheres de azeite de oliva extravirgem

Modo de fazer
Deixe o gr�o-de-bico de molho na v�spera. Cozinhe em uma panela de press�o com �gua e a folha de louro at� que esteja bem cozido, sem deixar os gr�os desmancharem. Escorra, tempere com sal e reserve. Em uma panela grande, frite a cebola, o alho e a pimenta dedo-de-mo�a no azeite at� que comecem a dourar. Adicione o bacalhau dessalgado e refogue at� quase secar. Junte a farinha de milho e o gr�o-de-bico escorrido e continue fritando at� que a farofa esteja bem cozida. Finalize com a salsinha picada e o azeite extravirgem. 

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