Meta do empregador deve ser, al�m da oportunidade de
emprego, participar da forma��o profissional e pessoal. Algumas organiza��es s�o modelo
postado em 30/12/2018 09:00 / atualizado em 04/01/2019 11:21
(foto: AldoMarques/Pixabay
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O mercado de trabalho em crise � sempre mais cruel com os jovens. Eles s�o a parcela de trabalhadores que mais sofre. No entanto, se pesa contra a inexperi�ncia, investir nesse futuro profissional � ter vis�o de futuro e apostar no retorno de um p�blico �vido por aprendizagem. Para estimular a contrata��o e assegurar uma boa rela��o entre empregado e empregador, o Minist�rio do Trabalho divulgou a nova Instru��o Normativa (IN SIT 146, de 25/7/2018) e Portaria (634, de 9/8/2018), com mudan�as relativas ao Programa de Aprendizagem que ter� vig�ncia para as novas contrata��es.
“As adequa��es foram feitas para cumprir n�o somente as novas instru��es normativas, mas tamb�m pela preocupa��o que temos em tornar o processo de aprendizagem mais produtivo para todos os envolvidos. Acreditamos que, dessa forma, podemos apresentar um aprendiz melhor preparado, desempenhando papel mais significativo na sua jornada, beneficiando consequentemente a empresa”, destaca Ruy Leal, superintendente da Via de Acesso, organiza��o da sociedade civil sem fins lucrativos.
Para ele, “as mudan�as desse processo trazem maior respaldo para que o jovem possa atender �s demandas na rotina de trabalho nas empresas”.
Com mais de duas d�cadas dando chance para quem est� come�ando, a Loja El�trica, empresa mineira especializada na distribui��o de materiais el�tricos, fundada em 1947, � modelo no programa Jovem Aprendiz do Minist�rio P�blico do Trabalho (MPT). A escolha levou em considera��o a oportunidade de emprego que a empresa oferece para aqueles que se destacam ao longo do contrato de aprendizagem, de acordo com vagas abertas em seu quadro de funcion�rios. Atualmente, s�o 57 jovens alocados nas �reas de almoxarifado, administrativo e vendas.
Gilson Pereira Gomes, supervisor de RH da Loja El�trica, diz que muitos supervisores da empresa come�aram como aprendizes (foto: Loja El�trica/Divulga��o)
Gilson Pereira Gomes, supervisor de RH da Loja El�trica, destaca que hoje, a empresa � refer�ncia, porque cumpre a cota integralmente e aproveita a m�o de obra para compor seu quadro.
Temos muitos supervisores que iniciaram como aprendizes e um que est� em treinamento para assumir a ger�ncia de uma filial. Nosso programa � desenvolvido em parceria com o Senac, com contrato de um ano, sendo que ele alterna uma semana no Senac, aprendendo a parte te�rica e outra na loja, vivenciando a pr�tica
Gilson Pereira Gomes, supervisor de RH
Gilson conta que a empresa faz uma pr�-sele��o e encaminha esse jovem para o Senac. O foco s�o os candidatos de 14 a 18 anos.
REGRAS E NORMAS Para Gilson Gomes, o desafio de lidar com esse jovem � falta de preparo. Ou seja, h� dificuldade de como se portar em um ambiente corporativo. “N�s o inserimos em uma �rea e ele � acompanhado por um tutor, conhece seus pares, tem contato com o supervisor, ger�ncia e, aos poucos, incorpora a postura de um colaborador. N�o podemos esquecer que ele est� em processo de aprendizagem.” O supervisor reconhece que � preciso administrar deslizes, mas todos s�o ensinados a “cumprir regras, normas, hor�rios, hierarquia e o of�cio no qual est� inserido. Ao encerrar o contrato, nosso foco � continuar com esse jovem, que j� conhece a cultura da empresa e a filosofia de trabalho. Na realidade, � vantajoso que ele fique. Significa menos custos para abrir processo de sele��o e contratar fora”.
Os jovens s�o avaliados ao longo do programa e todos t�m a chance de ser efetivados. Com anos de experi�ncia, Gilson Gomes confirma diferen�as nesta gera��o. “Noto que o perfil � diferente, mais disperso e, por isso, temos de fazer um trabalho mais efetivo, acompanhar de perto, estar mais ligado, porque queremos que seja enriquecedora e, ao mesmo tempo, independente para cada um. Estamos sempre por perto, mas queremos que tenham atitude, se interajam. Por outro lado, s�o jovens que aprendem com facilidade, s�o antenados com a tecnologia, questionam mais, n�o se convencem com qualquer argumento, o que tamb�m � importante e at� mudou a nossa forma de trabalhar. O aprendizado tem via de m�o dupla.”
FIQUE POR DENTRO
Nova instru��o para o Programa Jovem Aprendiz
Ruy Leal, superintendente da ONG Via de Acesso, diz que, anteriormente, as mudan�as eram apresentadas apenas como sugest�es. Por�m, a partir de agora, tornam-se condi��es obrigat�rias ao programa, de acordo com o Minist�rio do Trabalho.
– O Minist�rio do Trabalho determina que, no m�nimo, 10% da carga hor�ria te�rica seja aplicado no in�cio do contrato na entidade formadora. Isso �, depois da contrata��o, o jovem dever� comparecer para capacita��o durante as duas primeiras semanas, e somente depois vai para a empresa, para iniciar as atividades pr�ticas. Para essa exig�ncia � importante ressaltar que, nesse in�cio, o aprendiz do Via de Acesso ter� conte�dos como inform�tica, marketing pessoal, legisla��o trabalhista, sa�de e seguran�a do trabalho.
– Diante dessa mudan�a na carga hor�ria inicial, a data de in�cio do contrato do aprendiz passar� a ser definida pela entidade formadora, nesse caso, pelo Instituto Via de Acesso. As aberturas de turma dever�o ocorrer na primeira e terceira semanas de cada m�s, ou de acordo com a demanda de contrata��o de jovens.
– Essas novas diretrizes impactar�o quanto aos dias e hor�rios do curso de aprendizagem, pois estes ser�o definidos pela entidade formadora, sem possibilidade de mudan�as posteriores de turmas, j� que essas informa��es ser�o obrigatoriamente registradas no portal Mais Aprendi ,do Minist�rio do Trabalho.
– Quanto ao contrato de aprendizagem a partir de agora, dever� ser emitido pela entidade formadora, pois ele conter�, al�m das informa��es j� utilizadas atualmente, outras, como calend�rio de aulas, rela��o de atividades te�ricas, rela��o das atividades pr�ticas (de acordo com a Classifica��o Brasileira de Ocupa��o (CBO)), hor�rio de trabalho e endere�o de trabalho.
DICAS PARA O JOVEM APRENDIZ*
– Seja organizado com as tarefas propostas no dia a dia
– N�o tenha medo de questionar o que n�o entendeu. � importante ter certeza de que segue as orienta��es corretas
– � indispens�vel ser criativo, propondo novas maneiras de fazer as tarefas. N�o � porque voc� � novo na empresa que sua opini�o n�o ser� avaliada
– Gerencie o seu tempo para conseguir se desenvolver nos estudos e tamb�m na empresa
– Procure se comunicar de forma clara e assertiva, estabelecendo empatia com as pessoas
– Esteja sempre aberto a ouvir e a aceitar cr�ticas que proporcionem desenvolvimento e aprendizado
– Seja respeitoso, cordial, otimista e simp�tico
– Cuide e preserve os espa�os de uso coletivo
– Identifique suas potencialidades, crie uma rela��o de aceita��o e respeito consigo mesmo
– Demonstre sempre interesse e curiosidade pelo desenvolvimento das suas atividades
– Seja discreto na hora de fazer coment�rios e procure n�o invadir o espa�o dos outros
– Fique atento ao seu comportamento
OS BENEF�CIOS DO JOVEM APRENDIZ*
– Tem direito a Carteira de Trabalho assinada
– Recolhimento do Fundo de Garantia por Tempo de Servi�o (FGTS)
– F�rias equivalente ao per�odo trabalhado
– 13º sal�rio
– H� empresas que oferecem vale-refei��o e transporte
*Fonte:www.vagas.com.br
SEDE DE CONHECIMENTO
Guilherme Medina, diretor de RH da L�der Avia��o, diz que al�m do programa com jovem aprendiz, h� tamb�m o de est�gio e trainee (foto: Edesio Ferreira/EM/D.A Press 12/03/2013)
Com as portas abertas h� mais de tr�s d�cadas para os jovens, a L�der Avia��o tem atualmente, em seu quadro de colaboradores, 41 futuros profissionais, entre jovens aprendizes, com idade entre 14 e 24 anos, e adolescentes trabalhadores, entre 16 e 18 anos. Guilherme Medina, diretor de RH da empresa, conta que eles est�o distribu�dos nas mais diversas �reas, principalmente, a administrativa, diante de uma organiza��o com identidade bem t�cnica. “Ocupam fun��es, lidando com material de log�stica, suprimentos, �rea financeira e RH entre outras”.
Guilherme Medina destaca a parceria da L�der Avia��o no programa de aprendizagem desenvolvido pelo Centro Salesiano do Adolescente Trabalhador (Cesam), institui��o n�o governamental sem fins lucrativos e filantr�pica, mantida pelos salesianos da Inspetoria S�o Jo�o Bosco (ISJB), que colabora na forma��o de jovens aptos a transformar a realidade em que vivem. “O Cesam j� faz o filtro e o treinamento introdut�rio, que s�o muito bons. Depois, o jovem � encaminhado para a L�der, onde passar� por todo o processo de recrutamento e sele��o, com entrevistas e avalia��o do solicitante de cada setor, que analisam o perfil do jovem de acordo com a demanda.”
Se, para alguns, h� mais aspectos conflitantes do que estimulantes, nos jovens da chamada gera��o millennials (ou gera��o Y – nascidos entre 1980 e 2000), para Guilherme Medina eles se apresentam com caracter�sticas desafiadoras. A alardeada dispers�o, facilidade para mudar de emprego, poder de argumenta��o, altamente questionadores e a forma como interagem com a tecnologia (a maioria n�o vive sem as ferramentas) em nada atrapalham. “Antes de mais nada, precisamos ter em conta que s�o jovens, inexperientes, imaturos, muitas vezes de diferentes classes sociais e, portanto, temos de ter percep��o e sensibilidade no trato. Acredito que, se bem direcionados e conduzidos, est�o sim, atentos e interessados em se aculturar.”
Conforme Guilherme Medina, saber trabalhar com esse jovem vai depender da gest�o e da educa��o da empresa. “Percebo que eles est�o abertos ao aprendizado e ao desenvolvimento. Claro, existem os mais dispersos, pode ter um ou outro mais resistente quanto ao cumprimento de normas, como hor�rio, a tecnologia pode ser uma distra��o, no entanto, se bem orientados, v�o absorver o necess�rio. E todo o processo � acompanhado tamb�m de perto pelo Cesam.”
A L�der trata o fator humano como fundamental em seus neg�cios, valorizando-o em seu dia a dia. Entendem que seus colaboradores s�o os verdadeiros respons�veis pelo sucesso da empresa. Prova desse comprometimento � o aproveitamento em seu quadro de muitos jovens aprendizes. “A empresa d� oportunidade e temos exemplos colaboradores com 30, 26, 21 anos de casa e alguns respons�veis por departamentos, assim como com um, quatro, seis anos de empresa que come�aram pelo programa e ganham uma carreira e uma profiss�o.”
Guilherme Medina destaca que o programa da L�der � uma oportunidade de conhecer o neg�cio e ganhar conhecimento. Ele cita o comprometimento dos pais. “Merecem elogio, porque se envolvem, mostram vis�o de futuro e preocupa��o com a forma��o dos filhos como ser humano e cidad�os. Temos uma integra��o bacana, eles nos procuram para agradecer ou pedir orienta��o. Estamos sempre abertos”.
MAIS OPORTUNIDADES Al�m do programa com jovem aprendiz, a L�der tamb�m tem o de est�gio, com o objetivo de possibilitar o aprendizado acad�mico, com a aquisi��o de experi�ncia profissional por parte dos estudantes de cursos t�cnicos e superiores; o de trainee, que foca em identificar talentos com forma��o, qualifica��o e perfil diferenciados, com potencial de desenvolvimento para atender �s necessidades atuais e futuras da empresa, colaborando efetivamente para os resultados da empresa; e o de forma��o t�cnica, criado em 2005, que consiste na contrata��o de estagi�rios, com o objetivo de capacitar futuros profissionais com habilita��o t�cnica (Grupo Moto Propulsor (GMP), c�lula ou avi�nicos) para atuar nas �reas de manuten��o da Unidade de Opera��o de Helic�pteros. Est�o aptos a participar do programa pessoas com, no m�nimo, 18 anos, ensino m�dio completo e curso t�cnico conclu�do em mec�nica, eletr�nica, mecatr�nica ou el�trica. Os candidatos devem ter disponibilidade de hor�rio integral para fazer o curso e o est�gio, disponibilidade para morar nas bases da L�der onde estar�o alocadas as vagas, al�m de poder mudar depois da conclus�o do programa.
APOSTA NA DIVERSIDADE
Jovens aprendizes do Apoio Mineiro/Grupo Super Nosso (foto: Vanderleia dos Reis Martins/Divulga��o
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De olho nos jovens de 16, 17 anos, o Apoio Mineiro, grande rede atacadista de supermercados, contrata 5% da cota de 15% de aprendizes para a empresa, com a possibilidade de cumprir o contrato de um ano. “Temos parceria com o Senac e, de acordo com o desenvolvimento, cada um tem a chance de se tornar um colaborador. Temos um n�mero consider�vel, j� que, dependendo da loja, os 5% significam 15 jovens”, explica Fl�via Oliveira, gerente de recrutamento.
Fl�via Oliveira conta que os jovens, normalmente, ocupam cargos nos mais diversos servi�os demandados dentro de um supermercado: reposi��o, precifica��o de mercadoria, controle de validade, organiza��o de estoque, auxiliar de embalagem, enfim, “aprendem a rotina di�ria”.
Conforme a gerente, diversidade � palavra-chave no Apoio Mineiro e a proposta � equilibrar trabalhadores de todos os perfis. “Nossa maior aten��o �, antes de mais nada, o perfil comportamental, at� mais que outras exig�ncias. Acreditamos que, para o jovem evoluir e nos dar retorno, � fundamental que ele se identifique com o setor do com�rcio, que saiba lidar com as pessoas, seja cordial com o cliente e, principalmente, tenha interesse pelo segmento.”
Fl�via conta que, al�m da fun��o de sele��o do RH, o jovem � acompanhado de perto pelo gestor da loja, que lhes apresenta desafios. “Por isso, buscamos jovens que queiram participar do programa porque � importante pra ele, e n�o s� porque seus pais querem. Quando ele busca uma ocupa��o, o resultado � mais positivo. Do contr�rio, nem sempre sua forma��o se sustenta. A tend�ncia � n�o chegar ao fim do contrato. Se ele v� sentido, tudo funciona melhor.”
Para Fl�via, o jovem no Apoio Mineiro recebe suas atribui��es e, “aqueles com perfil mais disperso, procuramos engaj�-los e responsabiliz�-los para que se sintam parte do processo, da produtividade e do resultado. Eles precisam se sentir desafiados. Percebemos que gostam de um ambiente interativo, n�o lidam t�o bem com a rotina da sala de aula, por exemplo, preferem a pr�tica. Por isso, se o Senac nos avisa que a assiduidade est� em falta, procuramos mostrar a import�ncia de cada etapa do processo de aprendizagem”.
Franciely Costa Gomes, de 17 anos, � repositora de mercadorias e diz que todos os dias aprende algo novo (foto: Arquivo pessoal
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M�SICA A estudante Franciely Costa Gomes, de 17 anos, est� h� tr�s meses na empresa. � o seu primeiro emprego. “Sou repositora de mercadorias. Uma prima j� trabalhava aqui, mas em outra loja, e me avisou do processo de sele��o e encaminhei meu curr�culo. Foi bacana ser selecionada, � uma experi�ncia rica porque todos os dias fa�o descobertas, fico a par de algo novo. E os mais experientes est�o prontos a nos ajudar.”
Quanto ao futuro, Franciely n�o sabe o que o destino lhe reserva, mas ela pretende buscar uma carreira no mundo da m�sica. “Quero ser professora de m�sica, dar aulas. � o que amo desde crian�a e toco v�rios instrumentos: teclado, bateria, viol�o, flauta e contrabaixo.”
MANUAL DA APRENDIZAGEM*
De acordo com o manual publicado pelo Minist�rio do Trabalho, edi��o revista e ampliada em 10 janeiro de 2014:
O que � o contrato de aprendizagem?
� o acordo de trabalho especial, ajustado por escrito e por prazo determinado n�o superior a dois anos, em que o empregador se compromete a assegurar ao aprendiz, inscrito em programa de aprendizagem, forma��o t�cnico-profissional met�dica compat�vel com o seu desenvolvimento f�sico, moral e psicol�gico. Em contraponto, o aprendiz se compromete a executar com zelo e dilig�ncia as tarefas necess�rias a essa forma��o. A validade do contrato de aprendizagem pressup�e anota��o na Carteira de Trabalho e Previd�ncia Social, matr�cula e frequ�ncia do aprendiz na escola, caso n�o tenha conclu�do o ensino fundamental. Al�m disso, � necess�ria a inscri��o em programa de aprendizagem desenvolvido sob a orienta��o de entidade qualificada em forma��o t�cnico-profissional met�dica.
O que � o programa de aprendizagem?
� o programa t�cnico-profissional que prev� a execu��o de atividades te�ricas e pr�ticas, sob a orienta��o pedag�gica de entidade qualificada em forma��o t�cnico-profissional met�dica e com atividades pr�ticas coordenadas pelo empregador. As atividades devem ter a supervis�o da entidade qualificadora, em que � necess�rio observar uma s�rie de fatores, como o p�blico-alvo, perfil socioecon�mico, objetivos, conte�dos e potencial de aplica��o no mercado de trabalho.
Quem pode ser aprendiz?
O aprendiz � o adolescente ou jovem entre 14 e 24 anos que esteja matriculado e frequentando a escola, caso n�o tenha conclu�do o ensino m�dio, e inscrito em programa de aprendizagem (artigo 428, caput e § 1º, da CLT). Caso o aprendiz seja pessoa com defici�ncia, n�o haver� limite m�ximo de idade para a contrata��o (artigo 428, § 5º, da CLT).