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Estado de Minas CURR�CULO

Os profissionais que n�o conseguem emprego por serem 'superqualificados'

At� intuitivamente, os empregadores deveriam querer contratar os candidatos mais qualificados e experientes. Mas nem sempre � o que acontece


12/07/2022 20:01 - atualizado 13/07/2022 00:38

Reunião de trabalho
(foto: Getty Images)

Quando Emily quis abra�ar a carreira dos seus sonhos, ela imaginou que a melhor op��o seria candidatar-se a um cargo administrativo inicial e trabalhar para ser promovida.

Havia uma vaga aberta em uma empresa importante de entretenimento em Londres, e seus cinco anos trabalhando em outras multinacionais significavam que ela atendia a todas as exig�ncias.

A estrat�gia parecia estar funcionando. O setor de recursos humanos da empresa entrou em contato com Emily em quest�o de dias. Mas havia boas e m�s not�cias.




"Eles disseram que meu curr�culo era impressionante e que eu era uma candidata excepcional", segundo ela. "Mas, na entrevista, eles me disseram que eu era qualificada demais - que rapidamente acabaria entediada em um emprego abaixo da minha experi�ncia."

Em compensa��o, a empresa prometeu a Emily um novo cargo. Mas, no fim, isso n�o deu certo. Emily ent�o ficou presa em um emprego do qual ela queria sair e ainda acabou em um beco sem sa�da: era qualificada demais para um cargo inicial na carreira que ela desejava e n�o tinha experi�ncia suficiente para candidatar-se a uma vaga em um cargo equivalente ao seu.

Emily - identificada apenas pelo primeiro nome para proteger sua seguran�a no emprego - ficou frustrada com todo esse processo.

"Eu preferia ter assumido o cargo do an�ncio original", ela conta. "Talvez eu tivesse achado o trabalho f�cil, mas nada impediria a companhia de me promover se eles me achassem boa. Ouvir que eu era 'boa demais', no in�cio, foi lisonjeador. Mas, quando percebi que n�o havia conseguido o emprego, eu me senti ludibriada."

� primeira vista, ser superqualificado para um emprego pode parecer algo positivo. Um candidato com mais experi�ncia logicamente seria colocado no topo da pilha de curr�culos. E, para um empregador, contratar um funcion�rio que exceda as exig�ncias para o cargo parece ser um golpe de sorte.

Mas n�o � assim que geralmente funciona. Na verdade, ser qualificado demais �s vezes pode ser um motivo para ser descartado pelas empresas. Talvez contra sua pr�pria intui��o, os empregadores muitas vezes rejeitam candidatos com base no excesso de conhecimento e experi�ncia - mesmo com a dificuldade de encontrar talentos dispon�veis no mercado.

'Bom n�o � necessariamente bom'

� medida que os trabalhadores progridem nas suas carreiras, eles normalmente assumem cargos mais importantes, gradualmente construindo seus caminhos para postos de chefia ou executivos. Mas, quanto mais alto voam os funcion�rios, menos alternativas de trabalho eles t�m dispon�veis.

"Eles caminham em dire��o ao topo da pir�mide", explica Terry Greer-King, vice-presidente para a Europa, Oriente M�dio e �frica da empresa de ciberseguran�a SonicWall, com sede em Londres. "Quanto mais experi�ncia eles ganham, menor � o seu leque de oportunidades. Tentar algo diferente exigiria voltar � base da pir�mide."


Mulher observa reunião por vídeo na tela de um computador
Empregadores deveriam querer contratar os candidatos mais qualificados e experientes - mas nem sempre � o que acontece (foto: Getty Images)

�s vezes, os funcion�rios querem dar um passo atr�s para seguir adiante. Pode ser para uma mudan�a de carreira, como no caso de Emily, ou porque um trabalhador experiente, lutando para subir o pr�ximo degrau da escada, decide por um movimento lateral ou para baixo, projetando um ganho futuro.

Circunst�ncias pessoais tamb�m podem influenciar essa quest�o. Uma transfer�ncia ou retorno ao trabalho ap�s uma pausa na carreira pode levar um trabalhador a aceitar um cargo inferior.

Mas, embora essas circunst�ncias possam parecer boas raz�es para os candidatos, encontrar trabalhadores candidatando-se para cargos aparentemente "abaixo" do seu n�vel atual na carreira pode ser um sinal de alerta para os recrutadores.

Para Greer-King, o curr�culo de um candidato excessivamente qualificado pode indicar que ele muda de empregos com frequ�ncia ou que permanece estagnado, causando suspeitas.

"Para contratar algu�m, voc� precisa ser paranoico", segundo ele. "Se algu�m estiver descendo um ou dois n�veis e provavelmente j� atingiu o que o cargo oferece, voc� precisa perguntar quais s�o os seus motivos."

Existem candidatos que conseguem explicar com sucesso seus motivos e convencer as empresas de que realmente desejam dar esse passo atr�s, mas outros podem atrair o receio dos recrutadores de que um cargo mais baixo os deixar� insatisfeitos.

A preocupa��o � que o funcion�rio superqualificado logo sinta que n�o tem desafios, ficando entediado e ansioso pela pr�xima mudan�a.

"Quando algu�m entra em uma empresa, pode levar de tr�s meses a um ano para que seja totalmente produtivo", explica Greer-King. "Mesmo algu�m superqualificado para o cargo n�o consegue chegar e fazer o trabalho. � preciso entender a cultura, os processos e a tecnologia. Por isso, investir todo esse tempo em algu�m, apenas para que saia seis meses depois, n�o � a decis�o mais inteligente na hora da contrata��o."

Os funcion�rios em cargos superiores em setores onde a escada corporativa est� bem estabelecida, como a consultoria administrativa, podem ser particularmente vulner�veis aos perigos da qualifica��o excessiva.

"Algu�m pode ter profunda experi�ncia em um campo, candidatar-se a um emprego em outro e acabar apenas ouvindo da equipe de recrutamento que deveria candidatar-se a um cargo mais alto", afirma Davis Nguyen, fundador da escola de treinamento My Consulting Offer, com nos Estados Unidos. "Mas, se a empresa n�o tiver um cargo aberto [naquele n�vel], o candidato acaba sendo rejeitado."

Para rejeitar esses trabalhadores, os empregadores podem alegar que eles t�m experi�ncia demais para o cargo. Ou, �s vezes, eles informam que simplesmente n�o s�o os mais adequados para a empresa.

"Os empregadores querem contratar a pessoa certa, no momento certo, que possa crescer no cargo, desenvolver-se e amadurecer", segundo Greer-King. "Os funcion�rios geralmente querem desafios. Com isso, eles tendem a ser mais felizes e permanecer por mais tempo."

Quest�o de agilidade e flexibilidade


Mulher em frente a computador
"Algu�m 'bom demais' para o cargo ser� apenas ben�fico para a companhia a curto prazo", diz Shelley Crane (foto: Getty Images)

� claro que alguns empregadores �geis conseguem aproveitar esses trabalhadores superqualificados.

Greer-King afirma que especificamente as pequenas empresas, menos limitadas pelas hierarquias e estruturas corporativas, s�o mais capazes de contratar funcion�rios com qualifica��es altas demais. "As startups [empresas de tecnologia iniciantes] s�o �geis e t�m flexibilidade", segundo ele. "Elas podem contratar um candidato superqualificado e justificar essa contrata��o com um cargo e sal�rio adequados para sua experi�ncia."

Empregadores �geis podem tamb�m contratar trabalhadores qualificados demais e promov�-los rapidamente, antecipando-se a eventuais sentimentos de t�dio, segundo Shelley Crane, diretora na empresa de recursos humanos Robert Half, com sede no Reino Unido. Desta forma, as empresas beneficiam-se da experi�ncia do funcion�rio, mantendo sua motiva��o e comprometimento de longo prazo.

"Algu�m 'bom demais' para o cargo ser� apenas ben�fico para a companhia no curto prazo", segundo ela, "a menos que haja excelentes oportunidades de crescimento interno."

As empresas podem tamb�m ser mais dispostas a acomodar trabalhadores superqualificados mais jovens. Greer-King afirma que seus motivos para uma mudan�a para baixo podem ser justificados mais facilmente.

"Quanto mais idade voc� tiver, maior o preju�zo em uma posi��o j�nior - e � mais prov�vel que sua necessidade imediata seja financeira. Contratar um candidato com mais idade tamb�m significaria que ele estar� n�o apenas sendo chefiado por algu�m com menos experi�ncia, mas tamb�m por mais jovem do que ele - o que pode criar quest�es estruturais", explica ele.

No momento, a crise de contrata��o em algumas partes do mundo significa que os empregadores n�o podem mais ser t�o seletivos com rela��o aos trabalhadores superqualificados. Greer-King reconhece que eliminar candidatos com experi�ncia excessiva � mais dif�cil quando a luta pelos talentos � mais intensa.

Mas Crane afirma que as empresas est�o mais concentradas em preservar os funcion�rios atuais, e os candidatos superqualificados ainda est�o sendo dispensados. "No mercado atual, pode ser caro e demorado encontrar algu�m novo", afirma ela. "Quando os funcion�rios superqualificados saem da empresa, ela normalmente volta para o ponto de partida."

'Efeito catastr�fico'

Os trabalhadores ansiosos por mudan�as podem ser tentados a reduzir deliberadamente seus conhecimentos ou omitir experi�ncias no curr�culo, mas Shelley Crane n�o aconselha essa pr�tica. Como o hist�rico profissional do candidato provavelmente ser� discutido na entrevista de emprego, qualquer desonestidade pode ser descoberta mais adiante no processo.

"Nunca � uma boa ideia enxugar seu curr�culo", afirma ela. Crane tamb�m aconselha os profissionais, de forma geral, a n�o se candidatar a cargos para os quais s�o qualificados demais: "Algu�m que se candidata a diversos cargos abaixo do seu n�vel de conhecimento e � rejeitado pode ter um efeito catastr�fico sobre a sua confian�a".

'Retiraram a minha escolha'

Ter paci�ncia e procurar emprego com determina��o pode trazer recompensas, mas a realidade � que h� candidatos experientes que podem n�o ter sucesso - e n�o por culpa deles. Isso pode ocorrer com funcion�rios de n�vel s�nior, especialmente aqueles que trabalharam em uma mesma empresa por muito tempo.

"Eles podem ter se enraizado na cultura de outro ambiente de trabalho", afirma Terry Greer-King. "Isso os torna menos male�veis."

Mas o inconveniente de ser qualificado demais pode prejudicar qualquer pessoa, como aconteceu com Emily. Embora nunca tenha atingido seu cargo ideal, ela acabou se voltando para a carreira que desejava, encontrando um cargo em uma empresa de entretenimento menor que acabou sendo uma promo��o com rela��o ao seu emprego anterior.

Mas a experi�ncia de ser considerada qualificada demais para o emprego dos seus sonhos a fez questionar quais raz�es levam uma empresa a preferir isolar uma boa trabalhadora como ela, que estava feliz por come�ar por baixo e disposta a agregar valor �quela companhia.

"Candidatei-me ao cargo porque realmente acreditava que poderia oferecer muito para aquela empresa", afirma ela. "Era minha escolha. Dizer que eu era superqualificada retirou aquela escolha de mim."

Leia a vers�o original desta reportagem (em ingl�s) no site BBC Worklife.

- Texto originalmente publicado em https://www.bbc.com/portuguese/vert-cap-62127190

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