(none) || (none)
Publicidade

Estado de Minas

Entenda: Escravos deram contribui��o essencial para a aboli��o no Brasil

Estudos conduzidos nos �ltimos anos mostram que o fim da escravid�o no pa�s n�o foi um presente dos brancos, mas uma �rdua conquista dos negros ap�s um longo processo de luta. Veja v�deo.


postado em 11/05/2018 07:05 / atualizado em 25/05/2018 19:56

Em 13 de maio de 1888, a princesa Isabel (1846-1921) assinou o documento que oficialmente acabou com o regime de escravid�o que perdurou por 300 anos no Brasil. A Lei �urea entrou para a hist�ria e passou a ser reconhecida pelos brasileiros como a respons�vel pela liberta��o da popula��o escrava do pa�s. Essa ainda � a vers�o ensinada na maioria das escolas e universidades, mas revis�es e pesquisas conduzidas nos �ltimos anos revelaram que um movimento nacional, gradativo, e com grande contribui��o de Minas Gerais, antecipou e at� mesmo for�ou a queda da escravid�o oficial no Brasil.


Para ver mais v�deos como este, acesse o canal #praentender

Um dos pontos importantes para entender os bastidores da sociedade brasileira durante o Imp�rio � a compreens�o da representatividade dos escravos dentro da popula��o do Brasil na �poca. Na primeira metade do s�culo 18, o total das pessoas escravas correspondia a 50% dos habitantes. No come�o de 1888, quando a Lei �urea foi assinada pela princesa Isabel, essa mesma popula��o n�o representava mais que 10% das pessoas escravas no Brasil.

A princesa Isabel aclamada pela multidão na sacada do Paço Imperial, no Rio de Janeiro, após a assinatura da Lei Áurea, em 13 de maio de 1888(foto: Antonio Luiz Ferreira/Divulgação)
A princesa Isabel aclamada pela multid�o na sacada do Pa�o Imperial, no Rio de Janeiro, ap�s a assinatura da Lei �urea, em 13 de maio de 1888 (foto: Antonio Luiz Ferreira/Divulga��o)

As leis do Ventre Livre, promulgada em 1871 para garantir a liberdade aos filhos de mulheres escravizadas a partir daquele momento, e a dos Sexagen�rios, institu�da em 1885 para libertar escravizados com mais de 65 anos, tiveram contribui��es t�midas nesse processo. A primeira, devido ao curto per�odo que a separava do 13 de maio de 1888. A outra, na pr�tica tamb�m teve pouco impacto na redu��o num�rica de escravos pelo fato de poucos conseguirem atingir essa idade.


O historiador Eduardo Fran�a, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), dedicou parte de sua vida acad�mica estudando o per�odo pr�-aboli��o. O resultado de seu trabalho mostra que a hist�ria de liberdade no Brasil foi, na verdade, escrita por escravos que alcan�aram sua liberta��o. A alforria, para a maioria dos negros, foi uma �rdua conquista e n�o um presente. “Esse processo de liberta��o � longo, rico e complexo”, afirma.

Cerca de 10% da população brasileira era composta por escravos na data da assinatura da Lei Áurea(foto: Marcelo Lélis)
Cerca de 10% da popula��o brasileira era composta por escravos na data da assinatura da Lei �urea (foto: Marcelo L�lis)

Nele, segundo o historiador, Minas Gerais foi fundamental. “Al�m de ter a maior popula��o geral, a maior popula��o escrava e a maior popula��o de libertos, foi uma sociedade que se urbanizou muito profundamente no s�culo 18”, explica Fran�a. Em 1780, havia cerca de 310 mil moradores em Minas, sendo 110 mil escravos, outros 100 mil ex-escravos, e 100 mil nascidos livres, entre brancos e n�o brancos. Ou seja, dois ter�os da popula��o era formada por escravos e ex-escravos.

E foi nesse cen�rio urbano das vilas e arraiais de Minas Gerais que homens e mulheres escravas se inseriram na economia e iniciaram a hist�ria de liberdade de gera��es, muito antes do gesto da princesa Isabel oficializar o fim do regime. “Eles desenvolviam diversas atividades, desde o pequeno com�rcio, � minera��o do ouro em p�, aos servi�os de limpeza, � prostitui��o. Com isso, eles acumularam pec�lios. Tudo isso se revertia em bens com os quais eles pagavam as alforrias”, detalha o historiador.

Credi�rio da alforria

As formas de pagamento aos donos de escravos tamb�m eram variadas. Al�m do acerto em dinheiro ou ouro em p�, os acordos de liberta��o envolviam a entrega de animais. As negocia��es inclu�am ainda um sistema que se assemelha a um credi�rio de liberdade, com pagamentos parcelados. “Geralmente as pessoas nem sonham que existia isso, mas foi muito frequente esse credi�rio da alforria. O pagamento era feito � presta��o, que era chamado de quarta��o”, explica Fran�a.

Os estudos conduzidos pelo historiador mostram que a aboli��o oficial da escravid�o no Brasil, na realidade, acabou com um regime que vinha perdendo for�a h� anos e estava completamente deteriorado. E um dos motivos do decl�nio foi justamente a maneira que os pr�prios escravos desenvolveram para alcan�ar a liberdade.

Poder feminino

Em todo esse processo de transforma��o pr�-Lei �urea, as mulheres foram fundamentais no processo de liberdade do regime escravista. Segundo a pesquisa conduzida pelo historiador da UFMG, entre a popula��o escrava no Brasil Imp�rio a propor��o era de dois a tr�s homens para cada mulher. Entre os alforriados era o inverso. “Isso indica como essas mulheres ex-escravas, sejam africanas, filhas de africanas nascidas no Brasil, mulatas ou pardas, foram importantes no processo inicial de liberdade”, explica Fran�a.

(foto: Marcelo Lélis)
(foto: Marcelo L�lis)

O destaque feminino na popula��o liberta daquela �poca � atribu�da �s formas desenvolvidas pelas mulheres negras de se inserir na economia. “Elas dominaram, por exemplo, o pequeno com�rcio de alimentos na rua. Com o pec�lio acumulado dessas atividades, pagavam pela alforria”, comenta o historiador. Segundo ele, era comum, inclusive, que as mulheres alforriadas comprassem a liberdade dos maridos.

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)