Bruno n�o gosta de comentar o assunto. Ontem, na entrevista coletiva organizada pelo Boa para apresent�-lo oficialmente como novo refor�o do clube, o jogador se recusou a responder �s perguntas relacionadas ao crime, cometido em 2010, no auge da carreira do ent�o capit�o do Flamengo. A imprensa foi comunicada pelo presidente do clube, Rone Miraes, que o jogador n�o responderia �s perguntas sobre o assassinato.
Mas a pergunta foi feita. “Queria saber sua opini�o: por que voc� acha que merece vestir a camisa de um time de futebol novamente, depois de condenado por um crime t�o b�rbaro?”. “N�o vou te responder essa pergunta”, limitou-se a dizer.
TEMAS PROIBIDOS Bruno entrou na sala de entrevistas por uma porta na qual se v� uma foto de Madre Tereza de Calcut�. Chegou vestido com a camisa oficial do Boa, ainda estampando as marcas dos ex-patrocinadores, que romperam com o clube depois da enxurrada de cr�ticas nas redes sociais, diante da decis�o da diretoria do time de bancar a contrata��o do atleta. Bruno tamb�m n�o se sentiu � vontade para comentar esse assunto.
Preferiu falar de Deus. Ele conta ter se convertido � religi�o no pres�dio. “Deus est� abrindo as portas novamente para mim”, agradeceu. Disse mais: “O homem pode fazer planos, projetos, mas a �ltima palavra vem de Deus”. Mas n�o deixou de cutucar ex-amigos: “Tudo o que aconteceu me fez perceber quem realmente estava ao meu lado e quem n�o estava”.
RISO E CHORO O apoio ao jogador continua dividido fora de seu c�rculo pessoal. Ontem, torcedores foram ao centro de treinamento do Boa aplaudir e tirar selfies com o novo goleiro, que fez testes na academia e foi apresentado ao elenco do time no gramado. Longe dali, por�m, um grupo de mulheres deixou marcado seu protesto, no Centro de Varginha.
No CT do Boa, Ren�, de 13, foi um dos que sa�ram felizes da vida. “� um goleir�o. Vai ajudar o Boa a subir para Primeira Divis�o do Brasileiro”, acredita. Um casal que levou o filho tamb�m ficou encantado com o arqueiro. “Sou Flamengo, amigo”, disse o pai. Ele chegou perto do jogador com o menino no colo e posou para foto. Com a presen�a de v�rios jornalistas, houve empurra-empurra e gritaria para registrar a cena. Assustada, a crian�a chorou. Mas o pai saiu feliz com a foto.
Por�m, na tradicional concha ac�stica de Varginha, no Centro, o clima era bem outro. Foi o lugar que um grupo de mulheres escolheu para protestar contra a chegada do goleiro ao clube que manda seus jogos na cidade. Elas vestiam preto em sinal de luto, exibiam cartazes e se deitaram na cal�ada em sinal de protesto. Tamparam parte do rosto, por temer retalia��es. “Tive de apagar meu Facebook. Fui xingada e amea�ada. Vou registrar um boletim de ocorr�ncia. Sou torcedora do Boa e n�o irei mais ao campo”, disse uma delas.

AN�LISE DA NOT�CIA
Caso Eliza n�o � passado
Andr� Garcia
Bruno se recusou a responder �s perguntas sobre o caso Eliza Samudio ao ser apresentado ontem pelo Boa Esporte. Dirigentes do time avisaram, antes da entrevista, que n�o tolerariam questionamentos relacionados ao assassinato. Parecem descolados da realidade. Diferentemente do que sustenta o goleiro, o crime que chocou o pa�s h� quase sete anos n�o � parte do passado. Com a recente decis�o do ministro Marco Aur�lio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), o jogador se tornou, juridicamente, um condenado pelo Tribunal do J�ri de Contagem que aguarda em liberdade a an�lise de um recurso contra a senten�a. Assim, pode ter de voltar � cadeia se o recurso for negado ou se o plen�rio do STF discordar da avalia��o de Marco Aur�lio. � certo que, no momento, Bruno pode considerar legal e leg�timo voltar a jogar. Mas o goleiro deve recordar que � igualmente leg�timo que a torcida do Boa Esporte e a sociedade brasileira cobrem respostas sobre um processo criminal ainda em andamento na Justi�a. At� hoje, por exemplo, n�o se sabe onde est� o corpo de Eliza.
O cartola que bancou a contrata��o de risco

Mas Rone, que ganhava a vida no ramo de contabilidade antes de fundar o Boa, promete anunciar o novo patrocinador master em breve. “Nesta ou na pr�xima semana”, acredita ele. O dirigente garante que sempre pensa no lado social. “Fiz uma escolha que, em um futuro breve, ajudar� o time e a cidade de Varginha. Tudo na vida passa. Tanto as coisas boas quanto as ruins”, filosofa.
Sobre a pol�mica envolvendo o mais novo integrante do plantel, ele lembra que o Boa fez parceria com o Judici�rio em 2016, e contratou presidi�rios para trabalhar na reforma de seu centro de treinamento, em servi�o que j� foi prestado. “Se eu contratasse o Bruno para ser pedreiro teria essa repercuss�o?”, questionou.
treinador J� o t�cnico do Boa, Julinho Camargo, informou n�o ter sido consultado sobre a contrata��o. “Desde o primeiro momento, fui contratado para treinar o time, n�o para contratar. O clube tem dono, e eu sou funcion�rio. O dono n�o tem que consultar quando contrata um funcion�rio”, afirmou ele. No entanto, o treinador afirma que receber� o novo atleta da melhor forma poss�vel e disse que ele tem tudo para disputar a titularidade. “Vem de uma base no Atl�tico, passou por Corinthians, Flamengo. � um jogador de alto n�vel. Se vai conseguir retomar a performance, s� o tempo dir�.” (Com Jo�o V�tor Marques)