Nas elei��es de 2018, o Brasil assistiu a uma onda de debates agressivos, especialmente nas redes sociais, que se dividiam em dois lados: os de esquerda e os de direita, associadas pela maioria aos partidos PT, PDT e PSOL, e PSL, PSDB e Avante respectivamente. Definir um posicionamento pol�tico apenas pelo vi�s partid�rio pode ser uma armadilha repleta de clich�s, j� que essa divis�o n�o reflete a complexidade e contradi��es da sociedade. O fato � que n�o existe um consenso quanto a uma defini��o comum e �nica de esquerda e direita. Existem “v�rias esquerdas e direitas”. Isso porque esses conceitos s�o associados a uma ampla variedade de pensamentos pol�ticos.
As ideologias “esquerda” e “direita” foram criadas durante as assembleias na Fran�a do s�culo XVIII. Nessa �poca, a burguesia procurava, com o apoio da popula��o - especialmente os "sans-culotte", diminuir os poderes da nobreza e do clero. Era a primeira fase da Revolu��o Francesa (1789-1799).
Com a Assembleia Nacional Constituinte montada para criar a nova Constitui��o, as classes mais ricas n�o gostaram da participa��o das mais pobres, e preferiram n�o se misturar, sentando separadas, do lado direito. Por isso, o lado esquerdo foi associado � luta pelos direitos dos trabalhadores, e o direito ao conservadorismo e � elite francesa.
Dentro dessa vis�o, ser de esquerda presumiria lutar pelos direitos dos trabalhadores e da popula��o mais pobre. J� a direita representaria uma vis�o mais conservadora, ligada a um comportamento tradicional, que busca manter o poder da elite e promover o bem estar individual.
Com o passar do tempo, as duas express�es passaram a ser usadas em outros contextos. Atualmente, por exemplo, os partid�rios que se colocam contra as a��es do regime vigente (oposi��o) seriam entendidos como “de esquerda” e os defensores do governo em vig�ncia (situa��o) seriam a ala “de direita”. Embora os dois lados realizem reformas, uma diferen�a seria que a esquerda busca promover a justi�a social enquanto a direita trabalha pela liberdade individual.
Ap�s a queda do Muro de Berlim (1989), que p�s fim a Guerra Fria, um novo cen�rio pol�tico se abriu. Por isso, hoje, as palavras ‘esquerda’ e ‘direita’ parecem n�o dar conta da diversidade pol�tica do s�culo 21. Isso n�o quer dizer que a divis�o n�o fa�a sentido, apenas que ‘esquerda’ e ‘direita’ n�o s�o palavras que designam conte�dos fixados de uma vez para sempre. Podem designar diversos conte�dos conforme os tempos e situa��es.
No Brasil, essa divis�o se fortaleceu no per�odo da Ditadura Militar, onde quem apoiou o golpe dos militares era considerado da direita, e quem defendia a instaura��o de um regime socialista baseado nas ideias de Karl Marx, de esquerda. Com o tempo, outras divis�es apareceram dentro de cada uma dessas ideologias. Hoje, os partidos de direita abrangem conservadores, democratas-crist�os, liberais e nacionalistas, e ainda o nazismo e fascismo na chamada extrema direita.
Na esquerda, temos os social-democratas, progressistas, socialistas democr�ticos e ambientalistas. Na extrema-esquerda temos movimentos simultaneamente igualit�rios e autorit�rios, como movimentos oper�rios e comunistas pelo o fim da propriedade privada. H� ainda posi��o de "centro". Esse pensamento consegue defender o capitalismo sem deixar de se preocupar com o lado social. Em teoria, a pol�tica de centro prega mais toler�ncia e equil�brio na sociedade. No entanto, ela pode estar mais alinhada com a pol�tica de esquerda ou de direita. A origem desse termo vem da Roma Antiga, que o descreve na frase: "In mediun itos" (a virtude est� no meio).
Outro tema fundamental � a vis�o sobre a economia. Os de esquerda pregam uma economia mais justa e solid�ria, com maior distribui��o de renda e interfer�ncia do Estado. Os de direita seriam associados ao liberalismo, doutrina que na economia pode indicar os que procuram manter a livre iniciativa de mercado e os direitos � propriedade particular. Algumas interpreta��es defendem a total n�o interven��o do governo na economia, a redu��o de impostos sobre empresas, a extin��o e simplifica��o da regulamenta��o governamental, e outros. Lembrando que h� governos de direita tamb�m com forte interven��o estatal, como o ocorrido durante o per�odo militar no Brasil.
O liberalismo n�o significa necessariamente conservadorismo moral. Na raiz, o adjetivo liberal � associado � pessoa que tem ideias e uma atitude aberta ou tolerante, que pode incluir a defesa de liberdades civis e direitos humanos. J� o conservador seria aquele com um pensamento tradicional. Na pol�tica, o conservadorismo busca manter o sistema pol�tico existente, que seria oposto ao progressismo.
Direita e esquerda tamb�m t�m a ver com quest�es �ticas e culturais. Avan�os na legisla��o em direitos civis e temas como o casamento LGBT e legaliza��o das drogas e aborto s�o vistas como bandeiras da esquerda, com a direita assumindo a defesa da fam�lia tradicional. No que nos faz perceber que esses conceitos s�o mais flex�veis hoje em dia.
Artigo de Filosofia/Sociologia do Percurso Pr�-Vestibular e Enem.