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Estado de Minas GOLPE DE 1964

Opera��o militar partiu de Minas para implantar ditadura no pa�s

Tr�s dias antes, militares mineiros se reuniram com o governador de Minas, Magalh�es Pinto, para debater a��es que levassem � derrubada de Jo�o Goulart


postado em 31/03/2014 08:14 / atualizado em 31/03/2014 08:18

Dias depois do golpe, Olímpio Mourão Filho passa em revista a tropa(foto: Arquivo O Cruzeiro)
Dias depois do golpe, Ol�mpio Mour�o Filho passa em revista a tropa (foto: Arquivo O Cruzeiro)

No final da madrugada de 31 de mar�o de 1964, o general Ol�mpio Mour�o Filho, comandante da 4ª Regi�o Militar, em Juiz de Fora, transformou em a��o as insatisfa��es que cresciam nos quart�is com o ent�o presidente Jo�o Goulart. Apoiado por pol�ticos e empres�rios influentes de Minas Gerais, que criticavam, principalmente, supostas liga��es do presidente com regimes comunistas, Mour�o Filho mandou �s ruas, em dire��o ao estado da Guanabara, 6 mil homens com a miss�o de destituir Jango do poder. "Se n�s n�o a tiv�ssemos feito, ela n�o teria sido jamais come�ada", avaliou o general mineiro em seu livro de mem�rias 14 anos depois. Nesta reportagem da s�rie sobre os 50 anos do golpe, o Estado de Minas mostra como foi a opera��o que partiu do estado para dar in�cio ao regime militar e � ditadura que assombrou o pa�s por 21 anos.

Tr�s dias antes de os militares mineiros partirem em dire��o ao Rio, em 28 de mar�o, os generais Mour�o Filho e Od�lio Denys, ex-ministro da Guerra, se reuniram com o governador de Minas, Jos� de Magalh�es Pinto, em Juiz de Fora, para discutir a��es pr�ticas que poderiam levar � derrubada do presidente Jo�o Goulart. Inicialmente, o grupo planejou que as tropas se movimentariam a partir de 4 de abril, mas Mour�o Filho n�o esperaria at� l� para agir.

Na v�spera do golpe militar houve nova reuni�o organizada por Magalh�es Pinto com o general Carlos Luiz Guedes, da 4ª Regi�o Militar de Belo Horizonte, e Jos� Geraldo de Oliveira, comandante da Pol�cia Militar de Minas. No encontro, desta vez na capital mineira, ficou decidido que seriam mobilizados os batalh�es da PM, da Pol�cia Civil e da Guarda Civil para o movimento contr�rio ao governo federal. Foi anunciado um manifesto defendendo uma a��o para retirar Jango do poder. No entanto, as articula��es entre BH e Juiz de Fora n�o sa�ram como o planejado e, no dia 31, Mour�o Filho anunciou seu pr�prio manifesto e ordenou o in�cio da marcha.

"Faz mais de dois anos que os inimigos da ordem e da democracia, escudados na impunidade que lhes assegura o Sr. Chefe do Poder Executivo, v�m desrespeitando as institui��es, enxovalhando as For�as Armadas. Na certeza de que ele est� a executar uma das etapas do aniquilamento das liberdades c�vicas, as For�as Armadas n�o podem se silenciar diante de tal crime. Minhas tropas, numa hora dessas, marcham para o estado da Guanabara em busca de vit�ria", disse Mour�o.

Poucas horas depois, a Presid�ncia da Rep�blica divulgou nota lamentando a decis�o do general mineiro e do governador Magalh�es Pinto e prometeu uma resposta �s movimenta��es de tropas no estado. "Diante dessa situa��o, o presidente recomendou ao ministro da Guerra, general Jair Dantas Ribeiro, que fossem tomadas imediatamente provid�ncias para debelar a rebeli�o, tendo sido deslocados para Minas unidades do 1º Ex�rcito. Lamentamos que uma aventura golpista tenha sido lan�ada em Minas, terra das melhores tradi��es c�vicas do povo brasileiro."

A marcha Entre os cerca de 6 mil homens que deixaram Minas Gerais a partir da manh� do dia 31 de mar�o em dire��o ao estado da Guanabara estava Manoel Soriano Neto. Com 22 anos e rec�m-sa�do da Academia Militar, ele seguiu junto com 350 militares do 12º Regimento de Infantaria para Juiz de Fora pouco depois do meio-dia para refor�ar o Destacamento Tiradentes. A tropa de Mour�o Filho j� marchava em dire��o ao Rio de Janeiro pela BR-040, ent�o chamada de BR-3.

"Havia a imin�ncia de um combate real naquele dia. Partimos esperando um confronto com outras tropas do Ex�rcito, j� que o Minist�rio da Guerra tinha determinado que o 1º Ex�rcito, a divis�o do Rio de Janeiro, impedisse a passagem de nossa tropa", lembra Soriano, que se especializou em hist�ria militar.

A tropa que partiu da capital se apresentou ao general Mour�o Filho no in�cio da noite e seguiu o caminho para o Rio de Janeiro. Aos poucos, as cidades pr�ximas � fronteira entre Minas e Rio foram sendo ocupadas pelos soldados mineiros, mas em nenhum dos casos houve resist�ncia ou confronto com moradores. Ao ultrapassar o munic�pio fluminense de Areal, as tropas do 1º Ex�rcito e os mineiros se encontraram.

"Foi um momento de apreens�o terr�vel. Mas a ordem de nos impedir n�o foi cumprida. Caso contr�rio, acredito que ser�amos aniquilados. Est�vamos com o moral em alta, por�m, muito das nossas for�as estavam aqu�m em rela��o ao armamento do I Ex�rcito", avalia Soriano. Ao contr�rio de um embate entre os dois grupos, os mineiros receberam o apoio do 1º Ex�rcito e a marcha at� a capital fluminense foi refor�ada.

Durante o dia 1º os militares ocuparam v�rias cidades na Baixada Fluminense e o alto-comando do Ex�rcito acelerou as articula��es para tomar o poder. Sem rea��o do governo ou dos grupos que o apoiavam, Jo�o Goulart deixou o Rio de Janeiro em dire��o a Bras�lia, e em seguida para Porto Alegre, onde Leonel Brizola, ex-governador do Rio Grande do Sul, tentava organizar uma resist�ncia.

Em 2 de abril, as tropas mineiras marcharam pela Avenida Brasil, Regi�o Central do Rio. "Poucas pessoas sabiam exatamente o que estava acontecendo. N�o houve qualquer conflito com moradores ou com grupos de resist�ncia. Fomos recepcionados pelo governador Carlos Lacerda, que liberou o Maracan� para usarmos como base e nos ofereceu suprimentos. Ficamos at� o dia 6, como uma tropa de ocupa��o, para consolidar a revolu��o", explica Soriano.

O movimento foi saudado por importantes setores da sociedade brasileira desde o in�cio e recebeu a ades�o dos governadores do Rio, Carlos Lacerda, e de S�o Paulo, Adhemar de Barros. Como forma de impedir uma suposta amea�a de "esquerdiza��o" do pa�s, o golpe militar foi aplaudido por empres�rios, pela imprensa e pela Igreja Cat�lica.

Ainda no dia 1º, Ranieri Mazzilli, presidente da C�mara dos Deputados, assumiu em car�ter provis�rio o governo. No entanto, o poder de fato passou a ser exercido por uma junta de governo formada por tr�s ministros militares – o general Arthur da Costa e Silva, o almirante Augusto Radamaker Grunewald e o brigadeiro Francisco de Assis Correia de Melo. No Nordeste, a movimenta��o do 4º Ex�rcito impediu qualquer a��o de grupos camponeses e, com a deposi��o dos governadores Miguel Arraes, de Pernambuco, e Seixas D�ria, de Sergipe, o golpe se consolidou rapidamente.

Mea-Culpa D�cadas depois do golpe, alguns dos l�deres mineiros que participaram da articula��o inicial no estado avaliaram que a decis�o de derrubar o governo de Jo�o Goulart como solu��o para o pa�s n�o saiu como o planejado. Em 1989, o ex-comandante da PM Coronel Jos� Geraldo de Oliveira criticou os desdobramentos do regime militar e afirmou que a proposta de mudar o pa�s foi apenas uma justificativa para que um grupo se firmasse no poder.

"Foi um engano, um lament�vel equ�voco. Se eu soubesse que o movimento de 64 iria dar no que deu, n�o teria tomado parte dele. Durante dois anos preparei a Pol�cia Militar de Minas para uma revolu��o que vencesse a corrup��o e a subvers�o. Hoje, 25 anos depois, sei que o que aconteceu foi um golpe. A corrup��o tomou conta de Minas e do Brasil. Fomos meros servi�ais dos magnatas. A cada dia eles se tornaram mais ricos e o povo ficou cada vez mais pobre", analisou Jos� Geraldo na �poca.

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