
Ele deixou o mundo mais bonito. Comunista inveterado, queria ser lembrado como um homem qualquer - pedido que jamais ser� atendido. Sua genialidade est� materializada em 124 cidades espalhadas por 27 pa�ses. E n�o � s� por ter revolucionado a arquitetura que ele ser� lembrado por gera��es. Oscar Niemeyer � exemplo de talento, simplicidade, simpatia e longevidade. Aos 104 anos, ele fechou os olhos para sempre, �s 21h55 desta quarta-feira, 5 de dezembro, no Hospital Samaritano, no Rio de Janeiro, onde estava internado desde o dia 2 do m�s passado. Mas o olhar do g�nio carioca jamais se apagar�.
Infec��o respirat�ria foi a causa morte do centen�rio g�nio, conforme divulgado pela equipe m�dica que o assistiu nas �ltimas semanas. O arquiteto estava acompanhado nesta noite pela mulher Vera e pelo sobrinho Cadu. Esta foi a terceira interna��o de Niemeyer nos �ltimos dois meses. Em 13 e em 28 de outubro ele passou pelo Hospital Samaritano para se tratar de um quadro de desidrata��o. Na derradeira ida � unidade m�dica, ele apresentava complica��es renais e receberia uma sonda g�strica. De acordo com os m�dicos, ele se manteve l�cido at� o final.
Foi no mesmo hospital que em 6 de junho deste ano morreu, aos 82 anos, Anna Maria Niemeyer, �nica filha do arquiteto, fruto do casamento com Anita Baldo, que lhe deu cinco netos, treze bisnetos e quatro trinetos. Anna Maria trabalhava na �rea de design de mobili�rio e design gr�fico e chegou a colaborar em alguns projetos do pai.
Nascido em 15 de dezembro de 1907 no bairro de Laranjeiras, no Rio de Janeiro, Oscar Niemeyer Ribeiro de Almeida Soares � filho de Oscar de Niemeyer Soares e Delfina Ribeiro de Almeida. A rua em que nasceu, anos mais tarde, recebeu o nome de seu av� Ribeiro de Almeida, ministro do Supremo Tribunal Federal, de quem o arquiteto exaltava a lisura na vida p�blica. Niemeyer se casou aos 21 anos, em 1928, com Anita Baldo, 18 anos, filha de imigrantes italianos da prov�ncia de P�dua. Seu ingresso no mundo da arquitetura ocorreu no mesmo ano, quando se matriculou na Escola Nacional de Belas-Artes, no Rio de Janeiro. Formado engenheiro-arquiteto em outubro de 1934, ele iniciou sua trajet�ria profissional no ano seguinte e em 1936 apresentou o projeto da Obra do Ber�o, na capital fluminense, primeiro exclusivamente seu a ser constru�do.
Trabalho incessante

Uma das obras que Oscar Niemeyer n�o viu pronta � a Catedral Cristo Rei, que est� sendo erguida no Bairro Juliana, em frente � Esta��o BHBus Vilarinho, na Avenida Cristiano Machado, Regi�o Norte de Belo Horizonte e ocupar� 22 mil metros quadrados. A capacidade � para 5 mil pessoas sentadas, com mil vagas de estacionamento.
Quando o projeto da nova catedral foi apresentado, em 2011, o arquiteto disse que ela seria sua �ltima obra. “A Catedral Cristo Rei muito me encanta. � especial. Tenho grande satisfa��o e realiza��o por esse projeto, tanto que foi escolhido para ser a capa do livro sobre as catedrais que eu e minha equipe projetamos. � um projeto que me gratifica. A Catedral Cristo Rei � a �ltima que fa�o”, declarou.
De Beag� para o mundo
Foi justamente em Belo Horizonte que Niemeyer se tornou s�mbolo da vanguarda. A convite de Juscelino Kubitscheck, ent�o prefeito da cidade, o arquiteto projetou o Conjunto Arquitet�nico da Pampulha, considerado o marco da arquitetura moderna no pa�s. Inaugurado em 1943, ele � composto pelo Cassino, que hoje funciona como Museu de Arte, a Casa do Baile, o Iate Golf Clube e a Igreja S�o Francisco de Assis, conhecida como a Igrejinha da Pampulha, com tra�os abstratos e um mural pintado por C�ndido Portinari.
Al�m da Pampulha, a capital mineira tem as curvas do g�nio tamb�m na Pra�a da Liberdade. L� est�o o pr�dio que leva o nome do autor que o concebeu, o Edif�cio Niemeyer, e a Biblioteca P�blica Estadual Luiz de Bessa. No Centro de BH h� ainda o Conjunto JK, inicialmente projetado para ser um museu de arte moderna, mas se tornou um complexo residencial de dois blocos, com 1086 apartamentos, onde moram cerca de 5 mil pessoas, erguido sobre um terminal rodovi�rio.
H� ainda, tamb�m na regi�o central da cidade, a Escola Estadual Governador Milton Campos, mais conhecida como Estadual Central, cujo pr�dio foi constru�do no formato de uma r�gua T, com um teatro em forma de mata-borr�o, a caixa-d’�gua com a forma de um giz de cera e o anexo simulando uma borracha.
BH se consolidou como refer�ncia da arquitetura de Niemeyer em 2010, quando foi inaugurada a Cidade Administrativa, sede do governo estadual. Trata-se de uma obra monumental, com curvas mais que audaciosas formando o Pal�cio Tiradentes, erguida sobre apenas quatro colunas de concreto.
Sobre as curvas, marca inconfund�vel de toda a sua cria��o, Oscar Niemeyer celebrava a vida, o Brasil e a ci�ncia. “N�o � o �ngulo reto que me atrai, nem a linha reta, dura, inflex�vel, criada pelo homem. O que me atrai � a curva livre e sensual, a curva que encontro nas montanhas do meu pa�s, no curso sinuoso dos seus rios, nas ondas do mar, no corpo da mulher preferida. De curvas � feito todo o universo, o universo curvo de Einstein”, declarou o g�nio.