
De uns anos para c�, o brasileiro tem aprendido a questionar e exigir muito dessa bebida, e os “culpados” por essa mudan�a de comportamento s�o os promissores caf�s especiais.
Em expans�o no Brasil, principalmente em Minas Gerais, a del�cia – com a qualidade dos gr�os como diferencial – � promissora como neg�cio: a produ��o cresce em m�dia 3% ao ano no pa�s.
Rindo � toa, muitos produtores mineiros optam pela venda direta do gr�o, que remunera em at� 40% a mais do que a venda do tradicional caf� como commoditie.
Regi�es produtoras
Tradicionalmente, Minas conta com cinco regi�es produtoras de caf�s especiais: Cerrado, Sul, Chapada de Minas, Mantiqueira e Matas de Minas.
Por ano, sem distin��o do tipo cafeeiro (especial ou n�o), Minas produz 28,5 milh�es de sacas e, de acordo com a analista de agroneg�cio da Federa��o da Agricultura e Pecu�ria do Estado de Minas Gerais (Faemg), Ana Carolina Gomes, at� 20% dessa produ��o corresponde aos caf�s especiais.
“Minas � o maior produtor de caf�s do Brasil, pois tem clima e altitudes favor�veis para esse tipo de planta��o. Estima-se que o tipo especial corresponda de 15% a 20% do total produzido”, comenta.
No ano passado, das 36,5 milh�es de sacas exportadas pelo Brasil, quase 7 milh�es foram de caf�s especiais.
A entidade estima que o valor de venda atual para alguns caf�s diferenciados tem um sobrepre�o que varia entre 30% e 40% a mais em rela��o ao caf� cultivado de modo convencional. Em alguns casos, pode ultrapassar a barreira dos 100%.
Sem atravessadores
Para as vendas, h� produtores que ainda contam com as cooperativas para os neg�cios. Por�m, boa parte dos empres�rios do ramo est� seguindo o caminho da venda direta.
“A venda de caf�s como commodities era insustent�vel, porque sofre a varia��o da bolsa de valores”, comenta uma das s�cias da Caf� Am�rico, Juliana Miari.
Ela conta que sua fam�lia est� no ramo h� mais de 100 anos, com produ��o em Tr�s Pontas, no Sul de Minas. “O meu bisav� foi o primeiro a trabalhar com os gr�os, depois foi meu av� e todos eles trabalhavam com o cultivo tradicional. Por�m, desde a morte do meu av�, em 2003, come�amos a estudar a din�micas dos caf�s e passamos a compreender o cultivo do especial”, conta Miari, que hoje tem seu pai, Robson Cunha como mentor.
Ao fazer a venda direta do gr�o – hoje o Caf� Am�rico � vendido a cerca de 50 estabelecimentos em Minas –, Miari diz que o produto ficou menos suscet�vel �s varia��es das commodities.
A empresa tamb�m vende o gr�o para clientes de outros pa�ses, como Jap�o, Estados Unidos e Portugal. “Come�amos a vender para cafeterias em Belo Horizonte e, como vimos um bom retorno, investimos. No ano passado, abrimos uma torrefa��o e loja de distribui��o, no Bairro Floresta. A demanda foi aumentando e, atualmente, vendemos para cafeterias, restaurantes e emp�rios.”
Uma saca de 60 quilos de caf� convencional custa hoje em torno de R$ 450. Por�m, o valor praticamente dobra quando o caf� � especial, chegando a uma m�dia de R$ 800 a saca. “Tem esse valor mais alto pelos custos agregados ao processo do caf� especial. A nossa inten��o � sempre valorizar a cadeia inteira do processo, que vai desde a log�stica de entrega, funcion�rios que fazem a avalia��o do gr�o, entre outros”, comenta Miari.
De acordo com o presidente do Centro do Com�rcio de Caf� de Minas Gerais, Archimedes Coli Neto, essa preocupa��o dos produtores com o manuseio dos gr�os se reflete no produto final, sendo cada vez mais cobrado pelo mercado. “S�o caf�s com uma pontua��o alt�ssima, por isso � promissor. Embora diante da safra brasileira os diferenciados ainda n�o tenham uma participa��o maior, h� sinais de uma tend�ncia para a demanda por esse tipo especial. O consumidor est� mais exigente e as produ��es est�o correspondendo a isso”, afirma.
Segundo Rodrigo Campos, empres�rio em Goi�nia da cafeteria Atelier do Gr�o, o potencial da venda direta de gr�os est� no controle de qualidade que o empresariado passa a ter. “H� tr�s anos fa�o a compra direta, vou para Minas Gerais, S�o Paulo e Paran� e, nesses lugares, vejo o que estou levando. Com as cooperativas, n�o se sabe a qualidade nem a proced�ncia”, afirma, dizendo que h� empres�rios que chegam a pagar R$ 1,5 mil por uma saca.
“O importante nessa cadeia � que voc� compra algo de qualidade e paga por isso. Meus clientes adoram os produtos que trago e valorizam o estabelecimento por isso”, conta.
Ana Carolina Gomes diz que, al�m de os h�bitos dos consumidores mudarem ao longo do tempo, eles est�o cada vez mais preocupados com a origem dos gr�os.
“Hoje, as pessoas querem a qualidade do caf�, saber onde foi produzido, em qual altitude, entre outras informa��es.” Ela justifica o valor mais alto da saca dos diferenciados pelo processo cuidadoso que os produtores do ramo t�m. “H� um cuidado especial que passa pelo manuseio da colheita, secagem dos gr�os, ponto de matura��o correto, entre outras medidas que v�o garantir o sabor e a qualidade da bebida. N�o � necess�ria uma tecnologia mais avan�ada para isso, mas h� muito trabalho”, afirma.
Uma semana s� para o caf�
Um p�blico de cerca de 15 mil pessoas deve participar da quarta edi��o da Semana Internacional do Caf� (SIC 2016), que vai ocorrer entre 21 e 23 de setembro, no Expominas, em Belo Horizonte.
Na oportunidade, os caf�s especiais est�o entre as atra��es do evento, principalmente para os empres�rios estrangeiros que vir�o a Minas para apreciar a bebida.
“Quem vem conhecer o caf� brasileiro vem conhecer os especiais. � uma oportunidade para os produtores apresentarem seus produtos e fazer bons neg�cios”, comenta Ana Carolina Gomes, analista da Faemg.
Uma das a��es do evento dura um m�s e come�ou na �ltima semana. Trata-se do projeto Caf� da Semana – circuito com 16 cafeterias e espa�os que oferecem caf�s especiais na capital.
Esses locais v�o apresentar aos clientes bebidas elaboradas com gr�os cultivados nas cinco grandes regi�es produtoras de Minas Gerais, al�m dos diferentes m�todos de preparo (espresso, aeropress, hario V60, prensa francesa e kalita wave). O projeto � uma parceria com a Liga dos Baristas, fundada pelo barista e mestre torrador do Caf� das Amoras, Felipe Brazza.
“Nesta edi��o, haver� mais casas. Al�m de focar no p�blico da feira e visitantes, vamos envolver a cidade neste conceito de caf� de qualidade, indicando os lugares que oferecem bons caf�s”, comenta Brazza, explicando que cada casa vai apresentar um caf� da regi�o mineira.
Brazza est� � frente do Caf� das Amoras junto com a s�cia Gabriela Mendon�a. Para ele, o caf� especial est� em expans�o e eles buscam novos nichos para a marca. Entre os clientes, eles t�m tamb�m grandes empresas e institui��es, como o Centro de Artes Contempor�nea Inhotim, em Brumadinho, na Grande BH.
“Antes, ningu�m conhecia os diferenciados. A Academia do Caf�, em BH, foi quem come�ou com isso na cidade. Atualmente, o mercado est� muito mais maduro e o Brasil vive uma terceira onda do caf�”, afirma Brazza, dizendo que o terceiro momento trouxe novos m�todos e os diferenciados n�o s�o iguais �queles vendidos em supermercados.
“O Caf� das Amoras, produzido na Serra da Mantiqueira, torra duas sacas por semana. Antes, era uma saca a cada dois meses. Tem muita estrada ainda, mas estamos em ascens�o”, afirma, dizendo que a sele��o de gr�os � o que deixa a bebida mais cara que a convencional. (LE)