
Mesmo com os �ndices econ�micos em retra��o, o agroneg�cio foi, em 2015, o �nico setor a apresentar um Produto Interno Bruto (PIB) positivo, subindo 1,4% em rela��o a 2014. Para este ano, as expectativas de entidades ligadas ao ramo continuam em alta e o segmento pode fechar 2016 com crescimento de at� 2,2%. No pa�s, h� cerca de 300 mil produtores de caf�, sendo que 50% deles est�o em Minas Gerais. O consumo do gr�o aqui e no mundo tem crescido a cada ano em torno de 2%. Al�m disso, o cafezinho brasileiro faz sucesso l� fora. O Brasil exportou 35 milh�es de sacas do produto no �ltimo ano (na safra de julho de 2015 a junho de 2016) gerando receita de US$ 5,3 bilh�es, segundo dados do Conselho dos Exportadores de Caf� do Brasil (Cecaf�).
Mas com o bom momento veio a inseguran�a no campo. “H� a crise econ�mica e, com ela, o desemprego”, comenta o coordenador t�cnico da Empresa de Assist�ncia T�cnica e Extens�o Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG), de Alfenas, Jos� Rog�rio Lara. Ele diz que, com os bons ares para o setor, o pre�o de R$ 520 para a saca de caf� est� “razo�vel” e os produtores est�o em plena safra, o que tem atra�do a m� �ndole de muitos aproveitadores. “O cafeicultor se tornou uma presa f�cil, pois est� no meio rural, sozinho, e conta com um espa�o grande para rotas de fuga”, diz. De acordo com Esdras Jos� da Silva, lotado em Nova Resende, no 4º Pelot�o da 79ª Companhia da PM de Guaxup�, somente em Nova Resende, neste semestre, foram registrados 58 crimes de furtos de caf� na zona rural, cerca de 30% a mais do que o registrado no mesmo per�odo do ano passado. “As pessoas est�o desempregadas e sem condi��es de consumo. O caf� � a nossa economia local e o pre�o dele, atualmente, est� fomentando esse tipo de crime. H� alguns anos, a saca custava, em m�dia, R$ 280 e, hoje, est� em R$ 500. Esse valor � um atrativo”, assegura.
Na �ltima semana, em Muzambinho, tamb�m no Sul do estado, 150 sacas de caf� e tr�s caminh�es foram roubados por um grupo armado, que fez uma fam�lia de ref�m. “S�o muitos os casos e a estat�stica da pol�cia s� contempla os registrados. Estimamos que haja mais furtos, uma vez que muitos produtores n�o registram queixa”, comenta o gerente regional da Emater de Guaxup�, Willen de Ara�jo. De acordo com ele, os ladr�es conseguem vender o produto furtado em locais em que h� nota fria. “E h� muitos lugares assim. Quem sofre s�o os cafeicultores, para os quais um furto de muitas sacas pode corresponder a uma renda de dois anos”, compara.
GENERALIZADO
Segundo explica diretor da Federa��o da Agricultura e Pecu�ria de Minas Gerais (Faemg), Breno Mesquita, os furtos no campo n�o s�o apenas no setor do caf�. S�o generalizados e incluem tamb�m o roubo de m�quinas agr�colas. Por causa da dimens�o que tem sido alcan�ada pelo problema, est� marcada para hoje audi�ncia p�blica na Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais. A Comiss�o de Seguran�a P�blica e a Comiss�o de Agropecu�ria e Agroind�stria far�o debate sobre a seguran�a no campo.
“O pre�o do caf� est� como era h� dois anos. Desde 2014, havia safras baixas do caf� e seca. Mas o valor est� razo�vel e deveria estar at� melhor, j� que no mundo h� uma produ��o menor do que o consumo”, diz Mesquita. Ele comenta que o Esp�rito Santo, respons�vel por 75% da produ��o do caf� do tipo conilon, est� passando por um problema grave, que � a seca. “Em Minas, estamos, agora, no per�odo da colheita do ar�bica. Certamente, a situa��o econ�mica do pa�s contribui para o crime, al�m de ter aumentado o custo de produ��o do produtor”, diz.
O caf�, como � uma commoditie, tem seus pre�os definidos em n�vel global pelo mercado internacional. “O d�lar, sendo assim, � o outro fator que influencia no valor do gr�o, que sofre influ�ncia do bom e do mau humor da economia”, afirma Mesquita.
Jos� Rog�rio Lara, da Emater de Alfenas, destaca que, atualmente, apesar da queda do d�lar frente ao real, o estoque de caf� est� em baixa. “O mundo est� aprendendo a tomar essa bebida ,que cada vez mais tem qualidade. Os neg�cios est�o crescendo, o mercado se expandindo e h� muita criatividade. Tomar um cafezinho ficou chique”, brinca.
Problemas em cascata
“Cada ano � um ano diferente. Tem �poca em que o problema � a seca, depois o consumo e, agora, veio o crime”, comenta o produtor de caf� de S�o Pedro da Uni�o, no Sul de Minas, Fernando Barbosa. Com uma �rea de 14 hectares, tendo m�dia de produ��o de 40 sacas por hectare, o produtor diz que o clima � de tens�o entre os produtores da regi�o. “Estamos ficando cada vez mais apreensivos com esses furtos, principalmente, porque estamos em �poca de colheita”, avisa. Com medo, segundo ele, muitos cafeicultores est�o mudando h�bitos. “Antigamente, muitos deixavam o caf� descansar na propriedade depois de colhido. Hoje, enchem os caminh�es e j� levam para os armaz�ns e cooperativas para n�o sofrer nenhum risco”, revela.
Fernando lembra que, antes de 2014, o patamar do pre�o do gr�o n�o pagava o custo da produ��o. “Agora, com esse valor razo�vel, o caf� est� atraindo pessoas de m� �ndole. Antes esses crimes eram fatos isolados”, afirma. Ele diz que, por isso, os produtores da regi�o est�o colocando monitoramento em suas �reas, como forma de vigiar o que ocorre nelas. Na zona rural de Nova Resende, foi implantado um novo mecanismo de seguran�a para resguardar as propriedades, a chamada Rede de Agricultores Protegidos, que funciona com a participa��o solid�ria e m�tua dos cafeicultores e da Pol�cia Militar, que ainda compartilha os dados com a Pol�cia Civil para a devida investiga��o.
Segundo informa��es do governo de Minas, a medida conta com o apoio da Emater-MG e o objetivo � reduzir a criminalidade no campo por meio de a��es conjuntas. Segundo o tenente Esdras Jos� da Silva, trata-se de um projeto-piloto, cuja origem remonta � experi�ncia pioneira da Rede de Fazendas Protegidas, implantada em 2011 na zona rural do munic�pio de Patroc�nio, no Alto Parana�ba. L�, as ocorr�ncias de furtos e roubos na �rea rural reduziram-se em at� 60% ap�s a iniciativa, segundo o militar. A rede se beneficia de um sistema de georreferenciamento que mapeou todas as propriedades rurais, conferindo a elas um endere�o, e a indica��o das rotas das estradas do munic�pio.
“O banco de dados foi inserido no aparelho de GPS que operamos e dessa forma podemos atender a uma solicita��o de natureza emergencial com maior agilidade e melhor qualidade”, garante o militar. H� tamb�m grupos de WhatsApp ligados � pol�cia, para troca de informa��es de preven��o e de alerta em caso de aparecimento de pessoas e carros suspeitos nas redondezas. E o �nico custo para o produtor rural, segundo o tenente, � de R$ 15, gastos com a compra de uma placa para indicar a filia��o da propriedade. (LE)