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Estado de Minas

Pequi tem safra menor no Norte de Minas

Queda na produ��o do fruto pode chegar a 80% neste ano. Falta de chuva e praga foram respons�veis pela quebra na safra que garantia renda extra para catadores do Norte de Minas


postado em 19/12/2016 06:00 / atualizado em 19/12/2016 17:18

Observando pequizeiros sem frutos, Marilene Aquino reza para Deus mandar chuva(foto: Milene Aquino/Divulgação)
Observando pequizeiros sem frutos, Marilene Aquino reza para Deus mandar chuva (foto: Milene Aquino/Divulga��o)

A safra do pequi, que vai de dezembro a fevereiro, sempre proporcionou o aumento da gera��o de renda e o sustento de fam�lias de pequenos produtores, ocasionando tamb�m maior movimento no com�rcio, em v�rios munic�pios do Norte de Minas. Neste ano, no entanto, a chegada da “�poca do pequi” est� longe de representar a bonan�a das safras anteriores, devido a uma situa��o inusitada: a elevada queda na produ��o do fruto-s�mbolo do cerrado. A falta de chuvas e a morte de pequizeiros, atacados por uma praga, s�o apontados como os motivos da vertiginosa redu��o da colheita, que segundo os pr�prios produtores, pode chegar a 80%.

Os pequizeiros sempre foram resistentes � escassez de chuvas. Mas, avaliam os produtores, como o Norte de Minas teve quatro ano seguidos de estiagens prolongadas, a esp�cie tamb�m n�o resistiu e sofreu a dr�stica queda na produ��o. Nos �ltimos anos, os p�s de pequi tamb�m est�o sendo atacados por um besouro que destr�i as folhas e as flores da planta, impedindo a produ��o e matando as �rvores.

Pen�ria em Japonvar

Os efeitos negativos da brusca queda na produ��o do pequi s�o sentidos em Japonvar – munic�pio de 8,4 mil habitantes. Como em outros pequenos munic�pios do Norte de Minas, os moradores ficam na expectativa da chegada desta �poca do ano, com a esperan�a de ganhar algum dinheiro como catadores do fruto nativo no mato, em um trabalho que envolve fam�lias inteiras, incluindo as crian�as. Desta vez, a reden��o n�o veio.

“Acho que neste ano ser� colhida apenas 20% da quantidade de pequi que deveria ser produzida na regi�o”, afirma Jos� Afonso Pereira de Aquino, presidente do Conselho de Desenvolvimento Rural Sustent�vel de Japonvar. “Nos �ltimos quatro anos, as chuvas foram poucas. A �gua da chuva foi pouca e ficou na superf�cie, sem penetrar no solo. Muitos pequizeiros n�o resistiram e morreram”, diz Jos� Afonso. Segundo ele, a mortandade dos pequizeiros na regi�o de quatro anos para c� tamb�m ficou na faixa de 20%.

Jos� Afonso Aquino explica que, em anos anteriores, muitas fam�lias de Japonvar, al�m de garantir a compra de mantimentos para o pr�prio sustento, compraram bens dur�veis como geladeira e fog�o a g�s com a “renda do pequi”. “Teve gente que comprou at� carro e moto ou reformou a casa com o dinheiro que ganhou catando o fruto”, relata, lamentando que, neste ano, no entanto, o sagrado “dinheirinho do pequi” n�o veio por cauda da quebra na safra.

O presidente da Cooperativa dos Pequenos Produtores e Catadores de Pequi de Japonvar (Cooperjap), Josu� Barbosa de Ara�jo, afirma que Japonvar tem cerca de 400 fam�lias – totalizando em torno de 2 mil pessoas – que, nesta �poca, acordam cedo para ir para o meio do mato “catar” pequi, que � apanhado depois de cair no ch�o, normalmente, de madrugada e pela manh�. Como o fruto � nativo, ele � catado no ch�o pelos moradores de maneira extrativista, independentemente de quem seja dono das propriedades onde est�o os pequizeiros.

“Na �poca do pequizeiro florescer, faltou chuva. Por isso, a safra caiu tanto neste ano”, avalia Josu�. “Como nos �ltimos quatro anos as chuvas foram poucas na regi�o, a produ��o do pequi foi diminuindo ano a ano”, diz ele. “De fato, o pequi ajuda as fam�lias carentes e gera muito emprego e renda no munic�pio e na regi�o. Mas, neste ano, a situa��o est� dif�cil”, lamenta.

A situa��o complicada com a queda da safra de pequi em Japonvar � enfrentada pela pequena agricultora Marilene Aquino de Jesus, a Lena, de 47 anos, m�e de cinco filhos. “Na verdade, para mim, o pequi ajuda a manter a casa, a pagar as contas de �gua e luz e fazer feira. Ajuda tamb�m a comprar cadernos para as crian�as, rem�dios e roupas, pois a gente n�o tem sal�rio”, relata Lena, reclamando que, com a redu��o da safra, n�o sabe como vai cobrir as despesas. Ela conta que planta lavouras na pequena propriedade da fam�lia, na localidade de Rancharia, a sete quil�metros da �rea urbana de Japonvar. “Infelizmente, nos �ltimos quatro anos choveu muito pouco n�o colhemos quase nada”, lamenta. “Agora a nossa esperan�a � que Deus possa mandar chuva”, acrescentou.

Marilene disse que nos anos anteriores, al�m de catar o fruto no mato, teve uma boa renda com a produ��o e venda da polpa do pequi – que agrega valor ao produto, sendo comercializada a R$ 20 o quilo. “A queda da produ��o foi tanta que acho que n�o vai ter pequi para fazer polpa. O jeito � economizar o m�ximo poss�vel e esperar que ano que vem possa ter uma boa safra de pequi”, diz a batalhadora mulher.

Outro que sofre diretamente com as consequ�ncias da redu��o da safra de pequi em Japonvar � pequeno agricultor Jovino Soares de Aquino. “Na �poca do pequi, todo mundo ganha um dinheirinho, at� as crian�as. O pequi � uma renda que Deus deixou pra n�s e que agora est� acabando”, diz Jovino. Ele conta que, junto com a mulher, Gasparina, e um filho, Eduardo, sempre dedicou ao neg�cio do pequi nesta �poca do ano. “A gente cata, compra e revende o pequi, al�m de fazer polpa. Compramos, inclusive, de pessoas que catam o pequi dentro do nosso pr�prio terreno, como se fosse de outro lugar. A natureza produz para todo mundo e todo mundo precisa ser servido”, comenta o agricultor.

Jovino lembra que no ano passado, faturou cerca de R$ 3,5 mil com a comercializa��o de polpa do pequi. Agora, a expectativa de faturamento � quase zero. “Como a produ��o caiu muito, a gente nem imagina como ser� a renda do pequi, se vai ter como ganhar alguma coisa”, afirma o pequeno produtor rural.

Atualmente, a caixa do pequi (25 quilos) est� sendo vendida a R$ 30 em Japonvar. Influenciado pela lei da oferta e da procura, o pre�o � o dobro do praticado no mesmo per�odo de 2015 (R$ 15 a caixa). “Mas n�o sabemos se esse valor ser� mantido porque, se a safra cair muito, n�o ter� pequi em grande quantidade. A�, n�o ter� como carregar caminh�es aqui para vender para BH, Goi�s, Bahia e outras regi�es”, observa Jovino.

Ele testemunha as mortes dos pequizeiros. “Al�m das folhas, o besouro ataca a raiz dos pequizeiros, que n�o resistem e morrem. Na minha propriedade, de dois anos para c�, morreram uns 15 p�s de pequi”, descreve Jovino.

O agricultor ressalta que, diante desse quadro, a pr�pria comunidade ter� que se mobilizar para manter os pequizeiros. “O preju�zo com as mortes dos p�s de pequi � muito grande. Vamos ter que produzir mudas de pequizeiro e plantar”, afirma.

D�vida

A Cooperativa dos Pequenos Produtores e Catadores de Pequi de Japonvar (Cooperjap) foi criada com o objetivo de incrementar o extrativismo e aumentar a renda dos catadores de pequi no munic�pio. No entanto, h� dois anos que a entidade – que tem 180 fam�lias cooperadas – est� parada, devido a uma d�vida de impostos e outros encargos com o governo do Estado. O presidente da Cooperjap, Josu� Barbosa de Ara�jo, disse que est� tentando negociar o pagamento dos d�bitos, a fim de que a cooperativa possa retomar os trabalhos e auxiliar os pequenos agricultores e catadores. “Na verdade, embora a d�vida esteja em R$ 300 mil, o valor inicial era de R$ 58 mil. O restante � de juros e multas, que estamos tentando negociar para que sejam perdoados. Assim, teremos condi��es de pagar o que estamos devendo e a cooperativa poder� voltar a funcionar, ajudando os pequenos agricultores”, assegura Josu�.


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