A evolu��o da lingerie est� intrinsecamente ligada � hist�ria do feminino e pode ser contada por meio da moda. Foram muitas as transforma��es ao longo do tempo e n�o s� relacionadas aos h�bitos e costumes da sociedade, mas tamb�m aos avan�os tecnol�gicos. As maiores mudan�as podem ser percebidas a partir do s�culo 20, com o advento do n�ilon nos anos 1940 - que mudou completamente a apar�ncia e funcionalidade das “roupas de baixo”- seguido pelo surgimento da lycra. Esses fatores, lado a lado com a forte erotiza��o do corpo feminino, fizeram com que a ind�stria da lingerie se remodelasse para acompanhar uma mulher mais livre, com nova identidade sexual/social.
Neste caminho sem volta, a moda se encarregou de ressignificar conceitos: o que era antes de car�ter �ntimo e reservado se transformou em algo aparente, para ser visto, apreciado, sensualizado. Surgia o underwear, que vem conquistando mais e mais espa�o no segmento fashion. “Antes existia a preocupa��o de esconder aquela al�a do suti�. Isto caiu por terra e as lingeries est�o cada vez mais elaboradas, com rendas e detalhes para ficarem � mostra. A tend�ncia do underwear na composi��o dos looks � muito forte”, ressalta Grazi Coelho, estilista e consultora de moda, que assina o editorial sobre o assunto nesta edi��o do Caderno Feminino & Masculino, cujas imagens s�o da Josef Fotos.
V�rias marcas est�o seguindo essa cartilha, entre elas a mineira Lav, presente h� cerca de dois anos no mercado. Na sua estreia, no projeto Ready to Go, no Minas Trend, apresentou uma primeira cole��o com rendas francesas e tecidos importados que primava pela delicadeza. Agora, al�m dos suti�s, calcinhas, bralettes, bodies, Lavyne Rocha, estilista e propriet�ria da label, aumentou a linha de ofertas, apresentando tamb�m blusas de alcinhas, vestidos, camisolas e novos modelos de bodies. “S�o pe�as em tule, tecidos fluidos e rendas, que funcionam como uma extens�o da lingerie, a partir daquela vontade de levar para a rua todas as caracter�sticas de feminilidade, uma sensualidade moderna. Mant�m o DNA da marca e permitem novas possibilidades ao vestir”, explica.
Em suas pesquisas, ela detectou que a lingerie sempre esteve presente na vida da mulher, mas n�o era t�o acess�vel como atualmente. “A Dior, por exemplo, j� elaborava cole��es para mulheres das altas classes, em 1950. Aqui no Brasil, come�amos a olhar mais para ela a partir da d�cada de 1980. O comercial “Meu primeiro suti�”, da Valisere, foi um marco. Depois, na d�cada de 1990, era a vez do underwear da Calvin Klein, com Kate Moss vestindo a calcinha de el�stico estampado com logo da marca”, relembra.
Nessa trajet�ria, Lavyne recorda que houve ainda o boom do silicone reafirmando a vontade da mulher de mostrar seu corpo e valorizar sua sensualidade como bem quisesse. E os desfiles da Victoria Secrets, transmitidos mundialmente, supervalorizando as pe�as que as modelos famosas desfilavam. “Eles tamb�m contribu�ram bastante para que a lingerie fosse conquistando presen�a como item de moda, cada dia mais”, pontua. Para completar, a estilista cita o mais recente sucesso comercial, o suti� Strappy, com el�sticos/tiras aparentes. Lan�ado l� fora em 2014, chegou por aqui em 2016. “Em seguida, vieram os bodies e as hot pants, que viraram febre nos looks de r�veillon de todo o pa�s. Hoje, definitivamente, a lingerie segue moda como qualquer outro produto. Grandes estilistas e marcas, como YSL e Stela McCartney, sempre a incluem em suas cole��es”.
Grazi Coelho tamb�m enfatiza a import�ncia dos bodies nas �ltimas temporadas. “Alguns passam despercebidos na composi��o dos looks, outros s�o mais sexies. O certo � que a pe�a caiu no gosto feminino invadindo o mundo da moda fashion casual junto �s modelagens que nasceram do underwear, como top faixa, bojos marcados, cropped camiseta e o vestido camisola no cetim. J� no estilo festa, algumas mulheres optam pela transpar�ncia das pernas por meio dos vestidos ou saias elaborados com tecidos transparentes com hot pant por debaixo”, ensina.
J�lia Zingoni � outra expert no assunto. Graduada em design de moda, em 2009, e em design gr�fico, em 2017, fez cursos e especializa��es na Su�cia e na It�lia. Assumiu a dire��o de marketing e estilo do Grupo �gua Fresca imprimindo, no neg�cio familiar, um toque jovem e contempor�neo. A empresa tem uma linha exclusiva, a Resort, na qual s�o pensadas as pe�as para sair de casa.
Ela conta que a ideia surgiu de forma natural, partiu das pr�prias clientes que viajavam e mandavam fotos das camisolas da marca pelas ruas do Brasil. Nessa linha n�o s�o adotados tecidos com transpar�ncia e se traz, para a moda de rua, as caracter�sticas da lingerie, particularmente conforto, feminilidade e muito charme. “A lingerie sempre foi uma das grandes aliadas na constru��o da autoestima feminina. O uso das pe�as da �gua Fresca como outwear hoje representa, para n�s, uma aceita��o do corpo e do feminino. Assim como nosso modo de pensar a mulher se transformou, a lingerie tamb�m segue esses passos. A mulher de agora se sente livre para arriscar, para se mostrar, e se apropriar da tend�ncia dessa forma � uma prova disto. Se � bonito, por que n�o?”.
Dicas
Como adotar sem ficar vulgar? Juliana passa algumas recomenda��es: “Para as mais ousadas, suti�s rendados de bojo e bralettes sem bojo podem ser facilmente usados com cal�as e saias de cintura alta, que cobrem parte da regi�o abdominal. Os bodies valorizam a silhueta e por isso ficam bem por baixo de jaquetas e trench coats trazendo a feminilidade da renda para os looks de couro e pele do inverno”. Quanto �s delicadas camisolas de seda com renda, nos comprimentos curto, midi e longo, a estilista aconselha a virem sempre acompanhadas de um tric� ou casaco que cubra a regi�o dos quadris”.
Grazi Coelho tamb�m passa algumas dicas. “Opte por pe�as mais delicadas e com cores neutras que possam fazer uma boa composi��o com a alfaiataria ou com aquele look para noite. Um truque para n�o errar e ficar na moda � deixar parte da lingerie aparecendo como as al�as ou detalhes de renda, que possam ser vistos junto do decote. Quem quiser um look mais ousado, pode escolher as transpar�ncias dos tules, chifons e rendas. Mas o principal � distinguir o que fica melhor com o biotipo de cada uma”.