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Estado de Minas ENTREVISTA/ CL�UDIA LEITE - 45 ANOS, GERENTE DE CRIA��O DE VALOR COMPARTILHADO E COMUNICA��O CORPORATIVA DA NESPRESSO NO BRASIL

Conhe�a a mineira que � a primeira funcion�ria de empresa de caf� em c�psula da Am�rica Latina

Cl�udia Leite, nutricionista por forma��o, nasceu em S�o Sebasti�o do Para�so


postado em 20/10/2019 04:00 / atualizado em 17/10/2019 14:59

(foto: Kiko Ferrite/Divulgação)
(foto: Kiko Ferrite/Divulga��o)


Se voc� est� acostumado a tomar caf� em c�psula, e gosta, tem que agradecer a esta mulher. Cl�udia Leite, nutricionista por forma��o, ostenta o t�tulo de primeira contratada pela Nespresso na Am�rica Latina, empresa su��a que levou m�quinas de espresso para a casa dos brasileiros. Mineira de S�o Sebasti�o do Para�so, uma das cidades produtoras de caf� no Sul do estado, ela cresceu em meio a fazendas e produtores. Mais tarde, estudou para se especializar na bebida e ensinar o consumidor do seu pa�s a identificar gr�os especiais e beber caf� de forma diferente do coado. Hoje, Cl�udia � respons�vel pela �rea de sustentabilidade, que tem como uma das iniciativas o reaproveitamento de c�psulas.
 
Qual � a sua rela��o com o caf�?
Sempre gostei de caf�, principalmente por estar numa regi�o que produz muito caf� e ser de uma cidade que tem o caf� como parte pungente da economia. Lembro-me de que quando comecei na Nespresso, nem era a minha atribui��o, mas era volunt�ria na degusta��o. Sempre gostei de beber um bom caf�. Meu pai j� trabalhou com financiamento agr�cola de caf�s, ent�o esse contato com produtores veio dessa �poca.

Por que voc� escolheu estudar nutri��o?
Tem grande influ�ncia o fato de ser mineira. A cozinha tem um papel fundamental na minha fam�lia. A alimenta��o � sempre um tema central na nossa casa, tem fun��o celebrativa, valorizamos a boa comida. Tanto eu quanto a minha irm� escolhemos nutri��o na atua��o profissional, apesar de cada uma ter ido para uma �rea diferente. �timo sinal de que algo em casa nos ajudou a tomar esse rumo.

Qual era o seu plano de carreira?
Sempre olhei a comida de forma muito transformadora, quase po�tica. Quando voc� oferece alimento ou bebida para algu�m, tem a quest�o de levar bons nutrientes, mas vejo muito os aspectos emocional e cultural. Isso reflete o que somos e em que acreditamos, um legado que vem da hist�ria da nossa fam�lia. Sempre fui mais para o lado humano que o lado qu�mico da nutri��o. A rela��o do homem com a comida sempre me seduziu, tanto que um dos projetos l� na USP era pesquisar a popula��o de ribeirinhos que comem turu, conhecido como bicho-de-pau-podre.

Antes do caf�, voc� teve contato com a manteiga. Como foi esta primeira experi�ncia?
Estudava em S�o Paulo e voltava para Minas no per�odo de f�rias. Por sede de conhecimento, no meu primeiro dia de f�rias da faculdade falei com o meu pai: n�o quero ficar em casa, o que tem para fazer?. Na minha cidade, tem caf�, curtume ou a Latic�nios Avia��o. Meu pai conversou com o dono da empresa e com a engenheira qu�mica e eles falaram que n�o tinham programa de est�gio, mas eu queria me voluntariar. Nessa �poca, fui entender de controle de qualidade do leite – descobri que n�o tem como ter manteiga de qualidade se voc� n�o tiver um leite de qualidade – e de conex�o com os produtores. Foram tr�s meses de est�gio volunt�rio.
 
 

H� um trabalho de gerar experimenta��o e fazer o consumidor entender que existem diferentes caf�s. A marca teve papel importante na descoberta e valoriza��o da bebida

 
Como o caf� entrou na sua vida profissional?
Comecei a trabalhar pouco antes de me formar como nutricionista na cozinha experimental da Nestl�. L� trabalhava com desenvolvimento de novos produtos para empresas. Um dos projetos daquela �poca era o McCaf�. Participei de toda a parte da defini��o do que seria o blend do caf�, os itens do card�pio e tamb�m como poderia ser a gest�o da cafeteria. Isso foi em 1997. Acabei me voluntariando para participar das degusta��es de caf�. Depois de 10 anos em que estava na Nestl�, j� tinha trabalhado como gerente de produto, de marketing, e estava em busca de outros desafios, surgiu o convite da Nespresso, que � uma unidade de neg�cios do Grupo Nestl�, para participar de um processo seletivo. N�o tinha ningu�m no Brasil, fui a primeira funcion�ria da Am�rica Latina. Senti que estava entrando para a CIA de tantos sotaques diferentes que ouvi durante as entrevistas. Tinha sueco, franc�s, su��o e indiano.

Na sua opini�o, o que foi mais decisivo para voc� ter sido escolhida para a vaga?
Claro que contou a experi�ncia que tinha no relacionamento com chefs de cozinha, restaurantes e hot�is, mas o que me colocou em posi��o diferente foi a minha familiaridade com o caf�. Quando os gringos me perguntavam “voc� conhece caf�?”, eu respondia: sim, praticamente nasci numa fazenda de caf�. Era quase uma curiosidade da minha hist�ria, mas acho que isso me colocou em posi��o de destaque. Quando assumi o cargo de gerente de hot�is e restaurantes no Brasil, n�o tinha mais ningu�m. Meu chefe foi contratado dois meses depois. N�o tinha o que fazer, ent�o fui estudar, ler um monte de coisas. Como poderia conversar com baristas e chefs se n�o conhecesse caf�? Comecei a preparar treinamentos, que nem eram da minha �rea. Isso antes mesmo de abrirmos a primeira butique. Como ainda estava esperando tudo come�ar, me sugeriram fazer um est�gio na �ustria, pa�s bastante maduro na �rea de hot�is e restaurantes. Falei “tudo bem, mas quero fazer um curso na escola de barismo de Viena”, que � uma das mais importantes no mundo. Fiz por minha conta. A Nespresso come�ou efetivamente em dezembro de 2006. Lembro-me de que acabei sendo treinadora dos quatro primeiros colaboradores que iam atender nas lojas. Chegou um momento em que, al�m da estrat�gia para entrar em restaurantes e hot�is, cuidava do programa de integra��o.

Ent�o, nesta �poca, voc� j� estava bem familiarizada com o caf�.
Achei que estava at� ir � primeira reuni�o de cliente, em um grande hotel. Levei a m�quina debaixo do bra�o com as c�psulas. Tudo o que sabia era que espresso deveria ser degustado sem a��car. Caf� espresso tem duas fases: l�quido e espuma (que chamamos de crema). O chef pegou duas colheres de sobremesa de a��car e colocou em cima do caf�. Olhei aquilo e n�o entendi. Ele, italiano, conhece tanto de caf�, o que est� fazendo? Ele estava fazendo um teste de qualidade. � o que chamamos de teste de a��car para caf�. A crema tem que ser t�o densa, com bolinhas t�o fortemente ligadas, que, mesmo se colocar a��car por cima, ela tem que segurar por cinco segundos. O chef queria mostrar que o caf� n�o era bom, s� que o caf� segurou o a��car por mais de 10 segundos. A� ele perguntou: que caf� � esse?. Depois que fui para a Su��a, na f�brica, descobri que aquele era um dos testes realizados para ver a qualidade do caf�. Ali o produto falou mais do que qualquer argumento. Depois fiz mestrado na USP sobre an�lise sensorial de caf�, na �rea de sa�de p�blica.

Em qual momento voc� se apaixonou verdadeiramente pelo mundo do caf�?
Em 2008, fizemos um encontro aqui no Brasil de produtores de caf�. Eram 130 pessoas do pa�s inteiro. Foi nossa primeira viagem a fazendas, conheci muitas hist�rias e isso me abriu muito mais a perspectiva do que estava dentro da x�cara de caf�. N�o � s� o que � produzido, mas como � produzido. Perguntei para um produtor: voc� acha que fez diferen�a ter trabalhado com a Nespresso?. A� ele me respondeu: ‘Vixi’. Foi ali que entendi o meu prop�sito, isso come�ou a dar mais sentido para o que fazia.

O brasileiro estava mais acostumado com caf� coado. Como foi apresentar o caf� de m�quina?
Vou dar dois exemplos, um pessoal e outro profissional. Quando estava no processo seletivo da Nespresso, levei para o meu pai uma m�quina e c�psulas. Ele olhou e disse: ‘Caf� de pastilha, n�o cheira a caf�’. Expliquei: na hora que fizer ele vai liberar os aromas. Aprendi muito com o meu pai, era preciso encontrar o jeito certo de apresentar o produto. Voltando para o outro exemplo, de nada adiantaria uma excelente campanha se as pessoas n�o percebessem na x�cara que era um produto diferenciado, e foi o que mais fizemos. A gente convidava baristas, chefs e ma�tres para degusta��es, �s vezes de diferentes maneiras. Na x�cara, o produto se apresentou e mostrou que tinha muito potencial.

Vemos hoje uma busca por pequenos produtores e marcas locais. Como uma multinacional pode acompanhar os desejos do consumidor?
De nada adianta o produtor ter produto de qualidade se n�o tem quem consuma e a Nespresso segue contribuindo para o desenvolvimento deste mercado de caf�s especiais, que tem crescido. H� um trabalho de gerar experimenta��o e fazer o consumidor entender que existem diferentes caf�s. A marca teve papel importante na descoberta e valoriza��o da bebida. O ideal � consumir sem a��car, mas temos que respeitar as prefer�ncias, porque caf� � um momento de prazer. Ainda que o mercado de c�psulas seja pequeno – a Associa��o Brasileira da Ind�stria de Caf� (Abic) diz que representa menos de 1,5%, temos muito para crescer no Brasil. Se for para beber caf�, que seja bom.

Qual � a origem dos caf�s utilizados pela Nespresso?
Adquirimos caf� de 13 pa�ses diferentes, como Guatemala, M�xico, Qu�nia, Eti�pia, �ndia e Indon�sia. Mas o Brasil � o maior produtor e maior fornecedor do mundo, por isso tem caf� brasileiro em todas as c�psulas.

Por quantas �reas voc� j� passou na empresa?
Comecei por hot�is e restaurantes, passei por neg�cios corporativos na �rea comercial, depois fui convidada para cuidar das butiques, o nosso formato de varejo. Em seguida, fui convidada para a �rea de caf�s no Brasil. Lembro-me de que cheguei para o diretor e perguntei: qual � esta fun��o, cad� a descri��o do cargo?. Ele respondeu: ‘Pode descrever’. Foi a primeira e �nica vez que aconteceu isso comigo. Apresentei para o meu chefe da Su��a o que esperava desta �rea e ele falou que parecia bem correto, estava bastante alinhado com o que ele estava pensando. Na �poca, n�o tinha ningu�m fazendo isso no mundo. Hoje, mais de 40 pa�ses trabalham com esta �rea e muito deles vieram se formar aqui no nosso pa�s, visitar cafeterias, fazendas e entender a cultura cafeeira. O objetivo da �rea � alavancar cultura do caf�, fazendo com que as pessoas conhe�am e valorizem e isso passa por degusta��o, treinamento, eventos, visitas a fazendas. A� me tornei porta-voz da companhia para falar mais do caf�, em diferentes vertentes. Depois assumi a �rea de sustentabilidade e reciclagem (existiam muitas a��es, mas elas n�o estavam dentro de um �nico guarda-chuva no Brasil) e a �rea de comunica��o corporativa.

Como a empresa lida com o descarte das c�psulas?
Hoje temos no Brasil mais de 100 pontos de coleta, 29 s�o nossas butiques, onde est� concentrada a maior parte dos clientes, mas temos outros parceiros. Trabalhamos por log�stica reversa. As c�psulas v�m para o centro de reciclagem, que fica na regi�o metropolitana de S�o Paulo, e l� separamos mecanicamente o p� de caf� do alum�nio. Ali conseguimos dar o destino ambientalmente correto para cada um deles. O p� de caf� vai ser compostado e vira adubo org�nico, o alum�nio vai para a ind�stria virar outros produtos, como pe�as de bicicleta e esquadria. Na Su��a, onde ficam as nossas f�bricas, as c�psulas que s�o coletadas voltam a ser novas c�psulas.

Como � ser uma l�der mulher em uma grande empresa?
N�o tinha me atentado para isso, a gente faz pelo prop�sito. Ouvia falar de lideran�a feminina, mas n�o tinha me atentado de que estava inspirando outras pessoas. Hoje entendo que precisamos falar mais disso no campo. Estamos com um trabalho de levar este olhar para nossos produtores e agr�nomos. Hoje, falar sobre feminino � interessante, est� na crista da onda, mas n�o necessariamente estamos praticando. As pessoas precisam ter voz. �s vezes, at� para virar uma abordagem comercial, os produtores colocam a fazenda no nome da mulher porque � bacana, mas se ela n�o tem voz nem vez na fazenda n�o � verdade, e tem que ser verdade. Entendi a minha responsabilidade em ter influ�ncia boa para as pessoas. N�o estou dizendo que n�o exista no mercado, mas nunca senti dificuldade por ser mulher. Creio que a minha carreira se desenvolveu de acordo com as minhas escolhas.

Como conciliar carreira e fam�lia?
A gente nunca sabe como. Passo pelo desafio da agenda, de conseguir dar conta de tudo, de me sentir um pouco frustrada em n�o dar conta, mas n�o sou hero�na. Tenho procurado achar este equil�brio, mas n�o encontrei. Quem souber como, me conta. Eu agrade�o.

Quais s�o seus planos?
Temos metas de sustentabilidade para 2020, mas n�o basta olhar para dentro das nossas opera��es. Estamos assegurando que a sustentabilidade tenha uma atua��o mais transversal, n�o s� olhar para dentro. Ambiciono muito que a empresa possa cada vez mais servir de inspira��o para outras empresas. No meu dia a dia, olho para o meu entorno, adotando a pra�a na frente da casa ou catando lixo no meu bairro. S�o pequenos gestos para garantir que todos vivam em um mundo melhor. 


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