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Estado de Minas MAUREEN CHIQUET

Ex-CEO da Chanel revela em livro como se tornou exemplo de lideran�a

De degrau em degrau, a norte-americana chegou ao mais alto cargo da maison francesa


postado em 03/11/2019 04:00 / atualizado em 01/11/2019 16:52

(foto: Beowulf Sheehan/Divulgação)
(foto: Beowulf Sheehan/Divulga��o)


De bacharel em artes a CEO internacional da Chanel. Maureen Chiquet, de 56 anos, est� no seleto grupo de mulheres que j� ocuparam o mais alto posto de uma empresa. A norte-americana sempre sonhou em morar em Paris, mas nunca imaginou que se mudaria para a Cidade Luz com a miss�o de dar um novo rumo para a marca francesa sin�nimo de luxo. Antes disso, passou pela L'Oreal, Gap, Old Navy e chegou a ser presidente da Banana Republic. Maureen aprendeu a ouvir, mais que falar, incentivou a criatividade da equipe e se tornou uma refer�ncia em lideran�a feminina. Hoje, ela olha para tr�s e se orgulha de ter conduzido, com sabedoria, a Chanel ao novo mil�nio, em que o desafio � mais se relacionar com os clientes do que propriamente vender. Desde que deixou a maison, h� quase quatro anos, a norte-americana tenta construir uma nova hist�ria. Recentemente, ela lan�ou o livro Do nosso jeito: mulheres, lideran�a e sucesso, com o objetivo de inspirar mulheres (e homens) com a sua hist�ria. O projeto da vez envolve a cria��o de uma s�rie de TV. Planejar o futuro � “quase imposs�vel”, Maureen diz, mas uma coisa � certa: ela quer continuar criando beleza no mundo.
 
O que motivou voc� a escrever um livro?
Comecei a escrever o livro porque criei uma iniciativa de lideran�a na Chanel chamada Lideran�a Ativa e Consciente, que estava transformando nossa cultura. Neste trabalho, incentivamos os l�deres a aparecer como pessoas inteiras, n�o apenas como executivos. Pedimos que eles escutassem mais profundamente, fossem mais vulner�veis, fossem mais curiosos, fizessem mais perguntas e, finalmente, colaborassem mais uns com os outros. Ap�s um ano, os resultados come�aram a influenciar radicalmente a cultura da empresa. Tornamo-nos mais inovadores e abertos � mudan�a. Eu queria compartilhar isso com outros l�deres. Quando comecei a escrever, percebi que tinha outras hist�rias para contar e perspectivas para compartilhar, e � por isso que o livro surge mais cedo na minha vida.

Como voc� explica a sua paix�o pela Fran�a?
Meu pai havia aprendido franc�s e falava muito fluentemente. Sempre admirei meu pai e queria ser igual a ele. No ensino m�dio, eu tinha um professor de franc�s muito bom, cujo amor � cultura, comida e arte francesas me inspirou a ir para l� pela primeira vez aos dezesseis anos. Quando fui, me apaixonei pela maneira como os franceses apreciam a vida e se enchem de beleza.

No livro, voc� conta que, quando passou no processo seletivo da Gap, imaginava assumir uma grande responsabilidade, mas teve que come�ar como estagi�ria. Hoje, quais vantagens enxerga de ter subido degrau por degrau?
Trabalhava h� tr�s anos na L'Oreal como gerente de produtos antes de ir para a Gap. Quando soube que a minha primeira tarefa na Gap seria limpar um arm�rio com amostras de acess�rios, achei injusto, mas isso me ajudou a me familiarizar com o produto, a qualidade, a marca e a hist�ria do que vendemos. Come�ar como estagi�ria significou que eu tinha que aprender tudo de novo e n�o podia confiar em ideias preconcebidas que poderia ter desenvolvido na L'Oreal. Al�m disso, aprender um novo emprego leva tempo. Se eu tivesse entrado imediatamente com mais responsabilidade, poderia ter cometido mais erros mais tarde. E, finalmente, come�ando de novo, aprendi quais tarefas as pessoas que trabalhariam mais tarde para mim teriam que fazer para que eu pudesse ser uma chefe melhor.
 
(foto: Reprodução)
(foto: Reprodu��o)
 

O que a experi�ncia com um chefe dur�o ensinou a voc�?
Isso me ensinou o que “n�o fazer” como l�der. Isso me ajudou a ter empatia com os membros da equipe que podem ser novos e inexperientes. Tamb�m aprendi um pouco sobre como defender o que eu acreditava estar certo. No livro, conto uma hist�ria sobre um “susto de bomba” que tivemos em nossos escrit�rios em Hong Kong. Est�vamos no meio de uma reuni�o no domingo � noite e ouvimos dizer que havia um pacote no elevador. Nosso chefe dur�o queria ficar porque achava que era um alarme falso. Eu senti que n�o valia a pena ficar e arriscar nossas vidas. Quando me levantei para sair, ele me castigou, mas eu ganhei um enorme respeito dos outros membros da equipe.

Com o nascimento da sua segunda filha, voc� aprendeu a n�o deixar o trabalho controlar a sua vida. Como equilibrar carreira, fam�lia e sa�de?
N�o sei se existe uma solu��o �nica. Acredito que cada pessoa precisa priorizar e fazer escolhas. E haver� sacrif�cios. � importante aceitar isso e saber quais compromissos voc� est� disposta a fazer.

Durante um tempo, voc� formou uma fam�lia pouco convencional, em que a m�e trabalhava fora e o pai cuidava da casa e das crian�as. O que falta para isso ser naturalizado?
Quando meu ex-marido e eu decidimos que eu trabalharia e ele ficaria em casa, era uma escolha n�o tradicional. Muitas das m�es da escola n�o trabalhavam e estavam muito mais envolvidas nas atividades cotidianas de seus filhos. Minhas filhas adoravam ter o pai t�o envolvido e parecia dar certo quando eram jovens. No entanto, aprendi muitos anos depois que eles sentiam muito a minha falta quando trabalhava at� tarde e viajava com tanta frequ�ncia. H� uma hist�ria no meu livro sobre um momento em que minha filha mais velha e eu brigamos e descobri o quanto foi dif�cil para ela todos esses anos. Ainda me entristece saber que perdi tantos momentos especiais em suas vidas, mas escolhi trabalhar e amei o meu trabalho. E, como uma mulher de sucesso que gosta da sua carreira, sei que tamb�m dei um bom exemplo para minhas filhas seguirem seus sonhos. O que n�o � “natural” � a suposi��o social de que a mulher pode ou deve tentar “ter tudo”; que ela pode ter um emprego em per�odo integral e ser m�e em per�odo integral sem ter consequ�ncias. Atrav�s da minha experi�ncia, percebi que n�o existe um “equil�brio perfeito entre trabalho e vida pessoal” ou “m�e perfeita”. Esfor�ar para alcan�ar esses ideais realmente nos machuca porque nos prepara para o fracasso. Precisamos aceitar que a vida n�o ser� perfeita. Haver� coisas de que sentiremos falta ou momentos que doer�o. A coisa mais importante � ser muito clara sobre o que queremos e comunicar do cora��o aos nossos entes queridos.

O que motivou voc�, verdadeiramente, a aceitar a proposta da Chanel?
Na �poca, a Gap ainda era uma empresa de muito sucesso e a Chanel era uma marca muito menor e menos importante. Para mim, era um risco mudar minha fam�lia inteira da Calif�rnia para Paris e depois para NY. No entanto, eu admirava Coco Chanel como mulher, uma for�a criativa e um iconoclasta. Eu fui inspirado por sua hist�ria de vir de um orfanato para se tornar uma das designers mais famosas do mundo. Eu amei que ela mudou radicalmente a moda. Ela tirou as mulheres de saias longas, decotes altos e espartilhos e as libertou, oferecendo tweeds e camisas (roupas que os homens costumavam usar). Ela era uma feminista autodeterminada que, mudando a moda, mudou a maneira como as mulheres poderiam ser no mundo. Tamb�m concordei muito com a filosofia da empresa na �poca: investir a longo prazo e confiar na criatividade para alimentar a marca.

O que voc� mais aprendeu com a hist�ria de Coco Chanel?
A vis�o de Coco Chanel era particular. Ela queria se vestir de maneira diferente. Ela tinha seus pr�prios gostos e est�tica que compartilhava com o mundo. Acho que toda grande arte se origina de algo muito pessoal. Pesquisas, dados, tabelas e gr�ficos de consumidores nunca podem realmente determinar como algo t�o emocional quanto a moda inspirar� e encantar� um cliente. Aprendi com a hist�ria dela que o que quer que voc� decida fazer deve estar ligado a algo com o qual realmente se importa como pessoa.

Do que mais voc� se orgulha de ter feito enquanto esteve � frente da Chanel?
Tenho muito orgulho do trabalho de lideran�a. Ele ajudou as equipes a ouvir melhor, colaborar mais, ser mais flex�vel e curioso e lidar com as extensas mudan�as nos neg�cios e no mundo em geral. Ao incentivar os l�deres a refletir sobre seus pr�prios estilos, eles aparecem como seres humanos com suas equipes, abrem os olhos e os ouvidos para tudo ao seu redor e trabalham melhor juntos. Fomos capazes de lan�ar iniciativas inovadoras e promover o crescimento excepcional da marca.

O que significa luxo para voc�?
O significado do luxo mudou para mim. N�o se trata tanto de adquirir coisas. � sobre os momentos privilegiados que posso passar comigo e com meus entes queridos, � sobre fazer algo que eu realmente amo, como criar hist�rias, � sobre estar na natureza, � sobre absorver arte de diferentes formas.

O que a roupa diz sobre uma pessoa?
Para mim, as roupas funcionam como uma express�o externa da pessoa que voc� pensa que quer ser. Voc� escolhe o que veste todos os dias para que as roupas reflitam como voc� se sente e quem voc� considera que �.

Assim como voc�, muitas pessoas t�m a ideia de que a Chanel est� fora de alcance. Como as marcas de luxo podem se aproximar dos consumidores?
Acho que as grandes marcas t�m um prop�sito mais profundo e, por esse motivo, criam uma conex�o �ntima com seus clientes. N�o se trata de prestar servi�os aos clientes, mas de se relacionar com os clientes. Existe uma marca de t�nis, a Converse, cujo objetivo � apoiar m�sica e arte perif�ricas. Em vez de apenas tentar mostrar artistas na publicidade, eles criaram est�dios de grava��o em todo o mundo onde artistas que n�o podiam pagar pelo tempo de est�dio podiam gravar suas m�sicas. Este � um exemplo de relacionamento com seu consumidor sem apenas tentar vender algo a eles. E quando eles fizeram isso, seus neg�cios dispararam.

Voc� teve que descobrir sozinha como ser uma l�der. Como define hoje a sua maneira de liderar?
Felizmente, est� “al�m do r�tulo”! Em outras palavras, n�o gosto de ser definida por uma certa “maneira de ser”. Adoro colaborar na cria��o de novos produtos e ideias para o futuro.

Na sua vida, em quais momentos voc� quebrou regras e subverteu padr�es?
Mais recentemente, decidi, em vez de voltar ao cargo de CEO em neg�cio de varejo/luxo, criar uma s�rie de TV. Tive uma maravilhosa carreira de 35 anos no varejo e no luxo, mas, para mim, isso foi meio que um padr�o. Aprendi tanto e tenho tantas hist�rias que subverti meu pr�prio padr�o ao decidir usar o que sei e aprender para criar algo totalmente novo.

Ser CEO da Chanel era o que voc� imaginava quando chegasse ao topo da carreira?
N�o. N�o mesmo. Nunca imaginei nem administrar uma empresa. Fiquei muito perto do que me importava – criar produtos e hist�rias bonitas e morar na Fran�a! Meu caminho me levou a esse trabalho e, enquanto eu o amava, n�o o considerava “o topo” da minha carreira, mas uma passagem ou cap�tulo da minha vida.

O que voc� conhece sobre a moda no Brasil?
N�o muito, para ser honesta. Sei que os brasileiros t�m seu pr�prio senso de estilo, que contempla pessoas de todas as formas e tamanhos.

Na sua opini�o, o que os brasileiros podem ensinar para o resto do mundo?
Pelo pouco que sei, os brasileiros celebram todos os tipos de corpos, sexos e ra�as. E fazem isso de uma maneira divertida, n�o t�o s�ria. Acho que esta � uma �tima mensagem para o resto do mundo.

O que � beleza para voc�?
Acho que a beleza emana da alma, das hist�rias que podemos ver em objetos, lugares ou pessoas. Acho que a beleza est� na imperfei��o, acho que a beleza est� frequentemente nas coisas que achamos feias ou que ignoramos. Beleza n�o � uma ideia fixa de perfei��o.

Voc� usa cabelos curtos, quase nada de maquiagem e prefere jeans a vestido de festa. Como define o seu estilo?
Espero que meu estilo esteja “al�m do r�tulo”. Ele realmente muda dependendo de onde estou ou do que estou fazendo. Em geral, gosto de misturar coisas e criar paradoxos ou contrastes: masculino/feminino, elegante/casual, ousado/sutil.

Como voc� espera que a sua hist�ria inspire outras mulheres?
Espero que, ao ler minha hist�ria, outras mulheres (e homens) possam refletir sobre seus pr�prios caminhos em dire��o ao “sucesso em seus pr�prios termos”. Sempre fa�o tr�s perguntas que formam o cerne de como naveguei na minha vida: 1. Com o que realmente me importo? Quando supero t�tulos, ideias de sucesso na carreira e dinheiro, quando afasto o que as outras pessoas pensam, o que devo “fazer” ou o que a sociedade diz, o que n�o posso viver sem? O que faz meu cora��o bater mais r�pido? 2. Em que sou verdadeiramente bom? Que habilidades naturais tenho? 3. Em que circunst�ncias estou? Em outras palavras, tenho recursos suficientes para n�o fazer compromissos? Se n�o cumprir, quais compromissos estou disposto a fazer? Ao me fazer essas perguntas, o caminho me encontrou!

Envelhecer � um problema para voc�?
Na verdade, me sinto mais eu do que nunca. No entanto, � sempre dif�cil lidar com as partes f�sicas do envelhecimento.

Como voc� imagina a sua vida daqui a alguns anos?
Aprendi que � quase imposs�vel projetar o futuro e a melhor maneira de viver � estar por completo em cada dia que chega.

Pensa em morar definitivamente na Fran�a?
Vivi na Fran�a grande parte da minha vida. Adoro o pa�s e, embora n�o ache que vou me mudar para l� permanentemente, posso me imaginar passando grandes per�odos em Paris no futuro. 


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