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Estado de Minas ENTREVISTA/PEDRO ALMEIDA - 38 ANOS, EDUCADOR F�SICO

Do movimento � vida

Mineiro � eleito o melhor personal trainer do pa�s pelo trabalho pioneiro com pacientes oncol�gicos


postado em 08/12/2019 04:00

(foto: jair amaral/em/d. a press)
(foto: jair amaral/em/d. a press)


V�tima de tipo raro de c�ncer aos 6 anos, Pedro Almeida decidiu dedicar a sua vida para ajudar as pessoas a ter mais sa�de e qualidade de vida por meio da atividade f�sica. Formou-se em educa��o f�sica, e em fun��o do que viveu na inf�ncia e pr�-adolesc�ncia, apesar de tamb�m trabalhar com pessoas saud�veis, se especializou em pacientes oncol�gicos. Em final de setembro, foi eleito o melhor personal trainer do Brasil, em um concorrido concurso com v�rias etapas de provas, competindo com 120 profissionais de todo o pa�s.
 
Como foi sua inf�ncia?
Normal, at� os 6 anos. Era um menino ativo, levado. Corria para todo lado, aprontava um bocado. Uma crian�a como outra qualquer.

Quando surgiu seu problema de sa�de?
Tinha uns 6 anos. Estava em uma festa de anivers�rio de um coleguinha. A m�sica estava alta e senti uma dor forte de ouvido. Falei com minha m�e, que me levou ao hospital. Como o pesco�o estava inchado, pensaram que era caxumba, mas estava diferente. Depois de v�rios exames decidiram fazer uma pun��o ou bi�psia, mas n�o descobriram o que era. O patologista disse que era necess�rio pesquisar mais. Falaram que era algo raro, mas n�o sabiam dizer o que era. Falaram para meus pais me levarem para o Hospital Albert Einstein, em S�o Paulo. L�, fui encaminhado para a equipe de especialista em oncologia, o Dr. Miguel Burnier nos atendeu. Nova cirurgia, sem diagn�stico. Disseram que n�o tinha tratamento no Brasil e nos encaminharam para os Estados Unidos, para Houston, onde � o maior centro de tratamento de c�ncer do mundo. Passei por mais uma cirurgia l� e ficaram s� nas suposi��es. Os m�dicos disseram que n�o era nada preocupante e que era para eu voltar para o Brasil.
 

N�o sou m�dico, mas a �nica coisa que veio � minha mente foi: vamos para Houston. Isso foi dois meses antes do meu casamento e n�o sabia se ela estaria viva at� l�

 

Voc�s voltaram?
N�o. Meus pais n�o aceitaram essa resposta e procuraram a maior sumidade em otorrino de l�, Robert Jahrsdoerfer. Ele estava a caminho do Brasil para participar de um congresso e disse que me examinaria aqui. Retornamos. Um m�s depois ele me atendeu. Era uma ter�a-feira. Depois de me examinar, ele disse para minha m�e que eu teria que estar nos Estados Unidos na sexta-feira. Voltamos. Fiz uma nova bi�psia. S� ent�o fechou o diagn�stico, era um linfoma n�o Hodgkin, das novas c�lulas betas, um linfoma na regi�o entre a cabe�a e o pesco�o, dos mais agressivos que existem para crian�a. Comecei o tratamento l�. Ficamos sete meses direto, depois fiquei indo e vindo, para tratamento e depois para check-ups.

Quando recebeu a not�cia de que estava curado?
Quando tinha 14 anos.

Como foi sua inf�ncia e adolesc�ncia?
Era uma crian�a, mas sabia que estava acontecendo alguma coisa errada. Sou muito espiritual. Fiz uma pergunta muito s�ria para minha m�e: “Vou morrer?”, e ela respondeu com muita verdade: “Se n�o tratar, vai”. Incorporei uma maturidade grande para poder passar por todo o processo de tratamento. Sabia que n�o poderia externar dor para meus pais n�o sofrerem. Eles tinham que saber que estava tudo bem comigo. O tratamento foi tranquilo, dentro do poss�vel. Estava muito l�cido, n�o tive nenhuma sequela. Gra�as aos meus pais tive uma inf�ncia. Eles s�o pessoas de muita f�, veja, minha m�e se chama Celeste, meu pai, J�sus – s� n�o � Jesus porque o rapaz do cart�rio n�o deixou –, e eu sou Pedro. Acho que tem uma rela��o religiosa muito forte nisso. Mesmo doente eles sempre me colocaram para fazer tudo que uma crian�a faz, me tiravam de dentro do hospital para eu ser crian�a, praticar atividade f�sica, brincar com meu irm�o. Nunca me senti doente. Foi o grande ponto, o diferencial do processo todo.

Como voc� se sentia?
Sabe aquele filme Divertidamente? Foi igual. As cinco fases: raiva (por que comigo?), mas nunca questionei Deus por isso; medo do tratamento e de morrer; tristeza de ver meus pais sofrendo; nojo eu nunca tive; e a alegria na reuni�o familiar, com os amigos. As pessoas que me amavam estavam comigo. Exercitavam meu c�rebro. As experi�ncias foram positivas. Estava cercado de pessoas excepcionais. A oncologista da equipe disse para minha m�e “eu mato o c�ncer, e voc� tem que deixar seu filho bem para eu atuar”. Foi isso que ela fez. Outra grande ajuda foi do meu tio cardiologista, Luiz Fernando Caetano, que foi conosco para os EUA. Ele ensinou como o c�ncer funcionava e como combat�-lo atrav�s de um videogame, o M�rio Bros, que estava sendo lan�ado naquela �poca. ‘Pedro, dentro da sua cabe�a est� cheio de tartaruga do M�rio, e voc� tem que mat�-las para ficar bem como o M�rio.’ Incorporei isso. Sabedoria incr�vel a dele.

E deu certo.
E como deu. Fizemos um tratamento experimental. Minha m�e agiu instintivamente me levando para brincar e me movimentar. Das sete pessoas diagnosticadas com o meu tipo de c�ncer que fizeram o mesmo tratamento que eu, seis morreram, s� eu sobrevivi. A partir de mim surgiu um protocolo de tratamento para as pessoas que vieram depois de mim. O que tinha sido diferente? A atividade f�sica.

Conseguiu estudar durante o tratamento?
Sim, no hospital em Huston tem uma escola, fui alfabetizado em ingl�s. Quando voltei, fiquei por dois meses em s�rie anterior para pegar o portugu�s. Depois voltei para a s�rie normal.

Foi por causa da sua doen�a que escolheu a profiss�o?
Depois que me curei, vi que tinha vindo ao mundo com o prop�sito de ajudar as pessoas. Fiquei na d�vida entre medicina e educa��o f�sica. Como vivi muito em ambiente hospitalar, decidi que n�o queria cuidar de doentes, queria levar sa�de e qualidade de vida para as pessoas. Por isso optei por educa��o f�sica, resgatei o per�odo da inf�ncia quando minha m�e me deixava exercitar e brincar, mesmo doente.
 
J� entrou na faculdade pensando em unir atividade f�sica e a ajuda ao tratamento oncol�gico?
Sim, queria trabalhar com atividade f�sica e c�ncer resgatando o meu passado, que foi fundamental para dar continuidade a essa ideia. Fui o �nico paciente a movimentar durante todo o tratamento, percebi que isso foi o diferencial para o resultado positivo, que foi o de sobreviver.

Fazia exerc�cios f�sicos durante o tratamento? Como conseguia?
� importante explicar a diferen�a de atividade f�sica e exerc�cio f�sico. Quando me refiro a atividade, estou falando de movimento. Trabalho a transforma��o atrav�s do movimento. Atividade � sair, andar e at� correr atr�s do seu filho. Isso � se movimentar, tirar o corpo da in�rcia, isso � o que transforma. Uma atividade f�sica na educa��o f�sica, ou seja um exerc�cio f�sico � algo programado, com tempo, carga, visando trazer benef�cio corporal. � a malha��o, que pode ser muscula��o, aer�bica, enfim, uma infinidade de estilos. No meu trabalho de conclus�o de curso, n�o consegui trabalhar com paciente oncol�gico por causa da resist�ncia m�dica. Desenvolvi pesquisa com ratos de laborat�rio. Inoculei o c�ncer neles, parte deles ficou sedent�ria e a outra parte teve atividade f�sica. Nenhum deles recebeu medica��o, porque n�o sou m�dico, mas � claro que as pessoas fazem o tratamento contra a doen�a, normalmente, com seus m�dicos. Observei a rea��o dos ratos e o tempo de vida com e sem a atividade f�sica e o desenvolvimento do c�ncer. O resultado foi que tanto o volume quanto o peso tumoral reduziram em mais de 120% nos animais que fizeram atividade f�sica em rela��o aos que eram sedent�rios.

Voc� deu continuidade a esse trabalho?
Sim, fui o pioneiro em ver que o exerc�cio f�sico interfere diretamente no microambiente tumoral. Meu artigo foi publicado na revista cient�fica americana Journal of Apllied Physiology, em 2009. Desde ent�o, ele vem sendo citado por revistas de circula��o mundial como sendo pioneiro nessa �rea. Depois que me formei fiz especializa��o, mestrado e doutorado na �rea, inclusive dentro da �rea m�dica, capacitando-me cada vez mais para o trabalho com pacientes oncol�gicos.

Quando come�ou a aplicar o trabalho em pacientes?
Em 2012, abri o Efeito Personal Studio, em sociedade com os amigos Carlos Eduardo de Moura Rodrigues, Elton Francisco e Andr� Del Rio. Desde ent�o, trabalho com todo o tipo de pessoa, tanto as saud�veis, sem nenhuma doen�a grave, quanto pacientes oncol�gicos. Em 2015, ocorreu um fato que transformou a vida da gente, minha m�e foi diagnosticada com c�ncer de ov�rio, e teve 11 pontos de met�stase. Chamou-me para uma reuni�o, contou sobre a doen�a pediu ajuda e perguntou o que deveria fazer. N�o sou m�dico, mas a �nica coisa que veio � minha mente foi: vamos para Houston. Isso foi dois meses antes do meu casamento e n�o sabia se ela estaria viva at� l�. Come�amos o tratamento e tamb�m a fazer atividade f�sica com ela, mais dirigida, simultaneamente. Ela operou, era para ficar 12 dias no CTI e ficou apenas dois dias, por causa da sua condi��o f�sica. Os m�dicos falavam que eu ia matar minha m�e. Mas eu respondia que iria mant�-la mais viva que nunca. Conseguimos reverter o quadro. Ela entrou linda comigo no casamento. Ficou dois anos sem ser internada. Dois anos depois teve recidiva em dois pontos, e, ao mesmo tempo, minha esposa teve c�ncer de mama gr�vida de sete meses. Por ser fisicamente ativa, conseguiu passar pela qu�mio durante a gesta��o. Minha m�e viveu bem at� 2019, no in�cio do ano apareceu mais um pontinho, e est� em tratamento. Minha mulher est� curada, e meu filho passou por qu�mio no �tero e est� �timo.

Algum outro paciente que o marcou?
Um menino com c�ncer no c�rebro. Foi o �nico que eu atendi fora do est�dio. A m�dica dele me chamou porque viu o trabalho que fiz com minha m�e. Ele tinha de tr�s a quatro meses de expectativa de vida, conheci-o muito tarde, e ele sobreviveu dois anos. No final da sua vida, fui o �nico autorizado a entrar no CTI para me despedir dele. Levei sa�de e qualidade de vida para ele.

Qualquer paciente pode fazer atividade f�sica, independentemente do est�gio da doen�a?
Lembro que a atividade f�sica � movimentar. Se conseguir levantar a perna, ele est� movimentando. Atividade f�sica � o meio que a gente pode transformar a vida das pessoas, independentemente do momento em que ela est�.

Voc� foi eleito o melhor personal trainer do Brasil. Como foi isso?
Foi criada, h� cerca de 11 anos, a Sociedade Brasileira de Personal Trainer. Fizeram um concurso para eleger o melhor profissional do pa�s e foram 120 inscritos. Foi um processo de seis meses, passamos por v�rias provas e avalia��o nesse per�odo. Terminou em 28 de setembro, em um evento em S�o Paulo, para a disputa da final. Todos os 120 concorrentes estavam presentes, e teve mais uma prova presencial, e uma avalia��o de 20 minutos. Fui eleito por causa deste meu trabalho pioneiro.

Tem algum projeto para 2020?
Busco sempre o melhor para o outro porque Deus me deu tudo. J� estou inserido no projeto de virar palestrante, para falar da import�ncia da atividade f�sica na vida das pessoas e na sa�de. Minha palestra se chama “Do movimento � vida”, e o objetivo � inserir atividade f�sica/movimento nos grandes centros de tratamento oncol�gicos de Minas e do Brasil, se poss�vel. 


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