“Gra�as a Alceu Penna, desde os meados de 1930, qualquer brasileiro poderia se vestir com o dernier cri de Paris ou de Nova York. Ele trazia as tend�ncias das fontes e as reproduzia com olhar cr�tico em ricas ilustra��es detalhadas”. Esta � a opini�o de Luiza Penna, curadora e diretora da exposi��o Alceu Penna – Inventando a moda do Brasil, que est� em cartaz no Museu da Moda de Belo Horizonte – Mumo –, at� 7 de junho de 2020.
Sobrinha do artista, a arquiteta e urbanista tem sido atuante na preserva��o da mem�ria de sua obra, ocupando um lugar que, anteriormente, foi da tia, Thereza Penna. Al�m de criar e administrar as redes sociais com o seu nome, com a inten��o de levar o trabalho realizado por ele a milhares de novos admiradores, Luiza lan�ar�, em breve, o livro de arte O tra�o do Alceu, organizado por ela e pela designer gr�fica Inez Oliveira. A publica��o cont�m centenas de desenhos restaurados em todas as fases da trajet�ria art�stica do vers�til ilustrador, que transitou tamb�m pelas �reas do design gr�fico, jornalismo, figurino, estilismo, publicidade e cenografia.
“Os desenhos, as palavras e ideias de Alceu, levados pela revista O Cruzeiro, emocionavam e inspiraram milhares de leitores. E continuam inspirando. Ele foi, e ainda �, refer�ncia para designers e profissionais de moda, muitos deles seus confessos admiradores”, garante Luiza. O t�tulo da mostra, escolhido por ela, � emblem�tico e visa colocar o mineiro de Curvelo como protagonista da cena fashion brasileira.
Outro ponto que a arquiteta enfatiza � que, para o tio, a moda n�o era elitista; ao contr�rio, era acess�vel, tanto nos desenhos como nos textos e detalhes. “Ele pregava a livre cria��o e o fim da ditadura da alta-costura como via de desenvolvimento do talento nacional. Moda democr�tica e plural para ser reproduzida artesanalmente, inferindo que os insumos locais, a cultura, o clima e as tradi��es de nosso povo trariam a ess�ncia desse estilo brasileiro”.
Em 1932, aos 17 anos, Alceu Penna mudou-se para o Rio de Janeiro para estudar arquitetura na Escola Nacional de Belas Artes – ENBA – e, ao mesmo tempo, frequentou v�rios cursos de arte. Em 1933, iniciou seu trabalho como ilustrador da revista O Cruzeiro; cinco anos ap�s e at� 1964 passou a assinar a coluna Garotas, no mesmo ve�culo, que o tornaria famoso.
Os tra�os delicados e graciosos do artista conquistaram uma legi�o de mulheres que se viram encantadas pelas suas propostas atrevidas. Ele inaugura, com boa dose de humor, uma nova forma de representar a sensualidade feminina, influenciando moda e comportamento no pa�s. Elas copiam n�o s� as roupas e os penteados, mas os gestos e atitudes das Garotas, j� que Alceu Penna transporta para a revista as novidades das publica��es estrangeiras.
Essas novidades eram resultados de suas imers�es na Europa, particularmente na Fran�a, para onde viajava constantemente. A amizade com Carmem Miranda trouxe oportunidade de colaborar, informalmente, com os figurinos que a artista e o Bando da Lua usaram em shows e filmes internacionais.
Concebeu, ainda, calend�rios para a empresa Moinho Santista Ind�strias Gerais e, a convite da multinacional francesa Rhodia, torna-se respons�vel pela cria��o dos figurinos utilizados at� 1972 na apresenta��o das cole��es anuais da marca.
Ao longo de sua carreira, Alceu Penna elaborou ilustra��es para capas de revistas (O Cruzeiro, A Cigarra e Tric� Croch�), quadrinhos, livros, capas de discos infantis (s�rie Disquinho, dirigida por Braguinha), embalagens e publicidade. Tamb�m criou cen�rios e figurinos para shows, cassinos, teatro, cinema e televis�o; e desenhou fantasias e cole��es de moda.
A mostra no Mumo coloca sob os holofotes um recorte da sua carreira. Parte dos figurinos e acess�rios expostos foram doados pela fam�lia ao museu. “A exposi��o come�a como um espa�o de refer�ncias, um convite para conhecer os demais ambientes”, explica Luiza Penna
Na sala dois, o tema � Alceu Penna Decodificado e exibe as releituras de desenhos feitos pelos alunos do Senai-Modatec/MG para o Minas Trend ver�o 2019/2020 – edi��o Em Dias de Sol, mostra idealizada por Ronaldo Fraga. Quinze originais do artista foram trazidos do papel para a realidade por meio do talento dos envolvidos no projeto. Cada participante incorporou a marca de Alceu de acordo com o seu olhar individual, trazendo-o para o universo contempor�neo.