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Estado de Minas SANTA �GUA

Ind�stria consciente

Empresas de toda a cadeia produtiva da moda se mobilizam para reduzir o consumo de �gua. Cal�a jeans � a pe�a escolhida para mostrar o tamanho do desafio em prol do meio ambiente


postado em 22/03/2020 04:00 / atualizado em 19/03/2020 20:24

Cedro(foto: Marcio Rodrigues/Divulgação)
Cedro (foto: Marcio Rodrigues/Divulga��o)


N�meros sempre causam impacto. Veja a quest�o envolvendo �gua e moda. Compramos, usamos e lavamos roupa sem pensar muito sobre o meio ambiente. Quando nos vemos diante da informa��o de quantos litros de �gua s�o necess�rios para produzir uma cal�a jeans no Brasil, a percep��o tende a mudar. De acordo com o c�lculo feito pelo Movimento Ecoera, em parceria com a Vicunha T�xtil, este n�mero chega a 5.196 litros. No Dia Mundial da �gua, apresentamos iniciativas de empresas da moda que buscam a redu��o do consumo.
 
A crise h�drica em S�o Paulo, iniciada h� seis anos, fez Chiara Gadaleta refletir sobre a participa��o da moda nesta equa��o. Idealizadora do Movimento Ecoera, que desenvolve a��es ligadas � sustentabilidade, ela resolveu ent�o calcular o consumo de �gua em todo o ciclo de uma cal�a jeans produzida no Brasil. “N�o era s� calcular quanto tal f�brica gasta, esta conta � da companhia de �gua. A nossa inten��o era entender como a ind�stria da moda est� olhando para um recurso finito e que � essencial para a nossa sobreviv�ncia”, aponta.
 
Para dar in�cio ao projeto, Chiara pensou qual era a pe�a mais querida pelos brasileiros. Ficou entre camiseta branca e cal�a jeans, mas no fim escolheu a segunda op��o, que j� era alvo de pesquisas fora do pa�s. Mas ela avisa: o jeans n�o � vil�o, deve ser visto como protagonista de uma boa hist�ria.
 
Colcci(foto: Paulo Vainer/Divulgação)
Colcci (foto: Paulo Vainer/Divulga��o)
 
 
Segundo Marcel Imaizumi, diretor de opera��es da Vicunha, a primeira quest�o era diferenciar consumo de �gua e impacto. “O nosso consumo de �gua por metro de tecido � de 12 litros, mas quando se fala em impacto o n�mero sobe para 127 litros”, compara. Atrav�s da metodologia da organiza��o internacional Water Footprint Network (WFN), a empresa calculou a pegada h�drica do jeans, medindo o impacto em toda a cadeia produtiva: plantio, tecelagem, confec��o, lavanderia, loja e casa do consumidor.
 
Farm(foto: Farm/Divulgação)
Farm (foto: Farm/Divulga��o)
 
 
Para fazer o c�lculo, considerou tr�s componentes: pegada verde (�gua da chuva), pegada azul (�gua doce dispon�vel em rios, reservat�rios, po�os etc.) e pegada cinza (acionada para diluir poluentes e devolver a �gua para a natureza em condi��es de uso). Marcel d� um exemplo para explicar a �gua cinza. N�o d� para beber ou regar plantas com um copo de �gua com sal. Mas, se ela for dilu�da em uma piscina ol�mpica, j� pode ser aproveitada. “O importante n�o � dizer se o n�mero � alto ou baixo, � criar indicadores e, a partir deles, pensar em a��es para derrubar esses impactos.”
O c�lculo foi o primeiro passo para o Ecoera criar a plataforma “A moda pela �gua”. Dela participam empresas interessadas em discutir o assunto, que ganham o t�tulo de guardi�s da �gua. Ao longo do ano passado, seis se reuniram para trocar informa��es. “Pela primeira vez na hist�ria da moda nacional, empresas concorrentes se unem na mesma mesa para discutir e o protagonista foi o jeans”, comenta Chiara, deixando claro que n�o se trata de uma a��o de marketing, fala-se sobre prop�sito.
O projeto entra agora no segundo ciclo, focado na capacita��o das empresas. Chiara insiste em que � preciso ter um olhar t�cnico para o assunto. “Sustentabilidade n�o � tend�ncia, � garantia de futuro. Ou a empresa se capacita ou ent�o vai dar um tiro no p�.” Outra novidade � o lan�amento do fundo A moda pela �gua, criado com o objetivo de neutralizar os impactos das empresas com duas frentes: projetos em comunidades que precisam de investimento em saneamento b�sico e plantio de mudas nativas.
Disposta a inspirar mudan�as na produ��o, consumo e descarte, Chiara tamb�m inclui os consumidores nesta causa. Qualquer um pode se cadastrar no site www.amodapelaagua.com.br e se tornar guardi�o da �gua. O Movimento Ecoera ainda tem planos de criar um QR Code para que o cliente, na hora da compra, consiga saber de onde vem aquele produto e como ele � produzido. “O consumidor preciso fazer boas escolhas, n�o pode se contentar em comprar uma cal�a jeans porque ela � bonita. Hoje, acreditamos que a roupa precisa passar uma mensagem e contar hist�rias”, observa.
Os n�meros da Damyller impressionam. A marca de jeans sediada em Santa Catarina deixa de usar 6,6 milh�es de litros de �gua e 10 toneladas de produtos qu�micos por m�s gra�as � tecnologia. Duas m�quinas importadas da Espanha contribuem para esta redu��o: uma a laser, que cria o efeito used (apar�ncia de usada), e outra de oz�nio, respons�vel pela limpeza e esteriliza��o. “No lugar de �gua e detergente, usamos o g�s de oz�nio, que deixa todo o tecido limpo e esterilizado, eliminando bact�rias, fungos e protozo�rios”, explica o gerente de beneficiamento, Pedro Eduardo Daminelli.
A marca acaba de lan�ar a quarta cole��o da linha zero descarte de �gua. Para produzir uma pe�a, utilizam-se apenas 100ml de �gua – parte � absorvida pelo tecido e parte evapora durante o processo. Al�m do laser e do oz�nio, entra em cena outra m�quina na etapa do amaciamento, necess�ria para deixar o jeans mais agrad�vel ao toque. Uma solu��o de amaciante, ess�ncia e �gua � aplicada em spray dentro da m�quina. “A pe�a absorve aquele volume de �gua, que � muito pouco, quase uma nuvem, e o restante evapora. Ou seja, n�o descarto nem uma gota de �gua.”
 
A linha zero descarte de �gua come�ou com 10 modelos e vem crescendo ao longo do tempo para acompanhar a demanda dos clientes. J� tem camisa, cal�a, vestido, saia e short. “Acho que � uma quest�o de tempo o consumidor se familiarizar com esta ideia e aceitar a mudan�a. Daqui a cinco anos vai ser outra hist�ria”, estima a consultora de estilo Damylla Damiani. Para ela, � um orgulho ver que a empresa, fundada pelo pai h� 41 anos, que sempre olhou com cuidado para a natureza no entorno da f�brica (ao lado de um rio), continua a fazer a sua parte pelo meio ambiente.
 
O consumo de �gua s� n�o chega a zero em todos os produtos da Damyller porque alguns efeitos precisam de �gua, mas a regra na empresa � usar o m�nimo necess�rio. No caso da estonagem, as pe�as passam por uma m�quina da It�lia que trabalha com vapor de �gua, o que gera uma redu��o significativa: de 2 mil litros para 100 litros. Todo esse volume de �gua passa por tratamento.
O re-Farm come�ou com um projeto de upcycling, pensando no reaproveitamento das sobras de tecidos. Cresceu tanto que hoje se tornou uma plataforma de sustentabilidade que envolve diversos projetos. Um deles � o jeans re-Farm.
 
Todas as pe�as jeans da marca s�o produzidas seguindo os mesmos crit�rios. Para come�ar, o algod�o � brasileiro e certificado. “Algod�o � uma das culturas que mais demandam �gua, mas, segundo a Associa��o Brasileira dos Produtores de Algod�o (Abrapa), mais de 90% do algod�o brasileiro � cultivado no regime sequeiro, sem necessidade de irriga��o”, aponta o engenheiro ambiental Pedro Horta, coordenador de sustentabilidade do Grupo Soma, que det�m mais cinco marcas al�m da Farm.
 
Na etapa de lavanderia, onde se gasta muita �gua para criar os efeitos, a Farm utiliza qu�micos biodegrad�veis desenvolvidos especificamente para o mercado da moda. Segundo Pedro, esses produtos conseguem atingir o mesmo resultado com menos ciclos de lavagem e n�o deixam rastros no meio ambiente. A estimativa da marca � que, com o uso dos biodegrad�veis, houve redu��o de 47% no consumo de �gua para a produ��o de uma pe�a jeans.
 
Em parceria com a Re-Roupa, a Farm desenvolve cole��es com sobras de tecidos e pe�as com pequenos defeitos, sem precisar de mat�ria-prima virgem. Al�m disso, a Oficina Muda recebe roupas com defeito, consertam e revendem. A marca ainda doa parte das sobras para bancos de tecidos. “Quando voc� aproveita mat�ria-prima j� existente, todos os impactos ambientais para tr�s, como o consumo de �gua, n�o existem. Al�m disso, d� novo uso para um material que seria descartado no meio ambiente.”
 
A diretora de estilo da Colcci, Adriana Zucco, fala com empolga��o sobre a linha Eco Soul. “N�o tem como uma marca forte e jovem ficar fora do assunto, mas, por mais que tivesse vontade de ter uma linha sustent�vel, precisava de mat�ria-prima.” Ela lembra que, h� quatro anos, quando as experi�ncias come�aram, o jeans era r�stico demais, n�o dava nem para lavar, e o mercado teve dificuldade de aceitar, achando que n�o tinha qualidade. Hoje � bem diferente: os fornecedores desenvolveram jeans mais leves, com elastano, que aceitam todo tipo de lavagem.
 
Os produtos da linha Eco Soul s�o considerados sustent�veis por v�rios motivos. Um deles � o uso de algod�o brasileiro certificado, cultivado pelo sistema sequeiro. Al�m disso, a marca recorre ao laser para fazer as lavagens claras e todas as lavandeiras utilizam 100% de �gua de re�so. Em quatro cole��es anuais, a estimativa � de que s�o economizados 96 mil litros de �gua na produ��o e 1,1 milh�o de litros na lavagem do jeans, o que representa 64% de redu��o.
 
O jeans n�o aparece s� numa proposta b�sica. A linha Eco Soul tem pe�as com shapes amplos, amarra��es na cintura, desfiados, recortes, tudo o que pode despertar desejo no consumidor. Para Adriana, as roupas sustent�veis precisam ter apelo de moda para realmente impactar o mercado. Apesar de ainda considerar dif�cil ter uma cole��o inteira sustent�vel, pois depende da ind�stria mundial, ela enxerga um efeito cascata. “A cada cole��o vejo uma demanda crescente. Como o mercado me d� mais mat�ria-prima, consigo puxar a equipe de estilo e na loja desperto o desejo do cliente”, pontua.
 
Mudan�a urgente
 
A diretoria-executiva do Instituto-e, Nina Braga � categ�rica: a ind�stria da moda como a conhecemos n�o pode continuar e a quest�o da �gua � um dos pontos-chave. “A �gua est� ficando cada vez mais escassa. Nas pr�ximas d�cadas, o mundo vai guerrear pela �gua. Ent�o, temos que fazer um uso mais inteligente e racional dela.” Aparentemente, o Brasil tem abund�ncia de recursos h�dricos, mas Nina alerta que apenas 11% dos rios s�o pot�veis.
 
H� oito anos, quando ainda n�o se falava em pegada h�drica, o Instituto-e, idealizado por Os- kar Metsavaht, fundador da Osklen, participou de um projeto com o Minist�rio do Meio Ambiente da It�lia justamente para chamar a aten��o do mundo para o uso de �gua na ind�stria da moda. O Water Traces analisou todo o ciclo de vida de quatro produtos da Osklen, dois sustent�veis e dois n�o sustent�veis. O resultado: consomem-se 4.878 litros de �gua para produzir uma bolsa de palha; 4.770 litros para um t�nis; 3.556 litros para uma cal�a jeans e 3.093 litros para uma camiseta.
 
O Instituto-e e a Osklen tamb�m fizeram um estudo em 2018 com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) para medir o quanto materiais sustent�veis ajudam a poupar �gua. O uso de malha pet, couro de pirarucu, algod�o reciclado e algod�o org�nico somam em torno de 222 milh�es de litros de �gua poupados pela marca. “As pessoas reclamam que produto sustent�vel � muito caro, mas isso envolve pesquisa de materiais e inova��o. O mundo deveria consumir menos e melhor.”
Defensor antigo do meio ambiente, Oskar trabalha com algod�o org�nico desde 1998, quando ningu�m falava sobre isso. Os fornecedores da Osklen passam por avalia��o criteriosa (uma lavanderia em Santa Catarina usa oito vezes menos �gua). A marca tamb�m tenta diminuir a produ��o de jeans. Nesta temporada, lan�ou a cole��o c�psula Travel, cujo destaque � uma camiseta com uma tecnologia sueca antibacteriana que garante mais uso com menos lavagem e mais economia de �gua.
 
Consciente de que o consumo de �gua acompanha todo o ciclo do jeans, a ind�stria mineira Cedro T�xtil tenta diminuir este impacto de v�rias formas. O processo de merceriza��o, usado para deixar o tecido com mais brilho e regularidade (para absorver melhor o tingimento), tem efeito na etapa da lavanderia. “Tecidos mercerizados queimam etapas de processo de lavandeira, como a desengomagem. Ent�o, deixa-se de usar at� 1/3 de �gua”, aponta o estilista Eduardo Paix�o.
Pensando em conscientizar o consumidor, a Cedro desenvolveu um jeans que economiza �gua em casa. Batizado de splash, o acabamento repele l�quidos. Se cair molho de tomate na cal�a, basta passar um guardanapo para limpar. Com isso, suja-se menos a roupa, que n�o precisa ser lavada com tanta frequ�ncia. “Normalmente, voc� usa a cal�a um dia e j� joga na m�quina de lavar. A nossa ideia, criando um tecido que n�o absorve sujidade externa, � fazer com que a pessoa use a pe�a mais vezes sem precisar lav�-la”, explica.
 
Na f�brica, n�o se fala apenas em redu��o do consumo, mas na responsabilidade de devolu��o da �gua usada na produ��o do jeans. “Toda a �gua passa por um processo de descontamina��o; uma parte � reutilizada e a outra devolvida ao meio ambiente. Em alguns casos, ela fica at� pr�pria para o consumo.”
Economia de �gua � uma  quest�o importante para a Vi- cunha. As opera��es da ind�stria est�o concentradas no Nordeste, onde o recurso h�drico � escasso. “N�o tenho rio � disposi��o. Mesmo que tiver po�o artesiano, n�o encontro �gua no subsolo, ent�o pago car�ssimo pela �gua”, informa o diretor de opera��es, Marcel Imaizumi. A solu��o � utilizar �gua da chuva, reaproveitar �gua da lavagem, usar menos �gua nos processos e ter fibras recicladas. Por ano, 83 milh�es de litros de �gua s�o poupados.
 
Com sete produtos, a linha V.Eco n�o usa tingimento, n�o passa por lavagem, usa fibra reciclada e poli�ster de garrafa pet. A finalidade � mostrar para o mercado at� aonde se pode chegar em sustentabilidade. “Os tecidos ficam mais pesados e r�sticos, mas muitas empresas no mundo s�o reconhecidas por este apelo sustent�vel e querem esta hist�ria”, pontua Marcel, certo de que a miss�o da empresa � conscientizar clientes para que eles possam transmitir a mensagem para os consumidores.
 
Na EcoSimple, res�duos de grandes ind�strias da moda s�o transformados em tecidos sustent�veis. Os designers Cl�udio Rocha e Marisa Ferragutt desenvolveram inicialmente um produto de algod�o com pet, que continua a ser o carro-chefe da empresa, atrav�s da reciclagem de retalhos de malha. “Os retalhos s�o separados por cor, depois passam por um processo de moagem e se transformam em uma fibra. Dessa forma, temos um tecido colorido isento de corante, produto qu�mico ou �gua”, informa Cl�udio. Em 10 anos, a dupla j� usou o mesmo processo em sobras de jeans, linho, juta e seda.
 
Segundo Cl�udio, n�o d� para mensurar a redu��o do consumo de �gua em sua produ��o na f�brica, localizada em Americana, interior de S�o Paulo, mas ele sabe que � significativa. Considerando que cada metro de tecido consome, aproximadamente, 100 litros de �gua, e a EcoSimple produz cerca de 150 mil metros por m�s, a empresa deixa de usar pelo menos 15 milh�es de litros. 
“Sustentabilidade n�o � uma quest�o comercial. Trabalhar com mat�ria-prima menos impactante � uma quest�o de posicionamento e �tica das empresas”, refor�a. 
 
 


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