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Estado de Minas ENTREVISTA/TEREZINHA GEO RODRIGUES

Pr�tica que leva � perfei��o

Premiada joalheria mineira comemora 30 anos de mercado sendo refer�ncia de qualidade


postado em 21/06/2020 04:00 / atualizado em 17/06/2020 20:07

(foto: Divulgação)
(foto: Divulga��o)
Nem mesmo a empres�ria Terezinha Geo Rodrigues imaginava que a sua Talento Joias chegaria t�o longe. A mineira era professora de portugu�s e ingl�s, casada e muito feliz com sua profiss�o, e por causa de uma alergia de sua primeira filha acabou entrando para mundo da joalheria. Hoje, colhe os louros de 30 anos de trabalho e tem os tr�s filhos ao seu lado – Jacques J�nior, que comando o neg�cio e fica radicado em S�o Paulo; Vanessa e Maria Tereza, que rodam as lojas, oficinas, e cuidam do atendimento aos clientes. Todos fazem de tudo um pouco sob a reg�ncia de Terezinha, que continua na ativa, mas reconhece o valor de ter a fam�lia ao seu lado. Nesta trajet�ria, a Talento se tornou uma das joalherias mais premiadas do pa�s e uma das mais copiadas por seus pares, fato que j� a incomodou muito, mas hoje n�o tira mais seu sono.

De onde veio a ideia de entrar para o ramo da joalheria?
Por causa da tarraxa de um brinco para minha filha Vanessa. Ela era uma beb� extremamente al�rgica. Eu j� tinha trocado por v�rias tarraxinhas e nada, sua orelhinha ficava horr�vel. A� desisti, peguei o brinco que meu pai deu para ela e levei para uma amiga, que trabalhava com joias, para fazer um cachinho de uva como pingente. Acabei gostando dessa mexida toda. Eu era professora de portugu�s e ingl�s e gostava muito do que fazia, mas estava com problema de vista, e j� tinha recebido um ultimato, ou estudava ou dava aula, escolhi estudar. Acabou que eu e Let�cia Farah tivemos a ideia de nos unir e montamos a Todo Tempo Joias. Foram oito anos juntas, depois dissolvemos a sociedade e cada uma trilhou o seu caminho. Nasceu a� a Talento Joias, em 1990.

Como surgiu o nome?
Queria um nome que come�asse com a letra T, coloquei todo mundo para pensar, mas n�o encontr�vamos nenhum que agradasse. Um dia, jogando baralho na fazenda de Uberaba, vi um boi chamado Talento, deu o clique, encontrei o nome.

Foi dif�cil recome�ar?
Recome�ar com experi�ncia � muito interessante, e muitas das pessoas que trabalhavam comigo antes continuaram. Assim, tudo fica mais f�cil. Para complicar um pouco mais, foi na �poca do Collor, que prendeu o dinheiro de todo mundo. Jacques, meu marido, disse para alugar uma lojinha e eu aluguei o andar inteiro. Ele me chamou de louca.

Louca ou corajosa?
Acho que um pouco de cada coisa, mas coragem � fundamental em qualquer neg�cio. Sou uma otimista mor. N�o me preocupo com crises e pandemias. Acredito em mim e no meu neg�cio. Temos que tomar atitudes ousadas e corajosas. Estava recome�ando. Isso foi muito importante.

Voc� mesma desenhava as joias?
Nunca gostei de vender a mesma coisa. Comprava as joias, mas sempre punha defeito. Vender tudo igual todo dia? Modificava a joia que comprava pronta, acabava gastando mais ainda nela. Minha inquieta��o � vender coisas diferentes, por isso passamos a desenhar. Somos handmade, oferecemos objetos diferenciados, temos limita��o de pe�as, n�o gosto de ser repetitiva e n�o fujo do que gosto. Acho que por isso mesmo vendo todo dia, n�o s� em �poca de lan�amento de cole��o. Fa�o a joia que gosto. L�gico que tem muita pesquisa, sigo tend�ncias internacionais e fa�o adapta��o para o nosso mercado, procurando colocar a t�cnica mais moderna que temos. Quando comecei com a Talento n�o existia a profiss�o de designer no Brasil. Trouxe um italiano para c�. Ele precisava vir por um problema de sa�de, e como aqui n�o tinha a profiss�o foi poss�vel traz�-lo, porque n�o ia ocupar o lugar de ningu�m.

Disse que s�o handmade. � tudo artesanal mesmo?
Por incr�vel que pare�a, sim. Temos toda uma estrutura em nossas oficinas, mas nosso trabalho vai do designer ao artes�o. Respeitamos as peculiaridades de cada pedra e as joias s�o feitas a m�o, em um trabalho totalmente artesanal.

Voc� se descobriu comerciante?
Sim, mas sou muito mais criadora e produtora do que vendedora. Para falar a verdade, no in�cio eu fazia tudo, at� lavar banheiro.

Sempre foi muito exigente?
Os melhores designers de Minas passaram pela minha m�o e todos ganharam pr�mio. Criam em cima de pesquisa e tend�ncia, mas sou um pouco autorit�ria, direciono muito. Eles ficam bons porque sou muito chata. Se falam que trabalham para mim todo mundo os quer porque sou muito exigente. Eles chegam a fazer de 80 a 100 desenhos para sair a joia final, porque s�o muitos detalhes. Quando � uma joia sob encomenda, o cliente acompanha o desenho, vou mandando para ver se a dire��o est� certa, e quando chega a pe�a final � que se v� a grande diferen�a. N�o existe pe�a que saia de primeira.

Credita a este empenho e detalhe todos os pr�mios que receberam?
Sim, ganhamos pr�mio porque beiramos a perfei��o. Eles mesmos chegam a essa conclus�o. Sou exigente na escolha do profissional. Desenhar joia � um exerc�cio, a pr�tica leva � perfei��o, de tanto repetir fica natural. Hoje fa�o isso naturalmente.

Qual foi o primeiro filho a entrar na empresa?
Vanessa. Com 8 anos j� ia na Talento, passava as f�rias l�. Aos 12, fazia cursos de pedras junto com a gente. Eram cursos caros porque usamos diamantes mesmos nos treinamentos e aprendizados. Todos os professores elogiavam muito o olhar dela. Certa vez, um professor falou que ela conseguiu ver uma coisa que ele n�o viu. Ela contestava os professores, era percept�vel que gostava do of�cio, mas falava sempre: “Fa�o o que voc� quiser, menos vender”. Hoje, ela faz tudo, faz todas as pra�as fora de Belo Horizonte. Comercial total, naturalmente, sem for�ar. Ela nem percebeu que come�ou a vender.

E o Jacques J�nior?
Jacques J�nior entrou j� em S�o Paulo, porque a representante n�o estava agradando. Foi aos 21 anos, ralou muito, sofreu, mas hoje � o corpo e a alma da Talento. Tentou trabalhar com o pai na engenharia, mas n�o gostou. O planejamento da empresa � todo feito por ele. Estudou bastante. Eu sempre fiz tudo por instinto, mas n�o se toca uma empresa no instinto, principalmente abrindo frentes. Hoje, ele tem 42 anos e � nosso diretor.

Quando Maria Tereza passou a fazer parte do time?
Meu sogro fazia toda a parte cont�bil da empresa. Eu nunca fiz conta, fujo disso. Ele s� conseguiu passar para Maria Tereza, e quando passou disse que poderia morrer sossegado. Ela fica em Belo Horizonte cuidando da empresa aqui, da organiza��o, planilhas, direcionamento, vende tamb�m, mas � estrat�gica, todo o marketing est� com ela. Na verdade, os tr�s trabalham juntos, trocam muitas ideias. � muito bacana v�-los juntos, invadem um pouco um a �rea do outro, mas sem ciumeira. S�o parceiros, pelo bem do neg�cio.

Voc� foi das primeiras a valorizar a pedra brasileira. Por qu�?
Quando eu fiz 15 anos, minha m�e foi em um joalheiro e comprou uma pedra brasileira para cada filha e nos presenteou. Quando ela morreu, Let�cia e eu j� t�nhamos a Todo Tempo Joias e falei com a Let�cia para fazermos uma cole��o com pedras brasileiras em homenagem a ela. Ficou linda, tinham borboletas deslumbrantes. Realmente, foi um resgate das pedras nacionais. Nunca mais as abandonei.

Qual a pe�a �cone da Talento?
Nossa linha carro-chefe � sem d�vida a linha male�vel. J� tem 20 anos que foi criada e n�o sai de linha, e o best-seller � a cruz. N�o � qualquer ourives que consegue fazer, as pedras t�m que ter o mesmo tamanho, existe um segredo nos encaixes. Este ano, no anivers�rio da empresa, reeditamos a linha, que reflete o know-how intr�nseco ao DNA da joalheria em produzir joias atrav�s de t�cnicas manuais com um minucioso trabalho artesanal, delicado e exclusivo. Como novidade, lan�amos pe�as em ouro amarelo, confeccionadas por uma nova t�cnica, que n�o necessita da crava��o da pedra para criar o movimento. Consequentemente, a pe�a mais desejada � a mais copiada, ent�o a cruz male�vel j� foi copiada por muitos joalheiros, mas n�o fica igual. Consigo distinguir uma c�pia de longe.

N�o tem como impedir as c�pias?
J� perdi muito sono, sofria muito, achava um absurdo algu�m copiar. Afinal, s�o tantas horas de servi�o, n�o � trabalho f�cil, tudo tem um ritual elaborado. Nos preocupamos at� com o brilho de cada pedra, para n�o ficar buraco. Quase todas as nossas pe�as s�o patenteadas. S�o joalheiros grandes que copiam, ficava injuriada. Entrava com processos, j� ganhei v�rios, eles s�o condenados a prestar trabalho comunit�rio. Hoje, nem perco energia com isso. Quem quiser comprar c�pia, problema. � c�pia de joalheiros no pa�s inteiro. Chegam a fotografar nossa publicidade e usar com o nome deles. Mas mesmo comprando uma c�pia as pessoas continuam querendo a original.

E o trabalho de reciclar joias?
Gosto muito disso, redesenho de joias antigas, repaginando, dividindo, para lembran�as, sem desmanchar um trabalho antigo lindo. V�rias clientes nos pedem isso. Joias grandes, antigas que n�o se usam mais, a av� pede para dividir para presentear as netas com um peda�o da joia. Fazemos um projeto e apresentamos. � gratificante, um desafio, porque n�o podemos descaracterizar e nem perder material.

Como foi recriar o colar de Lina Bo Bardi?
Foi maravilhoso, hist�rico, e uma honra para a Talento. Lina Bo Bardi desenhou um colar em ouro branco e �guas-marinhas em 1986, para uma cole��o de joias brasileiras, e ele foi roubado. Fomos autorizadas a refazer o colar e doamos para o museu. Com isso, fomos autorizadas a reproduzir a pe�a comercialmente, em edi��o limitada, desde que us�ssemos pedras de outras cores. Com a confec��o desse colar nasceu o projeto Joia de Artista, no qual homenageamos cinco mulheres. Lina foi a primeira homenageada, claro. Outras artistas homenageadas foram: Regina Silveira, com seu bracelete-labirinto de ouro; Giuliana Romanno e Helo Rocha, com acess�rios em ouro amarelo, negro e hematita; e Valeska Soares, com um misto de colar e anel de figa e ex-voto com pedras brutas.

Pensou que ia chegar onde est� hoje?
Nunca. Como poderia saber que meus tr�s filhos iam seguir o mesmo caminho? Nunca passou pela minha cabe�a

Como se sente?
Pela luta toda que passei � um trabalho reconhecido. S� de ganhar todos os pr�mios l� fora, que mulher brasileira nenhuma ganhou, j� achava que tinha ido longe demais, foi bacana demais. Uma empresa brasileira fazendo 30 anos � outra vit�ria. N�o � f�cil. A empresa est� renovada e revigorada pelo sangue novo dos meninos. N�o � f�cil abrir loja em v�rias capitais. Viajava toda semana. N�o tenho mais este pique. Hoje a empresa se mant�m jovem e atual por ter tr�s cabe�as jovens e a minha experi�ncia. � a fus�o das duas coisas. Se n�o estivesse com eles acho que j� teria acabado.

Teve resist�ncia �s mudan�as que eles implantaram?
Nenhuma, at� porque elas come�aram h� muito tempo. Eu ainda era muito nova, estava em pleno auge, porque comecei muito cedo. Pensei que meu filho ficaria um tempo e depois ia embora, mas a empresa tomou outro rumo, ele gosta do que faz e permaneceu. J� temos duas lojas em S�o Paulo, tudo acontece l�, e ningu�m sabia quem eu era, o paulista acredita muito no mineiro, mesmo assim confere para ver se realmente temos a qualidade que afirmamos. Quando percebeu a seriedade e qualidade do trabalho, pronto. Temos tamb�m duas lojas aqui, uma em Recife e um espa�o fixo dentro da Martu, no Rio de Janeiro. 

Seu marido sempre a apoiou?
Sempre, chegou a vender um apartamento pequeno para me dar o dinheiro e investir na joalheria quando a abri. L�gico que tivemos nossas desaven�as com rela��o a viagens, mas sempre acreditou e apoiou. Este ano completamos 50 anos de namoro. Se sentiu falta de tempo meu para ele, nunca falou, mas o ritmo de vida dele sempre foi muito louco, e sempre me acompanhou.

Com o isolamento social n�o ter� comemora��o pelos 30 anos?
N�o vai ter celebra��o de data. Nos 25 anos fizemos uma festa. De qualquer forma a proposta n�o seria uma festa. Talvez uma coisa do porte da ida que fizemos em Inhotim, algo voltado para a arte. Mas ainda n�o estava formatado. Mas foi tudo suspenso. Far�amos um livro, que estava a pleno vapor, e tamb�m foi adiado. Ainda n�o sabemos o que faremos, estamos redescobrindo. Estamos com a��es pontuais de mandar mensagens de incentivo para nossos clientes.


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