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Estado de Minas entrevista/M�rcia Carvalhaes - 61 anos, arquiteta

Escolha por intui��o

Modernidade n�o apenas nos projetos, mas tamb�m na rela��o com as m�dias digitais, levou a arquiteta a de sua gera��o a ter um grande n�mero de seguidores


28/02/2021 04:00

(foto: arquivo pessoal)
(foto: arquivo pessoal)


Maria M�rcia Raj�o Ribeiro Carvalhaes, mais conhecida como M�rcia Carvalhaes, � de Belo Horizonte, mas foi no Rio de Janeiro onde cursou arquitetura, tempo suficiente para se abrir para o mundo, quebrar a timidez e voltar para Minas, casada, e come�ar a trabalhar, o que n�o parou nenhum dia sequer. Apaixonada pelo que faz, conseguiu se atualizar – como poucos de sua gera��o –, e ultrapassou a marca de 23 mil seguidores no Instagram, uma das grandes ferramentas de divulga��o do seu trabalho, que traz novos clientes.
 
Fale um pouco de sua fam�lia e da inf�ncia.
Nasci em Belo Horizonte, tenho uma irm� e dois irm�os, e sou a segunda filha. Passava f�rias na casa dos meus av�s, em Concei��o do Mato Dentro, cidade natal da minha m�e, L�cia. Sempre fui uma crian�a calma, centrada e que gostava de brincar horas sozinha. Gostava de desenhar e as cores sempre me encantaram. Nunca fui de pensar o queria ser quando crescesse, acho que na minha �poca crian�a era menos cobrada e a gente s� pensava em brincar. Eu sou de uma fam�lia grande, com muitos tios e primos dos dois lados – 10 tios de cada lado –, e conviv�amos muito com primos. Acho que tenho uns 80 primos de cada lado. Era uma vida simples, por�m era bem divertido esse contato com a fam�lia e os v�rios primos. Faz�amos longas caminhadas para nadar nos rios de Concei��o e sempre �amos com muitas pessoas da fam�lia. No fundo da casa da minha av� tinha um quarto enorme, que cham�vamos de barrac�o, e ela espalhava colch�o e todas as netas dormiam l�, era uma farra. O fog�o a lenha era aquecido com serpentina. Minhas f�rias eram assim, vida de interior. Depois que meus av�s morreram, perdemos esse contato. Virei pessoa de cidade grande.
 

"Meu hobby � meu trabalho, e viajar. Sou detalhista no olhar, qualquer lugar aonde vou � uma inspira��o, n�o precisa ser para longe. Mas amo ir para Portugal"

 

O que a levou a fazer arquitetura?
Quando fui escolher minha profiss�o, tinha duas op��es: arquitetura ou psicologia. Escolhi arquitetura, mas, atualmente, acho que para ser uma boa arquiteta e atender bem o seu cliente temos que entender de psicologia. Na verdade, acertei nas duas op��es escolhidas. Sempre fui criativa, gosto de analisar tudo, sou muito curiosa. Fui pesquisando as op��es de cursos que tinha e me identifiquei mais com esses dois. Arquitetura pesou mais porque sempre gostei muito de desenho.

Teve influ�ncia de algu�m?
N�o tive influ�ncias, sou muito intuitiva. Foi uma escolha pessoal.

Onde voc� estudou?
Apesar de ter nascido em Belo Horizonte, fiz arquitetura no Rio de Janeiro, na Universidade Santa �rsula, porque a fam�lia toda se mudou para l�, em 1977, por causa do trabalho do meu pai. Engra�ado, quando me mudei para o Rio minha vida mudou. Eu me abri. Parece que viver entre as montanhas de Minas me mantinha fechada em mim mesma. No Rio, passei a conviver mais com todos os tipos de pessoas, a me relacionar mais, me tornei uma pessoa mais aberta. Passei a ter contato com muitos estrangeiros e fal�vamos muito sobre ir a outros pa�ses. Foi como se o mundo se abrisse para mim. Cheguei a morar um tempo em Denver, nos Estados Unidos, para fazer curso de ingl�s. O bom � que isso se manteve quando voltei para Belo Horizonte.

Como foi seu come�o profissional?
Logo que me formei, casei-me com um mineiro, o Milton Carvalhaes, e voltei a morar em BH. Comecei a namorar com 19 anos, foi um namoro longo, a dist�ncia. O meu sobrenome Carvalhaes, que assino profissionalmente, vem da fam�lia dele. Comecei aqui e as coisas flu�ram bem. Sempre gostei muito de conversar e conviver com as pessoas, e isso sempre trouxe trabalho. Comecei trabalhando com um arquiteto, o Celso Le�o, muito conhecido na �poca em projetos de casa. Depois tive uma s�cia por 13 anos, onde atu�vamos em v�rios setores. Faz�amos de tudo, casas, supermercados, lojas, escrit�rios etc. Depois, naturalmente, cada uma seguiu o seu caminho e montei o meu pr�prio escrit�rio em 1996. J� tinha meus dois filhos na �poca, Eduarda, com 6 anos, e Pedro, com 1 ano. Hoje, minha filha est� com 30, casada, mora em S�o Paulo, e o Pedro com 25. Nenhum deles seguiu minha profiss�o, apesar de minha filha ser mais parecida comigo, � criativa, mas trabalha com marketing e gosta de conviver com pessoas. Sempre falaram que eu trabalho demais. O Pedro, quando era pequeno, perguntava por que eu ficava t�o pouco com eles. Arquitetura � um trabalho que n�o tem muito fim. N�o tem hor�rio. O Milton me ajudou muito com os meninos, ele � administrador de empresa, a fam�lia tinha uma mineradora que venderam h� pouco tempo.

Disse que gosta de cor. Usa muita cor nos seus trabalhos?
N�o muita, mas gosto de ter alguma coisa colorida. Procuro fugir do bege, do cl�ssico, coloco textura, revestimentos para fazer com que o projeto seja dife- rente. N�o sou superousada, mas meus projetos sempre t�m uns pontos coloridos.

Quantos anos de profiss�o?
Tenho 37 anos de profiss�o.

O que mudou do in�cio para os dias atuais?
Tudo mudou. Mudou a forma de morar e a forma de trabalhar. A mulher se tornou mais atuante no mercado de trabalho e tamb�m muito importante no or�amento da fam�lia. A tecnologia tamb�m trouxe uma rapidez ao processo de projetar que n�o existia antes. Aprendi a projetar na prancheta, desenhandoa m�o livre, e hoje tudo � feito no computador e as apresenta��es dos trabalhos em 3D s�o muito reais. Fica muito mais f�cil o cliente entender o projeto.

Desde que come�ou, voc� faz desde o projeto da constru��o da casa at� a finaliza��o da decora��o?
Por ter iniciado a minha profiss�o trabalhando com um arquiteto que projetava casas, esse trabalho � natural para mim. Quando projeto, n�o tem como n�o pensar no leiaute e na decora��o, principalmente hoje em dia, em que fazemos essas apresenta��es maravilhosas, ent�o, prefiro entregar o trabalho completo: arquitetura e a decora��o juntas. Existem dois tipos de clientes: os que n�o possuem nada e chegam sem refer�ncia, e para esses eu entrego tudo completo, claro que depois de v�rias reuni�es para extrair o que de fato desejam. Meu trabalho, apesar de ser moderno, n�o e frio, ele � aconchegante. O outro tipo de cliente � aquele que tem v�rias refer�ncias. J� sabe do que gosta, tem pe�as de fam�lia, ou que fazem parte da hist�ria dele, e eu dou uma organizada no que tem e traz. Isso acontece muito em reforma e d� um bate-bola, que fica um resultado muito pessoal e muito bom. Respeito essas hist�rias de vida e consigo organizar e fazer um projeto bacana com meu estilo, mas a cara deles.

Quando come�a o projeto do zero, voc� tamb�m v� o que o cliente tem, ou primeiro cria o projeto da casa e depois encaixa tudo?
Antes de come�ar, fazemos v�rias reuni�es, para entender como o cliente �, como � a fam�lia, como vivem, as refer�ncias do que ele gosta, o que ele quer de mim. Atrav�s das refer�ncias e reuni�es come�o a fazer o projeto. Respeito o terreno, a topografia, a ilumina��o solar, e a partir disso projeto. Mas j� sei tudo o que ele tem, se gosta de cor, e a� eu misturo a psicologia na arquitetura, com o meu tra�o. Mas sempre respeito muito o perfil do cliente, como ele gosta de viver. Fa�o o jeito de morar bem, mas respeitando a forma de morar do cliente. J� fiz projeto moderno sem telhado, com telhado, colorido, com m�veis cl�ssicos. Traduzo a personalidade de cada cliente. As pessoas conseguem enxergar o meu tra�o no final de cada projeto.

Como voc� define o seu estilo?
Acho que meu trabalho � um trabalho moderno, mas o resultado n�o � um projeto frio. Gosto de revestimentos naturais, de casa com cara de casa e n�o de showroom. Posso dizer que busco sempre um trabalho sem excessos.

Como usa a psicologia no trabalho?
Tirei a psicologia da viv�ncia, de tentar entender o cliente. � dif�cil extrair o desejo do outro, entender a fundo o cliente. Entender o casal, quem manda, quem n�o manda, quem tem o gosto mais parecido com o meu. Como abordar e explicar as coisas. Muitas vezes, a fala do cliente n�o � exatamente o que ele quer. Chega aqui e diz que quer uma casa muito simples, mas, no fundo, � o contr�rio. Percebo isso quando observo como ele se veste, os lugares que frequenta, o carro que tem, as pessoas com as quais ele convive. Tudo isso pode dizer o contr�rio. Leio muito sobre psicologia, fiz anos de terapia. Com isso, aprendemos um pouco a extrair essas informa��es do cliente. A gente tem que usar todas as ferramentas para acertar.

J� quis ficar com algum projeto depois de pronto?
Projeto � igual filho, a gente fica com ci�me. Quando entrego, fico t�o apaixonada. Mas tem uma casa que entreguei agora, no Morro do Chap�u. A vista � t�o maravilhosa e o projeto ficou t�o bonito que eu queria que fosse minha. A reforma foi linda, come�amos por causa de um espa�o gourmet e acabamos reformando a casa toda. Queria essa casa para mim, os clientes tamb�m amaram. Ainda n�o fotografei, mas estou esperando chegar um mobili�rio que est� faltando para fazer as fotos e postar no Instagram.

Voc� � de uma gera��o em que n�o 
existia internet, nem redes sociais. Hoje, voc� tem muitos seguidores. Como se adaptou a isso? Foi dif�cil?
A internet foi uma necessidade. Ela foi chegando e tive que me atualizar. O pr�prio cliente foi cobrando agilidade, uma apresenta��o mais detalhada com imagens reais e v�deos. A gente vai correndo atr�s, fazendo cursos e trabalhando em equipe. Atualmente, tenho quatro arquitetas e duas estagi�rias trabalhando comigo, e quando o servi�o aperta, contrato colaboradores tempor�rios. S�o pessoas novas que v�o me atualizando e n�o me deixando envelhecer. Eu entro com a experi�ncia e elas com a tecnologia e o frescor. E � muito bom! Arquitetura � um trabalho feito a muitas m�os. E eu adoro trabalhar em equipe. Quando as redes sociais come�aram, eu logo achei interessante e entrei. Comecei com o FB, mas n�o era muito atuante. Quando entrei no Instagram, em 2012, adorei a forma como ele funcionava. Comunicar-se atrav�s de imagens postadas � muito bom e divertido. E isso, para quem vive fazendo projetos de arquitetura e querendo mostrar, foi muito bom. Eu falo que foi a minha liberta��o e o meu crescimento profissional. Foi uma forma de mostrar o meu trabalho e, consequentemente, um pouco da minha vida, minhas viagens e um pouco do que me emociona. Sendo autentica na forma de me comunicar, v�rias pessoas come�aram a me seguir e a me dar retorno do que eu estava postando e tamb�m do que gostavam no meu trabalho. Antes, a gente dependia de trabalhos publicados em revistas, livros, jornais, de participar de mostras de decora��o para divulgar o trabalho. Hoje, al�m dessas op��es, temos as redes sociais, nas quais conversamos direto com as pessoas e conseguimos entender o que elas querem e o que gostam no nosso trabalho. V�rios clientes me procuram pois j� conhecem o meu trabalho pelas redes sociais e j� sabem o que posso oferecer. Fica tudo mais f�cil. Eles chegam e falam: “Te sigo no Instagram”, e j� v�o me mostrando os posts que lhes inspiraram a me procurar. Trato a minha rede social como uma parte importante do meu trabalho. Procuro apresentar projetos interessantes, contrato pessoas para fazer fotos, filmagens e gifs que tornem o meu perfil mais din�mico e divertido. Procuro postar todos os dias e fa�o isso bem cedinho, logo que acordo. Ainda na cama, fa�o a minha postagem di�ria para depois levantar e come�ar o meu dia.

Como est� sendo o trabalho com a pandemia e o isolamento social?
Logo que come�ou a pandemia e o lockdown, em mar�o de 2020, eu fiquei muito assustada. No in�cio, foi dif�cil me adaptar ao home office e tamb�m ao trabalho longe da minha equipe, sem a troca di�ria que adorava. Mas eu tenho uma caracter�stica que acho muito boa,  cres�o na adversidade, me reorganizo e vou enfrentando o que vier. Gra�as a Deus a constru��o civil n�o parou. Ali�s, a minha �rea acelerou nesta pandemia. As pessoas, ficando em casa, come�aram a querer morar melhor e isso trouxe v�rios novos projetos. Adoro ajudar as pessoas a construir o seu sonho de ter uma casa bonita e morar melhor.

Tem algum plano ou sonho que ainda n�o realizou?
O que mais gosto de fazer � viajar, conhecer lugares novos e ao mesmo tempo trazer novas ideias para os meus trabalhos. Estou doida para que tudo isso passe logo para que eu possa voltar a viajar e me emocionar em cada lugar novo que conhecer. Sou uma pessoa conservadora, acredito em fam�lia e no trabalho. Meu hobby � meu trabalho, e viajar. Sou detalhista no olhar, qualquer lugar aonde vou � uma inspira��o, n�o precisa ser para longe. Mas amo ir para Portugal. Tenho cidadania portuguesa por causa do meu av�. Ele era marinheiro, veio para o interior de Minas atr�s de pedras preciosas, conheceu minha av� e ficou. Quando vou para Portugal estou em casa; essa mania de viajar � heran�a de fam�lia. 


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