
"Poder estar em qualquer lugar do mundo, isso � um espet�culo!"
J�nia Gomes
Um engenheiro e uma administradora de empresas resolveram entrar no mercado dos acess�rios, na d�cada de 1980, �poca em que a cidade vivia em efervesc�ncia fashion. Primeiro vieram os cintos, depois as bolsas e, finalmente, os sapatos, que ganharam o mundo, aportaram em feiras e desfiles, representando a rica cultura cal�adista artesanal de Minas Gerais.
J�nio e J�nia Gomes criaram a J�nia Gomes despretensiosamente, h� 36 anos, e podem ser considerados pioneiros do setor a partir desse per�odo. A marca � tamb�m uma das poucas que mantiveram seu neg�cio de p� ao longo do tempo. Embora J�nia, uma leg�tima aquariana, flerte com o futuro e n�o goste muito de olhar para tr�s, a retrospectiva de um trabalho consistente e s�rio � digna de orgulho.
Al�m da presen�a garantida nos principais eventos do pa�s, a label protagonizou momentos importantes, desfiles memor�veis, como o que apresentou uma cole��o em parceria com os bailarinos da M�mulus Cia de Dan�a, al�m das participa��es no Sal�o de Acess�rios do Belo Horizonte Fashion Week, entre outras a��es que ajudaram a consolidar o branding da empresa e amplificar seu alcance.
Fetichista assumida, respons�vel pela cria��o das cole��es, a estilista mant�m um olho nas refer�ncias da moda e outro no bloco de pedidos. Otimista incur�vel, ela tem ainda voca��o para vendas e faz quest�o de estar na linha de frente nos estandes, nas feiras, para receber os clientes. J�nia � uma mulher movida pelo trabalho. Em tempos incertos, mant�m uma certeza inabal�vel: “Amo o que fa�o e sei que vou continuar fazendo o que gosto”.
Qual o segredo para manter um neg�cio por tanto tempo em um mercado t�o inst�vel como o da moda?
N�o existe f�rmula nem segredo para sobreviver no mercado de moda, s� muita determina��o, muito empenho e muito trabalho. O glamour das passarelas e vitrines � o resultado dessa maratona.
Voc� e o J�nio s�o autodidatas. Como e com quem aprendeu a trabalhar no setor sapateiro?
J�nio e eu sempre trabalhamos juntos, ele me dando carta branca, eu nem tanto, me intrometendo em tudo. Apesar de ter cursado administra��o de empresas e ele engenharia, montamos a f�brica, crescemos e seguimos, aprendendo com a escola da vida, car�ssima, os erros ensinando a acertar. Iniciamos produzindo cintos em casa, depois bolsas, j� numa pequena f�brica e, de repente, cal�ados, o que acabou virando uma paix�o.
Quem a inspirou e inspira at� hoje?
Sempre me inspirei em filmes e livros que eu amo e tamb�m em tudo que me seduz pela beleza e harmonia.
Como voc� est� atuando neste momento pand�mico? O que tem aprendido com ele?
No momento, diante dessa reviravolta que a pandemia causou na nossa vida, a escola da vida mais uma vez tem ensinado a objetividade, a necessidade de muita criatividade. E mais esfor�o, empenho e determina��o para se manter no mercado.
O que o mercado quer hoje? Seria conforto e casualidade?
Reinventar-se no sentido exato da palavra, quase diariamente, de acordo com os acontecimentos. O mercado atual pede conforto, autocuidados, mas ainda est� em busca da beleza e das novidades.
Voc� acha que, em breve, as mulheres voltar�o a subir em saltos estratosf�ricos?
A pessoa que se gosta, se cuida, e os valores mudaram para a autossatisfa��o, mais uma selfzinha tamb�m, � claro, para mostrar nas redes sociais que est� lindinha em casa, porque ningu�m � de ferro, n�? Com rela��o aos saltos altos, sempre vai ter quem ama e n�o desce deles nunca, mas, no momento, s� os apaixonados mesmo aderem. Penso que basta os eventos voltarem que ele tamb�m voltar� reinando. Sou a primeira na fila!
Voc� come�ou em uma �poca de muito glamour. Ainda � poss�vel trabalhar esse conceito hoje em dia?
O glamour atual � estar bem, se cuidar f�sica e psicologicamente, tudo de verdade. Investir em roupas e cal�ados que voc� gosta e ficar bem onde estiver, mas sempre se sentindo bonita. Eu sempre achei que uma roupa nova, um sapato novo, cabelo arrumado e maquiagem, esse combo todo � o maior rem�dio para todos os males, j� que d� prazer e autoconfian�a.
A sua marca protagonizou a��es muito expressivas, lan�amentos para imprensa em BH e em S�o Paulo, muitos desfiles. Elas ajudaram a consolidar o branding da J�nia Gomes?
Nossa f�brica completou 36 anos no mercado. No come�o, com produtos diferenciados e arrojados, tivemos o apoio e reconhecimento da m�dia nacional. Muita m�dia espont�nea. Nossas cole��es estavam em v�rias edi��es mensais de revistas e jornais. Na TV tamb�m, em diversas novelas e programas. Aqui em Belo Horizonte, sempre tivemos o apoio e, para ser sincera, o carinho do Estado de Minas por meio do Caderno Feminino. Posso ver minha trajet�ria completa ali, em fotos e reportagens lindas, uma grande emo��o. Fizemos lan�amentos criativos em Beag� e em S�o Paulo, que foram aplaudidos e amplamente divulgados por toda a imprensa do pa�s. Participamos at� hoje dos grandes eventos de vendas, feiras como Francal, Couromoda, TM Fashion, Minas Trend.
Como foi esse processo de constru��o de marca?
Aconteceu naturalmente devido ao ambiente em que viv�amos nos anos 1980. Belo Horizonte era cidade polo de moda e recebia um fluxo muito grande de lojistas interessados no que se passava atr�s das montanhas mineiras. O Grupo Mineiro de Moda era uma for�a motriz nesse processo, atraindo n�o s� compradores como tamb�m a m�dia, que chegava � capital mineira patrocinada pelas 10 etiquetas que o compunham. Como s� uma delas – a M�nica Torres – era do ramo de acess�rios, a J�nia Gomes passou a criar e desenvolver produtos para os outros componentes que eram da �rea de vestu�rio, em dobradinhas bem-sucedidas. E isso nos deu bastante prest�gio.
A participa��o nas feiras em S�o Paulo tamb�m foi muito importante, n�o �?
Sim, a marca precisava crescer e com essa possibilidade das feiras contratei uma assessoria de imprensa em S�o Paulo. Por meio dela, promovemos muitos encontros, almo�os e jantares em restaurantes renomados, que geraram um relacionamento mais estreito com os jornalistas e produtores de moda importantes da �poca, como Costanza Pascolato, Regina Guerreiro, Fernando de Barros, Rita Segreto, Cl�udia Berkhout, Jussara Rom�o, entre outros. A gente convidava ainda representantes de jornais e revistas semanais importantes, como a Folha de S.Paulo, a Veja, a Isto�. Al�m de a imprensa conhecer de perto a marca e os produtos, essas a��es geravam muita m�dia espont�nea.
E os desfiles? Alguma recorda��o especial?
No princ�pio da d�cada de 1990, Eloysa Sim�o e seu s�cio Giorgio Knapp, da Dupla Comunica��o, deram o start nas semanas de moda do pa�s, lan�ando a Semana Leslie de Estilo, no Museu Nacional de Belas-Artes. A Mabel Magalh�es, que era muito minha amiga, ia participar da segunda edi��o do evento e me convidou para entrar com os cal�ados da cole��o desfilada. Nessa �poca, tamb�m, a J�nia Gomes promoveu alguns almo�os e desfiles importantes para a imprensa aqui em Belo Horizonte, nos restaurantes Caf� Ideal (junto com as marcas Mary Design e Celina David) e Espl�ndido. Lembro-me de que, nesse �ltimo, o clima era meio Barbarella, bem anos 1960. Eu fiz todos os acess�rios, inclusive as roupas em verniz branco fechadas por velcros e chap�us no estilo Paco Rabanne. N�s sempre fomos parceiros das marcas amigas nos desfiles, criando sapatos e bolsas especiais para esses momentos, ou mesmo linha de acess�rios especiais para elas.
Houve um desfile tamb�m na Mimulus Cia de Dan�a...
Sim, foi um happening, na verdade. Os dan�arinos cal�avam os modelos mais expressivos da cole��o, que foi mostrada assim, entre boleros e tangos. Repercutiu muito pela forma criativa que mostramos o trabalho da J�nia Gomes.
Nesse tempo todo, imagino que voc�s enfrentaram grandes desafios, particularmente econ�micos...
Passamos por todos os planos econ�micos nesses anos, vivemos as reviravoltas do mercado, vivemos prosperidade e apertos com a mesma simplicidade e coragem que cada um exigiu. Fizemos um patrim�nio e adquirimos know-how. Mudamos para um produto mais comercial, apesar de ainda continuar acreditando em coisas que s� v�o para o grande mercado um ou dois anos depois.
A J�nia Gomes tem tamb�m um bra�o especializado em produtos corporativos. Como ele vem funcionando?
Sim, estamos no mercado corporativo, criamos e fabricamos brindes especiais, uma nova grande e desafiante paix�o.
Se tivesse que voltar atr�s, o que mudaria na sua forma de trabalhar?
Olhar para tr�s � um exerc�cio muito dif�cil para mim, aquariana total. S� gosto de olhar para a frente, mas vejo uma carreira linda, muita paix�o, muito empenho, muitos amigos, muitos empregos gerados, muita coisa linda que eu fiz. Sinto-me muito orgulhosa, grata e emocionada, cada palavra dessas s� Deus sabe o que cont�m.
Voc� nunca foi uma pessoa que correu atr�s da m�dia e hoje as redes sociais exarcebaram esse comportamento. Como v� isso?
Atualmente, com as redes sociais, trabalho, vida pessoal, vida social, tudo ficou meio embaralhado. Sigo me expondo ou me escondendo de acordo com meus momentos. Agora eu sei que posso escolher. Poder estar em qualquer lugar do mundo, isso � um espet�culo! Gosto de tudo que � novo, quero entender e participar.
A J�nia Gomes ainda tem uma f�brica com pr�dio pr�prio, ao contr�rio de muitas empresas, que partiram para a terceiriza��o de produtos. Quais as vantagens desse modelo de neg�cios?
A compra do pr�dio, no Bairro Nova Sui�a, aconteceu em janeiro de 1988 e foi uma excelente aquisi��o. A gente tinha disponibilidade financeira e resolveu investir no im�vel. S�o 1.100 metros quadrados de constru��o e t�nhamos uma estrutura maior na �poca. � l� que funciona tamb�m o showroom da J�nia Gomes, mas estamos pensando, agora, em alugar um dos andares, j� que o espa�o � enorme.
Voc� � uma pessoa sempre otimista, mesmo nas adversidades. De onde vem esse tra�o?
Amo o que fa�o. Apesar de, �s vezes, achar que essa mudan�a mundial causada pela pandemia � um sonho, sei que vou continuar fazendo o que gosto.