
Moda n�o � mais s� vender roupa. As marcas hoje precisam ter identidade, prop�sito e oferecer uma experi�ncia diferente para o seu p�blico. Em sua 31ª edi��o, o Fumec Forma Moda mostra que os novos profissionais est�o antenados com os desejos do mercado. As apresenta��es, que pela segunda vez teve ser virtual, reuniu trabalhos com caracter�sticas marcantes e conceitos bem definidos.

Para o coordenador do curso de moda da Fumec, Ant�nio Batista dos Santos, que tamb�m � o respons�vel pela concep��o do evento, o isolamento imposto pela pandemia ajudou na constru��o de cole��es que n�o s�o mais do mesmo. “Por terem ficado muito tempo isolados, os alunos conseguiram colocar muito deles nos trabalhos. Vemos tra�os fortes e uma identidade muito pr�pria”, analisa.

No total, foram 13 apresenta��es, entre desfiles, fashion films e editoriais. Como exemplo de trabalhos com identidade, o coordenador cita a aluna que vem de fam�lia nordestina e fez uma cole��o valorizando as festas populares do Nordeste; roupas no estilo country contempor�neo desenhadas por uma formanda envolvida com equita��o e pe�as com materiais, cores e volumes dos anos 1980 que representam a personalidade da criadora, bem festiva.

Com a cole��o de acess�rios Heran�a, Ana Cardoso faz uma homenagem � sua m�e, que morreu quando ela estava no meio da faculdade. “Vivi um per�odo bem dif�cil, mas foi quando tive mais for�a para seguir o que queria. Ela sempre me apoiou e amava as pe�as que eu criava”, conta a designer, que vende pulseiras desde a �poca de col�gio.

A cer�mica pl�stica foi escolhida para dar forma �s pe�as. Ana descobriu o material na faculdade, mas ainda n�o tinha usado na sua marca, Ana Cardoso Acess�rios, que j� tem quatro anos. A vantagem dele � ser bastante male�vel, o que amplia sua liberdade criativa. “Quero ter uma linha s� com esse material na minha marca para me diferenciar e refor�ar a minha identidade. V�o ser pe�as exclusivas.”
Ana aproveitou a oportunidade para desenvolver o m�ximo de experimenta��es com o novo material. Fez bordados, uniu v�rias cores para formar uma estampa e misturou folha de ouro para criar detalhes metalizados. Al�m disso, em um trabalho totalmente manual, moldou a cer�mica pl�stica para virar uma flor e outras formas org�nicas.

Segundo a designer, a pe�a que mais representa a sua m�e � o brinco com ponto cruz. “A minha m�e sempre gostou de bordar, fuxico e outros trabalhos artesanais. Herdei dela essas habilidades manuais.” Ana fez furinhos na base de cer�mica pl�stica para passar os fios. Para complementar, franjas de linha em carmim, a �nica cor de batom que a m�e usava.
O depoimento de uma pessoa com defici�ncia falando que o mercado de moda n�o a enxerga como consumidora mexeu com Bruna Barreto, que decidiu fazer uma cole��o de moda inclusiva. Para desenvolver as pe�as, ela conversou com cerca de 30 homens e mulheres que vivem essa realidade. A maior dificuldade � sempre ter que fazer adapta��es nas roupas. “Cada um tem necessidades espec�ficas e � dif�cil para o mercado da moda atend�-las. Isso exige estudos.”
A cole��o se voltou para cadeirantes e pessoas que usam pr�teses e �rteses. Bruna trabalhou modelagens amplas e ajustes f�ceis de manusear. O vestido tem fechamento de velcro na parte da frente e se transforma em um quimono, se for usado aberto. A estampa, desenvolvida em parceria com a grafiteira Fl�, exibe palavras como supera��o, visibilidade e orgulho, levando mais cor e personalidade � pe�a.
No outro look, a saia tem z�per com puxador maior e o blazer pode ser aberto at� acima dos cotovelos. “Muitos cadeirantes falam que n�o conseguem usar manga comprida porque a roupa suja na hora de pegar na roda. A abertura tamb�m facilita para quem usa �rtese e pr�tese.”
ERGONOMIA A cal�a segue a mesma l�gica e tem z�peres nas laterais que v�o at� acima dos joelhos. Para abrir ou fechar, basta puxar a argola de tecido na ponta. Bruna tamb�m estuda design de produto e diz que o conhecimento do outro curso a ajudou bastante. “Tenho que pensar em ergonomia, o que n�o se fala muito na moda.” Futuramente, ela pensa em lan�ar uma marca de moda inclusiva.
Norberto Resende est� no mercado h� quatro anos com a marca Norb e, de volta � faculdade, d� sequ�ncia ao trabalho que j� o levou ao Minas Trend. Nesta cole��o, ele refor�a seu conceito da moda ag�nero. Em vez de usar formas indefinidas e tons neutros, explora cores, estampas e modelagens que mudam de acordo com a necessidade de express�o de quem usa. “A minha vis�o de roupa sem g�nero � aquela que te possibilita ter o seu g�nero, independentemente se � cal�a, vestido ou saia.”
Algumas pe�as podem ser usadas do lado direito ou avesso e outras permitem inverter frente e costas. “Como designer, entendo que cada pessoa � �nica e, por mais que esteja usando a mesma pe�a do outro, vai fazer uma leitura diferente”, opina.
Os tamanhos s�o sempre ajust�veis, j� que Norberto tamb�m defende a diversidade de corpos. Para fazer o vestido branco de tela, ele usou o tecido na largura inteira. “Tenho a possiblidade de vestir algu�m com 1,5m de circunfer�ncia. Ao mesmo tempo, os reguladores podem ser ajustados para o manequim 36, de forma que n�o fique sem design”, explica.
As estampas se conectam com o tema da cole��o, que discute a quebra de padr�es. Para representar a desconstru��o proposta pela Norb, v�rios metais, materiais altamente r�gidos, aparecem sem formas definidas. Na outra estampa, um rosto, que pode ser de homem ou mulher, representa a ideia da moda ag�nero e de ser m�ltiplo. Bolsas, joias e cal�ados tamb�m s�o assinados por Norberto.