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Estado de Minas

MP diz que 15% dos bens sob prote��o em MG est�o em mal conservados


postado em 25/07/2011 06:08 / atualizado em 25/07/2011 08:17

Casarão do padre Taborda, em Itaverava, data do século 18: prefeitura diz que espera resultado de processo de retomada do imóvel para elaborar projeto de restauração(foto: Jackson Romanelli/EM/D.A Press)
Casar�o do padre Taborda, em Itaverava, data do s�culo 18: prefeitura diz que espera resultado de processo de retomada do im�vel para elaborar projeto de restaura��o (foto: Jackson Romanelli/EM/D.A Press)

Parte da hist�ria de Minas est� se despeda�ando em cidades do estado. Mantidos sob prote��o no papel, bens tombados que guardam a mem�ria mineira est�o relegados ao esquecimento e abandono. Levantamento do Minist�rio P�blico (MP) estadual mostra que pelo menos 15% dos 3.704 bens de valor hist�rico, cultural, arquitet�nico e ambiental sob prote��o no estado se encontram em mau ou p�ssimo estado de conserva��o. Com base no estudo, o MP cobra melhoria nas pol�ticas de prote��o aos bens tombados e mais incentivos a propriet�rios dos im�veis para investimentos em revitaliza��o.
Na lista elaborada pelo Minist�rio P�blico, bens ferrovi�rios, como esta��es, armaz�ns, oficinas e galp�es, est�o entre os que t�m mais problemas. “Pelo menos 1,5 mil (bens ferrovi�rios) est�o abandonados em Minas. Nem todos s�o tombados, mas t�m prote��o federal desde 2007”, diz o promotor Marcos Paulo de Souza Miranda, coordenador da Promotoria de Justi�a de Defesa do Patrim�nio Hist�rico, Cultural e Tur�stico de Minas Gerais.

Segundo Miranda, casar�es e im�veis residenciais ficam em segundo lugar na rela��o de bens malconservados, seguidos por igrejas e capelas. Museus e edifica��es p�blicas v�m em quarto, enquanto os s�tios arqueol�gicos, espeleol�gicos (grutas e cavernas) e paleontol�gicos (f�sseis vegetais e animais) fecham o ranking. De acordo com o promotor, os s�tios j� t�m prote��o do Instituto do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico Nacional (Iphan), mas em alguns casos, enfrentam enormes dificuldades para manter viva a hist�ria dos antepassados.

O Estado de Minas visitou tr�s localidades da Regi�o Central do estado cujos bens est�o em mau estado. Em Belo Vale, a 83 quil�metros de Belo Horizonte, a efervesc�ncia da Esta��o Ferrovi�ria Central e seu entorno se restringe � mem�ria dos moradores mais antigos. Desde que o transporte de passageiros foi extinto, em 1988, o pr�dio constru�do em 1917 deixou de receber o grande fluxo de passageiros entre Belo Horizonte e cidades como Rio de Janeiro e S�o Paulo. Janelas e portas est�o quebradas e o telhado que ainda sustenta telhas francesas tem buracos.

Degrada��o

Na plataforma de embarque, tradicional pelo caf� da dona Vica, a cobertura foi arrancada para permitir a passagem de locomotivas que hoje s� transportam min�rio extra�do na regi�o. Moradores contam que, sem vigil�ncia, a Esta��o Central sucumbiu � marginalidade e frequentemente � usada como ponto para consumo de drogas. “Este era um lugar que tinha vida, era um ponto de encontro que movimentava a cidade. Hoje, est� totalmente sem prote��o”, diz o coordenador de projetos da Associa��o do Patrim�nio Hist�rico, Art�stico e Ambiental de Belo Vale, Tarc�sio Martins. Assim como ele, a historiadora e professora Maria Aparecida da Gl�ria, moradora de Belo Vale, defende a restaura��o do bem e a transforma��o do espa�o em um equipamento cultural.

Para quem viveu os tempos �ureos da esta��o, o sentimento � de tristeza. “Trabalhei aqui durante 27 anos e
tenho saudade daquela �poca boa. Hoje, olho para a esta��o e fico chateado. � a cultura e a popula��o que saem perdendo”, diz o ferrovi�rio aposentado Vicente Moreira dos Santos, de 61 anos. O ferrovi�rio Jos� Henrique, que trabalha na esta��o, tamb�m lamenta. “� uma pena ver a esta��o abandonada desse jeito”. A Prefeitura de Belo Vale diz ter projeto para revitalizar a esta��o, mas ainda espera libera��o de recursos pedidos a uma institui��o banc�ria. “Estamos com o projeto aprovado pelo Iphan e pelo Iepha, mas n�o h� recurso para a revitaliza��o, avaliada em R$ 380 mil”, disse o prefeito Wanderley de Castro (PMDB). Segundo ele, o im�vel poder� sediar um centro cultural, a Casa do Artes�o ou o museu da ferrovia.

Fazenda

Em Conselheiro Lafaiete, tamb�m h� im�vel em risco. A sede da Fazenda Paraopeba, que segundo inqu�ritos que incriminaram os inconfidentes, os Autos da Devassa, pertenceu a Alvarenga Peixoto, est� degradada. As paredes de pau a pique, telhados e pisos de madeira do casar�o colonial, �s margens da BR-383, est�o em p�ssimo estado. A primeira parte da casa, em formato retangular, com duas salas e dois quartos, foi constru�da no s�culo 18 e est� fechada por apresentar risco de queda. A segunda parte, o sobrado, datada do s�culo 20, tamb�m tem problemas.

A aposentada Elizia Gonzaga, de 60, e o filho dela, Fernando Felisberto Gonzaga, de 35, s�o os atuais moradores da casa. Os dois dizem j� ter pedido ajuda para revitalizar o im�vel. “J� alegamos ao munic�pio, respons�vel pelo tombamento em 2006, que n�o temos condi��es financeiras de reformar a casa, ainda mais mantendo a estrutura original. Fico triste de v�-la caindo um pouco mais a cada dia”, disse Fernando. Elizia relembra duas grandes enchentes do Paraopeba que abalaram ainda mais a estrutura da casa. “A �gua subiu um metro e meio. Quando chove aqui � um horror. A gente tem que sair porque a casa pode cair a qualquer momento”, relata. A aposentada mora na fazenda desde 1971. Segundo o secret�rio de Cultura de Conselheiro Lafaiete, Jo�o Batista da Silva Neto, um termo de ajustamento de conduta (TAC) foi firmado com uma empresa que ser� respons�vel pelo restauro da sede da fazenda. O secret�rio, no entanto, n�o informou quando as obras ser�o executadas.

Casar�o Tamb�m n�o h� previs�o para obras de revitaliza��o de um dos mais antigos im�veis do munic�pio de Itaverava, o casar�o do padre Taborda. Localizado no centro da cidade, ao lado da Igreja Matriz, o im�vel data da segunda metade do s�culo 18, quando muitas casas passaram a ser substitu�das por sobrados. Em seu interior, pain�is pintados � m�o est�o sendo analisados por haver suspeita de que sejam feitos pelo pintor Manuel da Costa Atha�de, o Mestre Atha�de.
Segundo moradores, a fam�lia do padre Taborda teria abandonado o im�vel. H� relatos ainda de que no local tenha funcionando a casa paroquial de Itaverava. “� um pr�dio muito bonito e de muita import�ncia para a cidade. A gente v� ele assim e d� d�”, lamenta o aposentado Paulo Ant�nio do Nascimento, de 86 anos. A Prefeitura de Itaverava diz que o processo para tomada de posse do im�vel est� em andamento. Depois dessa etapa, ser� elaborado projeto de restauro.

Palavra de especialista

Maria Efig�nia Lage de Resense - Professora em�rita de hist�ria da UFMG

Patrim�nio para o futuro


O n�mero de 15% de bens em mau ou p�ssimo estado de conserva��o ainda � generoso, porque acredito que ele pode ser ainda mais alto. Quando se fala na quest�o do tombamento, o fundamental � a defesa da heran�a hist�rica e cultural. Ela precisa ser mantida porque gera subs�dios para que sociedade entenda o tempo presente e pense o futuro. � a forma mais adequada para se preservar o conhecimento, para se ter no��o do que � anterior � hist�ria do tempo presente, ou seja, as coisas como foram s�o important�ssimas para esclarecimento do que elas s�o hoje e do que podem vir a ser. O resgate dessa mem�ria � emergencial e deve ser imediato. Se deixarmos os fatos irem se perdendo no tempo, podemos ter um preju�zo hist�rico muito grande. Percebo que, desde o surgimento da ideia de patrim�nio, na d�cada de 1930, tivemos realmente muitas a��es de preserva��o sendo feitas, mas posteriormente, esse movimento se enfraqueceu. Hoje, por mais que os �rg�os de preserva��o se esforcem, as a��es de prote��o ainda s�o deficit�rias. H� bens sendo preservados, mas ainda h� muito o que fazer para manter a materialidade da hist�ria em Minas.


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