
Mas para entender as raz�es do combate ocorrido entre 3 e 8 de outubro e, principalmente, da revolu��o, � preciso voltar no tempo, partindo da d�cada de 1920, diz a professora de hist�ria da PUC Minas Carla Ferretti. A Rep�blica Velha (1889-1930) come�ava a dar sinais de cansa�o. As oligarquias rurais, com cafeicultores � frente, se enfraqueciam e as perspectivas econ�micas se tornavam cada vez mais sombrias, culminando, em 1929, com a quebra da Bolsa de Valores de Nova York e posterior crise internacional. Foi nesse cen�rio de instabilidade e quebradeira que o ga�cho Get�lio Vargas (1882-1954), candidato da Alian�a Liberal, com uni�o de for�as entre Minas, Rio Grande do Sul e Para�ba, e o paulista J�lio Prestes (1882-1946), de S�o Paulo e com apoio maci�o das oligarquias, foram �s urnas em 1º de mar�o de 1930 na disputa pela sucess�o do presidente da Rep�blica Washington Lu�s (1869-1957), representante dos cafeicultores.
Minas e S�o Paulo se alternavam no poder, vigorava a pol�tica do “caf� com leite” – e estando na presid�ncia Washington Lu�s, chamado de “paulista de Maca�”, era natural que o pr�ximo chefe da na��o fosse mineiro ou apoiado pelo estado. No entanto, quem ganhou a elei��o mas n�o levou foi Prestes, pois o ga�cho derrotado deu um golpe militar, inaugurou a Era Vargas e ficou no poder at� 1945.
O foco, ent�o, se voltou para BH. Eram 17h25 de 3 de outubro quando os “revoltosos” da Alian�a Liberal chegaram ao ent�o 12º Regimento de Infantaria para comunicar a posse de Vargas, naquele mesmo dia, no Rio de Janeiro (RJ). � preciso lembrar que a comunica��o a longa dist�ncia era dif�cil e as informa��es circulavam a passos lentos. Ningu�m sabia de nada no quartel do Barro Preto, subordinado � 8ª Brigada de Infantaria, e, para piorar a situa��o o general da institui��o tinha viajado. Nada, portanto, de comunicado oficial. Certo de que a sua obriga��o era cumprir a Constitui��o Federal e ciente de que Prestes era o presidente, o comandante do regimento, tenente-coronel Jos� Joaquim de Andrade, n�o se intimidou nem se rendeu e acabou preso pelo secret�rio de Interior (a pasta inclu�a Seguran�a P�blica), Cristiano Machado (1893-1953). O governador de Minas, na �poca presidente, era Oleg�rio Maciel (1855-1933), partid�rio de Vargas.
Da pris�o, Andrade mandou um comunicado aos subordinados: “Aos que se encontram dentro do quartel, que resolvam como melhor lhes parecer, de modo refletido aos ditames e do dever naquele momento”. Num telefonema, ele perguntou ao major Pedro Campos, que estava no quartel, sobre a sua decis�o e ele respondeu: “Salvar a honra do Ex�rcito, resistindo at� o �ltimo cartucho”.
Opera��o de guerra
O quartel do Ex�rcito contava com 672 homens, sendo 47 oficiais e 625 pra�as, enquanto a For�a P�blica tinha em torno de 4,8 mil. Conforme a edi��o do Estado de Minas de 4/10/1930, na hora do expediente havia 200 pra�as ao passo que do lado de fora mais de 1 mil homens Os �nimos se acirraram quando o tenente Jos� Moacir foi atacado na Pra�a Raul Soares pela For�a P�blica, oficiais foram presos nas resid�ncia e outros conseguiram entrar no quartel sitiado. Na cobertura dessa “opera��o de guerra”, o jornal relatou a ocupa��o de reparti��es p�blicas, a exemplo dos Correios, pelas tropas estaduais.
H� um ano e meio no comando do 12º BI, o tenente-coronel Alcio Costa, sergipano, se encantou com a hist�ria pouco conhecida dos mineiros, reuniu documentos e fotografias e tem feito palestras em escolas com um audiovisual. “Nesse epis�dio, n�o h� mocinhos nem bandidos, apenas mocinhos. O Ex�rcito estava defendendo a constitui��o e a For�a P�blica cumpria ordens. Todos lutavam por um pa�s melhor”, afirma. A resist�ncia terminou no dia 8, com a rendi��o da tropa federal, que foi levada para o 5º Batalh�o da For�a P�blica no Bairro Santa Tereza e depois para o Rio. Sobre a falta de informa��es, o comandante diz que, num radiograma (mensagem transmitida pelo r�dio), o ministro da Guerra (hoje, da Defesa) dizia que a situa��o era normal e que mandaria refor�os.
Linha do tempo
1920 – Come�a a crise que leva � Revolu��o de 1930, com enfraquecimento das oligarquias rurais e sinais do fim da Rep�blica Velha
1929 –Crise econ�mica internacional afeta cafeicultores que apoiavam o presidente Washington Lu�s
1930 –Em 1º de mar�o, h� elei��o para a presid�ncia da Rep�blica, com vit�ria de J�lio Prestes sobre Get�lio Vargas
1930 –Em 26 de julho, Jo�o Pessoa, vice de Get�lio Vargas, � assassinado na Para�ba
1930 –Em 3 de outubro, Vargas d� o golpe e toma o poder. Em BH, come�a o conflito entre a For�a P�blica e o Ex�rcito
1930 –Em 8 de outubro, termina o conflito em Belo Horizonte, com a pris�o dos militares do 12º Batalh�o de Infantaria
1930 – Em 3 de novembro, Vargas � empossado por uma junta militar como presidente do Brasil
1934 –Promulgada uma nova constitui��o, trazendo direitos como voto secreto e voto feminino
Quartel baleado virou atra��o

Al�m do poste-monumento, que acabou apelidando o 12º BI de “batalh�o do mastro crivado de balas”, h� outras refer�ncias importantes do movimento de resist�ncia de pra�as e oficiais. No museu da sede da institui��o instalada em BH em 1919, h� fotografias dos federais nas trincheiras constru�das nas partes mais altas do terreno; paredes e telhados das casas vizinhas, furados como se fossem peneiras, pelas metralhadoras e fuzis; feridos nas padiolas; cavalos mortos; e os integrantes da for�a estadual durante o cerco, entre outros registros. Terminada a confus�o, o quartel virou atra��o, com a popula��o em peso visitando o local.
As pesquisas do Ex�rcito mostram que durante o cerco os federais tiveram a luz el�trica cortada, falta de �gua, pois o abastecimento pela prefeitura teria sido contaminado com creolina, escassez de alimentos e de atendimento m�dico, al�m de outros duros reveses. “Mas, no final, os vencedores reconheceram o valor do 12º BI e os pra�as e oficiais foram homenageados no Rio”, afirma o tenente-coronel. O Ex�rcito perdeu 17 homens, que foram sepultados num mausol�u no lugar do antigo paiol.
O presidente da Associa��o dos Reservistas do Brasil (Areb), Jo�o de Souza Armani, com integrantes da Marinha, Ex�rcito, Aeron�utica e for�as auxiliares (bombeiros e policiais militares), destaca a import�ncia do resgate da hist�ria. “Nos bairros Santa Tereza e Santa Efig�nia h� ruas com nomes de her�is do conflito, como tenente Garro, o primeiro a morrer, tenente Anast�cio de Moura, tenente Vitorino e major Barbosa. Ficou a hist�ria denominada Resist�ncia do 12”, diz Armani, lembrando que a sua m�e, moradora de uma casa no alto da Rua Rio de Janeiro, estava lavando roupa no quintal quando uma bala perdida ricocheteou e bateu no tanque.
MEM�RIA
For�a das oligarquias
Na Rep�blica Velha, as oligarquias eram grupos pol�ticos formados por uma pequena elite, na sua maioria composta por grandes propriet�rios rurais que controlavam o poder, agindo na pol�tica em fun��o de seus interesses privados e pessoais. Em virtude da forma federalista do governo, no per�odo, as oligarquias tinham sua base de poder nos estados, organizando-se em partidos pol�ticos estaduais, explica a professora de hist�ria da PUC Minas Carla Ferretti.