“Que halloween que nada, s�. Assombra��o, e das boas, a gente tem aqui, uai, e muita.” A frase pode ser atribu�da a qualquer mineiro atento �s lendas urbanas e rurais passadas de gera��o para gera��o em reuni�es de fam�lia nas salas e cozinhas das Gerais, como o pesquisador sabarense Francisco D�rio dos Santos, o Chiquinho, ou o jornalista e folclorista Carlos Felipe. Os casos de Minas s�o, em sua maioria, de mortos vagando por ruas e estradas, arrastando correntes em casar�es ou de apari��es do capeta. J� o halloween � o Dia das Bruxas dos norte-americanos, comemorado em 31 de outubro mais como uma festa infantil. Mas sua origem � antiga, com ra�zes tamb�m em assombra��es sa�das de cemit�rios em noites sombrias.
O que assusta mais, a Loura do Bonfim. uma prociss�o de almas penadas na sexta-feira da Paix�o ou uma ab�bora escavada, pintada e iluminada por velas, como reza a tradi��o norte-americana? Para quem j� sentiu calafrios com as hist�rias contadas pelos av�s, n�o h� d�vida de que as lendas mineiras s�o de arrepiar os cabelos. E cada cidade tem sua cole��o de lendas. As hist�ricas, ent�o, nem se fala. Vem dos tempos em que as pessoas n�o tinham tanta divers�o � noite e era comum reunir a fam�lia e amigos ao redor do fog�o para contar “causos”. “S� em Sabar�, temos 29 lendas urbanas”, diz Chiquinho. � do repert�rio dele e de Carlos Felipe as hist�rias assombradas que o Estado de Minas reproduz neste Dia das Bruxas.
As almas da Rua S�o Paulo
O primeiro cemit�rio de BH, ainda dos tempos de arraial, era na esquina das ruas S�o Paulo e Tamoios e Avenida Amazonas, ao lado de sua primeira igreja, a capela de Nossa Senhora do Ros�rio, no Centro. No in�cio dos anos 1920, precisou-se do terreno para a constru��o do Orfanato Santo Ant�nio. As tumbas foram reviradas e os ossos removidos. Os mortos n�o gostaram. Revoltaram-se e durante muito tempo assombravam quem passava pela esquina, principalmente � noite. As rezas e novenas na capelinha de 1897 os acalmaram, mas h� quem ainda evita passar por l� � noite.
O capeta da Vilarinho
No anos 1980, um rapaz bonito, bem vestido e de chap�u frequentava os bail�es da Avenida Vilarinho, no Bairro de Venda Nova, Regi�o Norte de BH. Apresentou-se como Alex. Era ex�mio dan�arino e encantava as mo�as com sua eleg�ncia. Os rapazes do lugar se corro�am de ci�me com o sucesso do forasteiro. Uma noite, por um descuido, o chap�u caiu, deixando � mostra um pequeno par de chifres. As mo�as gritaram e os rapazes correram atr�s do estranho, a fim de surr�-lo. Ele tinha os p�s para tr�s e desapareceu numa nuvem de fuma�a.
A loura do Bonfim
Bo�mios das d�cadas de 1950 e 1960 que vagavam pelas madrugadas da antiga Lagoinha, Regi�o Noroeste de BH, falavam de uma loura glamourosa, sedutora, tamb�m frequentadora da noite. Quando ela voltava para casa, de carona ou de t�xi, descia na Rua Bonfim, em frente ao cemit�rio na mesma regi�o e desaparecia entre os t�mulos. Qualquer loura sentada sozinha em um botequim causava arrepios. A lenda ganhou for�a no programa O povo na TV, veiculado pela TV Alterosa na d�cada de 1980. A produ��o contratou uma jovem loura e a filmou atravessando a Rua Bonfim, � noite, de roupas brancas esvoa�antes. As cenas, propositadamente meio difusas, causaram impacto e elevaram a audi�ncia do programa.
A noiva do Carmo
A Igreja de Nossa Senhora do Carmo, constru��o do s�culo 18, em Sabar�, Grande BH, fica em frente ao Cemit�rio do Carmo, onde s�o sepultados membros de uma ordem religiosa cat�lica. Uma tarde, uma bonita mo�a, loura, de olhos azuis, casava-se na igreja, no s�culo passado, e, ainda no altar, sentiu-se mal e caiu morta. Numa madrugada, um oper�rio do turno da noite da antiga Companhia Sider�rgica Belgo-Mineira voltava do trabalho e viu uma loura vestida de noiva na porta da igreja. Puxou conversa. A loura, ent�o, disse que precisava ir em casa trocar de roupa e entrou no cemit�rio. O homem, apavorado, saiu gritando. Os vizinhos o acudiram e foram ao cemit�rio verificar a hist�ria. Acharam o vestido de noiva sobre um t�mulo.
Prociss�o das almas
Quase todas as cidades hist�ricas t�m relatos de prociss�o das almas na quaresma. A da tricenten�ria Sabar�, para quem tem o poder de ver os mortos, passa pela Rua Dom Pedro II. L�, da janela de uma casinha do s�culo 18, dona Sinh� ficava procurando motivos para fuxicar. E � meia-noite de sexta-feira da Paix�o ela viu subir a ladeira um grupo de pessoas vestidas de branco e apenas uma de preto, � frente do cortejo, com uma vela nas m�os. Ao passar pela janela, ele deu a vela a Sinh� e disse: “N�o a apague. Viremos busc�-la no s�bado de Aleluia”. A velha, muito curiosa, p�s a vela sobre a mesa e a apagou. No outro dia, havia o osso de uma perna humana no lugar. No s�bado, mesmo apavorada, esperou a prociss�o passar para entregar o osso ao homem que puxava o cortejo. Ele o recebeu e disse: “Esta foi a primeira e �ltima vez que a senhora nos viu da janela”. Sinh� morreu tr�s meses depois e dizem que na quaresma seguinte l� estava ela, engrossando a prociss�o.
A mulher do algod�o
As meninas mais levadas da Escola Estadual Paula Rocha, na Pra�a Melo Viana, em Sabar�, gostam de experimentar o medo. Contam que, no s�culo passado, uma professora, atropelada por um trem no distrito sabarense de Ro�a Grande, prometeu antes de morrer que voltaria para assombrar as estudantes com fama de bagunceiras. Aparecia para as garotas no banheiro feminino com roupas brancas, um pano usado sobre a cabe�a e algod�o nos ouvidos ensanguentados. As alunas que n�o conseguem v�-la a provocam. “Dizem que apertando a descarga tr�s vezes, gritando e xingando palavr�es, ela aparece. Eu tentei e nunca vi”, diz Stephanie Fernanda Matos, de 16 anos, ex-aluna da escola. A hist�ria tamb�m assombrou e despertou a curiosidade de meninas de v�rias escolas do estado.
A mulher da Rua Direita
Durante anos, moradores e turistas viram � noite, nas ruas da hist�rica e tricenten�ria Mariana, na Regi�o Central do estado, principalmente na Rua Direita, uma mulher em roupas esfarrapadas. Quando se aproximavam, ela se transformava em uma dama elegante, de roupas finas e cobertas de joias. Os relatos, de acordo com os folcloristas, a apontam com a alma de uma das ricas senhoras dos tempos da corrida do ouro. Dizem que, de vez em quando, ela ainda aparece como uma mortal andarilha.
Fantasma do inconfidente
Foi na Casa dos Contos em Ouro Preto, na Regi�o Central do estado, antigo local de pesagem e fundi��o de ouro, que o poeta Cl�udio Manoel da Costa morreu. Era um dos inconfidentes mais influentes e h� d�vida se ele se suicidou ou se foi assassinado pelas for�as da coroa portuguesa. Reza a lenda que, nas madrugadas, Cl�udio Manoel ainda frequenta o casar�o, hoje centro de cultura mantido pelo Minist�rio da Fazenda. De acordo com Carlos Felipe, h� quem jure que o viu andando sobre o assoalho recitando seus poemas.
A mulher de sete metros
H� moradores dos bairros Major Prates e Morada do Parque, em Montes Claros, Norte de Minas, que evitam cruzar o vizinho parque municipal � noite. � por medo da mulher de sete metros de altura que, segundo contam folcloristas, j� foi vista entre os jardins. Ningu�m consegue outra explica��o para a estranha figura, cuja fama se espalhou pela cidade, a n�o ser que se trata de uma alma de outro mundo.