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Estado de Minas

A BH das 200 enchentes

Especialista atribui � ocupa��o desordenada e � falta de drenagem as sucessivas trag�dias na capital desde 1923. Temor de todos os tempos, Ribeir�o Arrudas ainda amea�a a popula��o


postado em 07/01/2012 06:00 / atualizado em 07/01/2012 07:06

 

1987 Ribeirão Arrudas volta a sair do leito e a alagar casas e lojas, atingindo sobretudo as partes mais baixas da cidade, com prejuízos para moradores e comerciantes(foto: Pedro Graeff/EM/D.A Press)
1987 Ribeir�o Arrudas volta a sair do leito e a alagar casas e lojas, atingindo sobretudo as partes mais baixas da cidade, com preju�zos para moradores e comerciantes (foto: Pedro Graeff/EM/D.A Press)

Neste ano em que se completa um s�culo de coleta de dados para previs�o meteorol�gica na capital, os belo-horizontinos n�o param de olhar para o c�u. E, claro, de ler os coment�rios dos especialistas do tempo, comentar com os amigos sobre a chuva da tarde e ficar bem atentos � nuvem mais escura. Realmente, as �guas que descem sobre o estado s�o de meter medo e j� entram para a hist�ria batendo recordes. Em dezembro, por exemplo, choveu 720mm em BH, mais do que o dobro da m�dia (320mm), marcando o m�s como o mais chuvoso desde 1912, quando ocorreu o registro pioneiro. Mesmo com o alerta dos meteorologistas, a cidade ainda � cen�rio de grandes inunda��es, desabamentos, trag�dias e, principalmente, mortos e feridos.

O belo-horizontino ainda tem uma atitude muito passiva diante dessas catástrofes que ocorrem todos os anos - José Roberto Champs, engenheiro sanitarist(foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)
O belo-horizontino ainda tem uma atitude muito passiva diante dessas cat�strofes que ocorrem todos os anos - Jos� Roberto Champs, engenheiro sanitarist (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)
A primeira grande inunda��o na cidade ocorreu em 1923, provocada pelo transbordamento do Ribeir�o Arrudas, informa o engenheiro sanitarista Jos� Roberto Champs, ex-diretor da Superintend�ncia de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) respons�vel por um levantamento sobre as enchentes e seus efeitos desastrosos. “De 1928 at� agora, houve mais de 200 inunda��es”, afirma Champs, destacando que a situa��o n�o � culpa simplesmente do per�odo de chuvas, que vai de novembro a mar�o ou dos 1003 cursos d’�gua que cortam a cidade. “As inunda��es s�o fen�menos naturais, mas aqui houve uma ocupa��o urbana desfavor�vel � forma como a capital foi concebida. N�o temos um sistema de drenagem eficiente”, afirma o engenheiro.

Com o crescimento da popula��o, problemas de alto risco para a drenagem foram surgindo e gerando impactos, como a canaliza��o dos c�rregos e a impermeabiliza��o do solo. Nesse segundo aspecto, est�o inclu�dos o asfalto das ruas, piso de cimento de quintais, telhado das casas etc., o que aumenta o volume do escoamento superficial e provoca o transbordamento dos c�rregos. “Falta uma pol�tica de gest�o integrada, formada por �rg�os municipais e estaduais, para fazer a gest�o do sistema de drenagem”, adverte o especialista, lembrando que as cheias se tornam realmente significativas quando h� risco para a vida humana, perdas patrimoniais, alagamento de vias p�blicas de grande volume de tr�fego e de equipamentos urbanos.



Anivers�rio tr�gico

 

1979 Águas do Córrego Vilarinho alagam vários bairros na Região de Venda Nova(foto: Celso Homem/EM/D.A Press)
1979 �guas do C�rrego Vilarinho alagam v�rios bairros na Regi�o de Venda Nova (foto: Celso Homem/EM/D.A Press)


No ver�o, as �guas n�o escolhem hora nem lugar para causar transtornos. E n�o perdoaram nem o anivers�rio de 80 anos de BH, em 12 de dezembro de 1977. Naquele dia, a popula��o viveu momentos de p�nico. Em 48 horas de chuva (174,2mm), houve nove mortos, 17 feridos graves, 23 desaparecidos e isolamento da cidade. Tamb�m em 1977, s� que no in�cio do ano, 915 pessoas ficaram desabrigadas, com desabamento de barracos no Bairro Salgado Filho. No ano seguinte, mais problemas. Em 23 de dezembro, as chuvas se tornaram hist�ricas e atingiram BH. O aeroporto da Pampulha foi interditado e a �gua chegou a um metro no sagu�o.

O ano de 1979 tamb�m ficou marcado na mem�ria de mineiros. Em 7 de fevereiro, foram abertas as comportas da Lagoa da Pampulha, provocando inunda��es em bairros � jusante e deixando muitos desabrigados. No dia seguinte, o Ribeir�o Arrudas transbordou, carros foram arrastados, o Parque Municipal Am�rico Ren� Gianetti, no Centro, ficou alagado, assim como lojas da Avenida dos Andradas. Nas imedia��es do Bairro Padre Eust�quio, as �guas do Arrudas chegaram perto do quarteir�o afastado 100 metros da margem. “O belo-horizontino ainda tem uma atitude muito passiva diante dessas cat�strofes que ocorrem todos os anos e s�o creditadas, equivocadamente, apenas o excesso de chuva ou ac�mulo de lixo no sistema de drenagem. As solu��es definitivas ser�o a longo prazo, mas � preciso planejamento.”

Ao longo das d�cadas de 1980 e 1990, com a amplia��o do sistema de drenagem na �rea central e expans�o da cidade em dire��o �s regi�es perif�ricas, surgiram outros pontos cr�ticos. “Ocorreram nesse per�odo 69,5% das inunda��es”, conta o sanitarista. Quadro triste mesmo foi em 2 de janeiro de 1983, quando a favela Sovaco de Cobra, �s margens do Arrudas, desapareceu. At� a Ponte do Perrela foi destru�da. Um relat�rio apontou 51 mortos e, no fim de um m�s, o n�mero chegava a 70. Naquele ano, recorda Champs, come�avam as obras na calha do Arrudas, que chega a ter 22m de largura por 9m de profundidade em alguns pontos. “A solu��o foi tempor�ria, pois continua a haver transbordamento em bairros como o Salgado Filho.

Triste mem�ria

 

O s�culo 21 trouxe mais devasta��o, algumas gravadas em todas as gera��es. Na madrugada de 16 de janeiro de 2003, chuvas fortes mataram 25 pessoas em Minas, causando destrui��o e desespero no Morro das Pedras, Cafezal e Taquaril. Na Vila Antenas, no Morro das Pedras, 11 pessoas da mesma fam�lia foram soterradas, morrendo nove crian�as e adolescentes.


LINHA DO TEMPO

1912 –Feita a primeiras coleta para previs�o meteorol�gica em Belo Horizonte, pelo Instituto Nacional de Meteorologia

1923 –Registro de grande inunda��o na Bacia do Ribeir�o Arrudas

1977 –Em 12 dezembro, no anivers�rio de 80 anos da cidade, chuva provoca 9 mortes e deixa BH isolada do resto do pa�s

1979 –Em 7 de janeiro, abertas as comportas da Lagoa da Pampulha, com inunda��o de �reas e grande n�mero de desabrigados


1983 – Cidade vive uma das suas maiores trag�dias, quando �guas invadem favela Sovaco de Cobra, em BH, e deixa 55 mortos

1997 –Em janeiro, s�o registrados 66 mortos no estado, sendo 29 na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte

2003 – Chuva na madrugada de 16 de janeiro mata 20 pessoas em BH e causa destrui��o nos aglomerados do Morro das Pedras, Cafezal e Taquaril

2011–Dezembro registra �ndice pluviom�trico de 720mm e � considerado o m�s mais chuvoso da hist�ria da capital


O belo-horizontino ainda tem uma atitude muito passiva diante dessas catástrofes que ocorrem todos os anos - José Roberto Champs, engenheiro sanitarist(foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)
O belo-horizontino ainda tem uma atitude muito passiva diante dessas cat�strofes que ocorrem todos os anos - Jos� Roberto Champs, engenheiro sanitarist (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)

Outros tempos

F�ria da tempestade


“Todo jornalista tem uma hist�ria de chuva para contar. N�o me esque�o de janeiro de 1998, quando Minas parecia derreter. Cheguei � reda��o do EM bem cedo e fui para a Regi�o Norte de BH ouvir moradores, ver a lama entrando nas casas e as l�grimas das fam�lias. � noite, el�trico e exausto, peguei o carro e fui para casa em Santa Luzia, na Grande BH. Ao chegar l�, a cidade estava ilhada. Fui dormir na casa de amigos, no Bairro da Ponte, na parte baixa – e novo susto: acordei de madrugada, ouvindo gritos e com a cama balan�ando na �gua. A Rua do Com�rcio tinha se transformando em afluente do Rio das Velhas e os barcos j� estavam na via p�blica. “Perigoso ter bicho pe�onhento, hein?!”, algu�m alertou. Chamei os donos da casa e disse para sa�rem, mas todos preferiram ficar. Sob chuva forte, dirigi at� um hotel no trevo de Sabar�, onde passei a noite. De manh�, olhei minha cara no espelho e vi o rosto de um flagelado. Entendi melhor o sofrimento e a afli��o de quem perde tudo na enchente ou n�o pode voltar para casa, onde s� consegui chegar dois dias depois. Mais triste ainda foi o resgate do menino Felipe, em janeiro de 2003. Vi o garoto saindo com vida dos escombros e fiquei esperan�oso, at� ouvir no r�dio, na manh� seguinte, sobre a sua morte.”


Saiba mais

Plano reprovado


O engenheiro sanitarista Francisco Rodrigues Saturnino de Brito (1864-1929) � considerado o pioneiro da engenharia sanit�ria e ambiental e patrono desse setor no Brasil. Natural de Campos (RJ), ele trabalhou no plano de constru��o de Belo Horizonte, no fim do s�culo 19, e prop�s ao chefe da equipe, Aar�o Reis (1853-1936), a constru��o de avenidas com 50 metros de largura e c�rregos abertos passando ao meio – eram as chamadas avenidas sanit�rias. A boa ideia n�o foi aceita por Aar�o Reis, diz Champs, certo de que teria sido uma �tima solu��o para evitar inunda��o em BH.


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