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Estado de Minas

Caminhoneiros recorrem a estimulantes e ampliam risco nas estradas de Minas

No ano passado, acidentes aumentaram 132%. Os motoristas usam at� anfetaminas e at� estimulantes � base de �lcool


postado em 29/01/2012 06:55 / atualizado em 29/01/2012 07:31

Flagrante comum nas estradas que cortam Minas: cansados depois de longa jornada, caminhoneiros têm seus reflexos testados pelos obstáculos na pista esburacada(foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)
Flagrante comum nas estradas que cortam Minas: cansados depois de longa jornada, caminhoneiros t�m seus reflexos testados pelos obst�culos na pista esburacada (foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)

Por tr�s de p�lpebras inchadas e quase fechadas, os olhos vermelhos do caminhoneiro S.S.P., de 30 anos, suplicam rendi��o. O peso do sono se reflete nas rugas profundas de express�o e no esfregar constante das m�os no rosto. Num solavanco, seu olhar perdido e a posi��o fixa despertam de repente. Sem reagir a tempo, passa com as nove rodas do lado direito da carreta num buraco profundo da BR-251 – o ve�culo, de 15 metros de comprimento, transporta oito toneladas de geladeiras. “Estava pensando numa outra coisa, nem vi o buraco”, diz, tentando justificar o barulho e o estremecer da carreta. Nem o sono ou o furo que esvaziou um dos seus 18 pneus quando passou pela Bahia o impedem de seguir viagem. J� s�o 11 horas rodando por 650 quil�metros, desde Feira de Santana (BA) at� Salinas, no Norte de Minas. O destino, Pirapora, est� ainda nove horas � frente. Entre cochilos, curvas e ultrapassagens a mais de 100 quil�metros por hora, o sul-mato-grossense se arrisca a tal ponto que uma trag�dia parece quest�o de tempo.

Em v�deo, rep�rter registra ultrapassagens perigosas na BR-251. Confira:



Caminhoneiros como S. ingressam diariamente nas rodovias de Minas Gerais em condi��es limite. Desafiam o sono, longas jornadas e estradas estreitas e esburacadas. Pior: recorrem cada vez mais a drogas para fazer frente a uma rotina extenuante. Segundo o Ambulat�rio de Depend�ncia Qu�mica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), tr�s em cada 10 caminhoneiros usam regularmente rebites e anfetaminas para circular insones por horas a fio pelas estradas brasileiras. N�o bastasse isso, bebidas � base de cafe�na concentrada e �lcool, disfar�adas de “energ�ticos”, agora s�o oferecidas em pequenos tubos e consumidas aos montes em restaurantes de postos de abastecimento. Os efeitos, dizem especialistas, s�o t�o devastadores quanto os dos estimulantes qu�micos. “S�o como rebites. A cafe�na dessas bebidas � um estimulante do c�rebro, assim como a anfetamina das p�lulas. O �lcool estimula num primeiro momento e a cafe�na e outras subst�ncias mant�m a pessoa acelerada”, afirma o coordenador do ambulat�rio da UFMG, o psiquiatra Valdir Campos.

O resultado dessa combina��o de sono, pressa e estimulantes � uma carnificina atestada por estat�sticas. Noano passado, de acordo com a Pol�cia Militar de Minas Gerais, as estradas estaduais registraram 8.513 acidentes com ve�culos de carga. O n�mero � 132% maior do que o de 2010, quando 3.666 caminh�es e carretas se envolveram em tombamentos, batidas e atropelamentos. Nas rodovias federais os n�meros tamb�m impressionam. Dos 30.032 ve�culos envolvidos em acidentes entre janeiro e novembro do ano passado, 11.345 (37,7%) eram caminh�es e carretas, de acordo com a Pol�cia Rodovi�ria Federal (PRF). O �ndice, maior que a m�dia nacional, de 31%, s� fica atr�s dos carros de passeio, respons�veis por 15.314 (51%). Por�m, a frota de carros no estado, que chega a 4.223.737, � 90% maior que a de caminh�es e carretas, de 475.791 (11%). Num ambiente com apenas esses ve�culos, a participa��o dos transportes de carga em acidentes � tr�s vezes maior que a dos autom�veis.

Passagem obrigat�ria

Com uma malha vi�ria de 35.960 quil�metros, Minas � passagem quase obrigat�ria de caminh�es que levam cargas para portos e metr�poles. No pa�s, 60% do escoamento nacional se d� por via rodovi�ria. Para mostrar o submundo do transporte que move o Brasil recorrendo ao tr�fico, prostitui��o e manobras irrespons�veis de caminhoneiros exaustos ou dopados, a reportagem do Estado de Minas seguiu de carona em carretas que trafegavam pelas BRs 381, 116, 251, 135 e 040. Entre as hist�rias mais recorrentes est�o a de caminhoneiros que, respons�veis por conduzir caminh�es com mais de 70 toneladas por horas seguidas, tentam enganar o sono usando estimulantes vendidos livremente em postos de gasolina, farm�cias e paradas.

Caminhoneiro relata os perigos da profiss�o


A desculpa � a mesma: � preciso ganhar tempo e faturar mais. “Se descarregar (o caminh�o) antes para a transportadora, sobra tempo de lucrar levando outra carga por minha conta na volta. � a� que entra o rebite. Se tomar, dirijo at� 24 horas direto”, conta o sul-matogrossense S. “Meu terror � ver carreteiro na contram�o dormindo de olho aberto”, admite. Durante a viagem, ele s� desperta plenamente na “marra”, quando, por exemplo, a BR-251 se abre em centenas de buracos entre Salinas e Montes Claros. As crateras com mais de um palmo de profundidade o obrigam a ziguezaguear pela pista realizando v�rias mudan�as de marcha e manobras longas com o volante.

Falta de experi�ncia na condu��o de ve�culo pesado amplia riscos

 


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