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Estado de Minas

Quando aposentar o volante? Idade avan�ada n�o � indicativo de que se deva abandonar a dire��o

Motoristas acima dos 60 anos t�m de ficar atentos aos sinais que sugerem a hora de parar, diz especialista


postado em 07/10/2012 07:40 / atualizado em 07/10/2012 07:46

Aposentado, Edson Jardim lamentou ter de abandonar o carro:
Aposentado, Edson Jardim lamentou ter de abandonar o carro: "Percebi que eu, que sempre dirigi bem, estava perdendo a no��o espacial e fiquei inseguro para continuar"

Na �poca em que a aposentada Maria Augusta Maciel Orlandi, de 68 anos, tirou carteira de habilita��o, o tr�nsito em Belo Horizonte era bem diferente do corre-corre que se desenha atualmente nas vias da capital. O ano era 1975 e o primog�nito, Bruno Orlandi, tinha pouco mais de 1 ano. Vieram os outros filhos, Ludmila e Igor. Foi a� que Maria Augusta realmente teve que dividir as horas do dia para levar a prole � escola, fazer compras de supermercado, ir ao pediatra com as crian�as e cumprir as tarefas di�rias. Todos os trajetos eram feitos de carro.

Era com a antiga Bras�lia verde, o primeiro de v�rios carros que teve, que Maria Augusta cortava a cidade levando os filhos. Hoje n�o dirige mais. H� cinco anos aposentou a carteira de motorista e, mesmo com as chaves do carro penduradas, manteve por quatro anos na garagem o Honda Civic, que s� foi vendido no ano passado. Relutava na venda porque tinha esperan�as de voltar a dirigir, mas n�o se sente mais segura ao volante. “Hoje o tr�nsito est� muito complicado. A cada vez que saio de casa tem mais carro e mais motos na rua. E mais medo d�”, conta.

A decis�o de Maria Augusta veio no momento em que come�ou a tomar medicamentos para depress�o, que poderiam interferir em seus reflexos. Mas, para o idoso, qual � a hora de parar de dirigir? Especialistas afirmam que o tempo de abrir m�o do volante n�o est� relacionado com a idade, mas sim com a sa�de do motorista. “A idade n�o deve ser uma regra geral. A hora de parar pode ser desde os 18 anos, quando o condutor acabou de se habilitar, at� o fim da vida. Depende das condi��es f�sicas e ps�quicas do motorista, especialmente nas categorias profissionais”, explica o m�dico perito examinador do Departamento Estadual de Tr�nsito (Detran) Domingos Lage.

Para ter a Carteira Nacional de Habilita��o (CNH) renovada, no entanto, o idoso deve cumprir pr�-requisitos que v�o da avalia��o oftalmol�gica, neurol�gica, psiqui�trica e do aparelho locomotor, incluindo averiguar a aptid�o do condutor para as categorias de A a E. Os crit�rios s�o analisados porque o motorista deve estar atento aos sons do seu pr�prio ve�culo e dos demais, aos sons do ambiente urbano, das buzinas e �s motocicletas. Com pouca acuidade visual, ele pode correr riscos no tr�nsito e representar perigo para outros motoristas e pedestres. “A visibilidade no tr�nsito � importante na identifica��o das placas, na orienta��o espacial, no cuidado com bicicletas e faixas, na defini��o e contraste claro-escuro, para dirigir � noite, quando h� neblina, especialmente em vias movimentadas e estradas”, alerta o m�dico.

COMPLICA��ES S�O ALERTA
Mas o momento certo de abandonar a dire��o vem precedido de sinais, conforme explica o especialista. “Quando a pessoa come�a a ter complica��es visuais, auditivas e motoras, ela deve procurar atendimento m�dico para certificar-se de que est� bem para continuar ativa no tr�nsito”, diz. Doen�as como diabetes, problemas cardiovasculares, mal de Parkinson e press�o alta, quando descontroladas, podem acelerar o fim da carreira ao volante. Mas tudo depende da forma como a enfermidade � tratada. “Se o quadro do paciente est� sob controle e ele n�o apresenta comprometimento dos sentidos, da coordena��o motora e das faculdade ps�quicas, n�o h� restri��es”, acrescenta Domingos Lage.

Ele diz ainda que, mesmo diante de alguma complica��o, o condutor pode se manter apto, mas com restri��es, ou ter somente um rebaixamento de categoria na habilita��o. “A avalia��o m�dica � fundamental para ajudar o paciente e a fam�lia na tomada de decis�es. E o que vai comprovar a aptid�o � a avalia��o do m�dico perito do �rg�o de tr�nsito no momento da renova��o”, explica. E, mesmo se a pessoa receber o laudo de inapto da cl�nica credenciada, ela pode pedir uma avalia��o do Detran, segundo Lage.

No caso do aposentado Edson Jardim, de 78 anos, n�o foi necess�rio laudo m�dico para atestar a impossibilidade de continuar dirigindo. Depois de mais de 30 anos ao volante, ele teve a s�bia atitude de entregar o Santana que dirigia e as chaves do ve�culo aos filhos. Chegou a fazer uma cirurgia de catarata para resolver um problema no olho direito, mas sem sucesso. “Mesmo com toda a tecnologia do procedimento, passei a enxergar menos. E percebi que eu, que sempre dirigi bem, estava perdendo a no��o espacial e fiquei inseguro para continuar no tr�nsito”, lamenta.

O aposentado conta que j� n�o conseguia ter a real no��o de dist�ncia dos carros ao seu redor e teve medo de colocar n�o s� a sua vida em risco, mas tamb�m a de outras pessoas que porventura pudesse atingir caso se envolvesse em um acidente. “Naquela �poca, chamei meus dois filhos e os avisei que a partir daquele dia n�o dirigiria mais. Foi uma quest�o de responsabilidade”, reflete.

Aos 72 anos, Geraldo Augusto se mantém ativo na direção. Só não faz viagens longas(foto: Marcos Michelin/EM/D.A Press)
Aos 72 anos, Geraldo Augusto se mant�m ativo na dire��o. S� n�o faz viagens longas (foto: Marcos Michelin/EM/D.A Press)


Carro prova independ�ncia
A dificuldade de pendurar as chaves e se desfazer do carro que foi um xod� por muito anos est� ligada ao s�mbolo de poder e status que o ve�culo tem, bem como � autonomia no ir e vir.  � o que defendem especialistas que lidam com idosos, que muitas vezes j� enfrentam dificuldades para continuarem ativos no tr�nsito, mas insistem em manter o p� no acelerador. “A carteira de motorista tem um peso muito grande para o cidad�o. � s�mbolo de independ�ncia, de locomo��o. Retirar esse documento � uma perda brutal”, diz o m�dico perito avaliador do Detran Domingos Lage.

O especialista explica que muitos idosos que renovam suas carteiras j� adotam no cotidiano trajetos menores, como a ida � padaria ou ao supermercado. H� ainda aqueles que mant�m o carro na garagem por anos, como Valdir Gon�alves, de 84 anos, pai da aposentada Vera Gon�alves, de 62. “H� quase um ano ele deixou de dirigir por quest�es de sa�de, mas todos os dias leva a chave na igni��o e liga o Opala, mesmo sem tir�-lo da garagem”, diz Vera sobre o pai. Os sinais de que Valdir n�o deveria mais se arriscar ao volante vieram h� seis anos, mas ainda assim ele se negou a parar de dirigir. “Ele passou a n�o observar as faixas de tr�nsito e bateu o carro duas vezes.” Vera diz que em tr�s anos pretende abandonar a dire��o e andar somente de t�xi. “J� sinto algumas limita��es e n�o estou mais t�o segura. N�o dirijo em pirambeiras, n�o procuro vaga que tenha que fazer manobra e evito sair na chuva. N�o quero mais esse estresse do tr�nsito.”

Embora o fim da carreira de motorista seja uma situa��o dif�cil de lidar, o presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia – Se��o Minas Gerais, Rodrigo Ribeiro dos Santos, alerta que o v�nculo com o ve�culo deve ser quebrado quando se tratar de seguran�a no tr�nsito. “Muitas vezes, � complicado convencer um familiar idoso a parar de dirigir porque ele v� o carro como s�mbolo de independ�ncia em seus deslocamentos. Parar pode ser um atestado de que ele est� ficando dependente”, destaca. No entanto, afirma Santos, ainda que seja dif�cil admitir, � mais prudente n�o dirigir e romper com essa simbologia do que colocar a vida dele e de outras pessoas em risco. “A participa��o da fam�lia � fundamental nesse processo”, lembra.

ATIVOS  Por outro lado, h� quem esteja ainda firme na dire��o. Depois de 50 anos de habilita��o, o aposentado Geraldo Augusto de Lima, de 72, dirige diariamente, inclusive em rodovias. “S� n�o fa�o mais viagens de longa dist�ncia, porque prefiro ir de avi�o. Mas para viagens curtas dirijo sem problema”, afirma ele, garantido estar cheio de sa�de. Na lembran�a, ele coleciona mais de 30 carros de v�rias marcas e modelos. No futuro, ainda se v� muito ativo para continuar dirigindo. “O tr�nsito hoje � bem diferente daquele de quando eu comecei a dirigir, mas n�o vejo problema. Me adaptei bem �s mudan�as e ao crescimento da frota de carros e motos.”

Mem�ria

Batida causa apag�o

Em 30 de setembro, um idoso de 70 anos se envolveu em um acidente e derrubou um poste, que caiu sobre a cobertura de um posto de gasolina, depois de ficar momentaneamente “cego”, no Bairro Padre Eust�quio, Regi�o Noroeste de Belo Horizonte. A batida foi na Via Expressa, no sentido Contagem, por onde o aposentado trafegava em seu Ford Ka. � pol�cia, o idoso disse que sofre de glaucoma (les�o no nervo �ptico) e que teve uma perda de vis�o moment�nea. O motorista saiu ileso da batida, mas, com a queda do poste, parte do bairro ficou sem energia durante uma parcela do dia.

Fique atento
1 – Ao aparecimento de doen�as sensoriais: males como a presbiacusia (perda auditiva ligada ao envelhecimento) e a presbiopia, perda visual, podem comprometer a dire��o defensiva e aumentar as chances de acidentes.

2 – Ao comprometimento da cogni��o: o idoso deve ter a capacidade de pensar, tomar decis�es e mecanismos de mem�ria preservados para dirigir.

3 – �s restri��es motoras: n�o s� a agilidade mental, mas as respostas motoras devem ser r�pidas no tr�nsito. Movimentos de bra�os, pernas e cabe�a devem ser bons, bem como a for�a dos membros superiores e inferiores.

4 – � ocorr�ncia de quase acidentes: se situa��es como o quase bateu, quase atropelou, fez uma convers�o raspando o meio-fio s�o frequentes, � um alerta sobre a habilidade e condi��o de o idoso se manter ativo no tr�nsito.

5 – � falsa sensa��o de seguran�a: o idoso percebe que n�o pode mais dirigir em rodovias ou em �reas movimentadas, mas continua dirigindo na vizinhan�a. Estudos internacionais mostram que idosos se acidentam mais perto de casa, de dia, em baixa velocidade, sem beber e convergindo � esquerda.

6 – � necessidade de ter um copiloto: quando o condutor n�o enxerga ou ouve mal e decide andar com uma pessoa que est� com os sentidos em perfeito estado, � um sinal de alerta.

7 – Ao uso de medica��o que interfere nos sentidos: idosos com doen�as cr�nicas, psiqui�tricas ou depress�o podem usar rem�dios que alteram reflexos e devem parar de dirigir durante o tratamento.

8 –  Qualquer altera��o f�sica ou ps�quica deve ser avaliada com o m�dico.

Fonte: Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia – Se��o Minas Gerais


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