
A agenda do serralheiro Valdo Luiz Magalh�es, que tem clientela em bairros da Zona Sul de Belo Horizonte, anda cheia. E novas demandas n�o param de chegar: todo dia ele recebe pelo menos um pedido de or�amento para instala��o de grades, port�es de a�o ou conserto de portas em estabelecimentos comerciais na regi�o. Neste m�s, j� foram seis servi�os contratados s� para reparar estruturas danificadas por ladr�es, especialmente nos bairros Sion e Anchieta. Apesar de a Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) afirmar que houve redu��o no n�mero de arrombamentos na capital desde 2012 (de 3,2 mil para 2,8 mil, considerando o primeiro semestre de cada ano), a sensa��o que se percebe ao ouvir lojistas � de medo, motivado por relatos de invas�es rotineiras a estabelecimentos, especialmente nas madrugadas. A apreens�o se estende a outros bairros da Regi�o Centro-Sul. Em alguns, como Funcion�rios e Santo Ant�nio, motoristas tamb�m t�m sido v�timas de arrombamento de ve�culos e o temor � de um encontro cara a cara com criminosos.
“J� fiz servi�o para um chaveiro e um escrit�rio na Rua Gr�o Mogol (Sion), um restaurante na Rua Francisco Deslandes (Anchieta), uma loja de inform�tica na Savassi (Funcion�rios), e sei de outros casos. O trabalho aumentou”, relata o serralheiro Valdo. Um de seus clientes � o chaveiro Andr� Gon�alves, de 32 anos. Em 9 de outubro a pequena loja na esquina das ruas Gr�o Mogol e Montevid�u foi arrombada. “Quebraram a porta de a�o e levaram quase tudo: computador, ferramentas e at� uma caixa de cart�es de visita”, diz ele, que estima o preju�zo em R$ 4 mil. Um novo alarme foi instalado para comunic�-lo de forma instant�nea, no celular, se algo ocorrer. “Al�m de ser v�tima, fa�o reparos com frequ�ncia em fechaduras de ve�culos arrombados nesta �rea”, acrescenta.

A um quarteir�o, a loja de sapatos da empres�ria Joana Paix�o, de 32, hoje mais parece uma fortaleza. O que poderia passar por exagero explica-se pelos �ltimos acontecimentos: em apenas uma semana, foram cinco tentativas de arrombamento. Agora a loja est� protegida por um port�o, na entrada que d� acesso a toda a galeria, um segundo port�o, que tem pontas de ferro e um alarme conectado a um sensor infravermelho, al�m de mais uma porta, refor�ada por grades, alarme e comando eletr�nico, sem contar o interfone, que conta com c�mera. “Ficamos com medo, pois uma hora eles conseguiriam entrar”, diz. Ela � categ�rica ao reclamar da falta de policiamento no Sion, que exp�e moradores � ousadia dos bandidos. “Eu e os demais comerciantes desse quarteir�o estamos acertando a contrata��o de um vigia armado”, anuncia.
No Bairro Anchieta, tamb�m h� problemas na Rua Francisco Deslandes. L�, Carlos Roberto de Almeida, de 34, gerente de um restaurante, precisou mandar consertar a porta de a�o danificada no �ltimo dia 15, quando ladr�es levaram bebidas e computadores. Para o presidente da associa��o dos moradores do bairro (Amoran), Paulo Omar Nascimento, a situa��o n�o � diferente das demais regi�es da cidade, onde h� ocorr�ncias diariamente e a pol�cia n�o d� conta da demanda. O representante dos moradores afirmou que o posto da PM na Rua Joaquim Linhares funciona apenas das 7h �s 23h, por falta de efetivo.
O major Roberto C�mara, comandante da 127ª Companhia da PM e respons�vel pelos bairros Sion e Anchieta, sustenta n�o haver aumento de arrombamentos na regi�o, apesar de n�o informar os n�meros relativos � criminalidade nos dois bairros. Segundo ele, a mobiliza��o de um grupo de 14 motociclistas para servir ao 22º Batalh�o contribuiu para aumentar a seguran�a. Sobre a situa��o em postos, ele garantiu que o policiamento � mais eficaz fora da unidade. “No caso do Anchieta, n�o h� demanda da popula��o depois das 22h. Por isso, o resultado � melhor empregando o militar para patrulhar as ruas.”
Carros tamb�m est�o no alvo
Os roubos em bairros da Zona Sul n�o d�o preju�zos apenas a lojistas. Seus clientes tamb�m s�o frequentemente surpreendidos por ladr�es. Uma das v�timas foi o estudante de direito �lvaro Marra, de 20, que teve seu Ford Ka aberto duas vezes em apenas uma semana, em agosto. A primeira foi na Rua Congonhas, no Bairro Santo Ant�nio. Ele sa�a de uma boate por volta das 3h30, quando encontrou o ve�culo com a porta escancarada. “Levaram perfume, a carteira com R$ 200, roupas, um par de sapatos, c�mera fotogr�fica, at� bichinho de pel�cia”, conta. O preju�zo incluiu o dinheiro gasto para consertar a fechadura. “Na mesma rua, havia pelo menos outros quatro carros arrombados.” No s�bado seguinte, �lvaro saiu de um bar na Rua Levindo Lopes, na Savassi, e voltou a encontrar o carro com a porta aberta. Dessa vez, pelo menos, n�o havia nada dentro do ve�culo. Apesar do aborrecimento, ele n�o prestou queixa dos incidentes.
O professor �ngelo Bagni, de 31, foi outra v�tima. Ele teve seu Fiat Uno arrombado h� cerca de quatro meses, na Rua Nunes Vieira, no Bairro Santo Ant�nio. Por volta das 9h de um s�bado, logo ap�s sair do cursinho onde d� aula, ele achou o ve�culo escancarado. “Quebraram o vidro e levaram minha mochila, com um notebook”, recorda ele, que registrou boletim de ocorr�ncia, mas n�o teve os pertences recuperados. “Desde ent�o, n�o deixo mais nada no carro”, afirma.
A Seds n�o informou o n�mero de arrombamentos de ve�culos na Regi�o Centro-Sul, mas o tenente-coronel Alfredo Veloso, comandante do 22º Batalh�o da PM – respons�vel por bairros como S�o Pedro, Santo Ant�nio, S�o Bento e Mangabeiras – reconhece que o problema � frequente. “� recorrente, em fun��o da grande quantidade de ve�culos nas ruas. H� uma concentra��o significativa de bares e casas noturnas. Mas, considerando essas condi��es, acreditamos que o problema est� sob controle”, afirma.