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Estado de Minas

Mineiros dependentes de crack aderem ao ch� de iboga para cura do v�cio

Eles dizem ter se livrado do v�cio ap�s tratamentos em cl�nicas de SP. M�dicos alertam para falta de pesquisas sobre a raiz e dizem que h� efeitos colaterais perigosos


postado em 27/07/2014 00:12 / atualizado em 27/07/2014 09:16

Sandra Kiefer

A raiz importada da África é triturara e o pó misturado com água (foto: Beto Magalhaes/EM/D.A Press.)
A raiz importada da �frica � triturara e o p� misturado com �gua (foto: Beto Magalhaes/EM/D.A Press.)
Desesperados para se livrar do crack, dependentes qu�micos e familiares de Minas Gerais est�o buscando o tratamento alternativo do ch� de iboga em cl�nicas de recupera��o no interior de S�o Paulo e em Curitiba. A dose, �nica, custa entre R$ 4 mil a R$ 10 mil e n�o requer a interna��o do paciente. Apesar da falta de comprova��o cient�fica e dos riscos existentes de ministrar subst�ncia sem registro na Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria (Anvisa), os viciados em drogas pesadas, como coca�na e crack, recorrem ao uso desse fitoter�pico, que seria capaz de eliminar a vontade de usar drogas e a s�ndrome de abstin�ncia (fissura).

Relatos obtidos pela equipe de reportagem do Estado de Minas chegam a atribuir � iboga o poder de ‘cura’, de ‘renascimento’, de ‘apagar o passado’. “� uma sensa��o deliciosa acordar sem a menor vontade de usar droga, sem medo da reca�da. A vontade simplesmente apagou-se da minha mente”, comemora o dono de bancas de jornais Wagner do Patroc�nio, de 43 anos. Em fun��o do envolvimento com o crack, Wagner caiu na sarjeta – usava at� 20 pedras por dia. Ele passou um ano internado, em duas cl�nicas mas continuou com reca�das.

H� tr�s meses, Wagner aceitou experimentar a iboga por influ�ncia da mulher, Angela Chaves, que descobriu a novidade em SP. “Bebi um p� parecido com canela, misturado na �gua. Na hora, � preciso deitar porque a gente perde o jogo das pernas. Depois, come�a a ‘ver’ um monte de cenas ruins. Pessoas sendo esfaqueadas, coisas com chifres, bichos. A sensa��o dura umas cinco horas. Depois, voc� toma a segunda dose. Os pensamentos ruins somem e v�m coisas boas, como anjos”, revela ele, que recomendou o tratamento ao colega Jo�o Paulo Barbosa Neto, de 34 anos (leia Depoimento). “Voltei a ter vida social com minha mulher e minha filhinha”, diz Wagner.

O psiquiatra Dartiu Xavier, diretor do Programa de Orienta��o e Atendimento a Dependentes de Drogas da Universidade Federal de S�o Paulo (Unifesp), aplicou a dose de iboga a 75 volunt�rios. Do total, 51% dos pacientes conseguiram largar a depend�ncia qu�mica. “A taxa de sucesso � alta. Chega a ser 10 vezes maior em rela��o � m�dia de 5% de recupera��o registrada nas interna��es em comunidades terap�uticas”, compara o psiquiatra.

 Este semestre, o psiquiatra dar� entrada no Comit� de �tica da Unifesp com protocolo de estudo cient�fico, in�dito no pa�s, na tentativa de comprovar a efic�cia do uso da iboga no controle da depend�ncia qu�mica em �lcool e drogas. Caso seja aprovado, o ensaio cl�nico dever� comparar a rea��o dos viciados em crack, divididos no grupo que vai ingerir placebo e no outro, que receber� a f�rmula original. “Mas os resultados ser�o a m�dio prazo”, alerta o pesquisador. N�o h� previs�o de que, quando finalizados os trabalhos, a iboga possa ter autoriza��o para ser usada como medica��o controlada no Brasil.

Uso perigoso
Com forma��o em homeopatia, o psiquiatra Alo�zio Andrade alerta que j� � velha conhecida da medicina a t�cnica de propor aos pacientes a substitui��o de uma droga por outra. “� mais f�cil e r�pido abrir m�o de uma subst�ncia nova do que da outra que j� est� usando h� muitos anos. O que se faz � quebrar o ciclo vicioso do paciente, com a mudan�a do paradigma”, explica o m�dico. Segundo Andrade, que desconhece o uso da iboga em Minas Gerais, este papel costuma ser atribu�do a alucin�genos ligados a rituais, sendo os mais populares a ayuaska e a mescalina.

Para Andrade, toda subst�ncia que age no sistema nervoso central pode desencadear quadros psiqui�tricos e tamb�m neurol�gicos nos pacientes, como por exemplo convuls�es. “Sem estudos cient�ficos, n�o h� clareza sobre a dose correta a ser oferecida por quilo de peso”, diz.

Wagner do Patrocínio(foto: Beto Magalhaes/EM/D.A Press.)
Wagner do Patroc�nio (foto: Beto Magalhaes/EM/D.A Press.)
Assim como Andrade, o psiquiatra ga�cho F�lix Kessler admite nunca ter testado a iboga em seus pacientes. Professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o psiquiatra F�lix Kessler desconfia, por princ�pio, de promessas r�pidas de cura para a depend�ncia qu�mica. “Quem dera eu tivesse um rem�dio que pudesse dar aos meus pacientes na cl�nica. Descobriram que o tratamento alternativo d� bastante dinheiro e a onda de que a iboga�na cura o crack est� pegando”, avalia o m�dico, para quem a melhor receita continua sendo o tratamento a longo prazo, com abordagem multidisciplinar e grupos de autoajuda. “O maior desafio � estimular o craqueiro a dar continuidade ao tratamento. � uma doen�a cr�nica como o diabetes – quem a tem enfrenta dificuldades para evitar doces”, completa.

Segundo a Anvisa, n�o h� nenhum medicamento registrado no Brasil com o princ�pio ativo iboga�na. Dessa forma, a atribui��o de alega��es terap�uticas a este produto � ilegal, j� que n�o h� essa comprova��o no Brasil. Entretanto, � leg�tima a importa��o de medicamentos sem registro no Pa�s, desde que para uso apenas pessoal e amparada pela prescri��o de um m�dico que se torna o respons�vel pelo uso do produto.

Spa explora brechas na legisla��o


 “Por uma brecha na lei brasileira, consigo trabalhar com a iboga na forma de ch�”, afirma o psicanalista cl�nico Gadyro Nakaya, dono do Spa Reabilit, em Aruj�, no interior paulista. O spa � uma das entidades que trabalham com a subst�ncia. Amparado por cinco advogados, Nakaya j� est� importando mudas do arbusto no continente africano. Ele acredita no potencial de cura da planta que, criada em condi��es especiais na estufa em SP, ainda deve levar em torno de 10 anos para come�ar a produzir.

Ex-dependente qu�mico de hero�na, Nakaya diz ter se submetido a 40 interna��es no passado e que s� conseguiu se livrar do v�cio ap�s conhecer a subst�ncia. Ele garante que, em quatro anos, j� “ibogou” centenas de pessoas em SP, inclusive artistas de tev� e m�sicos. “Acolhi um casal que passou a morar aqui comigo h� um ano. Eles trabalham como caseiros do s�tio. Os dois continuam limpos”, afirma ele. A cl�nica, registrada inicialmente como um spa, conta com cl�nico-geral e psiquiatra.
Antes de tomar a iboga, os pacientes s�o submetidos a uma bateria de exames, que comprovem abstin�ncia de subst�ncias t�xicas de, no m�nimo, sete dias. Depois, assinam um termo de responsabilidade. S� ent�o s�o internados para ingerir a dose, que varia de acordo com o caso. O transe varia de 24 a 36 horas. A compuls�o por drogas cessa ao final da “viagem”.     
No Instituto Brasileiro de Terapias Alternativas (IBTA), em Paul�nea (SP), a atendente informa que � oferecida a iboga junto a terapias e medicina ortomolecular, segundo ela como forma de potencializar o efeito da subst�ncia. O tratamento dura cinco dias, com �ndice de 70% a 80% de recupera��o. “A iboga corta a vontade de usar a droga, mas a pessoa precisa querer deixar a vida de viciado”, alerta. H� mais de 10 anos no mercado, a Cl�nica Cleuza Canan, de Curitiba (PR) solicitou o envio de perguntas por e-mail. At� o fechamento desta edi��o, por�m, as perguntas n�o haviam sido respondidas.


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