
A tuberculose se agrava e, por indica��o m�dica, Ezequiel Dias decide se mudar com a fam�lia para a rec�m-inaugurada capital de Minas Gerais, na esperan�a de que o clima mais ameno pudesse recuper�-lo. Durante o tratamento, o m�dico e farmac�utico carioca aceita o convite do concunhado Oswaldo Cruz – eles eram casados com duas irm�s – para dirigir uma filial em Belo Horizonte do Instituto Manguinhos, com sede no Rio de Janeiro, atual Funda��o Oswaldo Cruz (Fiocruz). A hist�ria da Funda��o Ezequiel Dias (Funed) come�a, ent�o, no ano 1907, em uma casar�o na Rua da Bahia. A institui��o p�blica, que completou este m�s 107 anos, � hoje refer�ncia no pa�s no desenvolvimento de soros, vacinas e medicamentos para o Sistema �nico de Sa�de (SUS), al�m de an�lises laboratoriais.
“Ezequiel Dias � um vision�rio por ter criado uma institui��o onde havia muita incid�ncia de acidentes com animais pe�onhentos”, relembra a diretora de pesquisa da Funed, Ester Margarida Bastos. Na �poca, Belo Horizonte registrava altos �ndices de mordeduras de cobras e picadas de escorpi�o, o que amedrontava a popula��o. O m�dico percebeu, portanto, que seria importante descobrir uma solu��o urgente para o problema. Inaugurado em 1918, o servi�o marcou tanto a institui��o que ela acabou popularmente conhecida como “Instituto das Cobras”. Atualmente, a Funed mant�m 200 exemplares de 10 esp�cies de cobras e mais de quatro mil escorpi�es para a extra��o de venenos usados para fazer soros antiof�dicos. Como os outros tr�s laborat�rios fabricantes no pa�s – Instituto Butantan, em S�o Paulo; Instituto Vital Brazil, no Rio de Janeiro; e Centro de Produ��o e Pesquisa de Imunobiol�gicos (CPPI), no Paran� –, est�o passando por ajustes, este ano a institui��o mineira participar� de toda a produ��o.

Mas o trabalho da Funed n�o se restringe a soros antiof�dicos. H� 27 anos na institui��o, a diretora de pesquisa come�ou como estagi�ria no laborat�rio onde eram realizadas as an�lises microsc�picas de alimentos de origem vegetal. Ester era aluna do curso de biologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e se especializou em produtos ap�colas. No Laborat�rio Central de Sa�de P�blica de Minas Gerais (Lacen), a equipe analisa alimentos, �gua, medicamentos, cosm�ticos, produtos de limpeza, entre outros. “O legado de Ezequiel Dias foi deixar em Minas uma funda��o com voca��o para ci�ncia e tecnologia aplicada � sa�de. Somos uma pot�ncia pelo que produzimos de conhecimento e produtos”, avalia Ester.
O presidente da Funed Francisco Ant�nio Tavares J�nior destaca que a miss�o da institui��o, que come�ou como centro de pesquisa, � participar da constru��o do SUS, protegendo e promovendo a sa�de. “A Funed executa com excel�ncia exames laboratoriais para o Sistema Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria e foi eleita como laborat�rio modelo no pa�s. Isso nos orgulha e nos honra muito porque, sem a retaguarda, a Secretaria de Estado de Sa�de n�o cumpriria esse papel”, comenta o gestor p�blico. N�o � por acaso que o nome da funda��o � sempre citado quando se descobre surto de gripe su�na: ela � o �nico laborat�rio p�blico em Minas Gerais respons�vel pelo diagn�stico de H1N1. O Lacen � refer�ncia no diagn�stico de doen�as de notifica��o compuls�ria, como leishmaniose, dengue, febre amarela e doen�a de Chagas.

NOVOS PROJETOS Quatro unidades s�o respons�veis pela produ��o industrial da Funed, que n�o se restringe ao �mbito estadual, embora seja ligada ao governo de Minas. Em parceria com o laborat�rio Novartis, a institui��o participa da fabrica��o de vacinas para meningite C em todo o pa�s. S�o 14 milh�es de doses produzidas por ano para suprir o calend�rio de vacina��o do Minist�rio da Sa�de. “Tamb�m � motivo de orgulho poder de alguma forma contribuir para reduzir a preval�ncia dessa doen�a”, diz Tavares. A Funed � o �nico produtor do pa�s de talidomida, medicamento usado no tratamento de hansen�ase e l�pus e com potencial para tratar outras doen�as, incluindo o c�ncer. Al�m disso, tem participa��o significativa na fabrica��o de antirretrovirais, drogas indicadas para pacientes com AIDS.
Assim como outros laborat�rios p�blicos, a Funed n�o vai mais se limitar a medicamentos b�sicos, como analg�sicos e antidepressivos. “Os laborat�rios oficiais guardam para o que � mais estrat�gico para SUS e n�o querem concorrer com os privados com produtos que viraram commodities”, esclarece Tavares. At� 2009, quando a Funed focava em medicamentos b�sicos, a receita n�o passava de R$ 30 milh�es. Dois anos depois, quando come�ou a incorporar outros produtos, o faturamento chegou a R$ 340 milh�es. A expectativa para este ano � bater recorde hist�rico. A mais recente amplia��o da sede no Bairro Gameleira ser� um dos respons�veis pelo aumento da receita. At� o fim do ano, a Funed deve inaugurar a f�brica, cujo projeto se iniciou h� oito anos, para a produ��o de medicamentos biol�gicos, feitos a partir de c�lulas vivas. Tamb�m faz parte dos planos produzir drogas oncol�gicas e rem�dios fitoter�picos.
