Junia Oliveira

O ano letivo mal come�ou, mas em sala a li��o mais importante da vez j� est� sendo dada: uma aula contra o desperd�cio. Em v�rias escolas de Belo Horizonte, o assunto do retorno n�o foram as viagens e brincadeiras das f�rias. A escassez de �gua roubou a cena e tomou conta das rodas de conversas e dos primeiros ensinamentos dos professores. Nos pr�ximos dias, as institui��es p�em em pr�tica uma s�rie de projetos para incentivar os estudantes de todas as idades a consumir de forma consciente, evitar gastos exagerados e repassar para a fam�lia esse aprendizado t�o precioso.
Foi o primeiro dia de aula dos pequeninos do ensino fundamental do Col�gio Magnum, no Bairro Cidade Nova, na Regi�o Nordeste da capital. Na turma da professora Roselane Domingues, eles entraram no ritmo com uma tarefa para l� de importante: fazer uma manual de etiqueta, listando sete dicas para economizar �gua. Com os alunos em roda, ela perguntou qual � o problema enfrentado na atualidade. Prontamente, os meninos responderam falta d’�gua. Entre as hip�teses indicadas como raz�es, estavam desperd�cio, polui��o, desmatamento e falta de chuva. Questionada sobre os motivos do desperd�cio, a crian�ada n�o teve d�vida em culpar o gasto excessivo das pessoas.
O manual ficou completo com as dicas de cada um: coletar �gua de chuva para lavar cal�adas e partes da casa; fechar a torneira ao escovar os dentes ou ensaboar; reutilizar a �gua da m�quina de lavar, que s� deve ser ligada depois de se juntar muita roupa; n�o demorar no banho; n�o limpar as cal�adas com �gua; diminuir a lavagem dos carros e usar um pano.
“Isso entraria na minha aula de qualquer maneira, mas os meninos surpreendem, logo no primeiro dia. Eles t�m muito contato com a informa��o dos meios de comunica��o, o que casa com nosso objetivo de formar a ideia do que � ser sustent�vel”, diz Roselane.
Pedro Viggiano Couto, de 6 anos, soube da crise de �gua pelos pais. “Achei mesmo que poderia ocorrer um dia, porque est�vamos gastando muito”, afirma. Em casa, ele conta que est� usando menos �gua e tomando banhos r�pidos: “A situa��o vai melhorar se todo mundo contribuir”. A colega dele, Marina de Paula Drumond, de 6, est� preocupada com o aviso na portaria do pr�dio informando sobre a falta de luz durante toda a manh� de hoje.
Para ela, isso � efeito da escassez h�drica: “Sempre que saio do quarto ou da sala, apago a luz”. A garota leva a s�rio a economia de �gua. Antes, tomava banho demorado. Agora, aprendeu que deve ser mais r�pida. Quando n�o usa o chuveiro, o desliga. E para escovar os dentes, passa o creme, molha a escova e fecha a torneira. Mariana acredita que h� um longo caminho ainda: “As pessoas est�o melhorando, mas ainda falta muito para ter mais �gua”.
Redu��o Na Escola Estadual M�rio Casassanta, no Bairro Nova Granada, na Regi�o Oeste, o in�cio do ano letivo tamb�m serviu para conscientizar os 190 alunos do 1º ao 5º ano do ensino fundamental. A primeira li��o foi sobre o uso das torneiras – o col�gio est� instalando equipamentos com temporizador –, al�m do apelo para lavar as m�os com elas fechadas e para n�o desperdi�ar �gua ao beber. A escola desativou o segundo bebedouro. Uma das grandes apostas para o curto prazo � o projeto feito com o professor de educa��o f�sica para captar �gua da chuva.
A diretora Joyce J�lia Gon�alves diz que entre os meninos de 6 anos o desafio � grande, embora eles entendam o significado da economia. “H� muitas d�vidas, porque � dif�cil para eles compreender o que � racionar”, avalia. Na semana do carnaval, os tradicionais baile e banho de mangueira foram cancelados. “Estamos mudando toda a rotina e eles j� percebem. Temos de tentar, pois a nossa proposta � formar integralmente o ser humano.”
Professora do 4º ano do Col�gio ICJ, no Bairro Nova Su��a, na mesma regi�o, tamb�m iniciou as aulas de 2015 conversando com os estudantes sobre um novo projeto e a preocupa��o da conscientiza��o, mesmo sendo a �gua um tema que j� faz parte do curr�culo da escola. A ideia � levar as turmas para visitas did�ticas � Copasa e � Cemig. Os textos que tratam do tema tamb�m foram minuciosamente escolhidos para compor o livro de portugu�s e fazer frente ao conte�do ensinado em outras disciplinas.
Em casa, al�m de levar os ensinamentos para a fam�lia, a tarefa ser� tamb�m produzir gr�ficos e panfletos para ter, na pr�tica, a dimens�o do problema e da import�ncia da conscientiza��o. “Quando falamos com crian�a, parece que tudo fica mais s�rio. Eles levam para os pais e os vizinhos e t�m atitudes pr�ticas no dia a dia.”