(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Hansenianos da ex-Col�nia Santa Isabel ter�o encontro com o Papa

Grupo ter� uma audi�ncia dia 17 com o pont�fice. Religioso, que j� citou a lepra em suas prega��es, deve ajudar a quebrar o estigma e o preconceito contra a doen�a


postado em 12/06/2015 06:00 / atualizado em 12/06/2015 07:51

"Estava gr�vida e a pol�cia sanit�ria me tirou de casa e me levou para o lepros�rio. Minha filha, quando nasceu, foi retirada imediatamente de mim e colocada num dispens�rio, orfanato cont�guo ao sanat�rio. S� podia v�-la pelos vidros, sem ter contato", Ant�nia Barroso, ex -interna da Col�nia Santa Isabel, olha a foto da filha In�s, com a qual se reencontrou 35 anos depois (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)

No dia 17, a ex-Col�nia Santa Isabel, que chegou a isolar 5 mil pacientes de hansen�ase em um espa�o fechado de Betim, na Grande BH, vai enviar representante a Roma para falar diretamente com o papa Francisco, na sala de audi�ncias Jo�o Paulo VI, no Vaticano. “Vamos pedir ao papa para que ele abrace os hansenianos do seu tempo. Pare de usar o termo “lepra” para designar coisas muito ruins, como j� fez no in�cio do seu pontificado, ao se referir � pedofilia e � corrup��o no banco do Vaticano”, observa Thiago Flores, diretor nacional do Movimento de Reintegra��o das Pessoas Atingidas por Hansen�ase (Morhan). Ele ter� a companhia de uma comiss�o brasileira, formada por cinco integrantes do movimento, al�m de frades franciscanos, que atuam desde 1931 no combate � hansen�ase no pa�s.

A esperan�a do Morhan � que abertura demonstrada pelo papa Francisco na aceita��o de diversas quest�es poder� ajudar a reverter o estigma da hansen�ase, propagado por meio de par�bolas b�blicas. “Mesmo sem saber, toda vez que usa o termo, o papa traz sofrimento e discrimina��o a milhares de pessoas que ele talvez nem conhe�a. A palavra dele � importante porque repercute no mundo inteiro”, diz Flores.

No Brasil, no Jap�o e em Cuba, a palavra j� foi substitu�da por hansen�ase ou mal de Hansen, nome do cientista que descobriu a cura da doen�a. Com o tratamento, a hansen�ase n�o � contagiosa nem deixa sequelas nas m�os e nos p�s, como ocorria antes. Na acep��o real, lepros, em grego, n�o quer dizer nada al�m de manchas na pele. Desde 2013, no �ltimo Congresso Mundial de Leprologia, ocorrido na B�lgica, a comunidade acad�mica recomendou a utiliza��o da palavra hansen�ase, no lugar da terminologia anterior. Em alguns pa�ses europeus, entretanto, o termo ainda � empregado.

Colônia chegou a isolar 5 mil pacientes: hansenianos vão pedir ao papa Francisco para não usar mais o termo 'lepra' para se referir a coisas ruins no Vaticano(foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)
Col�nia chegou a isolar 5 mil pacientes: hansenianos v�o pedir ao papa Francisco para n�o usar mais o termo 'lepra' para se referir a coisas ruins no Vaticano (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)

Um dos argumentos a ser usados para sensibilizar o papa tem origem no nome Francisco, escolhido por ele para batizar o seu papado. O beijo no leproso � um dos epis�dios mais marcantes na vida de Francisco de Assis, o santo que ensinou, em sua famosa ora��o, que “� perdoando que se � perdoado”. “Conta a hist�ria que, antes de se converter, Francisco de Assis tinha ojeriza a leprosos. Ele iniciou o processo de mudan�a ao abra�ar e beijar um paciente coberto de feridas. Talvez o papa possa vir a fazer o mesmo em rela��o a nossa causa”, completa Flores, lembrando que, em 1981, na vinda ao Brasil do papa Jo�o Paulo II, o pont�fice esteve em uma ex-col�nia de hansenianos no Par�.

Durante a ida a Roma, o grupo pretende tamb�m convidar o papa Francisco a visitar uma ex-col�nia de hansen�ase, na pr�xima vinda ao Brasil, em 2016. No ano que vem, a doen�a ser� indiretamente abordada na campanha da fraternidade, que ter� o saneamento b�sico como tema. Ainda hoje, o Brasil � o primeiro do mundo em n�mero de novos casos de hansen�ase, doen�a ligada a condi��es prec�rias de moradia, esgoto e alimenta��o. A diferen�a � que, atualmente, existe tratamento.

NEGOCIA��ES
As negocia��es para conseguir marcar um encontro com o papa iniciaram-se h� cerca de nove meses. Os primeiros contatos foram feitos a partir do grupo internacional criado para discutir a hansen�ase, patrocinado pela Nippon Foundation. Diversos protocolos foram feitos pela entidade japonesa. O Jap�o foi o primeiro pa�s a reconhecer por meio judicial o direito ao pagamento de indeniza��o aos portadores de hansen�ase confinados. Naquele pa�s, a pol�tica foi levada �s �ltimas consequ�ncias, com a proibi��o de os pacientes terem filhos nas col�nias. Caso isso ocorresse, era feito o aborto da crian�a. No Brasil, at� a metade do ano passado, j� tinham sido pagas 9 mil indeniza��es, entre 15 mil reivindica��es. O benef�cio foi concedido com a Medida Provis�ria 373, de 2007, editada pelo ent�o presidente Luiz In�cio Lula da Silva.

Outra frente aberta pelo Morhan para chegar ao papa contou com o apoio do Servi�o Interfranciscano de Justi�a, Paz e Integridade da Cria��o (Sinfrajupe), que mant�m escrit�rio em Roma. A agenda foi obtida com a interfer�ncia pessoal de dom Jos� Belis�rio, vice-presidente da CNBB. O frade permaneceu por uma semana na ex-col�nia do Bonfim, em S�o Lu�s do Maranh�o, estado que registra o maior foco do problema. “Habemus papa!”, comemorou, finalmente, o representante do Morhan, ao receber a autoriza��o oficial para a reuni�o com o papa, em documento enviado em italiano e em portugu�s, assinado pelo N�ncio Apost�lico.

Preven��o � hansen�ase deixou filhos se colo

A pol�tica de preven��o da hansen�ase foi baixada em 1931 no Brasil. Minas Gerais era o estado com o maior n�mero de col�nias de hansenianos, incluindo a Col�nia Santa Isabel, de Betim, a maior do pa�s. Passados 90 anos, at� agora os filhos e netos de portadores da doen�a evitaram contar suas hist�rias, que beiram o desespero. Os depoimentos s�o comoventes. Sob o estigma da lepra, gera��es inteiras cresceram sem colo de m�e, la�os de fam�lia foram cortados e irm�os viveram como estranhos.

Aos 80 anos, a moradora da ex-Col�nia Santa Isabel Ant�nia Barroso relata a sua hist�ria: “Estava gr�vida e a pol�cia sanit�ria me tirou de casa e me levou para o lepros�rio. Meu marido se suicidou, e minha filha, quando nasceu, foi retirada imediatamente de mim e colocada num dispens�rio, orfanato cont�guo ao sanat�rio. S� podia v�-la pelos vidros, sem ter contato”. A filha, In�s, desapareceu, e ela s� a reencontrou 35 anos depois. Ant�nia se internou em 1960 e, dois anos depois, j� estava curada da doen�a. Restaram dois dedos atrofiados na m�o direita.

SEPARA��O E REENCONTRO At� a d�cada de 1980, a pol�tica de isolamento dos pacientes era a �nica forma de preven��o do cont�gio pela hansen�ase. Em nome da sa�de, milhares de hansenianos foram separados de suas fam�lias. Cada beb� que nascia era levado para longe dos pais, j� no parto, para evitar a contamina��o. “Vamos pedir tamb�m o apoio do papa para o Projeto Reencontro, que quer reaproximar os filhos separados dos seus pais. A proposta de cruzar os DNAs dos ex-pacientes foi inspirada no movimento das Av�s da Pra�a de Maio, da Argentina, separadas dos familiares pela ditadura. Por ser argentino, o papa conhece bem essa hist�ria”, compara o diretor nacional do Movimento de Reintegra��o das Pessoas Atingidas por Hansen�ase (Morhan), Thiago Flores.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)