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Estado de Minas

Cursos d'�gua atingidos pela onda de lama agonizam

Agora, transportam transtorno e amea�as de doen�as


postado em 14/11/2015 06:00 / atualizado em 14/11/2015 11:09

O Rio Doce no Espírito Santo, onde a mancha chegou afetando o abastecimento humano(foto: Fred Loureiro/Secom-ES/Divulgação)
O Rio Doce no Esp�rito Santo, onde a mancha chegou afetando o abastecimento humano (foto: Fred Loureiro/Secom-ES/Divulga��o)

Mariana, Barra Longa, Governador Valadares e Naque – O olhar de Viviane Siqueira, de 35 anos, clama por socorro enquanto ela observa, incr�dula, o tsunami de lama causado pelo estouro de duas barragens da Samarco, na �rea rural de Mariana, causando a maior devasta��o ambiental de Minas Gerais, com reflexos graves at� o Esp�rito Santo. Especialistas sustentam que mais de 100 nascentes foram soterradas e que a recupera��o do ecossistema consumir� d�cadas e pode nunca ser total.
A cat�strofe contaminou o Rio Doce, o maior do Sudeste brasileiro, com 853 quil�metros de extens�o, conforme an�lise encomendada pelo Servi�o Aut�nomo de �gua e Esgoto (Saae) de Baixo Guandu (ES), cidade que faz divisa com Minas. Indignado, o presidente do departamento, Luciano Magalh�es, concluiu: “Podemos afirmar que o Doce est� morto”.


Os rejeitos de min�rio avan�aram cerca de 500 quil�metros pelo leito, causando desabastecimento de �gua, mortandade de peixes e outros animais e colocando em risco empregos de pessoas que trabalham em atividades dependentes do rio. Na vis�o do professor Fl�vio Pimenta Figueiredo, pesquisador em recursos h�dricos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), os danos ao meio ambiente causados pelo rompimento das barragens poder�o demorar mais de meio s�culo para serem recuperados.
“Todo o bioma foi atingido: vegeta��o, fauna e flora. Vai demorar no m�nimo 50 anos para que o meio ambiente volte �s condi��es de antes nas regi�es afetadas”, acredita Figueiredo. Para Magalh�es, o diretor do Saae em Baixo Guandu, o retorno da capta��o de �gua no Rio Doce para o abastecimento humano pode demorar at� um ano, devido ao n�vel de contamina��o. Uma das cidades que sofrem com a trag�dia � Governador Valadares, a maior do Leste de Minas e um dos pontos de coleta de amostras do Saae capixaba.
“Antes enfrent�vamos a crise h�drica. Agora, uma crise h�drica maior, e polu�da”, criticou o diretor do Comit� da Bacia Hidrogr�fica do Rio Doce, Carlos Alberto Silva. Ele estima que a lama tenha  soterrado mais de 100 nascentes, em uma extens�o de 100 a 120 quil�metros. O especialista destaca ainda que os rejeitos destru�ram matas ciliares em faixas de 50 a 100 metros em cada lado das margens.

CAMINHO O primeiro rio a servir como uma esp�cie de estrada para o rejeito foi o Gualaxo do Norte, que nasce em Ouro Preto e corta a �rea rural de Mariana, onde foi invadido pelos rejeitos de min�rio. De l�, o Gualaxo segue para Barra Longa, onde Viviane colecionava incont�veis hist�rias de pescarias: “Havia muitos peixes”. A fam�lia dela tamb�m usava as �guas do rio para saciar a sede das cria��es de pato e galinhas. “A lama matou umas 200 de nossas aves”, lamenta Viviane. Ela e o filho, Jo�o V�tor, de 6, agora usam m�scaras de pano para se protegerem do p� de min�rio despejado pelo Gualaxo do Norte na cidade.
� em Barra Longa que o rio des�gua no Carmo, onde capivaras que viviam �s suas margens foram mortas pela for�a da lama. “Para se ter ideia, os rejeitos entraram contra a correnteza do Rio do Carmo por cerca de cinco quil�metros. Vi muito peixe agonizando, morrendo”, afirmou Ant�nio Ladim, servidor p�blico e vereador em Barra Longa.
A lama que chegou a Barra Longa pelo Gualaxo do Norte seguiu pela regi�o no leito do Carmo, que des�gua no Piranga. Do encontro desses dois, nasce o Rio Doce, onde a situa��o ganhou maior visibilidade em decorr�ncia de sua extens�o. O manancial corta o Vale do A�o, onde um grupo de 40 pescadores de Naque e cinco vizinhas estudam como ajuizar uma a��o na Justi�a contra a mineradora, pedindo indeniza��o por lucro cessante – preju�zo causado pela interrup��o de atividade. “A situa��o � de calamidade. Vamos pedir indeniza��o para resguardar as comunidades, que ficar�o meses – quem sabe anos – sem alimentar suas fam�lias”, alertou a advogada Tatiana Guash.
O alerta de risco pelo risco de doen�as causadas pela trag�dia preocupa muita gente. Especialista em sa�de e em meio ambiente, o fundador do Projeto Manuelz�o, o m�dico Apolo Heringer Lisboa, alerta que a popula��o sentir� os efeitos do desastre ecol�gico por bastante tempo. “Haver� chuvas que v�o levantar a lama de novo. O que est� �s margens dos rios ser� lavado. J� com o sol quente, como agora, surge a poeira. Essa poeira pode entrar no pulm�o, na corrente sangu�nea...”
O Instituto Mineiro de Gest�o das �guas (Igam) informou que realiza “uma s�rie de an�lises preliminares sobre a situa��o das �guas”. Contudo, continua o �rg�o, o laudo definitivo s� ser� divulgado depois de compara��es entre os testes. “� um risco a divulga��o de informa��es isoladas, como n�veis de metais”, justificou o Igam.

‘A mineradora pescou tudo’

Governador Valadares e Naque – “Tenho 50 anos de beira de rio. Vi descer peixe morto de tamanho que nunca pesquei na vida. A mineradora passou e pescou tudo.” O lamento � do pescador Alo�sio Miranda Diogo, de Naque, uma das cidades � margem do Rio Doce que sofrem com a polui��o causada pela lama das barragens da mineradora Samarco, que matou toneladas de peixes nos �ltimos dias. Alo�sio � um dos seis pescadores profissionais da cidade que, depois de terminar a piracema, em fevereiro do ano que vem, n�o sabem o que v�o fazer, j� que o barro n�o para de escoar rumo � foz.
Uma semana se passou desde que o rejeito de min�rio elevou o n�vel do rio, obrigando a Represa de Candonga, no munic�pio de Rio Doce, a abrir as comportas, liberando o material que arrastou o que tinha pela frente. Sobretudo os peixes, que nesta �poca do ano sobem rumo �s nascentes para desovar. A reportagem do Estado de Minas voltou a percorrer trechos do rio e n�o se v� melhora em rela��o ao come�o da semana, j� que a �gua continua vermelha e barrenta, situa��o agravada pelo mau cheiro do apodrecimento dos peixes. A popula��o continua sofrendo, seja com a falta de �gua, seja com a paralisa��o de empresas e pequenos empreendimentos.
Em Naque, munic�pio de 6 mil habitantes, no Vale do A�o, o desastre mudou a rotina de muita gente. Uma pequena balsa, que fazia a travessia de fam�lias e estudantes, parou e a �nica op��o foi a canoa, guiada pelo canoeiro Ant�nio Martins, que chega a fazer cinco travessias em um dia. “D� tristeza, o cheiro na margem est� piorando por causa do sol, a gente n�o sabe quando tudo vai melhorar”, afirmou Eliene Gomes, monitora de uma escola municipal. N�o bastasse o transtorno, as fam�lias correm risco j� que a rota � feita sem coletes salva-vidas. (RD)


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