O cupido virtual est� � solta, unindo cora��es conectados na internet. Basta um clique em aplicativos de paquera para que a tela dos celulares se torne uma sala de encontro de pessoas � procura de um par. Seja para uma sa�da casual ou para relacionamentos duradouros, essas ferramentas digitais v�m progressivamente ocupando o lugar da velha troca de olhares, do perfume que fica no ar e do h�lito sentido durante a conquista.
A azara��o n�o precisa mais, necessariamente, ocorrer em bares, baladas, na universidade ou em festas com turmas de amigos. De casa, do trabalho, da rua, enfim, de qualquer lugar, � poss�vel, com o celular na m�o, dar o primeiro passo para uma conversa que resulta em uma sa�da casual, namoro e at� mesmo em casamento. O Estado de Minas conversou com casais, foi �s ruas checar como a paquera virtual funciona e constatou: os aplicativos s�o, de fato, uma febre no campo dos relacionamentos.
Essa mudan�a de comportamento foi constatada em pesquisa da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos. Intitulado Searching for a mate: The rise of the internet as a social intermediary (Procurando por um parceiro: o crescimento da internet como intermedi�rio social), o estudo mostra que, at� o fim da d�cada de 1990, a forma mais comum para os americanos encontrarem seus pares era por meio de amigos, entre colegas de trabalho, em bares e restaurantes, em festas de fam�lia, na universidade, vizinhan�a, no col�gio e at� mesmo na igreja, nessa ordem.
O fim dos anos 1990 e in�cio dos 2000 marcam o nascimento do cupido virtual, que, em linha cada vez mais crescente, pulou para terceira posi��o, atr�s apenas dos meetings entre amigos e das sa�das para bares e restaurantes. � que, muita gente n�o est� mais disposta a sair para baladas, vencer a timidez e se aventurar numa paquera. Al�m do mais, com a possibilidade de conhecer pessoas em aplicativos, � poss�vel vencer fronteiras e escolher um perfil mais pr�ximo daquele que se procura para um relacionamento. Foi o que fizeram o engenheiro civil Fabiano Pires, de 37 anos, e a advogada Karina Alves, de 33, que se conheceram no Tinder, aplicativo com mais de 50 milh�es de downloads no mundo.
Pela ferramenta, mantiveram conversas e, depois de conquistada a confian�a um do outro, sa�ram do ambiente virtual e se encontraram. “Acho que o aplicativo viabiliza uma conversa que, �s vezes, n�o � poss�vel em uma noite, por exemplo. Nas baladas, tem local que n�o d� para conversar por causa do barulho, a ilumina��o e at� mesmo as pessoas, que est�o b�badas”, conta Karina. Os dois est�o juntos h� um m�s, ainda se conhecendo melhor, mas felizes. Fabiano confirma o lado positivo do aplicativo e afirma que n�o estava mais a fim de sair para a balada para encontrar uma namorada.
Uma curtida Com sete meses de namoro, o casal Marcus, de 27, e Camila, de 25, tem mais experi�ncia para afirmar que � poss�vel encontrar um parceiro ideal na internet. Assim como Karina e Fabiano, foi por meio do Tinder que o t�cnico de redes e a bacharel em rela��es internacionais se conheceram. No aplicativo, funciona assim: cada pessoa tem um perfil em que pode postar fotos, informa��es pessoais e prefer�ncias. No caso de Marcus e Camila, bastou um like para que o cupido entrasse em a��o.
O primeiro encontro foi uma ida ao cinema e ocorreu depois de v�rias conversas pelo WhatsApp. E deu tudo certo. Os dois s� confirmaram o clima de romance que j� existia no ambiente virtual. “Claro que � preciso ter muito cuidado para n�o se deparar com uma situa��o complicada”, alerta Marcus. J� Camila destaca a for�a dessas novas ferramentas. “O mundo vive em rede e n�o h� mais como n�o nos adequarmos �s novas tecnologias. Al�m do mais, conhecer uma pessoa na internet � a mesma coisa que conhecer na rua, numa festa ou num encontro de amigos. O risco de encontrar uma pessoa mal-intencionada existe em qualquer lugar”, diz Camila, lembrando que, se voc� n�o gostou das atitudes da pessoa, n�o precisa prosseguir na conversa. “Voc� j� corta na hora.”
Apesar do seu poder de unir as pessoas e de muita gente levar o relacionamento a s�rio, ainda h� quem tenha vergonha de admitir publicamente que o relacionamento teve in�cio por meio de um aplicativo. “Ainda h� muito preconceito, porque tem gente que acha que � ambiente s� pra pega��o”, conta a analista de sistemas Fernanda, de 32, que namora h� oito meses com o empres�rio Ricardo, de 36. “Claro que cada pessoa tem um objetivo. Tem gente que s� quer ficar uma noite, mas h� casos, como o nosso, em que as pessoas d�o certo e ficam juntas. Temos planos de nos casar”, disse Fernanda.
Um desses personagens que preferem o anonimato � um homem de 54 anos que contou ao Estado de Minas sua hist�ria de paix�o virtual. Ele, que buscava um relacionamento duradouro, encontrou no aplicativo Badoo a atual companheira, com quem est� h� um ano e tr�s meses. A prova de que o amor est� em alta entre os dois veio em abril. “Fui transferido para Jo�o Pessoa e ela resolveu vir tamb�m. Cumpriu aviso pr�vio e um m�s depois estava aqui comigo. Vivemos com um apoiando o outro”, afirmou. “Quero casar”, completou.
Relacionamento homoafetivo Entre o p�blico gay, os aplicativos tamb�m fazem sucesso e, do mesmo modo, podem resultar em pega��o ou namoro. Mas, entre homossexuais, uma caracter�stica descrita na pesquisa norte-americana chama a aten��o: a paquera virtual � muito mais frequente entre eles que entre casais heterossexuais. Em primeiro lugar no ranking, essa j� � a forma mais comum de in�cio dos relacionamentos para casais do mesmo sexo.
Foi o que aconteceu com o casal de namorados Thiago Vidigal, de 24 anos, que � jornalista, e o designer gr�fico Kelvin Desmots, de 23 anos. Numa troca de mensagens no aplicativo Hornet, eles ficaram interessados um no outro, conversaram por uma semana, se encontraram e depois de pouco mais de um m�s come�aram a namorar. O relacionamento j� dura oito meses, em clima de amor e confian�a. “Nos damos superbem. O fato de termos nos conhecido na internet n�o muda nada”, conta Thiago, ressaltando que os aplicativos vieram para ficar. Kelvin completa: “� uma nova possibilidade para conhecer pessoas legais para namorar ou fazer amizades na sua cidade ou em qualquer outro lugar."
Entre a internet e a troca de olhares
Mas n�o s� de relacionamento s�rio vivem as redes virtuais de paquera, j� que a pega��o tamb�m “corre solta” nos encontros por meio de aplicativos. Nas conversas com usu�rios dessas ferramentas em bares da Regi�o Centro-Sul da capital, ficou clara essa inten��o. “Se a gente quiser, tem uma mulher pra sair todo dia”, afirmou um deles, que preferiu n�o se identificar. No entanto, apesar do aumento dos encontros casuais, eles est�o atentos aos riscos de roubos e viol�ncia e dizem que abandonaram uma das redes sociais para a paquera porque ela “perdeu a qualidade. Popularizou demais”, se referindo a perfis diferentes das caracter�sticas que buscam em uma parceira.
Isso, no entanto, n�o � problema, pois � cada vez mais frequente o aparecimento de novos aplicativos, que v�o ganhando ades�o com o passar do tempo. “O que est� em alta agora � o Happn, que marca pessoas com as quais voc� cruzou em seu percurso”, contou um analista de sistemas, que prefere n�o se identificar. E apesar da constata��o un�nime entre usu�rios de que a paquera virtual veio para ficar, h� quem ainda resista e mantenha o saudosismo do olho no olho. “O aplicativo ajuda, mas acho que � uma coisa mais fria. As pessoas est�o perdendo aquela quest�o do t�te-�-t�te, est�o pulando a paquera”, explica Jos� Renato Pessali, de 34 anos. Ele j� se relacionou com uma garota que conheceu nas redes sociais, mas prefere o jeito antigo. “Gosto mais da conquista. � mais saud�vel”, afirmou
PALAVRA DE ESPECIALISTA
Carlos d’Andr�a, doutor em estudos lingu�sticos e professor do Departamento de Comunica��o da UFMGA import�ncia dos filtros
“N�o h� d�vida de que a media��o das redes sociais, os aplicativos e outros recursos tecnol�gicos mudaram a forma como as pessoas se encontram. E � importante pensar com maior amplitude, como as cidades est�o cada vez mais complexas, os deslocamentos mais dif�ceis, al�m das muitas restri��es de tempo, dinheiro e gasto de energia e viol�ncia urbana, que dificultam o conv�vio social direto. Tem tamb�m a quest�o da timidez e da comodidade de estar mais pr�ximo de pessoas que se busca conhecer, j� que os aplicativos t�m filtros por idade e localiza��o e permitem avaliar as caracter�sticas do outro. Mas penso que essas ferramentas n�o substituem as outras formas de in�cio dos relacionamentos. S�o apenas uma nova maneira.”
CONHE�A OS APLICATIVOS
Tinder – Surgiu em 2012 nos Estados Unidos e funciona com o cruzamento de dados de geolocaliza��o. Com isso, as pessoas recebem imagens de quem est� relativamente pr�ximo. Para entrar na rede social, � preciso ter um cadastro no Facebook. Caso tenha interesse em uma pessoa, basta clicar no cora��o verde. Se n�o, aperte o bot�o com um X. Se o interesse for rec�proco, os dois s�o direcionados para uma outra tela, o chamado match. L�, elas podem conversar e se conhecer melhor. O aplicativo tem mais de 50 milh�es de downloads.
Happn – A inten��o do aplicativo � unir pessoas que “se esbarram nas ruas”. O Happn permite que os usu�rios conversem uns com os outros quando se cruzam pela cidade. Se aprovou o outro perfil, basta clicar em um cora��o no alto da tela. Se ambos fizerem isso, acontece um crush e um
chat � aberto.
Grindr – O aplicativo � o mais famoso entre os homossexuais. O servi�o de geolocaliza��o mostra os usu�rios que est�o relativamente pr�ximos uns dos outros. A pessoa que se interessar pelo perfil sugerido pelo Grindr deve clicar sobre a foto da outra, que deve autorizar ou n�o a conversa. Se sim, s�o levados para outra janela onde
podem se conhecer.
Badoo – Pelo pr�prio site na internet ou por meio de um aplicativo, usu�rios podem se inscrever e selecionar suas prefer�ncias (amizade, bate-papo ou relacionamento). A partir da�, o sistema exige o cadastro de, pelo menos, uma foto de perfil. O site, ent�o, elabora uma esp�cie de jogo, onde os usu�rios t�m suas fotos exibidas baseado na localiza��o pr�-selecionada no ato do cadastro ou – no caso do aplicativo – pela geolocaliza��o do celular. Quando h� o interesse das duas partes, uma janela � aberta para que eles possam se conhecer melhor.
