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Estado de Minas

Abandono da Ferrovia do A�o evidencia o descaso com o dinheiro p�blico

Apenas de Belo Horizonte a Itabirito h� seis t�neis e quatro viadutos inoperantes


postado em 20/03/2016 06:00 / atualizado em 20/03/2016 08:52

Estruturas remanescentes da Ferrovia do Aço apodrecem no tempo, cortando comunidades que não são beneficiadas pelos gastos, criando espaços ocupados por criminosos e passagens que ligam nada a lugar nenhum(foto: Leandro Couri/EM/D.A.Press)
Estruturas remanescentes da Ferrovia do A�o apodrecem no tempo, cortando comunidades que n�o s�o beneficiadas pelos gastos, criando espa�os ocupados por criminosos e passagens que ligam nada a lugar nenhum (foto: Leandro Couri/EM/D.A.Press)

Cortando comunidades pobres, com altos �ndices de viol�ncia, e servindo de espa�o para desmanches de ve�culos e assaltantes, as estruturas abandonadas da Ferrovia do A�o s�o um exemplo gritante de desperd�cio do dinheiro p�blico. Desde 1973, quando come�ou a ser constru�da, a liga��o f�rrea entre Belo Horizonte, S�o Paulo e Rio de Janeiro jamais teve um vag�o sequer circulando em muitos trechos, como o de Belo Horizonte a Itabirito, passando por Sabar�. S� nesse segmento, foi abandonada uma sequ�ncia de seis t�neis e quatro viadutos.

� em Sabar�, na Grande BH, que boa parte dessa estrutura � avistada como monumentos ao desperd�cio. Uma sequ�ncia de quatro t�neis entre os morros do munic�pio est� entre os nove quil�metros desse tipo de passagem que foram esquecidos. Terminaram inundados, pichados e depredados. O local, ainda que reconhecidamente perigoso, por figurar como cen�rio de v�rios crimes, � ainda usado por trilheiros que desafiam a sorte entre os caminhos abertos entre o mato e os desmanches de ve�culos – que, depois de “depenados”, s�o incendiados. Uma dessas passagens foi bloqueada e a �gua acumulada chega � altura do joelho. Sinais da d�cada de 1970 mostram h� quanto tempo esses monumentos ao descaso est�o abandonados, a n�o ser pelos morcegos que se dependuram no alto da estrutura de concreto.

Pouco antes, oito pilares que nunca suportaram trilhos se erguem sobre a rodovia MG-05 e o Rio das Velhas, no caminho para Sabar�. No meio deles, a Estrada de Ferro Vit�ria-Minas (EFVM) continua a servir de caminho para o escoamento da produ��o de min�rio de ferro e a�o de Minas Gerais, e ainda � trajeto da �nica linha f�rrea di�ria interestadual do Brasil – um exemplo de como � importante esse tipo de transporte, bem ao lado das demonstra��es de desperd�cio.

A estrada que foi roubada
Em Hon�rio Bicalho, dos trilhos que deveriam seguir o curso do Rio das Velhas, na liga��o entre Raposos e Rio Acima, restaram menos de 500 metros. Casas invadiram �reas de dom�nio da ferrovia, plantas encobrem a linha f�rrea, antigas casas de arquitetura ferrovi�ria foram invadidas e descaracterizadas, enquanto barrac�es e garagens foram erguidos no antigo caminho das locomotivas. “H� quadrilhas especializadas que chegam armadas e usam caminh�es com bra�os hidr�ulicos para i�ar e levar os trilhos, que n�o s�o vigiados. Para impedir isso, s� com tombamento e guarda dos �rg�os respons�veis”, afirma Paulo Scheid, da organiza��o da sociedade civil de interesse p�blico (Oscip) Trem de Minas.

H� estruturas hist�ricas, como as pontes de a�o sobre o Rio das Velhas, entre Raposos e Nova Lima, que tamb�m se acabam sem qualquer cuidado ou manuten��o. Os v�os entre os trilhos foram cobertos por terra e brita, transformando a passagem numa estrada prec�ria para carros, motocicletas e carro�as. Em um dos pontilh�es do trecho, em Raposos, os trilhos praticamente desapareceram, soterrados para possibilitar a passagem de ve�culos. Inscri��es que fazem refer�ncia � antiga ferrovia est�o descaracterizadas pelo roubo de letras e por picha��es. O avan�o das invas�es na �rea de dom�nio e sobre as estruturas da ferrovia vai engolindo pe�as antigas da estrada. As casas em terreno invadido acabam sendo constru�das em �reas alag�veis nos per�odos chuvosos, o que representa amea�a aos moradores.

Para o professor Ant�nio Prata, chefe do Departamento de Engenharia de Transportes do Centro Federal de Educa��o Tecnol�gica de Minas (Cefet-MG), a realidade mostra a necessidade de circula��o dos passageiros dessas regi�es, e os trechos s�o vi�veis, ainda que feitos por ve�culos leves sobre trilhos, menores do que trens e metr�. “S�o liga��es muito importantes, mas essa falta de destaque nos investimentos do setor ferrovi�rio � o mesmo que vemos no metr� de BH, que h� d�cadas aguarda o funcionamento da linha Barreiro/Calafate”, compara. Para o especialista, o Estado tem perdido com essa falta de varia��o na matriz de transportes. “A Estrada de Ferro Vit�ria-Minas consegue cumprir uma fun��o de transporte interessante, ainda que �s vezes regionalmente, ligando BH, Ipatinga, Governador Valadares e as cidades do Esp�rito Santo”, exemplifica.

Faltam projetos e interessados

Os trilhos, viadutos e t�neis abandonados da Ferrovia do A�o e os que restaram da ferrovia de Raposos a Rio Acima s�o de responsabilidade do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). Segundo o departamento, esse patrim�nio vem sendo cedido �s prefeituras dos munic�pios cortados pelas ferrovias. Mas, especificamente para os trechos citados pela reportagem, n�o h� ainda nenhuma a��o de concess�o, seja para reativa��o ou uso diverso.

Para o Instituto do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico Nacional (Iphan) “a melhor forma de preservar esse patrim�nio � com a sua utiliza��o e funcionamento”. A maneira de fazer isso, segundo o instituto, � por meio de parcerias. “O Iphan prima por estabelecer parcerias com entidades interessadas em dar uso aos bens. Nesse �mbito, convidamos as prefeituras dos munic�pios a manifestar-se objetivamente a respeito de interesse na manuten��o, utiliza��o e guarda dos bens, destinando-os ao uso sociocultural.” Por enquanto, apenas a Esta��o Ferrovi�ria de Raposos � alvo de processo de avalia��o, com objetivo de instala��o de um centro cultural e outros equipamentos para a comunidade.

enquanto isso...
...Redescoberto trecho no cerrado


As valas que cortaram o cerrado para servir de leito a um dos trechos originais da Estrada de Ferro Vit�ria-Minas (EFVM) foram reencontradas em Naque, no Vale do Rio Doce – parte do segmento que deveria levar a Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, mas que foi desviado para o Vale do A�o. Esse destino foi abandonado ap�s a extra��o de min�rio de ferro ter transformado o mapa econ�mico do Brasil e assim mudado o rumo da ferrovia, inicialmente concebida para escoar caf�. A descoberta do trecho sem trilhos se deu ap�s investiga��o hist�rica da revista Caminhos Gerais.


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