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Estado de Minas

Campanha arrecada recursos para bailarino de 14 anos com problemas de crescimento

Com 1,47 metro de altura e 39 quilos, o jovem Christopher Cruz quer crescer em todos os sentidos. Na estatura e no of�cio de bailarino, que abra�ou apaixonadamente e pelo qual demonstra talento raro


postado em 05/04/2016 06:00 / atualizado em 05/04/2016 10:40


O cora��o adolescente de Christopher Cruz n�o se acalma nem mesmo quando o jovem de 14 anos ouve algu�m dizer que seu �dolo Mikhail Baryshnikov n�o � nenhum gigante, a n�o ser da dan�a. Ele sorri discretamente para, logo em seguida, deixar uma l�grima brotar no canto do olho direito e rolar pelas faces misturada a outras de puro sentimento. Com 1,47 metro de altura, pesando 39 quilos e perto de completar 15 anos, o garoto residente em Contagem, na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte, quer crescer em todos os sentidos – na estatura, e chegar, quem sabe, ao 1,68m do bailarino, ator e core�grafo russo naturalizado norte-americano, e no of�cio que j� abra�ou apaixonadamente e pretende levar adiante pelos palcos do mundo.


Christopher durante aula de balé: trabalho duro e determinação para superar as dificuldades e desenvolver seu talento(foto: Paulo Filgueiras/EM/DA Press)
Christopher durante aula de bal�: trabalho duro e determina��o para superar as dificuldades e desenvolver seu talento (foto: Paulo Filgueiras/EM/DA Press)
A primeira meta � mais urgente, embora esteja diretamente ligada � segunda. “Devido ao meu tamanho, perdi muitos trabalhos”, revela Christopher, com a seguran�a de um profissional, mas agora empenhado numa campanha, nas redes sociais, para conseguir o tratamento ou a vacina indicada para o crescimento, conforme a recomenda��o m�dica. Olhando para o alto e com a m�o esquerda uns 15 cent�metros acima da cabe�a, ele espera ficar maior e com mais for�a para levantar as bailarinas nos ensaios e apresenta��es. “Tenho idade �ssea de 12 anos”, observa, lembrando que o bullying � outra pedra na sapatilha. Nesse momento, o semblante se fecha, vem uma nuvem de tristeza.

Al�m dos apelidos pejorativos, Christopher j� sofreu humilha��es at� no transporte coletivo. “Estou acostumado a andar pela cidade, mas j� teve motorista de �nibus que me impediu de entrar, pois eu n�o estava acompanhado dos pais. Outros amea�aram chamar o Conselho Tutelar. Fico chateado mesmo com tudo isso, o pessoal fica ‘zoando’.” O sorriso volta lentamente, quando o garoto ouve que “os melhores perfumes est�o nos menores frascos”, um velho dito popular, e que um livro para l� de famoso, e compartilhado, � O pequeno pr�ncipe (1943), de Antoine de Saint-Exup�ry.

ARTE E T�CNICA
Na tarde de ontem, no Studio Arte e Passo, no Bairro Santa Efig�nia, na Regi�o Centro-Sul da capital, o integrante do Grupo Jovem da escola de dan�a mostrava sua arte, revelava os sonhos e deixava transparecer, sem barreiras e com jeito articulado, a frustra��o por n�o estar na mesma altura dos demais meninos de turma na mesma faixa et�ria. Durante os ensaios, na hora de se alongar, ele consegue alcan�ar apenas a barra mais baixa, da mesma forma que atuar com as colegas se tornou imposs�vel. “Na idade dele, todas s�o maiores. E na ponta da sapatilha ficam maiores ainda, inviabilizando um pas-de-deux”, conta a professora de dan�a e diretora do Studio Arte Passo, Liana S�fadi.

Admiradora de Christopher, a quem chama de “meu pequeno pr�ncipe”, Liana explica que, tecnicamente, o adolescente � muito bom bailarino “e tem grande futuro”. Mas ela reconhece as limita��es e apoia a iniciativa da campanha para o aluno obter o medicamento, a vacina somatropina, que � o horm�nio de crescimento humano. Na semana passada, o jovem, filho de um motorista e de uma auxiliar de odontologia, foi ao consult�rio de uma m�dica endocrinologista e, de posse da receita, na farm�cia assustou-se com o pre�o: R$ 88 cada dose e mais de R$ 2,5 mil no m�s. “Quem sabe consigo as vacinas e o tratamento”, disse, esperan�oso.
(foto: Paulo Filgueiras/EM/DA Press)
(foto: Paulo Filgueiras/EM/DA Press)

A ansiedade do jovem de rosto bonito, conversa inteligente e jeito despachado est� nas alturas, pois ele vive uma corrida contra o tempo. “A m�dica explicou que preciso tomar a vacina com urg�ncia, pois deve ser antes que a puberdade avance e venha a fase do estir�o . Depois, n�o vai adiantar mais. Fizemos um pedido no Sistema �nico de Sa�de (SUS), mas preciso esperar na fila. Tamb�m fui ao Hospital das Cl�nicas, da Faculdade de Medicina, mas o processo seria igualmente demorado”, conta Christopher, que est� no nono ano de uma escola p�blica de Contagem e se considera um bom aluno. “Meu sonho mesmo � ser bailarino profissional. Com essa altura, s� posso ser solista. Quero dan�ar com mais gente, em grupo”, assegura.

DE PONTA A PONTA
O gosto de Christopher pelo bal� surgiu por volta dos 8, 9 anos, quando ele conheceu na plataforma de v�deos YouTube toda a arte de Baryshnikov. Com esse encantamento, ele descobriu a voca��o e fez o talento desabrochar em outras escolas de dan�a. “Meu filho � muito decidido, corre atr�s dos seus sonhos, todo dia sai cedo de casa. Tudo o que consegue � por conta pr�pria, ele anda por esta cidade de ponta a ponta sozinho. J� falei que n�o temos recursos para bancar o bal�, mas, se ele quer, devemos apoiar”, diz a m�e toda orgulhosa e certa de que tem uma joia em casa – na verdade, duas, pois tem o ca�ula Cau�, autista, de 6 anos. “Ele � grand�o, j� est� quase da altura do irm�o. N�s, os pais, n�o somos pessoas altas.”

Na aula de ontem, o jovem bailarino mostrava atitude em meio a garotos mais altos, alguns de barba. “Olha s�, sou o menor da turma. Esse meu colega tem 15 anos e 1,80m”, apontou para o rapaz � sua frente, que apenas sorriu com simpatia. Christopher se iguala em talento aos demais, mostrando que os saltos na vida real passam pelo trabalho duro, determina��o e, sem d�vida, vontade de sonhar.

COMO AJUDAR: Quem quiser ajudar o jovem a realizar o tratamento, pode depositar qualquer quantia na conta do pai de Christopher Cruz:
Banco Ita�
Ag�ncia: 0689 Conta: 65541-3


Depoimento


Ofensas e vergonha

(foto: Paulo Filgueiras/EM/DA Press)
(foto: Paulo Filgueiras/EM/DA Press)
“� muito ruim conviver com meninos e meninas da mesma idade, e at� mesmo mais novos do que eu, e que j� s�o muito maiores. Diversas vezes tive vontade de desistir da minha carreira como bailarino e diversas vezes fui embora da escola chorando por causa de brincadeiras ofensivas que mexem com meu emocional. Sem contar com os problemas de autoestima: tenho vergonha de sair com meus amigos, muitas vezes deixei de ir a festas e passeios por me sentir intimidado. Na maioria das vezes, dizia que n�o poderia ir. J� passei por situa��es em que meus professores me perguntaram se eu estava na sala certa. E at� mesmo de ser proibido de entrar em um coletivo por parecer ter 10 anos. Coisas assim me deixam muito mexido emocionalmente, mesmo sabendo que altura � apenas uma medida. O problema � quando essa medida te priva de seguir seu pr�prio sonho!”


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