O cora��o adolescente de Christopher Cruz n�o se acalma nem mesmo quando o jovem de 14 anos ouve algu�m dizer que seu �dolo Mikhail Baryshnikov n�o � nenhum gigante, a n�o ser da dan�a. Ele sorri discretamente para, logo em seguida, deixar uma l�grima brotar no canto do olho direito e rolar pelas faces misturada a outras de puro sentimento. Com 1,47 metro de altura, pesando 39 quilos e perto de completar 15 anos, o garoto residente em Contagem, na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte, quer crescer em todos os sentidos – na estatura, e chegar, quem sabe, ao 1,68m do bailarino, ator e core�grafo russo naturalizado norte-americano, e no of�cio que j� abra�ou apaixonadamente e pretende levar adiante pelos palcos do mundo.

Al�m dos apelidos pejorativos, Christopher j� sofreu humilha��es at� no transporte coletivo. “Estou acostumado a andar pela cidade, mas j� teve motorista de �nibus que me impediu de entrar, pois eu n�o estava acompanhado dos pais. Outros amea�aram chamar o Conselho Tutelar. Fico chateado mesmo com tudo isso, o pessoal fica ‘zoando’.” O sorriso volta lentamente, quando o garoto ouve que “os melhores perfumes est�o nos menores frascos”, um velho dito popular, e que um livro para l� de famoso, e compartilhado, � O pequeno pr�ncipe (1943), de Antoine de Saint-Exup�ry.
ARTE E T�CNICA Na tarde de ontem, no Studio Arte e Passo, no Bairro Santa Efig�nia, na Regi�o Centro-Sul da capital, o integrante do Grupo Jovem da escola de dan�a mostrava sua arte, revelava os sonhos e deixava transparecer, sem barreiras e com jeito articulado, a frustra��o por n�o estar na mesma altura dos demais meninos de turma na mesma faixa et�ria. Durante os ensaios, na hora de se alongar, ele consegue alcan�ar apenas a barra mais baixa, da mesma forma que atuar com as colegas se tornou imposs�vel. “Na idade dele, todas s�o maiores. E na ponta da sapatilha ficam maiores ainda, inviabilizando um pas-de-deux”, conta a professora de dan�a e diretora do Studio Arte Passo, Liana S�fadi.
Admiradora de Christopher, a quem chama de “meu pequeno pr�ncipe”, Liana explica que, tecnicamente, o adolescente � muito bom bailarino “e tem grande futuro”. Mas ela reconhece as limita��es e apoia a iniciativa da campanha para o aluno obter o medicamento, a vacina somatropina, que � o horm�nio de crescimento humano. Na semana passada, o jovem, filho de um motorista e de uma auxiliar de odontologia, foi ao consult�rio de uma m�dica endocrinologista e, de posse da receita, na farm�cia assustou-se com o pre�o: R$ 88 cada dose e mais de R$ 2,5 mil no m�s. “Quem sabe consigo as vacinas e o tratamento”, disse, esperan�oso.

A ansiedade do jovem de rosto bonito, conversa inteligente e jeito despachado est� nas alturas, pois ele vive uma corrida contra o tempo. “A m�dica explicou que preciso tomar a vacina com urg�ncia, pois deve ser antes que a puberdade avance e venha a fase do estir�o . Depois, n�o vai adiantar mais. Fizemos um pedido no Sistema �nico de Sa�de (SUS), mas preciso esperar na fila. Tamb�m fui ao Hospital das Cl�nicas, da Faculdade de Medicina, mas o processo seria igualmente demorado”, conta Christopher, que est� no nono ano de uma escola p�blica de Contagem e se considera um bom aluno. “Meu sonho mesmo � ser bailarino profissional. Com essa altura, s� posso ser solista. Quero dan�ar com mais gente, em grupo”, assegura.
DE PONTA A PONTA O gosto de Christopher pelo bal� surgiu por volta dos 8, 9 anos, quando ele conheceu na plataforma de v�deos YouTube toda a arte de Baryshnikov. Com esse encantamento, ele descobriu a voca��o e fez o talento desabrochar em outras escolas de dan�a. “Meu filho � muito decidido, corre atr�s dos seus sonhos, todo dia sai cedo de casa. Tudo o que consegue � por conta pr�pria, ele anda por esta cidade de ponta a ponta sozinho. J� falei que n�o temos recursos para bancar o bal�, mas, se ele quer, devemos apoiar”, diz a m�e toda orgulhosa e certa de que tem uma joia em casa – na verdade, duas, pois tem o ca�ula Cau�, autista, de 6 anos. “Ele � grand�o, j� est� quase da altura do irm�o. N�s, os pais, n�o somos pessoas altas.”
Na aula de ontem, o jovem bailarino mostrava atitude em meio a garotos mais altos, alguns de barba. “Olha s�, sou o menor da turma. Esse meu colega tem 15 anos e 1,80m”, apontou para o rapaz � sua frente, que apenas sorriu com simpatia. Christopher se iguala em talento aos demais, mostrando que os saltos na vida real passam pelo trabalho duro, determina��o e, sem d�vida, vontade de sonhar.
COMO AJUDAR: Quem quiser ajudar o jovem a realizar o tratamento, pode depositar qualquer quantia na conta do pai de Christopher Cruz:
Banco Ita�
Ag�ncia: 0689 Conta: 65541-3
Depoimento
Ofensas e vergonha