
O empres�rio Ant�nio Carlos Meireles se cansou de esperar a Prefeitura de Belo Horizonte pavimentar a Rua Major Messias Menezes, no Bairro Bandeirante 2, a menos de 100 metros da orla da Lagoa da Pampulha, e contratou uma empresa particular para asfaltar o trecho em frente � sua empresa de jardinagem. “Isso foi h� quatro anos. Desembolsei R$ 9 mil. O poder p�blico n�o terminou o servi�o. E olha que eu pago, por ano, mais ou menos R$ 1,8 mil de IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano)”, esbravejou.
A queixa dele se repete em outras regi�es de Belo Horizonte, a primeira capital planejada do pa�s. Em toda a cidade, que completou 118 anos em 12 de dezembro, h� pelo menos 98 vias sem nenhuma esp�cie de pavimenta��o, segundo levantamento feito pela Empresa de Inform�tica e Informa��o do Munic�pio de Belo Horizonte (Prodabel) a pedido do Estado de Minas. Mas esse n�mero pode ser bem maior, pois o �rg�o admite desconhecer a situa��o de 884 logradouros dos 12 mil corredores da cidade.
“H� pelo menos um trecho para o qual n�o h� informa��o na base (da Prodabel). Portanto, n�o � poss�vel concluir se, de fato, n�o h� pavimenta��o ao longo de todo o logradouro”, informou o �rg�o municipal por e-mail. No linguajar popular, vias sem pavimenta��o alguma s�o chamadas de ruas de terra. Quem mora, trabalha ou usa esses corredores acumula transtornos imensur�veis.

Na �poca de calor, nuvens de poeira invadem os im�veis, mancham as fachadas e prejudicam a sa�de de pessoas e animais. Na temporada de chuva, a vil� � a lama. O barro interfere at� na roupa de quem precisa percorrer as vias. Vestimentas brancas, por exemplo, s�o descartadas nessa �poca do ano.
Ant�nio, o empres�rio que custeou parte da obra que � de compet�ncia da prefeitura, n�o esconde a indigna��o. “Coloquei esse asfalto, mas a camada � fina. J� est� se desfazendo. O munic�pio precisa asfaltar a via”, cobra o comerciante. Ele lembra que a Rua Major Messias Menezes, cuja placa que a identifica foi improvisada num peda�o de madeira, est� a menos de um quil�metro do jardim zool�gico, cart�o-postal da cidade, e a menos de 100 metros da lagoa mais famosa de Belo Horizonte.
O empres�rio recorre � ironia para dizer que, enquanto o complexo arquitet�nico da Pampulha concorre ao t�tulo de Patrim�nio Cultural da Humanidade, da Organiza��o das Na��es Unidas para a Educa��o, a Ci�ncia e a Cultura (Unesco), pr�ximo � mesma orla h� problemas que a prefeitura parece desconhecer.
Longe de l�, no Bairro Vila Fazendinha, na Regi�o Leste, moradores e comerciantes lutam h� d�cadas pela pavimenta��o da Rua Adutora, cujo nome se deve a uma tubula��o subterr�nea da Copasa. Os primeiros moradores constru�ram suas resid�ncias no fim da d�cada de 1980. “Sonhamos com o dia em que o asfalto chegar�”, deseja Luciano Henrique de Andrade, de 32 anos. Ele mora na regi�o h� duas d�cadas e meia.
O rapaz faz quest�o de afirmar que, de l� para c�, a poeira acelerou os efeitos de algumas doen�as. “Tenho asma, bronquite, sinusite e rinite. � dif�cil suportar tudo isso com as nuvens de poeira. Tenho de limpar a casa todos os dias”, reclama Ant�nio, enquanto acomoda o filho David, de 6 meses, no colo. O receio dele � que o beb� contraia alguma doen�a por causa do p� de terra levantado diariamente pelos caminh�es, carros e motos que percorrem o corredor.
Amiga dele, Aline Pereira, de 23, tem uma mercearia na mesma rua. Os ve�culos que passam em frente ao estabelecimento jogam poeira no interior do im�vel. Ela evita usar roupas brancas quando est� no pr�prio com�rcio. “Suja toda. J� na �poca de chuva, carros atolam na via. Para se ter ideia, eu saio de casa com botas”, diz a pequena empreendedora.

A Adutora, por�m, venceu a �ltima edi��o (2013/2014) do Or�amento Participativo (OP), programa da prefeitura em que os moradores votam em obras que ser�o financiadas pelo poder p�blico. O in�cio da pavimenta��o depende da remo��o de fam�lias que invadiram parte do corredor.
“Das 34 fam�lias que ser�o removidas em fun��o das obras, nove aderiram �s unidades habitacionais e outras 12 est�o em processo de negocia��o”, explicou a Companhia Urbanizadora e de Habita��o de Belo Horizonte (Urbel), mas sem informar a previs�o do in�cio da obra.
J� em rela��o � Major Messias Menezes, a rua em que o empres�rio Ant�nio desembolsou R$ 9 mil, a Superintend�ncia de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) informou que “n�o consta, neste momento, nenhuma obra prevista”.
Lixo e esgoto a c�u aberto
A poeira e a lama n�o s�o os �nicos problemas de muitos corredores de terra em Belo Horizonte. Lixo, esgoto a c�u aberto e outras mazelas mostram que o poder p�blico parece n�o ter piedade dos moradores. Mas a popula��o tamb�m tem grande culpa.
Na Rua Adutora, na Vila Fazendinha, o caminh�o da Superintend�ncia de Limpeza Urbana (SLU) passa mais de uma vez por semana no local, mas um bota-fora insiste em permanecer no in�cio da via. Chama a aten��o at� um amontoado de ferro-velho que um dia j� foi carro.
Pr�ximo a ele, um filete de esgoto a c�u aberto incomoda os pedestres, que precisam saltar a �gua suja. Passeio l� n�o h�. As pessoas andam nas beiradas da via, atentas aos buracos e ao lixo.
Quem percorre o logradouro em dire��o ao Santa Efig�nia sai na Rua Cruzeiro do Sul, tamb�m de ch�o batido. Os moradores do lugar tamb�m sofrem com a poeira, a lama, o lixo e os buracos.
O mesmo ocorre na Rua Major Messias Menezes, no Bandeirante 2, na Pampulha, onde um pequeno bota-fora ocupa o meio da via. O lixo traz risco � sa�de, pois, na �poca de chuva, pode se tornar ber��rio para o Aedes aegypti, transmissor da dengue, do zika v�rus e da febre chikungunya.
Os logradouros de BH
» Total de vias: 12.000
» 9.538 t�m ao menos um trecho asfaltado
» 11.018 t�m pelo menos um trecho pavimentado
» 98 sem nenhum tipo de pavimenta��o
» 884 sem informa��es adequadas
Fonte: Prodabel