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Estado de Minas

Ap�s promessa de Kalil, moradores de �reas de risco em BH relatam rotina de medo

H� quem resista em deixar casas. Urbel sustenta que medida � complexa e feita s� 'em �ltimo caso'


postado em 01/11/2016 06:00 / atualizado em 01/11/2016 07:54

Edificação em área monitorada pela urbel no Taquaril, Região Leste de BH: neste ano, apenas 10 remoções foram feitas na capital(foto: Leandro Couri/EM/DA Press)
Edifica��o em �rea monitorada pela urbel no Taquaril, Regi�o Leste de BH: neste ano, apenas 10 remo��es foram feitas na capital (foto: Leandro Couri/EM/DA Press)
Quando nuvens escuras aparecem no c�u, redobram as preocupa��es de Darlene da Paix�o, de 25 anos, casada e m�e de Ezequiel, de 5, e Amanda, de 3. Funcion�ria de uma creche e moradora da ocupa��o Terra Nossa, no Taquaril (Regi�o Leste da capital), com centenas de fam�lias, a belo-horizontina conhece muito bem os perigos de viver numa �rea sem qualquer infraestrutura b�sica, em barrac�o de extrema fragilidade e, pior, sem ter para onde correr no caso de tempestades muito fortes ou deslizamentos. “A necessidade fala mais alto e leva a gente a viver dessa forma”, diz Darlene, com resigna��o. A localidade, no topo do morro, est� na rota de riscos geol�gicos existentes em todas as vilas de favelas da cidade, em maior ou menor grau. Segundo a Companhia Urbanizadora de Belo Horizonte (Urbel), da prefeitura, h� 2,1 mil edifica��es nessa situa��o.


Ocupando h� um ano e meio os c�modos constru�dos com restos de madeira e servidos por “gatos” (liga��es clandestinas) de �gua e luz, Darlene considera bem-vinda a promessa do prefeito eleito de BH, Alexandre Kalil, que quer remover, a curto prazo, 2 mil fam�lias das �reas de risco. No domingo, antes de votar, ele afirmou: “Este � o primeiro ato, porque em janeiro come�a a cair casa e morre gente. Na pr�tica, tem que correr na Defesa Civil na segunda-feira, na prefeitura e no governo de Minas, para que essa cat�strofe, que se tornou rotina na vida do pessoal de BH, passe a ser exce��o”. A empreitada, por�m, n�o ser� das mais simples. A diretora de Manuten��o em �reas de Risco da Urbel, Isabel Volponi, lembra que as remo��es de fam�lias dos locais onde vivem s�o feitas “em �ltimo caso” e envolvem s�rie de fatores.

Isabel destaca tr�s pontos primordiais para resolver a quest�o: a presen�a do poder p�blico, o comportamento da popula��o e a colabora��o para a gest�o do risco. Ela afirma que o processo � din�mico e o levantamento do risco envolve conhecimento da composi��o do terreno e a conforma��o dele do ponto de vista da geomorfologia, entre outras coisas. Tamb�m s�o avaliados ind�cios diversos, como trincas, se h� cobertura vegetal no local, o corte do terreno, se h� fossas e o escoamento de �gua. Todas essas quest�es s�o analisadas para se prever um poss�vel risco. As a��es da Urbel s�o coordenadas pelo Programa Estrutural em �reas de Risco (Pear) que, h� 22 anos, � respons�vel pelo mapeamento, vistoria e interven��es nesses lugares.

A diretora da Urbel diz que, como remover fam�lias n�o � algo f�cil, o trabalho envolve a comunidade para conscientiz�-la e mobiliz�-la n�o s� para perceber o risco, como no sentido de se precaver e n�o contribuir para agravar o problema. “As remo��es s�o feitas em �ltimo caso, quando n�o se tem mais o que fazer”, afirma. “A Prefeitura de Belo Horizonte n�o d� conta de intervir em todos os lugares ao mesmo tempo, por isso preparamos muito a popula��o, conversando com ela sobre como evitar o risco e, se a situa��o mudar, ligar pedindo vistoria”, acrescenta.

A diretora ressalta que as remo��es t�m diminu�do nos �ltimos anos. Em 2016, por exemplo, foram apenas 10. Ela destaca que isso se deve �s interven��es para reduzir os riscos e �s obras em vilas, feitas com recursos do Or�amento Participativo, do Programa de Acelera��o do Crescimento (PAC) e da PBH. “� medida que se urbaniza, tiramos fossa, fazemos drenagem, implementamos uma rua, enfim, os agentes potenciais do risco s�o reduzidos”, revela. Isabel lembra que a dificuldade aparece nos casos em que as fam�lias precisam ser removidas e resistem devido a uma op��o de vida feita naquele lugar. Outro desafio � fazer as pessoas entenderem que suas a��es s�o fundamentais para evitar a situa��o. “H� um problema recorrente hoje de pessoas cortando terrenos que j� foram estabilizados ou construindo em cima de locais de drenagem para ampliar ou erguer novas moradias. Se destru�da, a obra para de ter efic�cia.”

Desempregado, Cleyton dos Santos diz que prefere continuar na ocupação, com obras para ampliar segurança:
Desempregado, Cleyton dos Santos diz que prefere continuar na ocupa��o, com obras para ampliar seguran�a: "Gosto de ter quintal" (foto: Leandro Couri/EM/DA Press)
NOVOS DRAMAS Desempregado e atualmente fazendo bicos, Cleyton Paulo dos Santos, de 45, casado, pai de dois meninos de 9 e 6 anos e de um adolescente de 15, diz que gostaria de continuar onde est�. “Prefiro que a situa��o seja regularizada, que haja seguran�a e tenhamos condi��es de construir moradias de alvenaria”, contou Cleyton, que lamenta n�o dispor de recursos para comprar tijolos e demais materiais de constru��o.

“Gosto de ter quintal, espa�o para ficar com a fam�lia”, diz o desempregado. Ele abriga na �rea que circunda o barraco um p� de mam�o, canteirinho de alface, roseira em flor e outras plantas. O aspecto no interior da moradia d� gosto de ver, com estante com os livros, aqu�rio e limpeza. “Gosto de tudo arrumado, construo tudo aqui”, comenta. O per�odo chuvoso tamb�m traz temores ao pai de fam�lia, que mant�m uma tubula��o, na lateral do terreno para a enxurrada descer sem devastar seu patrim�nio. “Espero que qualquer mudan�a nos traga benef�cios”, observa o belo-horizontino.

No caminho que conduz ao alto do Taquaril, podem ser vistas obras conclu�das de conten��o dos morros, com pared�es de concreto. Em outros pontos, h� placas da PBH – numa delas, curiosamente, h� um adesivo de propaganda do futuro prefeito – orientando as pessoas a n�o construir. Morando sozinho num barrac�o, o auxiliar de servi�os gerais Felipe Silva de Souza tamb�m v� perigos na regi�o. Ele espera que uma eventual remo��o melhore a vida da comunidade.

A diretora da Urbel afirma que a �rea da ocupa��o vem sendo acompanhada. Ela admite que se trata de uma �rea potencial para o desenvolvimento do risco, devido � maneira como est� sendo habitada.

Panorama


2,1 mil
� o n�mero de edifica��es em �rea de risco

10 fam�lias
foram removidas, este ano, de �reas de risco

7 vezes
� a redu��o, em 20 anos, da quantidade de edifica��es em terrenos em situa��o de risco geol�gico

50 n�cleos de volunt�rios
est�o presentes nas vilas e favelas para conscientizar as comunidades sobre os riscos

Fonte: Urbel


Primeiro mapeamento foi feito nos anos 1990

O Programa Estrutural em �reas de Risco (Pear) foi implementado em 1994, quando foi elaborado o primeiro mapeamento sobre os perigos nas vilas e favelas de Belo Horizonte. Na �poca, havia 15 mil edifica��es com risco geol�gico considerado “alto” e “muito alto”. Mais de duas d�cadas depois, restam 2,1 mil moradias constru�das em lugares que inspiram cuidado, mas o risco “muito alto” foi eliminado, segundo a Companhia Urbanizadora de Belo Horizonte (Urbel). Nesse per�odo, foi criada uma rede de volunt�rios – os n�cleos de defesa civil. Eles s�o formados por moradores das comunidades e ajudam na mobiliza��o, na identifica��o de problemas e na conscientiza��o dos vizinhos. Atualmente, h� 50 n�cleos, com 422 volunt�rios inscritos.


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