Serra da Piedade ganha reprodu��o da passagem b�blica do Monte das Oliveiras

O Horto das Oliveiras recriado no alto das montanhas de Minas, em comunh�o total com a natureza e num ponto perfeito para ora��es e contempla��o da paisagem. Dentro das comemora��es dos 250 anos de romaria � Serra da Piedade, em Caet�, na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte, o topo do maci�o abriga, desde segunda-feira, uma imagem de Cristo em p� de granito pesando uma tonelada, obra da artista Vilma N�el. O local escolhido para receber a pe�a fica perto da Arena da Amizade e parte do caminho est�, desde o ano passado, contornada por 75 mudas da planta que produz azeitonas. “Ainda temos muito trabalho a fazer. Acredito que este lugar ser� muito visitado, pois � um espa�o de espiritualidade”, disse, na tarde de ontem, a paisagista, formada em teologia, Maria das Gra�as Drumond Souza Lima.

Foi necess�rio um caminh�o-guincho para levar a escultura, dividida em blocos, at� o alto da serra, onde se encontra a ermida constru�da no s�culo 18 e guardi� da imagem da padroeira de Minas, Nossa Senhora da Piedade, de autoria de Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1737-1814). Antes de celebrar a missa das 15h de ontem, o pr�-reitor do Santu�rio de Nossa Senhora da Piedade, padre Carlos Ant�nio da Silva, explicou que a passagem de Cristo orando no Horto das Oliveiras representa um momento de “intimidade com o Pai, de obedi�ncia, pois Cristo sabe de todo o sofrimento que vai chegar e que vai passar”. Traduzindo para a contemporaneidade, “Cristo fala ao Pai sobre as dores da humanidade”, resume.

Nos tempos atuais, diz o pr�-reitor, a recria��o da cena, no alto da montanha, se torna “um canal de medita��o, contempla��o e profunda ora��o”. Com alegria, ele convida todo mundo – mineiros, brasileiros e estrangeiros – para visitar a serra neste ano comemorativo das hist�ricas peregrina��es e afirma que as novas gera��es poder�o redescobrir, por meio da espiritualidade, “o encontro consigo mesmo e com Deus”. A gestora do santu�rio, Cl�udia Rech, adianta que a inaugura��o oficial da escultura no monte das oliveiras das Gerais dever� ocorrer na Semana Santa, quando � intensa a visita��o ao santu�rio.

ADMIRA��O Na tarde de ontem, como vem ocorrendo durante o per�odo de f�rias, era grande o movimento na Serra da Piedade e muita gente se surpreendeu ao passear pelos arredores da ermida e ver a imagem de “Jesus orando no Horto das Oliveiras” sobre as pedras de min�rio e em meio � vegeta��o. O casal Leonan Natanael de Oliveira, de 27 anos, auxiliar de produ��o, e Veridiana Emanuela Ferreira da Silva, de 22, recepcionista, morador de Caet�, aproveitou a folga para curtir a paisagem. “Est� maravilhoso este trabalho, uma perfei��o. Fico impressionado como h� seres humanos que conseguem fazer uma obra t�o bonita”, disse Leonan, com os olhos cheios de admira��o.

Ao lado, com as m�os postas, Veridiana disse que chegar perto da escultura foi quase um chamado: “Olha que coincid�ncia. Estou aqui hoje com meu marido e trouxe um curr�culo para entregar na secretaria do santu�rio, pois estou precisando de emprego. Quem sabe vou conseguir?”, confessou. Ao contr�rio de outras esculturas, a rec�m-instalada no topo da serra pode ser tocada o tempo todo, garantiu a paisagista Maria das Gra�as. Certamente ser� um ponto de grande atra��o, um a mais para a serra que, em 2016, recebeu meio milh�o de visitantes.

BONS FRUTOS As mudas de oliveira vieram de Campos do Jord�o (SP) e foram doadas, assim como a escultura, feita por Vilma N�el, artista mineira que se considera “n�made” e tem ateli�s em Nova York (EUA), Rio de Janeiro (RJ) e Coronel Fabriciano, no Vale do A�o, informa a paisagista. “Ainda vamos discutir com o arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, dom Walmor Oliveira de Azevedo, alguns aspectos sobre o jardim, mas nada ser� alterado. Plantamos as oliveiras e vamos manter a vegeta��o existente, fazendo apenas um caminho para os visitantes. H� flores muito bonitas”, disse Maria das Gra�as.

Sobre as oliveiras, localizadas na via que levar� futuramente ao Museu Maria Regina Mundi (do latim, Maria Rainha do Mundo), com previs�o de abertura no fim do ano, Maria das Gra�as diz que todas se adaptaram bem. “Um bi�logo acompanha o crescimento das mudas e explicou que o clima frio, nesta altitude, permitir� bons frutos”, acrescentou.

Como se encontra rec�m-instalada no local, apoiada sobre pedras de min�rio, a escultura dever� sofrer alguns ajustes. De cor verde, a pe�a dever�, com o tempo, ganhar um tom mais forte, chegando perto da colora��o das pedras. “Ficou muito parecido com a existente no Gets�mani, em Jerusal�m, em Israel. Falei com a escultora, que � minha amiga e doou a pe�a, e ela fez exatamente do jeito que conversamos”, disse a paisagista. “Aqui temos uma completa integra��o com a natureza”, assegurou sobre o “monte das oliveiras” no alto da Grande BH.

CONSTRU��O A hist�ria do santu�rio da padroeira de Minas come�a no s�culo 18, com o relato de um milagre: a Virgem Maria teria aparecido para uma jovem surda, no alto da Serra da Piedade. A partir desse dia, a garota passa a falar e a ouvir, o fato se espalha rapidamente por toda a regi�o e muita chega ao topo do maci�o para rezar. O epis�dio toca o cora��o do portugu�s Ant�nio da Silva Bracarena, ent�o na col�nia para ganhar dinheiro. Mas ele se converte e decide dedicar sua vida � constru��o de uma capela no lugar onde ocorrera o milagre. O singelo templo dedicado a Nossa Senhora da Piedade come�a a ser erguido em 1767 e, mais tarde, ganha a imagem esculpida por um jovem de Ouro Preto, depois reconhecido como mestre do Barroco mineiro – Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho.

Agonia e morte

A presen�a de Jesus no Monte das Oliveiras retrata sua agonia e antecede o momento de sua pris�o, julgamento, condena��o e finalmente a crucifica��o no calv�rio. De acordo com os quatro evangelhos, logo ap�s a �ltima Ceia, Jesus resolveu dar uma volta para rezar (Jo�o 18:1) – Mateus e Marcos identificam o lugar como o jardim conhecido como Gets�mani. Jesus estava acompanhado de Pedro, Jo�o e Tiago, filho de Zebedeu, a quem Jesus pediu que ficassem acordados e rezassem. Ent�o, Ele se retirou e sentiu uma enorme tristeza, dizendo “Pai, se � do teu agrado, afasta de mim este c�lice; contudo n�o se fa�a a minha vontade, mas sim a tua” (Lucas 22:42). Pouco depois, Ele disse: “Pai meu, se este c�lice n�o pode passar sem que eu o beba, fa�a-se a tua vontade” (Mateus 26:42). Ele recitou essa ora��o tr�s vezes, conferindo a situa��o dos ap�stolos a cada vez e encontrando-os dormindo. E profere: “O esp�rito, na verdade, est� pronto, mas a carne � fraca”. (Mateus 26:41).