
O vazamento, ocorrido na madrugada do �ltimo domingo, mas s� divulgado ontem, faz parecer n�o terem sido suficientes as li��es do maior desastre socioambiental da hist�ria do pa�s, h� um ano e quatro meses, quando se rompeu uma barragem da Samarco, subsidi�ria da Vale em Mariana. Na �poca, uma onda de rejeitos soterrou a comunidade pr�xima de Bento Rodrigues, deixando 19 mortos, assoreou o lago da Hidrel�trica de Candonga e pavimentou os principais canais da Bacia Hidrogr�fica do Rio Doce at� o mar, no Esp�rito Santo.
No incidente mais recente, a barragem centen�ria atingida atualmente opera com capacidade reduzid�ssima, exatamente devido ao assoreamento. A usina, que j� chegou a fornecer energia el�trica para Itabirito, hoje alimenta a tecelagem Itatextil. De seus 14 metros de profundidade originais, restaram quatro metros (70% a menos) chegando em alguns pontos a dois metros. “J� sofremos muitos danos estruturais e a situa��o � t�o cr�tica que n�o podemos mais abrir as comportas. Se acontecer uma chuva muito forte, h� risco de a barragem inteira se romper”, teme o operador industrial da estrutura, Radam�s Martins. De acordo com o secret�rio municipal de Meio Ambiente de Itabirito, Ant�nio Marcos Generoso, uma equipe da Coordenadoria Municipal de Defesa Civil foi at� o local para avaliar os danos sofridos e a estabilidade do barramento. “Aquele material vai ter de ser removido, pois j� soterrou e amea�a a barragem”, afirma o secret�rio.
Um dos maiores volumes de rejeitos que chegaram � represa foi proveniente do rompimento dos diques da Mina Retiro do Sapecado, da Minera��o Herculano, em 10 de setembro de 2014, que resultou na morte de tr�s funcion�rios. No ano seguinte, um erro na opera��o dos rejeitodutos da Barragem de Forquilha IV, da mesma Mina de F�brica, da Vale, trouxe outra uma onda de rejeitos miner�rios ao lago. Na madrugada do �ltimo domingo, o problema, segundo o N�cleo de Emerg�ncia Ambiental (NEA) da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustent�vel (Semad), foi na jun��o de dois tubos subterr�neos do mesmo rejeitoduto, o que resultou no vazamento de detritos e lama que atingiram a rede de drenagem pluvial da estrada operacional da Vale.

Alerta omitido
Um dos fatos mais graves, segundo o secret�rio de Meio Ambiente de Itabirito, foi o fato de a Vale n�o ter alertado a nenhuma autoridade sobre o vazamento. “S� descobrimos porque vimos que o Rio Itabirito estava muito vermelho e n�o tem chovido na regi�o. Temos uma rede de monitoramento que � capaz de verificar o estado de 10 pontos de rios e com isso, investigando, � que vimos que o C�rrego da Prata tinha sido atingido. Fomos n�s que avisamos � Copasa sobre os rejeitos que iam para o Rio das Velhas”, disse Generoso.
O presidente do Comit� da Sub-Bacia Hidrogr�fica do Rio das Velhas, Marcus Vin�cius Polignano, considerou essa uma situa��o inaceit�vel. “Os rios onde a Vale opera s�o de Classe 1 e Classe Especial (alta pureza). Ela sabe que est� operando em uma �rea delicada e fr�gil, mas n�o toma os cuidados necess�rios e os acidentes s�o constantes. Essa � uma �gua fundamental para Belo Horizonte. E o agravante dessa hist�ria � que a Vale n�o fez comunicado a ningu�m, nem ao Comit� da Bacia, nem � Copasa, sobre esse tipo de acidente”, disse.
Segundo a Semad, a Vale avisou sobre o vazamento apenas na segunda-feira. Por meio de nota, a secretaria informou que foi solicitado o fechamento do sistema de adu��o de rejeitos, o desvio da drenagem de �gua pluvial, a implanta��o de luva de prote��o na �rea de alagamento da barragem Forquilha IV, a troca da tubula��o do duto, a realiza��o de um refor�o nas juntas e a revegeta��o da �rea afetada. A Vale ter� sete dias para encaminhar � pasta um cronograma detalhado das a��es de limpeza e remedia��o. “A empresa ser� multada pelo �rg�o ambiental pelos danos ocasionados ao meio ambiente. O valor da puni��o ainda ser� calculado”, diz o texto.
A Vale se limitou a afirmar, tamb�m por nota, que “identificou o vazamento nesta segunda-feira. A empresa informa que o vazamento j� foi contido, que os esclarecimentos aos �rg�os ambientais foram feitos e que est� apurando as causas da ocorr�ncia”. (Com Cristiane Silva)
