
Numa �rea de 20 metros quadrados, est�o distribu�das 586 figuras entre cerca de 3 mil pe�as criadas pelo artes�o Raimundo Machado Azeredo (1894-1988) e, na tarde de ontem, o Estado de Minas acompanhou a conclus�o da montagem e a din�mica do pres�pio que encanta a cada segundo. Contemplando pela primeira vez o acervo restaurado por completo, a bibliotec�ria Alice Clara, h� 29 anos na universidade, n�o conteve as l�grimas. “Vi o empenho de toda a equipe nesse trabalho. Conhe�o o Pipiripau desde crian�a e v�-lo agora � muito importante. Fico feliz”, afirmou.
Com 45 cenas em movimento e sobre um tablado em v�rios n�veis, o pres�pio mostra momentos da hist�ria sagrada, como a natividade na gruta de Bel�m, a matan�a dos inocentes, o Menino Jesus entre os s�bios do templo, a santa ceia e outros quadros que traduzem a cultura mineira, como uma igreja colonial com os sinos tocando, um barqueiro no lago, pescadores � beira de um rio, um sanfoneiro e um sapateiro. “O pres�pio est� funcionando maravilhosamente. � uma obra �mpar por sua delicadeza, inoc�ncia e capacidade de nos transformar”, ressalta o professor da Escola de Belas-Artes da UFMG, Fabr�cio Fernandino, coordenador geral do projeto de restaura��o e professor da Escola de Belas Artes.
Quem visitar o pres�pio ter� novidades, a come�ar pela casa que o abriga, igualmente restaurada e com equipamentos para facilitar a visualiza��o e compreens�o do Pipiripau. Na varanda, h� um visor (pano de vidro) que permite a qualquer um vislumbrar o funcionamento do maquin�rio de madeira e engrenagens, enquanto no fundo est� a sala de manuten��o. Na sala principal, onde fica o pres�pio, a arquibancada foi retirada, garantindo mais espa�o para o p�blico acompanhar a apresenta��o com 10 minutos de dura��o. O projeto abrangeu a restaura��o e moderniza��o da obra, aprovado pelo Instituto do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico Nacional (Iphan), com financiamento regulado pela Lei Rouanet e patroc�nio do Instituto Unimed-BH. O custo da interven��o foi de R$ 565 mil.
NOVIDADES E tem muito mais na casa que abriga a obra de valor hist�rico e cultural: ao lado do pres�pio, foi reservado um espa�o para exposi��o de pain�is e instalado um monitor mostrando v�deos sobre o patrim�nio concebido por “seu” Raimundo, um homem autodidata. Para conhecer melhor a hist�ria dele, outro ambiente recria a oficina na qual trabalhou para entregar, aos mineiros e visitantes, algo t�o especial e comovente at� para quem lida com ele diariamente desde 1993.
Respons�vel pela manuten��o do acervo, tendo participado inclusive da montagem e desmontagem, Carlos Adalberto Alves do Santos, de 47 anos, s� tem uma palavra – “maravilhosa” – para resumir o restauro da obra coordenada pela diretora do Centro de Conserva��o e Restaura��o de Bens Culturais M�veis (Cecor/UFMG), professora Beth�nia Reis Veloso.
Compenetrado no servi�o, Carlos Adalberto destaca a qualidade de cada pe�a restaurada e aponta as cenas que mais gosta no pres�pio, entre elas aquela em que Jesus est� serrando a madeira, sob o olhar de Jesus, enquanto Maria trabalha no tear. “Toda a madeira do mecanismo, que � acionado por um motor, foi trocado, assim como algumas destru�das pelos cupins”.
Ao lado, colocando areia branca nos caminhos que levam � hist�ria sagrada, que inclui o nascimento, a vida, a morte e ressurrei��o de Cristo, C�lio Jos� da Silva, tamb�m funcion�rio da universidade e que “deu uma for�a” na montagem, conta que trabalhou com Raimundo nos �ltimos tr�s anos antes da morte do artes�o. “Fui seu disc�pulo. Tenho muito orgulho de ter convivido com ele, que tinha grande capricho com sua obra”, afirma.
Religiosidade, engenho e arte
Imposs�vel n�o ficar com os olhos brilhando e o cora��o em festa diante do Pres�pio do Pipiripau, que volta � cena hoje no Museu de Hist�ria Natural e Jardim Bot�nico da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), no Bairro Santa In�s, na Regi�o Leste. Em cena, est�o pe�as modeladas em argila, papel mach�, conchas e outros materiais movidos pelo engenhoso maquin�rio desenvolvido com barbante, carret�is de linha, polias, mecanismos de rel�gio, radiola, gramofone e outros equipamentos que Raimundo Machado Azeredo, o criador, foi conhecendo no dia a dia.
Em 1984, o pres�pio foi tombado pelo Instituto do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico Nacional. Para o reitor da UFMG, Jaime Ramirez, “o Pipiripau � um dos maiores patrim�nios de nossa cultura, a obra da vida de um grande artista popular. As cenas e personagens que ele construiu aliam a religiosidade do povo mineiro, a simplicidade de seu cotidiano e o deslumbre com os engenhos. � medida que ia tendo contato com as tecnologias, que rapidamente se sobrepunham no s�culo 20, foi incorporando-as � instala��o, sempre para permitir uma nova representa��o. Para a universidade, � um orgulho devolv�-lo restaurado a Belo Horizonte”.
J� o diretor-presidente da Unimed, Samuel Flam, diz que “al�m de cuidar das pessoas, tamb�m nos dedicamos a espa�os que fazem parte da hist�ria e da identidade da capital, refor�ando nosso compromisso social com a popula��o e Belo Horizonte. Por isso, escolhemos participar do restauro do Pipiripau, um dos nossos patrim�nios. “Estamos muito felizes com o resultado e, principalmente, em poder contribuir para esta entrega t�o simb�lica para os mineiros”.
RESTAURO O pres�pio foi fechado em abril de 2012, quando foi executado o diagn�stico para reparo. A partir da�, foram elaborados os projetos complementares para a nova edifica��o, como instala��es el�tricas, hidrossanit�rias e de preven��o a inc�ndio, seguran�a eletr�nica, sonoriza��o, sinaliza��o de emerg�ncia, entre outros.
A restaura��o de todas as pe�as foi mapeada e registrada em v�deos e fotografias. O trabalho come�ou em 2014 e ficou a cargo do Centro de Conserva��o e Restaura��o de Bens Culturais (Cecor) da UFMG, com a participa��o de mais de 50 bolsistas de v�rias �reas. Al�m disso, contou com o trabalho volunt�rio de professores do curso de engenharia el�trica e engenharia hidr�ulica e recursos h�dricos da universidade al�m de outros profissionais e empresas privadas. A constru��o de uma passarela de acesso para cadeirantes, pintura e reforma do telhado da sede foram executadas pelo Departamento de Manuten��o de Infraestrutura (Demai) da UFMG.
Cada pe�a recebeu uma ficha, como se fosse um “prontu�rio m�dico” e foram diagnosticadas todas as patologias e danos. “Os registros fotogr�ficos e pequenos filmes que fizemos foram fundamentais na montagem da cenografia, para localizar a posi��o de todas as pe�as e permitir que tudo voltasse ao lugar exato”, explicou a coordenadora t�cnica da restaura��o do pres�pio e especialista em restaura��o do Cecor, Tha�s Carvalho.
Anitta, a bisneta orgulhosa
Na festa de inaugura��o do pres�pio do Pipiripau, hoje, �s 10h, no Museu de Hist�ria Natural e Jardim Bot�nico da UFMG, o cantor Maur�cio Tizumba far� uma performance com a m�sica Tr�s Reis.Foram convidados familiares do criador da obra, Raimundo Machado, incluindo sua bisneta famosa, Anitta. Por meio de sua assessoria, a cantora carioca informou que n�o poder� vir, devido a compromissos. Mas deu um depoimento ao EM: “Fico muito orgulhosa por meu bisav� ter participado dessa obra magn�fica e conseguido mostrar seu trabalho art�stico para tantas pessoas. Sinto como se tivesse um pedacinho de mim e da minha fam�lia em Minas. O pres�pio � lindo e deve ser visitado”.