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Estado de Minas

Fim de ano ser� de ora��es e homenagens �s v�timas do inc�ndio na creche de Jana�ba

Fam�lia de Heley Batista, a professora que morreu ao tentar salvar crian�as do fogo na Creche Gente Inocente, dispensou a ceia este ano. Mas n�o perde a f�: "Deus vai cobrir esse vazio que ficou entre n�s", confia Paulo Regino, um dos irm�os dela


postado em 23/12/2017 06:00 / atualizado em 23/12/2017 07:28

Os irmãos de Heley, Paulo Regino (E) e Marconi (C), a mulher deste, Ariadna, e os filhos: sem a 'líder da família', até a organização da festa ficou difícil (foto: Luiz Ribeiro/EM/DA Press)
Os irm�os de Heley, Paulo Regino (E) e Marconi (C), a mulher deste, Ariadna, e os filhos: sem a 'l�der da fam�lia', at� a organiza��o da festa ficou dif�cil (foto: Luiz Ribeiro/EM/DA Press)
Jana�ba - Natal � sempre tempo de alegria e comemora��o em fam�lia – hora de renovar as esperan�as, pensar de forma positiva e acreditar no futuro, mesmo com lembran�as que fazem o cora��o bater no compasso forte da saudade. � o que ocorre em Jana�ba, no Norte de Minas, com as fam�lias das v�timas da trag�dia na creche Gente Inocente, provocada pelo vigia Dami�o Soares dos Santos, de 50 anos, na manh� de 5 de outubro. Dami�o ateou fogo no centro de educa��o infantil, matando ele pr�prio e levando � morte outras 12 pessoas, das quais nove crian�as. A emo��o e a saudade tomam o lugar da alegria t�pica das festividades natalinas na fam�lia da professora Heley Abreu Silva Batista, que morreu queimada, tentando salvar as crian�as da creche. O sentimento se repete nas fam�lias das crian�as que morreram no inc�ndio.

Parentes da professora contam que sempre mantiveram a tradi��o de se reunir em fam�lia durante o Natal. Neste ano, pela primeira vez, a comemora��o n�o vai ocorrer, devido � aus�ncia dela. “Sem Heley, est� sendo dif�cil. A gente sempre passou o Natal juntos, tendo essa vis�o do verdadeiro significado do Natal, do renascimento de Jesus Cristo, de a gente se sentar � mesa, cear com a fam�lia e os filhos e agradecer a Deus por tudo. Neste ano, n�o teremos a Heley materialmente ao nosso lado, mas, com certeza, o Pai Eterno, Nosso Senhor, vai conceder a presen�a dela nos nossos cora��es”, afirma o prot�tico Luiz Carlos Batista, vi�vo da professora.

Devido ao seu ato de bravura, Heley foi considerada hero�na, ganhando reconhecimento em todo o pa�s. Houve muitas campanhas nas redes sociais para que ela fosse eleita a Brasileira do Ano. Uma revista elegeu a cantora Annita como “Mulher do Ano” e milhares de pessoas fizeram uma postagem dizendo que a escolhida, na verdade, deveria ser a professora. Luiz Carlos disse que considera justas as campanhas para o reconhecimento a educadora morta na trag�dia.

“Respeito as opini�es de toda a popula��o brasileira. Cada um em seu v�nculo e sua escolha. Jamais serei contra a Anitta, outro cantor ou quem quer que seja. Cada um tem seu livre-arb�trio de escolher. Mas, quando algu�m faz algo que fica como exemplo, que n�o tem como ser distorcido, n�o tem como ser criticado e n�o tem como ser abalado, enxergado por muitos com vis�es diferentes, olhando pelo lado que citei – n�o pelo fato de ser minha esposa, mas sim por ter sido um ato de bravura e de extremo amor ao pr�ximo – isso precisa ser reconhecido, pois estamos diante da maior manifesta��o de amor existente, que � a doa��o da pr�pria vida”, relata Luiz Carlos.

Heley deixou tr�s filhos – Breno, de 15, L�via, de 12, e o pequeno Olavo, de apenas 1 ano e 4 meses. Luiz Carlos conta que, com a morte da mulher, sua rotina mudou e ele passou a enfrentar as dificuldades para criar os filhos sozinho. “Estou tentando me acostumar a viver com a aus�ncia da Heley. A rotina di�ria da minha vida mudou toda. Ainda que receba ajuda das pessoas, estou sendo pai e m�e, sendo tudo”, ressalta.
O viúvo Luiz Carlos, em foto de arquivo com retrato da educadora: 'Nosso Senhor vai conceder a presença dela nos nossos corações' (foto: Luiz Ribeiro/EM/DA Press)
O vi�vo Luiz Carlos, em foto de arquivo com retrato da educadora: 'Nosso Senhor vai conceder a presen�a dela nos nossos cora��es' (foto: Luiz Ribeiro/EM/DA Press)

Ele tamb�m confessa que enfrentou dificuldades financeiras. Por isso, agradece as doa��es que foram destinadas �s fam�lias das v�timas da trag�dia. “Agrade�o a todas as pessoas que oraram e que fizeram campanhas de contribui��o e nos ajudaram com fundos. A arrecada��o de dinheiro me ajudou nos pagamentos de muitas contas que estavam pendentes, como a escola dos meus filhos. Ainda que o que ela ganhava era pouco, minha esposa me ajudava demais. Eu estava cursando uma faculdade de odontologia cara, tentando ganhar uma bolsa. Por isso, agrade�o de cora��o as pessoas que foram solid�rias e nos ajudaram”, declara Luiz Carlos, que, assim como os familiares de outras v�timas, ainda est� � espera do recebimento de indeniza��o por parte da Prefeitura de Jana�ba.

Heley faz falta nos cora��es e tamb�m nas coisas pr�ticas da vida. “Sempre quem preparava tudo era ela’’, lembra a m�e da educadora, Valda Terezinha Abreu Silva, de 65, de luto pela tr�gica perda da filha. “O que estou sentindo � uma coisa que n�o desejo para nenhuma outra m�e do mundo”, diz, emocionada, a aposentada. “A Heley era a primeira pessoa a chegar e tomava conta de tudo na organiza��o das coisas, com muita dedica��o”, acrescenta a enfermeira Ariadna Patricia Barbosa, cunhada da professora hero�na.

Ariadna � casada com o comerciante de toldos Marconi Abreu Silva, de 40, um dos dois irm�os de Heley. “Desta vez n�o ter� nada. Com a morte da Heley, ficamos sem ch�o”, confirma Marconi. O outro irm�o de Heley, o serralheiro Paulo Regino Abreu Silva, de 36, salienta que a professora, al�m de ser a primog�nita, era a l�der dos irm�os. “A gente sempre gostou muito da Heley. Sem ela, ficamos muito abatidos. Este Natal ficou desanimado mesmo. N�o tem o que comemorar”, lamenta Paulo Regino. Mas, como a irm�, que era devota de Nossa Senhora Aparecida, n�o perde a f�: “Com certeza, Deus vai cobrir esse vazio que ficou entre n�s”, diz.

“No primeiro momento, fiquei em choque, sem saber o que fazer. Infelizmente, ela morreu naquela situa��o, sem que eu pudesse fazer nada por ela. Minha maior tristeza foi essa, de n�o poder fazer nada. Se Deus me desse a oportunidade de salvar minha irm�, eu teria salvo. Minha maior tristeza foi essa, de n�o poder”, afirma o serralheiro. “Mas, mesmo com tudo que aconteceu, a gente tem um pouco de felicidade sempre que ouve dizer que ela salvou muitas crian�as”, conclui Paulo Regino.

A saudade tamb�m marca o Natal das fam�lias das nove crian�as mortas no inc�ndio na creche Gente Inocente, em Jana�ba. “Est� sendo um per�odo natalino diferente, muito triste”, confessa a balconista Valdirene dos Santos Borges, m�e do pequeno Mateus Felipe Rocha Santos, de 5 anos, uma das crian�as que perderam a vida na trag�dia. Para lembrar o filho, ela usa uma camiseta com a foto dele na parte da frente e a frase “n�o h� dinheiro que pague a vida dele”, nas costas. No ano passado, ela deu como presente de Natal para Mateus Felipe um carrinho, brinquedo preferido do garoto, que sonhava ser policial militar.

Valdirene Borges leva na camiseta a foto do filho Mateus, que morreu na tragédia: 'Não há dinheiro que pague a vida dele' (foto: Luiz Ribeiro/EM/DA Press)
Valdirene Borges leva na camiseta a foto do filho Mateus, que morreu na trag�dia: 'N�o h� dinheiro que pague a vida dele' (foto: Luiz Ribeiro/EM/DA Press)


OUTRAS V�TIMAS Ainda n�o refeitos do susto e solid�rios com os sentimentos dos familiares de colegas de seus filhos que perderam a vida, pais das crian�as que sofreram queimaduras no inc�ndio e permanecem em recupera��o tamb�m n�o v�o fazer festa de Natal este ano. A Prefeitura de Jana�ba informou que 10 crian�as de casos mais graves continuam recebendo os cuidados ministrados por uma equipe m�dica multidisciplinar do munic�pio, que, para fazer o atendimento especializado, participou de capacita��o promovida na cidade por um grupo de profissionais que atendeu os feridos no inc�ndio da Boate Kiss, em Santa Maria (SC), trag�dia ocorrida em 27 de janeiro de 2013, que resultou em 242 mortes e 680 feridos.

A dom�stica Uilsa Maria de Jesus, de 28, � m�e de Ma�sa Gabriele de Jesus Santos, de 4, uma das v�timas do fogo na unidade de ensino infantil. A menina teve 49% do corpo queimado e ficou 13 dias internada na Santa Casa de Montes Claros. Depois de receber alta, d� continuidade ao tratamento com medica��o, com retornos ao hospital para avalia��es peri�dicas. Ma�sa voltou a frequentar a creche, improvisada em um pr�dio da Secretaria de Sa�de do munic�pio.

Uilsa n�o tem �nimo para fazer festa neste Natal, apesar da alegria pela recupera��o da filha. “Agrade�o a Deus pela vida de minha filha, mas sinto muito pelas outras m�es que perderam os filhos e tamb�m pela professora (Heley) e pelas funcion�rias da creche que morreram”, lamenta Uilsa, que tamb�m � m�e da menina Tauane, de 9 anos.

Pr�ximos passos


‘A Prefeitura de Jana�ba, por meio de um Termo de Ajustamento de Condutas (TAC) firmado com o Minist�rio P�blico de Minas Gerais (MPMG), decidiu que vai pagar as indeniza��es �s fam�lias das v�timas da trag�dia nos valores de R$ 12 mil, divididos em 12 parcelas de R$ 1 mil ao longo de 2018 – para os casos de morte e de pessoas com ferimentos graves ou que ficaram incapacitadas para o trabalho por no m�nimo 30 dias, e R$ 6 mil (em 12 parcelas de R$ 500 em 2018) para as demais v�timas.’’


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