
Parentes da professora contam que sempre mantiveram a tradi��o de se reunir em fam�lia durante o Natal. Neste ano, pela primeira vez, a comemora��o n�o vai ocorrer, devido � aus�ncia dela. “Sem Heley, est� sendo dif�cil. A gente sempre passou o Natal juntos, tendo essa vis�o do verdadeiro significado do Natal, do renascimento de Jesus Cristo, de a gente se sentar � mesa, cear com a fam�lia e os filhos e agradecer a Deus por tudo. Neste ano, n�o teremos a Heley materialmente ao nosso lado, mas, com certeza, o Pai Eterno, Nosso Senhor, vai conceder a presen�a dela nos nossos cora��es”, afirma o prot�tico Luiz Carlos Batista, vi�vo da professora.
Devido ao seu ato de bravura, Heley foi considerada hero�na, ganhando reconhecimento em todo o pa�s. Houve muitas campanhas nas redes sociais para que ela fosse eleita a Brasileira do Ano. Uma revista elegeu a cantora Annita como “Mulher do Ano” e milhares de pessoas fizeram uma postagem dizendo que a escolhida, na verdade, deveria ser a professora. Luiz Carlos disse que considera justas as campanhas para o reconhecimento a educadora morta na trag�dia.
“Respeito as opini�es de toda a popula��o brasileira. Cada um em seu v�nculo e sua escolha. Jamais serei contra a Anitta, outro cantor ou quem quer que seja. Cada um tem seu livre-arb�trio de escolher. Mas, quando algu�m faz algo que fica como exemplo, que n�o tem como ser distorcido, n�o tem como ser criticado e n�o tem como ser abalado, enxergado por muitos com vis�es diferentes, olhando pelo lado que citei – n�o pelo fato de ser minha esposa, mas sim por ter sido um ato de bravura e de extremo amor ao pr�ximo – isso precisa ser reconhecido, pois estamos diante da maior manifesta��o de amor existente, que � a doa��o da pr�pria vida”, relata Luiz Carlos.
Heley deixou tr�s filhos – Breno, de 15, L�via, de 12, e o pequeno Olavo, de apenas 1 ano e 4 meses. Luiz Carlos conta que, com a morte da mulher, sua rotina mudou e ele passou a enfrentar as dificuldades para criar os filhos sozinho. “Estou tentando me acostumar a viver com a aus�ncia da Heley. A rotina di�ria da minha vida mudou toda. Ainda que receba ajuda das pessoas, estou sendo pai e m�e, sendo tudo”, ressalta.

Ele tamb�m confessa que enfrentou dificuldades financeiras. Por isso, agradece as doa��es que foram destinadas �s fam�lias das v�timas da trag�dia. “Agrade�o a todas as pessoas que oraram e que fizeram campanhas de contribui��o e nos ajudaram com fundos. A arrecada��o de dinheiro me ajudou nos pagamentos de muitas contas que estavam pendentes, como a escola dos meus filhos. Ainda que o que ela ganhava era pouco, minha esposa me ajudava demais. Eu estava cursando uma faculdade de odontologia cara, tentando ganhar uma bolsa. Por isso, agrade�o de cora��o as pessoas que foram solid�rias e nos ajudaram”, declara Luiz Carlos, que, assim como os familiares de outras v�timas, ainda est� � espera do recebimento de indeniza��o por parte da Prefeitura de Jana�ba.
Heley faz falta nos cora��es e tamb�m nas coisas pr�ticas da vida. “Sempre quem preparava tudo era ela’’, lembra a m�e da educadora, Valda Terezinha Abreu Silva, de 65, de luto pela tr�gica perda da filha. “O que estou sentindo � uma coisa que n�o desejo para nenhuma outra m�e do mundo”, diz, emocionada, a aposentada. “A Heley era a primeira pessoa a chegar e tomava conta de tudo na organiza��o das coisas, com muita dedica��o”, acrescenta a enfermeira Ariadna Patricia Barbosa, cunhada da professora hero�na.
Ariadna � casada com o comerciante de toldos Marconi Abreu Silva, de 40, um dos dois irm�os de Heley. “Desta vez n�o ter� nada. Com a morte da Heley, ficamos sem ch�o”, confirma Marconi. O outro irm�o de Heley, o serralheiro Paulo Regino Abreu Silva, de 36, salienta que a professora, al�m de ser a primog�nita, era a l�der dos irm�os. “A gente sempre gostou muito da Heley. Sem ela, ficamos muito abatidos. Este Natal ficou desanimado mesmo. N�o tem o que comemorar”, lamenta Paulo Regino. Mas, como a irm�, que era devota de Nossa Senhora Aparecida, n�o perde a f�: “Com certeza, Deus vai cobrir esse vazio que ficou entre n�s”, diz.
“No primeiro momento, fiquei em choque, sem saber o que fazer. Infelizmente, ela morreu naquela situa��o, sem que eu pudesse fazer nada por ela. Minha maior tristeza foi essa, de n�o poder fazer nada. Se Deus me desse a oportunidade de salvar minha irm�, eu teria salvo. Minha maior tristeza foi essa, de n�o poder”, afirma o serralheiro. “Mas, mesmo com tudo que aconteceu, a gente tem um pouco de felicidade sempre que ouve dizer que ela salvou muitas crian�as”, conclui Paulo Regino.
A saudade tamb�m marca o Natal das fam�lias das nove crian�as mortas no inc�ndio na creche Gente Inocente, em Jana�ba. “Est� sendo um per�odo natalino diferente, muito triste”, confessa a balconista Valdirene dos Santos Borges, m�e do pequeno Mateus Felipe Rocha Santos, de 5 anos, uma das crian�as que perderam a vida na trag�dia. Para lembrar o filho, ela usa uma camiseta com a foto dele na parte da frente e a frase “n�o h� dinheiro que pague a vida dele”, nas costas. No ano passado, ela deu como presente de Natal para Mateus Felipe um carrinho, brinquedo preferido do garoto, que sonhava ser policial militar.

OUTRAS V�TIMAS Ainda n�o refeitos do susto e solid�rios com os sentimentos dos familiares de colegas de seus filhos que perderam a vida, pais das crian�as que sofreram queimaduras no inc�ndio e permanecem em recupera��o tamb�m n�o v�o fazer festa de Natal este ano. A Prefeitura de Jana�ba informou que 10 crian�as de casos mais graves continuam recebendo os cuidados ministrados por uma equipe m�dica multidisciplinar do munic�pio, que, para fazer o atendimento especializado, participou de capacita��o promovida na cidade por um grupo de profissionais que atendeu os feridos no inc�ndio da Boate Kiss, em Santa Maria (SC), trag�dia ocorrida em 27 de janeiro de 2013, que resultou em 242 mortes e 680 feridos.
A dom�stica Uilsa Maria de Jesus, de 28, � m�e de Ma�sa Gabriele de Jesus Santos, de 4, uma das v�timas do fogo na unidade de ensino infantil. A menina teve 49% do corpo queimado e ficou 13 dias internada na Santa Casa de Montes Claros. Depois de receber alta, d� continuidade ao tratamento com medica��o, com retornos ao hospital para avalia��es peri�dicas. Ma�sa voltou a frequentar a creche, improvisada em um pr�dio da Secretaria de Sa�de do munic�pio.
Uilsa n�o tem �nimo para fazer festa neste Natal, apesar da alegria pela recupera��o da filha. “Agrade�o a Deus pela vida de minha filha, mas sinto muito pelas outras m�es que perderam os filhos e tamb�m pela professora (Heley) e pelas funcion�rias da creche que morreram”, lamenta Uilsa, que tamb�m � m�e da menina Tauane, de 9 anos.
Pr�ximos passos
‘A Prefeitura de Jana�ba, por meio de um Termo de Ajustamento de Condutas (TAC) firmado com o Minist�rio P�blico de Minas Gerais (MPMG), decidiu que vai pagar as indeniza��es �s fam�lias das v�timas da trag�dia nos valores de R$ 12 mil, divididos em 12 parcelas de R$ 1 mil ao longo de 2018 – para os casos de morte e de pessoas com ferimentos graves ou que ficaram incapacitadas para o trabalho por no m�nimo 30 dias, e R$ 6 mil (em 12 parcelas de R$ 500 em 2018) para as demais v�timas.’’