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Estado de Minas

Conhe�a a estudante de direito que quer implantar a 1� pris�o humanizada de BH

Estudante de direito quer implantar na capital uma unidade da Associa��o de Prote��o e Assist�ncia a Condenados. Para ela, � hora de parar de reclamar e partir para a a��o


postado em 07/01/2018 06:00 / atualizado em 07/01/2018 11:35

Maria Guilhermina acredita que a educação é ferramenta para mudar a si mesmo e a sociedade(foto: Leandro Couri/EM/DA Press)
Maria Guilhermina acredita que a educa��o � ferramenta para mudar a si mesmo e a sociedade (foto: Leandro Couri/EM/DA Press)
O primeiro sinal de comunica��o com os pais, na mais terna idade, foi apontar a barriga com a palma da m�o e, em movimentos r�pidos, mostrar que estava com fome. Hoje, aos 24 anos e no 9º per�odo de direito, a belo-horizontina Maria Guilhermina Miranda Campos de Abreu se recorda do gesto com ternura e deixa claro que o apetite continua voraz: tem sede de justi�a, amor pelo ensino de qualidade, paix�o pelo empreendedorismo social e vontade cada vez maior de trabalhar pelo futuro, entre outros desejos e desafios. “Temos que parar de reclamar e partir para a��o, fazer algo”, diz a jovem de pensamento claro e rapidez nas palavras, que est� envolvida numa empreitada de f�lego: implantar na capital uma unidade da Associa��o de Prote��o e Assist�ncia a Condenados (Apac).

Na sede da organiza��o n�o governamental Embaixadores da Escola, que fica no espa�o do Naa��o, um clube de impacto social, no Bairro Barro Preto, na Regi�o Centro-Sul de BH, Guilhermina divide o tempo entre a gest�o do espa�o, discuss�es de projetos e desenvolvimento de programas dirigidos a estudantes. E � com muito brilho nos olhos verdes que revela suas cr�ticas e contribui��es: “Educa��o � ferramenta, o meio para uma pessoa mudar a si mesma, a sociedade, enfim, o que ela quiser. O pr�prio ser humano � a sa�da”.

O sonho de implantar a Apac BH, nascido numa visita � Apac de Nova Lima, na Grande BH, entusiasma Guilhermina, que considera “de muito amor” a rela��o com o projeto, do qual esteve � frente e que, devido a uma elei��o, est� com nova diretoria. “Parto do princ�pio de que todos merecem uma segunda chance. Sempre falo que a educa��o � uma causa que escolhi, mas, no caso da Apac, foi ela que me escolheu.” A iniciativa conta com a uni�o de esfor�os do grupo Minas pela Paz, em atua��o desde 2013, e que tem entre as lideran�as o juiz da Vara de Execu��es Criminais Luiz Carlos Rezende.

Nas palestras que tem feito, a belo-horizontina filha de pais surdos, os professores Ant�nio Campos de Abreu e Rita de C�ssia, especializada no ensino de Libras (L�ngua Brasileira de Sinais) –, faz uma compara��o entre seus objetivos e a campanha do Clube Atl�tico Mineiro rumo � Ta�a Libertadores da Am�rica, em 2013. “Tor�o para o Galo, mas n�o entendo nada de futebol. Mas aqueles jogos mexeram muito comigo, com minhas emo��es, principalmente na for�a da torcida gritando ‘eu acredito’. Ent�o, mesmo neste momento brasileiro de desesperan�a, sinto-me motivada e pronta para dizer eu acredito.”

"Parto do princ�pio de que todos merecem uma segunda chance. Sempre falo que a educa��o � uma causa que escolhi, mas, no caso da Apac, foi ela que me escolheu"

Maria Guilhermina Miranda Campos de Abreu, de 24 anos



TRANSFORMA��O Imersa em v�rias atividades, Guilhermina ainda est� se preparando para uma viagem, neste m�s, aos Estados Unidos. No Babson College, em Boston, far� um curso de uma semana, resultado de uma premia��o para a melhor iniciativa do pa�s no ensino de empreendedorismo. Satisfeita, ela recorda que, at� chegar aqui, foi uma trajet�ria de muitos questionamentos. A escalada come�ou na adolesc�ncia, quando, estudante de escola p�blica na capital, come�ou a criticar a qualidade do ensino e a falta de estrutura e de comprometimento dos professores, enfim, o sistema educativo como um todo e a educa��o formal como � hoje. “Se em Belo Horizonte � assim, como ser� no Vale do Jequitinhonha?”, perguntava-se a aluna do ensino m�dio.

As respostas n�o vieram de imediato: foi preciso sofrer muito, pensar mais ainda e ir � luta para entender que toda a engrenagem estava enferrujada, da� causar tanto atraso. “N�o via sentido em nada, fiquei desinteressada aos 14 anos”, recorda-se. O despertar veio em 2011, no programa Plug Minas, do governo estadual, para “empoderamento juvenil”, e depois na escola do Sebrae Minas. “Ent�o, floresceu a paix�o pelo empreendedorismo”, revela a estudante.

No dia a dia, Guilhermina come�ou a refletir sobre a forma de retribuir as oportunidades que teve e o que poderia fazer para ajudar a mudar o mundo. Basicamente, o tema era parar de reclamar e trabalhar a pr�tica. Nesse embalo, nasceu com um grupo de ex-alunos de escolas p�blicas o programa Embaixadores da Escola, dividido em m�dulos (fases) e dedicado a estudantes tamb�m de escolas p�blicas. As metas s�o propor mudan�as, estimular a empatia – “n�o damos li��o de moral”, avisa a futura advogada – e manter um “papo reto” com os jovens. “� tudo espont�neo, org�nico”, com baixo custo, aproveitamento de material reciclado. A dura��o � de tr�s meses em cada escola, em sistema de parceria, e as �ltimas foram na Pedreira Prado Lopes, na Regi�o Noroeste, �rea de vulnerabilidade social e viol�ncia, e no Barreiro.

“Antes, gast�vamos dinheiro do nosso bolso, agora formamos parcerias e agentes multiplicadores na faixa et�ria de 18 a 24 anos. E nas atividades, estimulamos os jovens a recolher o lixo, limpar o ch�o, enfim, colaborar com a comunidade”, diz a estudante de direito. Olhando o jeito determinado de Guilhermina, v�-se claramente que ela � uma pessoa do futuro. E de futuro: tem interesse social, conhecimento do que fala, humildade para aprender, lida bem com as novas tecnologias e vai diretamente ao assunto. “Queremos levar uma mensagem, conviver com as diferen�as. Uma vez, uma menina muito inteligente, e que sofria bullying na escola, falou com uma pessoa de nossa equipe que n�o gostava de gente. Ent�o, nos dedicamos muito a ela, que, com o tempo e muita conversa, desabrochou”, recorda-se Guilhermina.

Novamente, a irm� de Ant�nio, de 25, e Helena, de 23, se lembra do primeiro sinal aprendido na inf�ncia e destaca a import�ncia da fam�lia. “Aprendi a l�ngua materna em Libras. Ser filha de surdos foi normal, eles tiveram uma boa educa��o, puderam estudar. A educa��o � a ferramenta, mas � preciso saber us�-la da melhor forma”, afirma Guilhermina.

Pris�o com dignidade


A Associa��o de Prote��o e Assist�ncia a Condenados (Apac) � uma metodologia criada para dar dignidade no cumprimento da pena privativade liberdade, sem que essa perca o car�ter punitivo. Trata-se de uma iniciativa da sociedade civil
conduzida em v�rios estados brasileiros e que,em Minas Gerais, tem apoio do Tribunal de Justi�a (TJMG), via programa Novos Rumos, que visa fortalecer a humaniza��o no cumprimento das penas privativas de liberdade e das medidas de interna��o. Em Minas, h� 39 unidades da Apac implantadas e outras em andamento.


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