
De um lado, empresas de �nibus pressionando por reajuste nas passagens de Belo Horizonte; de outro, a prefeitura da capital, que condiciona a an�lise a uma auditoria do setor sem data para terminar; no meio da queda de bra�o, o usu�rio do transporte, j� pressionado pelo an�ncio de disparada no pre�o da passagem do metr�, e que se v� �s voltas com coletivos em m�s condi��es e problemas que �s vezes impossibilitam at� mesmo que o ve�culo rode. Esse quadro se traduz em n�meros preocupantes revelados em ofensiva da BHTrans, que intensificou a fiscaliza��o e, apenas nos primeiros tr�s meses do ano, identificou 1.033 irregularidades na frota. S�o falhas que v�o de pneus em condi��es prec�rias a defeito nos elevadores para cadeirantes e pessoas com dificuldade de locomo��o, chegando a casos que exigem o recolhimento da autoriza��o de tr�fego dos ve�culos. De janeiro a mar�o foram 425 reten��es desse documento, o que equivale � m�dia de quatro �nibus impedidos de seguir viagem a cada dia na cidade. Nesse caso, o motorista precisa levar o ve�culo para sanar o problema e depois submet�-lo a nova vistoria na sede da BHTrans, antes de retomar as atividades.
O an�ncio da intensifica��o da fiscaliza��o ocorre quase tr�s meses depois que um �nibus caiu em um c�rrego no Barreiro, aparentemente depois de perder os freios, matando cinco pessoas e deixando 14 feridas. Paralelamente ocorre o impasse em rela��o ao pre�o das passagens, cujo reajuste foi barrado no in�cio do ano pela prefeitura e depois pela Justi�a. O sistema enfrenta ainda den�ncias da aus�ncia de cobradores em hor�rios em que a presen�a deles seria obrigat�ria, al�m da queima de coletivos na cidade.
S� neste ano, j� foram incendiados oito ve�culos de responsabilidade das empresas prestadoras do servi�o na capital, que alegam falta de recursos para a reposi��o. Ainda segundo a BHTrans, de janeiro a 17 de abril foram 285 autua��es pelo fato de as mesmas empresas colocarem �nibus sem o agente de bordo ou cobrador para rodar em hor�rios em que o trabalhador deveria estar presentes. O n�mero supera em 35% as 210 autua��es registradas pelo mesmo motivo em todo o ano passado.

Ontem, a equipe do EM acompanhou vistorias de agentes da BHTrans, que conferem uma lista com 79 itens nos coletivos. Alguns deles, como problemas no freio de porta, para-brisa trincado, pneus carecas, sa�da de emerg�ncia travada, luz de freio queimada ou falta do extintor de inc�ndio, geram o recolhimento imediato da autoriza��o de tr�fego. “O objetivo das vistorias � evitar que acidentes aconte�am, porque n�s temos cerca de 2,9 mil �nibus na cidade que, juntos, fazem 25 mil viagens e percorrem 540 mil quil�metros todos os dias”, afirma o gerente da BHTrans Artur Abreu. No per�odo em que a reportagem acompanhou o trabalho, n�o houve autua��es nos coletivos da linha 5201 (Buritis/Dona Clara), integrante do sistema do Move. “Cerca de um ter�o das 291 linhas de BH t�m �ndice de desempenho operacional mais baixo do que as demais e por isso s�o visitadas com mais frequ�ncia por nossas equipes, justamente para tentar for�ar a melhoria nas condi��es”, diz Abreu.
A estudante Amanda Pinheiro, de 23, defende que as vistorias devem ser cada vez mais intensificadas, principalmente para flagrar o descumprimento dos hor�rios previstos nas viagens. Ela mora no Conjunto Santa Maria, Regi�o Oeste de BH, e vai todos os dias para a faculdade no Bairro Funcion�rios, Centro-Sul da cidade. “Os �nibus s� passam lotados e sempre atrasam. Al�m disso, � muito comum os coletivos da linha 9206 (Buritis/Vera Cruz) quebrarem. O servi�o � horr�vel para os R$ 4,05 da passagem”, diz ela. O gerente Artur Abreu, diz que todos os dias s�o 110 vistorias, conforme divis�o da cidade feita pela empresa para alcan�ar todas as 291 linhas. “Houve intensifica��o desde julho do ano passado, em fun��o de uma reorganiza��o interna da BHTrans”, afirma.
Mortes e desastres
Na noite de 13 de fevereiro, ter�a-feira de carnaval, o motorista de um �nibus da linha 305 (Esta��o Diamante/Mangueiras) perdeu o controle do ve�culo na Rua Jos� Luiz Raso, na Regi�o do Barreiro, e o coletivo caiu em um c�rrego. Al�m do condutor, M�rcio Jo�o de Carvalho, de 60 anos, morreram quatro passageiros. Cinco dias depois, um motorista da linha 311 (Esta��o Diamante/Independ�ncia), da mesma empresa, parou o ve�culo e pediu que os passageiros descessem, devido a problemas mec�nicos. Menos de duas semanas depois da ocorr�ncia com mortes, na Regi�o Nordeste, no Bairro Nazar�, um coletivo da linha 808 (Esta��o S�o Gabriel/Paulo VI) teve o eixo traseiro arrancado em uma ladeira. O �nibus estava cheio e houve p�nico entre os passageiros. Na madrugada do mesmo dia, um micro-�nibus da linha 55 (Santa Am�lia/Planalto) invadiu uma casa no Jardim Leblon, em Venda Nova, depois de ficar sem freios. N�o havia passageiros. O condutor teve les�es leves.

Auditoria ainda n�o tem prazo
Depois de o prefeito Alexandre Kalil dizer que as passagens n�o aumentariam at� a abertura da “caixa-preta” do transporte coletivo da capital, o processo de auditoria nas contas das empresas agora depende da assinatura da ordem de servi�o autorizando a empresa Maciel Consultores a entregar, em at� seis meses, o relat�rio final da fiscaliza��o. A empresa foi a �nica interessada em verificar os contratos referentes ao servi�o de transporte p�blico de passageiros por �nibus em BH. Segundo o edital 2017/002, o contrato tem como objetivo dar transpar�ncia aos n�meros do setor, principalmente em rela��o aos custo operacionais para opera��o do sistema pelas concession�rias.
Falta de trocador tira �nibus das ruas
A flexibiliza��o da presen�a dos trocadores em �nibus foi autorizada por meio de lei municipal apenas nos �nibus do Move, em qualquer hor�rio, ou entre 20h30 e 5h59, nas demais linhas da cidade. Por�m, na ter�a-feira o EM flagrou um coletivo da linha 8001A (Santa In�s/BH Shopping) sem o cobrador �s 19h30, pleno hor�rio de pico da volta para casa e tamb�m em um dia de evento na Arena Independ�ncia, que recebia a partida entre Atl�tico e San Lorenzo, pela Copa Sul-Americana. Essa situa��o tem incomodado tanto motoristas, que precisam cobrar as passagens al�m de dirigir, quanto passageiros. “Acho que a aus�ncia do cobrador torna o percurso mais perigoso, pois tira o foco do motorista, al�m de atrasar a viagem”, diz a comerciante Ivana Queiroz.
Um condutor da linha 5201 (Buritis/Dona Clara), que n�o quis se identificar, disse que especialmente no caso dos coletivos que ele dirige, a medida complicou muito a vida dos motoristas. “Tem uns lugares em que temos que fazer manobra, e nessas horas o trocador ajudava demais. Al�m disso, quando embarca um passageiro cadeirante n�s temos que acionar o elevador e abandonar a dire��o. Isso me deixa um pouco preocupado, porque j� teve uma situa��o em que um passageiro transtornado entrou no �nibus e tentou soltar o freio de m�o. Nesse caso eu estava no volante e pisei no freio. Imagina se algu�m faz isso quando n�o houver ningu�m na dire��o?”, questiona o condutor.
Outro motorista que pediu para n�o ser identificado disse que a presen�a do trocador � muito importante em algumas situa��es no tr�nsito. “Voc� n�o imagina como � sair da faixa exclusiva da Ant�nio Carlos para pegar o viaduto da rodovi�ria. Ningu�m deixa passar e � muito dif�cil fazer essa manobra”, afirma. Ainda segundo o condutor, a linha 5201 foi integrada ao Move, mas roda n�o s� pelas pistas exclusivas da Ant�nio Carlos e tamb�m enfrenta o tr�nsito em geral da cidade. Nesse caso, a aus�ncia do cobrador tornou-se ainda mais prejudicial.
Apesar dos n�meros da BHTrans e das queixas dos motoristas, o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros (Setra BH) sustentou, em nota, que a opera��o sem o agente de bordo somente � realizada em hor�rios e linhas autorizados, e que a situa��o n�o acarreta preju�zo � qualidade do servi�o. Ainda segundo a entidade, as 1.033 multas aplicadas aos ve�culos de janeiro a mar�o de 2018 “correspondem a 0,05% das mais de 2 milh�es de viagens realizadas pelo sistema de transporte coletivo” na capital no per�odo. “A expressiva maioria delas � objeto de recurso junto � BHTrans”, concluiu.