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Estado de Minas

'Japoneiros': interc�mbio cultural entre Minas e Jap�o cresce a cada ano

Conectadas h� seis d�cadas, culturas experimentam ponte cada vez mais consistente, e de m�o dupla, representada por alunos que cruzam o planeta para estudar e ampliar conhecimentos


postado em 20/05/2018 06:00 / atualizado em 20/05/2018 09:24

Os brasileiros Frederico Nunes e Isadora Santos e os japoneses Karen Hashimoto e Wataru Kaibe em BH: admiração dos dois lados do globo(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
Os brasileiros Frederico Nunes e Isadora Santos e os japoneses Karen Hashimoto e Wataru Kaibe em BH: admira��o dos dois lados do globo (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)

Um comporta quase seis vezes a popula��o do outro, em territ�rio uma vez e meia menor. No mapa-m�ndi, est�o em posi��o oposta, mas na vida concreta, nem a barreira do idioma impede a troca de conhecimentos de duas culturas t�o diferentes, conectadas h� 60 anos, quando os primeiros moradores do Pa�s do Sol Nascente chegaram ao territ�rio mineiro. Destino n�o t�o comum, o Jap�o tem sido op��o cada vez mais procurada por mineiros que sonham estudar no exterior. Do lado de c�, Minas atrai cada vez mais japoneses interessados em desvendar os encantos das Gerais e recebe parte consider�vel dos estudantes nip�nicos que escolhem o Brasil para fazer interc�mbio. Em alguns casos, a experi�ncia de viver em um pa�s com costumes diversos daqueles da na��o de origem deu certo a ponto de fazer a busca pelo saber terminar no altar.

Novidade. Para o design Frederico Nunes, de 23 anos, esse � o maior chamariz para jovens que desejam fazer interc�mbio no Jap�o. H� tr�s anos, como presente de formatura, ele passou tr�s meses viajando pelo pa�s. Encontrou brasileiros fazendo faculdade, outros que haviam passado em concurso em prefeituras locais e diversos outros exemplos. Coordenador do Instituto de Cultura Oriental (ICO), no Bairro S�o Lucas, na Regi�o Centro-Sul de Belo Horizonte, aproveitou para visitar escolas com a quais a institui��o tem parceria. “Com uma semana perdi o medo de errar o idioma. Em T�quio, as pessoas se comunicam em ingl�s com os estrangeiros, pois a �ltima coisa que imaginam � que voc� sabe falar japon�s”, diz.

Ele at� pensou em estender a viagem, mas decidiu voltar ao Brasil e esperar completar 25 anos de idade para tentar uma bolsa de mestrado em planejamento estrat�gico no Jap�o. Espera, desse modo, evitar a burocracia para tirar o visto. “N�o negam o visto, mas pedem cada vez mais documentos para ter a certeza de quem est� entrando no pa�s. Eu tinha a certifica��o do trabalho, das escolas que ia visitar e carta de recomenda��o e, mesmo assim minha documenta��o voltou tr�s vezes”, conta.

Frederico relata que, nos �ltimos cinco anos, pelo menos oito alunos na faixa de 20 anos foram estudar no Jap�o para fazer gradua��o, doutorado, acordos de interc�mbio e outras bolsas. Outros tantos foram s� para conhecer. “Muitos brasileiros que nem s�o descendentes de japoneses acabam gostando do pa�s oriental por causa da cultura. Antes, os alunos entravam influenciados por algum desenho e s� depois come�avam a pensar em uma escola no Jap�o. Hoje j� tem gente no b�sico pensando em bolsa de estudos.”

DEMANDA O aumento do interesse � registrado tamb�m pela World Study. “Nos �ltimos tr�s anos, houve crescimento da demanda para a �sia em geral. E a grande procura � por parte de adolescentes, por influ�ncia da cultura e em busca de experi�ncia completamente diferente. Os meninos chegam hoje aos 15 anos com um ingl�s muito bom, por isso, querem um novo idioma”, afirma a gerente regional da ag�ncia em BH, Simone Gomes. Outro atrativo s�o os influenciadores digitais japoneses, verdadeiras febres entre os jovens. Segundo Simone, nem os adultos escapam: adoram conciliar o aprendizado do idioma enquanto curtem as f�rias.

Na ag�ncia, a maior demanda de estudantes tem sido para a high school, o equivalente ao ensino m�dio brasileiro. E a� vem a comprova��o de que o idioma japon�s tem feito a cabe�a da meninada, pois para se candidatar a uma vaga � pr�-requisito ter conhecimento pelo menos intermedi�rio da l�ngua e comprovar que estuda o idioma h� pelo menos tr�s anos.

A estudante Isadora Santos, de 18 anos, foi uma dessas alunas. Ela voltou ano passado, depois de uma temporada de 10 meses, e se revela uma mineira de alma japonesa. O interc�mbio a ligou de vez a um amor antigo. Amante da cultura, f� de games e da moda japonesa, come�ou a assistir animes, desenhos animados japoneses, quando tinha 11 anos. Ela desenha e, em seu tra�o, h� toda a influ�ncia do estilo oriental. Diante de tantas evid�ncias, o pai a matriculou em um curso, em que estudou durante dois anos. “A ficha dessa experi�ncia n�o tinha ca�do nem quando voltei ao Brasil. Fui com uma expectativa baixa, pois muita gente me falou que eu teria de me esfor�ar muito na escola e de acostumar com a comida. E, no entanto, fui muito bem recebida.”

Entre as orienta��es, aula de boas maneiras e para onde ir em caso de terremoto e tsunami. Isadora retornou com fala, escrita e leitura fluentes. “Tenho muita vontade de voltar. Percebi que minha vida l� era muito mais feliz do que no Brasil. Amo minha fam�lia, mas a liberdade l� � muito maior e h� mais op��es do que fazer”, conta a menina, que sonha em fazer a gradua��o no Jap�o.

Na escola, Isadora se impressionou com a dedica��o dos estudantes. Primeiro, s�o raras as mudan�as de institui��o durante os ensinos fundamental e m�dio. do mesmo jeito que a aten��o dos professores com os alunos � grande, grande tamb�m � o respeito pelos mestres. Conversa em sala de aula � algo que n�o existe. “As pessoas imaginam os japoneses frios e eles acham que somos pegajosos. O brasileiro tem essa coisa de abra�ar e beijar. N�o recebi nenhum abra�o no meu tempo l�, mas eles s�o muito afetivos de outro jeito. Mostrar afeto e gentileza � t�o comum quanto aqui, mas de um modo diferente.”


Dos estudos ao altar

Diogo Porto da Silva conheceu Mariko Sato quando estudava filosofia: acolhimento em dois idiomas(foto: Arquivo Pessoal/Divulgação)
Diogo Porto da Silva conheceu Mariko Sato quando estudava filosofia: acolhimento em dois idiomas (foto: Arquivo Pessoal/Divulga��o)
Tem amor pelo pa�s t�o forte que ultrapassou a linha dos estudos. O professor de japon�s e doutorando em filosofia Diogo C�sar Porto da Silva, de 30, morou tr�s anos no Oriente para fazer mestrado na Universidade de Kyusho, na cidade de Fukuoka. Aos 18 anos, por curiosidade, come�ou a estudar japon�s, j� que gostava de animes e mang�s. Em 2011, o aluno da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) conseguiu uma bolsa para estudar filosofia japonesa, �rea com poucos pesquisadores no Brasil, a mesma linha de pesquisa do doutorado. E no meio de tantas descobertas, conheceu a engenheira qu�mica Mariko Sato, de 27, com quem se casou em 2015.

“Fui muito bem acolhido pelo meu professor e colegas de departamento. E o que mais me impressionou � que, diferentemente da UFMG, as �reas de humanas t�m departamentos bem reduzidos. Aqui, eram 25 professores s� na filosofia. L�, eram tr�s”, conta. Nenhum choque cultural, mas muitos na vida cotidiana. “No Jap�o, funciona tudo como um reloginho e eles t�m muita dificuldade para lidar com o imprevisto. Tive dificuldade em me adaptar a essas regras muito quadradas, que n�o d�o espa�o para um pouco de liberdade. Isso foi o que mais me causou dificuldade. Fora isso, s�o muito receptivos e prestativos.”

Diogo voltou, a ent�o namorada veio por duas temporadas, at� o casamento no Jap�o. “Ela � mais brasileira do que eu”, brinca ele. Ela fez curso de portugu�s para estrangeiros na UFMG e de cosmetologia e p�s-gradua��o em S�o Paulo. Conta que quando chegou, em 2014, a adapta��o foi dif�cil pela falta de conhecimento do idioma e diante de uma cultura t�o diferente. Em sala de aula, o que mais chamou a aten��o foi a comunica��o mais pr�xima entre professor e aluno. “No Jap�o, em uma aula da escola fundamental at� a universidade, professor e aluno nunca conversam muito. Aula para mim era o professor falar e o aluno ouvir. No Brasil, os alunos perguntam quando n�o entendem. E o professor tamb�m conversa com o estudante durante a aula”, diz. “Isso que foi dif�cil para mim tamb�m, porque para mim aula era mais ouvir o professor e n�o atrapalh�-lo, deixando para tirar d�vidas depois. No Brasil, os alunos tiram a d�vida durante a aula.”

J� a comida, a natureza e o tamanho do estado impressionaram: “Cabe duas vezes o Jap�o em Minas Gerais”. A engenheira, que hoje trabalha, sente falta da fam�lia e de comida japonesa fresca. Mas n�o consegue ter prefer�ncia entre um territ�rio e outro. “Acho que os japoneses v�o gostar da comida e de como os mineiros tratam bem as visitas. Talvez os japoneses gostem de o professor n�o se recusar responder � d�vida do aluno. E tamb�m da rela��o mais amig�vel entre educador e estudante, porque no Jap�o � dif�cil ter este tipo de comunica��o.”


Oportunidades

O Governo do Jap�o, por meio do Minist�rio da Educa��o, Cultura, Esporte, Ci�ncia e Tecnologia, oferece diferentes modalidades de bolsas de estudo para estrangeiros em universidades japonesas: gradua��o, p�s-gradua��o, escolas t�cnicas superiores, curso profissionalizante, treinamento para professores do ensino infantil, fundamental e m�dio, l�ngua e cultura japonesa. No Brasil, os processos seletivos s�o feitos pelas representa��es diplom�ticas japonesas (embaixada, consulados e escrit�rios consulares), desde 1956. Outra possibilidade � o Programa Japon�s de Interc�mbio e Ensino, no qual jovens estrangeiros s�o convidados a atuar nas representa��es dos governos locais com o intuito de promover o enriquecimento do ensino de l�nguas estrangeiras, o interc�mbio cultural e a m�tua compreens�o entre as na��es.


Nem a l�ngua � barreira

Se tem brasileiro apaixonado pelo Pa�s do Sol Nascente, os ares tropicais tamb�m conquistam cada vez mais cora��es do outro lado do globo. Os adolescentes Karen Hashimoto, de 16 anos, e Wataru Kaibe, de 17, chegaram em agosto do ano passado a Belo Horizonte. Perfeitamente adaptados, ainda estranham certos costumes, mas nada que atrapalhe. A exemplo deles, Minas Gerais tem recebido nos �ltimos 25 anos m�dia de dois japoneses por ano e enviado para l� outros dois mineiros, por meio do programa de interc�mbio do Rotary.

Para Karen, nem o idioma � barreira. Num portugu�s quase perfeito, ela conta seu cotidiano em BH. Do Jap�o, apenas os olhos puxados e o local de nascimento, pois a alma j� � praticamente mineira. “Vida no Brasil � liberdade. N�o quero voltar ao Jap�o”, diz, com firmeza. “Gosto de lugares quentes. Fiquei entre o M�xico e o Brasil. Acabei vindo para c�”, conta. “Gosto disso, de beijar, de abra�ar o outro”, afirma. “Minha cidade � perto do mar. Aqui, s� tenho a Pampulha”, diz, aos risos, a garota bem-humorada de Kanagawa, que j� � f� de funk e m�sica sertaneja. Os passinhos j� est�o no requebrado do corpo.

Ela transita sem medo pela cidade que a recebeu. Ainda se espanta com alguns detalhes, como o doce que, segundo ela, � muito doce, e com o hor�rio reduzido das escolas. No Jap�o, as aulas v�o das 9h �s 16h. “Aqui, adolescentes podem se beijar na escola, que para mim � lugar de estudar, unicamente”, diz.

Essas rela��es mais pr�ximas  tamb�m impressionaram Wataru, natural da cidade de Nara. “Beijar e abra�ar � s� o namorado ou namorada. Ainda � estranho ver isso, mas nada que me deixe desconfort�vel”, disse, numa conversa que misturou ingl�s e portugu�s. A comida e as pessoas marcam a temporada mineira: “Na escola, todos me cumprimentaram em japon�s. Fiquei surpreso.” Amaz�nia, Rio de Janeiro e S�o Paulo s�o alguns lugares de interesse. Karen s� pensa em conhecer o bicho-pregui�a.

TROCA DE CULTURAS O presidente do programa de interc�mbio de jovens do Rotary, Guilherme Belmani, conta que sempre h� adolescentes interessados de um lado e de outro. “Os meninos n�o sabem o que v�o encontrar quando v�m. No Jap�o n�o � comum dar a m�o para cumprimentar e, aqui, no aeroporto j� abra�amos. A maioria aprende o portugu�s. Damos aulas para todos os intercambistas, que t�m entre 15 e 18 anos”, relata. “� uma experi�ncia �nica e abre a cabe�a dos estudantes para outras realidades. � uma troca de culturas.”

A parceria entre o Rotary de Minas e o do Jap�o come�ou no in�cio dos anos 1990, gra�as � inciativa do presidente em�rito da organiza��o, Ivan Vianna. “Fui quatro vezes ao Jap�o em 1985 e entrei para o Rotary em 1990. sempre quis abrir interc�mbios para esse pa�s, pois eu o conhecia bem. H� uma rela��o amistosa com o Brasil. Eles sabem que foi a na��o que abriu as portas para o Jap�o depois da Segunda Guerra Mundial”, relata. “Sempre houve uma amizade entre os dois povos e h� muitos costumes parecidos e curiosos. O japon�s tem costume de trocar presente igual ao brasileiro. Ali�s, em japon�s presente � presento, de origem portuguesa”, relata.


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