A exposi��o “Corparte: corpo e arte, parte e cor”, em que a estudante de Artes Visuais da UFMG, Sylvia Triginelli, retrata corpos nus de mulheres negras e gordas, foi alvo de censura pela escola de Belas-Artes da universidade.
O trabalho mistura pintura e fotografia “usando apenas a c�mera, sem edi��es”, como define a artista e foi considerado inadequado para exposi��o no pr�dio.
Sylvia Triginelli conta que, durante os meses nos quais se dedicou � produ��o das fotografias, usou material da UFMG, como c�meras profissionais, e trabalhou com tr�s modelos. “Comecei a estudar pintura e percebi que havia um padr�o de corpo nas mulheres que eram representadas. Quis fazer aparecerem os desenhos naturais do corpo, queria captar a beleza natural”, explica.
A aluna explica que o professor dela, que autorizou a exposi��o, tamb�m � vice-diretor da escola de Belas-Artes e teve uma conversa com o superintendente. “Me deram duas op��es. ‘Ou voc� tira as obras, ou censura a nudez’”, diz. De acordo com alunos ouvidos pela reportagem, o superintendente teria alegado que a censura das imagens se deu por elas estarem expostas em um local de passagem de menores, em refer�ncia aos alunos da Cruz Vermelha que transitam pela UFMG.
Repercuss�o

Dias ap�s a censura, uma interven��o no pr�dio em protesto ao ocorrido foi realizada. “Na quarta-feira fizemos um protesto silencioso. Mais de 50 artistas e professores participaram. Ficamos sentados sem roupa, mas com papel vegetal por cima do corpo”, explica.
Al�m do apoio dos alunos, o professor do Departamento de Artes Visuais da UFMG, Marcos C�sar de Senna Hill, publicou uma carta aberta em rep�dio � atitude da universidade. “Me senti fortemente atingido pela situa��o constrangedora de cerceamento da liberdade de express�o e sem nenhuma possibilidade de di�logo”, escreveu. No texto, o professor cita o “Guia Pr�tico de Classifica��o Indicativa”, produzido em 2012 pela Secretaria Nacional de Justi�a a partir do Departamento de Justi�a, Classifica��o, T�tulos e Qualifica��o do Minist�rio da Justi�a. No documento, h� uma determina��o que permite a classifica��o “livre” para obras que tenham “nudez de qualquer natureza, desde que exposta sem apelo sexual, tal como em contexto cient�fico, art�stico ou cultural”.

Para Sylvia, a repercuss�o da obra e a censura est�o relacionadas a velhos preconceitos. “Tenho duas vis�es em rela��o ao que aconteceu. A primeira � que hoje est� acontecendo uma onda conservadora que est� revivendo velhos preconceitos”, explica. A outra raz�o � a nudez de mulheres gordas e negras. “Outros alunos j� me relataram que fizeram exposi��es parecidas s� que com mulheres dentro dos padr�es de beleza e nada disso aconteceu. N�o � s� o conservadorismo. Na porta do Belas-Artes t�m uma V�nus de Milo”, argumenta. “Pretendo continuar trabalhando com esses corpos, se deu essa repercuss�o � porque eles ainda incomodam. Em setembro, vou levar a exposi��o para o Par�”, conta.
De acordo com Sylvia, depois da divulga��o da carta aberta e da manifesta��o dos alunos, a exposi��o foi liberada e pode ser acessada na Escola de Belas-Artes.
O outro lado
Na noite desta sexta-feira, em nota assinada pelo diretor Dr. Cristiano Gurgel Bickel, a Escola de Belas-Artes da UFMG se manifestou sobre o caso. De acordo com o �rg�o, na manh� do �ltimo dia 13, o superintendente da Escola decidiu "suspender temporariamente a montagem da exposi��o", devido � mostra n�o apresentar classifica��o indicativa alguma, norma exigida pelo Estatuto da Crian�a e do Adolescente (Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990).
No dia seguinte, 14 de junho, segundo o diretor, a aluna Sylvia Triginelli e sua m�e compareceram ao Diret�rio Acad�mico da Escola, com intuito de esclarecer a quest�o. Na ocasi�o, segundo a dire��o, a institui��o "prestou os esclarecimentos sobre o ocorrido, reafirmando que n�o houve nenhuma inten��o de censura, mas sim a preocupa��o institucional de que a exibi��o p�blica da obra art�stica estivesse em conformidade com o Estatuto da Crian�a e do Adolescente".
No mesmo dia, em reuni�o da Congrega��o, a dire��o da Escola, o professor da disciplina e a representa��o estudantil prestaram os mesmos esclarecimentos � comunidade, de acordo com o relato feito pelo diretor Dr. Cristiano Gurgel Bickel.
Ainda segundo a Escola de Belas-Artes, n�o houve qualquer tipo de censura, mas sim uma reafirma��o de "sua conduta de respeito ao exerc�cio livre da express�o art�stica, garantido pela Constitui��o Federal brasileira, em harmonia com o Estatuto da Estatuto da Crian�a e do Adolescente".
Diante do posicionamento, a estudante Sylvia Triginelli disse que nenhuma informa��o foi passada pela Escola sobre a necessidade de indicar a faixa et�ria em exposi��es. “Nunca foi passado para os alunos essa informa��o. Tanto que tive uma reuni�o com o vice-diretor e o diretor, e colocamos, eu e um advogado, que nunca recebemos essa informa��o”, disse.
Ela informou, ainda, que depois da divulga��o da carta aberta e da manifesta��o dos alunos, a exposi��o foi liberada, com faixa et�ria livre, e pode ser acessada na Escola de Belas-Artes. A informa��o sobre a libera��o foi confirmada pela Escola de Belas-Artes.
(Conte�do atualizado por Jo�o Henrique do Vale e Gabriel Ronan)
*Estagi�rio sob supervis�o do editor Benny Cohen