
Mais de 40% da chuva esperada para todo m�s concentrada em poucas horas de um �nico dia, satura��o completa do sistema de drenagem, que exige obras de grande porte, distantes da realidade econ�mica da cidade, e uma complexidade de ruas e avenidas que dificulta o fechamento de tr�nsito para evitar trag�dias. Esses ingredientes, combinados na noite de quinta-feira, resultaram em uma trag�dia com pelo menos quatro mortes em Belo Horizonte e trouxeram de volta � tona um quadro que assombra a popula��o da capital toda vez que chove forte, especialmente na Regi�o de Venda Nova. Desta vez, por�m, os transtornos n�o se restringiram aos preju�zos materiais com os temporais que elevam subitamente o n�vel da �gua em pontos como a Avenida Vilarinho.



Bombeiros fazem buscas por rapaz

Com tr�s mortes em decorr�ncia das chuvas confirmadas na Regi�o de Venda Nova, em Belo Horizonte, e um homem afogado na Regi�o Norte, o Corpo de Bombeiros mant�m buscas por outra pessoa que desapareceu durante a enchente na Avenida Vilarinho, na noite de quinta-feira. De acordo com testemunhas, trata-se de um homem que pulou em uma galeria em frente ao Cart�rio do Registro Civil e Notas de Venda Nova.
Parentes do rapaz desaparecido, Jonnattan Reis Miranda, de 28 anos, informaram que a fam�lia � do interior de Minas e se mudou para Belo Horizonte para tratamento do rapaz, que sofre de esquizofrenia grave desde os 13 anos. Ele faz uso de medica��o constante e havia tomado os rem�dios antes de ter um surto na noite de quinta-feira.

A m�e se esfor�ou para que ele n�o pulasse uma janela do im�vel, que fica pr�ximo � Avenida Vilarinho, mas ele conseguiu escapar. Ela ligou para a Pol�cia Militar (PM) e para o plano de sa�de que o atende, no entanto, nenhum deles compareceu, segundo a fam�lia.
Ainda de acordo com os parentes, a m�e foi atr�s de Jonnattan, mas n�o conseguiu alcan��-lo, j� do outro lado da avenida, no momento da chuva. Um rapaz que estava nas proximidades disse ter visto o momento em que ele entrou na �gua e desapareceu.
URGENTE: Mulher e crian�a morrem afogadas dentro de carro em BH https://t.co/c4AUNdmEj4 pic.twitter.com/wt56KlNtHh
— Estado de Minas (@em_com) 16 de novembro de 2018
A Defesa Civil ainda aguarda a confirma��o da causa da morte de um homem, ainda sem identifica��o, encontrado na manh� de ontem na Ocupa��o Vit�ria, entre Belo Horizonte e Santa Luzia, Regi�o Norte da capital. Segundo informa��es passadas pelo Corpo de Bombeiros, moradores disseram que a v�tima estava embriagada e tentou atravessar a enxurrada a nado na noite de quinta feira, quando desapareceu sob as �guas.

Armadilha e preju�zos
Na Avenida Vilarinho, diante da impossibilidade apontada pela Prefeitura de Belo Horizonte de montar bloqueios de tr�fego que impe�am efetivamente a entrada de pessoas na �rea cr�tica, quando chove forte na �rea o roteiro se repete: carros arrastados, �gua entrando em casas e lojas e o medo tomando conta da popula��o. Segundo a Defesa Civil, foram 97 mil�metros de chuva na Regional Venda Nova em um dia, 40% do que � esperado para novembro. Em alguns pontos, o n�vel da �gua superou dois metros de altura.
Esse alagamento foi suficiente para encher de lama, entulho e destro�os a Escola Municipal Francisco Magalh�es Gomes, que fica na Vilarinho em frente � linha do metr�. A �gua derrubou um dos muros da institui��o e invadiu salas, cantina, p�tio e quadra, transformando o ambiente estudantil em um campo de destro�os. Na despensa da unidade, praticamente toda a comida estocada foi destru�da. “� uma situa��o que nos deixou muito abalados. Ter�amos uma semana com apresenta��es que n�o ser�o mais poss�veis. Agora vamos ver o que fazer”, disse, entristecida, a vice-diretora Zuleika Rufino.

“A cantina tinha sido toda reformada este ano, e agora vamos ter que fazer de novo. Mas o mais complicado � a perda de vidas. Isso que nos deixa mais tristes e � muito dif�cil de lidar”, lamentou a cantineira Maria Marcia Luciana Silva Oliveira. Outro ponto que ficou destru�do foi a loja do comerciante Robert Saff, de 38, onde ele comercializa �gua, balas, salgados e outras guloseimas h� cerca de quatro meses. “A gente trabalha o ano todo para acontecer isso. Fizemos um investimento que j� foi embora. Perdi R$ 40 mil com essa chuva. A situa��o aqui � reincidente. N�o temos mais condi��es de ficar nesse local. Vou apenas esperar para colocar as ideias no lugar e procurar uma alternativa para o meu neg�cio. A vida � feita de recome�os”, disse.
Ao longo da Avenida Vilarinho e da Rua Doutor �lvaro Camargos, praticamente todos os lojistas colocaram mercadorias para fora na tentativa de limpar as lojas. Na �lvaro Camargos, a for�a da �gua ainda arrancou v�rias placas de asfalto. Ontem, carca�as de ve�culos destru�dos ainda permaneciam espalhadas, especialmente pela Vilarinho. Um dos carros arrastados pela correnteza foi o do pedreiro Luis Sales dos Santos, de 49. “Quando acelerei, veio uma tromba d’�gua e a correnteza foi tomando conta. Fui para cima do carro e vi que a �gua continuou subindo. A� o carro virou e eu pulei para a grade do metr�. J� estava bastante cansado, mas consegui subir em uma �rvore. De l� vi meu carro ser levado”, afirma. Nas proximidades Cristina Pereira Matos, de 40 anos, e Sofia Pereira, de 6, m�e e filha, n�o conseguiram se salvar e morreram no Palio que foi jogado pela enxurrada na linha do metr�.
Fim tr�gico de 19 horas de opera��o

A terceira v�tima da chuva em Venda Nova por pouco n�o foi salva pelo Corpo de Bombeiros. Uma guarni��o passava pela Rua �lvaro Camargos quando tudo aconteceu. Anna Lu�sa Fernandes de Paiva Maria desapareceu depois de sair do carro do namorado e ser sugada pela correnteza por um bueiro, que ficou sem tampa. Segundo o tenente Pedro Aihara, da assessoria de comunica��o dos Bombeiros, o carro dirigido pelo namorado de Anna parou no momento em que atingiu o buraco da galeria, aberto pela for�a da �gua. Ele saiu por um lado do ve�culo e a adolescente, pelo outro. Como a �gua tinha coberto todo o asfalto, ela n�o viu o buraco e acabou arrastada.
A viatura dos bombeiros que seguia para o resgate de pessoas na Avenida Vilarinho passou no momento e foi alertada por testemunhas da ocorr�ncia com Anna Lu�sa. Um militar ainda tentou puxar a adolescente, mas n�o conseguiu salv�-la e por pouco n�o foi arrastado tamb�m. Ontem, as buscas se concentram de duas formas, durante 19 horas: cerca de 50 militares fizeram varredura de galerias e tamb�m percorreram o leito aberto do C�rrego Vilarinho. Uma aeronave apoiou os trabalhos e drones foram usados nas buscas. Foram justamente as imagens de um desses aparelhos que apontaram a localiza��o do corpo, �s margens do curso d’�gua, na altura do Bairro Xod� Marize, Norte de BH, a quatro quil�metros de onde ela submergiu.
O Cefet-MG, onde Anna Lu�sa estudava, divulgou nota na tarde de ontem manifestando profundo pesar pelo falecimento da aluna, que estava no segundo ano do curso t�cnico em meio ambiente, integrado ao ensino m�dio. A conclus�o do curso estava prevista para 2019.