
A Vale e suas mineradoras e empresas subsidi�rias influenciaram em 25 Estados e no Congresso Nacional ao distribuir, por meio de doa��es oficiais e legalizadas, recursos que somaram R$ 82,2 milh�es a deputados, senadores, governadores e aos tr�s candidatos mais votados � presid�ncia, segundo levantamento do Estad�o Dados. No total, 139 parlamentares estaduais e 101 federais, al�m de sete governadores e dez senadores, foram eleitos em 2014 - para a legislatura que se encerra neste m�s - com alguma participa��o dessas mineradoras em suas campanhas. Doa��es de empresas a pol�ticos j� n�o s�o mais permitidas.
O total colocou a Vale entre os maiores protagonistas de financiamento de campanha naquele ano, em patamar s� compar�vel � JBS, empresa de alimenta��o que informou em dela��o premiada ao Minist�rio P�blico o car�ter ilegal do dinheiro doado.
As doa��es da mineradora s�o concentradas em Estados onde a empresa desenvolve opera��es volumosas, como Minas (18%), Par� (8,8%) e Esp�rito Santo (8,2%), mas compreende diferentes partidos, do PT ao PSDB, com destaque para pol�ticos do PMDB. No total, candidatos de 27 partidos diferentes receberam doa��o dessas mineradoras.
O cientista pol�tico da Funda��o Getulio Vargas (FGV) Cl�udio Couto v� liga��o direta entre as doa��es e a defesa da agenda da doadora. "A empresa espera que o pol�tico defenda seus interesses, e isso n�o significa agir necessariamente de forma corrupta para facilitar algo. Mas que defenda um marco regulat�rio nos moldes desejados, por exemplo", explica ele. "E isso n�o � peculiar � minera��o. Acontece com v�rios setores", acrescenta.
A mir�ade de doa��es fez com que pol�ticos que receberam valores da Vale fossem maioria entre os eleitos, como � o caso do Esp�rito Santo, onde oito dos dez deputados federais receberam doa��es da empresa. A porcentagem � alta tamb�m entre eleitos para o Congresso por Minas (64,5%), Sergipe (50%) e Par� (47%). Nas assembleias estaduais, o padr�o � o mesmo: 16 dos 24 deputados do Mato Grosso do Sul receberam dinheiro da Vale, 24 dos 41 no Par� e 45 dos 77 em Minas.

"A Vale nem me procura porque sabe que n�o vou aceitar", diz o deputado estadual de Minas Jo�o V�tor Xavier (PSDB), autor de um projeto que previa maior rigor na fiscaliza��o de barragens e pretendia desativar modelos como os de Brumadinho e Mariana - constru�das com a t�cnica de alteamento � montante, considerada obsoleta e insegura. Em julho de 2018, sua proposta acabou reprovada na Comiss�o de Minas e Energia da Assembleia mineira por tr�s votos a um. Dois dos tr�s que votaram contra receberam doa��o da Vale em 2014.
"Durou 30 segundos a an�lise e eles votaram contra. Passamos oito meses desenvolvendo a proposta com popula��o, Minist�rio P�blico e Ibama, mas eles n�o quiseram ouvir os argumentos t�cnicos e preferiram ouvir as mineradoras", diz. Reeleito para mais um mandato, Xavier promete encampar novamente o projeto, dessa vez "esperan�oso por mudan�a".
Vale
A reportagem perguntou � Vale com que fins institucionais a empresa fazia as doa��es, como foram escolhidos os candidatos que receberam recursos, por que as doa��es s�o mais volumosas nos Estados onde h� mais opera��es da mineradora, se a empresa manteve contatos com os parlamentares eleitos com ajuda da Vale e se h� nova pol�tica para doa��o por pessoa f�sica - �nica modalidade permitida pela lei atual. As perguntas n�o foram respondidas at� a publica��o desta mat�ria.